Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta
é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me
por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo
pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem
cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido
de uma aldeia. Não me adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me.
Maria do Rosário Pedreira
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