quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Soneto




Rudes e breves as palavras pesam
mais do que as lajes ou a vida, tanto,
que levantar a torre do meu canto
é recriar o mundo pedra a pedra;
mina obscura e insondável, quis
acender-te o granito das estrelas
e nestes versos repetir com elas
o milagre das velhas pederneiras;
mas as pedras do fogo transformei-as
nas lousas cegas, áridas, da morte,
o dicionário que me coube em sorte
folheei-o ao rumor do sofrimento:
ó palavras de ferro, ainda sonho
dar-vos a leve têmpera do vento. 


Carlos de Oliveira






Leis da Atracção





A  maioria dos seres físicos ainda luta com o contraste e, se pudessem, eles  eliminariam o contraste da experiência e ficariam só com o que mais gostassem, de tudo. Mas, da perspectiva mais ampla, não física, vocês não eliminariam o contraste porque compreendem, dessa perspectiva, que como criadores o contraste é essencial para a decisão.



PODER DE DECISÃO

Vocês não poderiam começar a decidir o que é desejável, se não tivessem o contraste do que não se quer. E a partir de suas perspectivas não-físicas mais amplas enquanto criadores, vocês compreendem que uma decisão é literalmente uma focalização de energia.

Em outras palavras, tudo diz respeito à energia, o modo de expressá-la, o modo de focalizá-la, o modo de canalizá-la, o de orientá-la, de conduzi-la, de utilizá-la, a maneira de tornar-se parte dela e o de envolver-se nela.

A forma pela qual vocês se tornam uma força criativa, utilizando energia, é através de suas perspectivas, de suas crenças, de suas atenções, de seus focos, de sua decisão.

Podem vocês sentir a diferença de poder, ao dizer: "Gostaria de ter  isso", ou "Eu quero isso", ou "Estou decidido"?

O que acontece na decisão é apenas uma focalização de energia.

Nosso intento predominante, enquanto estamos interagindo com vocês, é o de ajudá-los a compreender sem qualquer dúvida, tudo a respeito de como conhecer, ou sentir que vocês são uma harmonização vibracional para sua própria decisão.



HARMONIA VIBRACIONAL

O contraste os ajuda a chegar a uma decisão, mas raramente encontramos um ser físico em harmonia com sua própria decisão. É por isso que essas coisas  que vocês sabem que querem, não vêm com facilidade a vocês. É porque não estão vibracionalmente em harmonia com suas decisões.

A razão disso é que vocês não estão usando seus próprios sensores  para determinar o que estão oferecendo vibracionalmente. Estão usando pensamentos, idéias, crenças, palavras, ações ou comportamento.

Estão tentando controlar as coisas pelo comportamento, enquanto tudo o que têm a fazer é aprender como alinhar sua energia e, pela lei da atração, aquilo que estiver alinhado com sua energia tem que vir para vocês.



QUANDO O NÃO QUER DIZER SIM

Quando vocês dizem sim a uma coisa, quando olham para o contraste e dizem:

"Entre estas coisas, sei que não quero esta, mas sei que quero aquela."; quando escolhem alguma coisa e dizem sim a ela, a estão incluindo em suas vibrações - e pela lei da atração o universo se harmonizará com suas vibrações.

Quando dizem não a alguma coisa, quando olham para o contraste e dizem: "Isto é bom, aquilo não é bom. Isto é bom; não quero aquilo.", então dizem  não àquilo.

O que a maioria de vocês não percebe é que quando dizem não a algo que não querem, ainda assim o estão incluindo em sua vibração e quando o incluem em sua vibração, então vocês não se harmonizam com seu próprio desejo.

Quando dizem: "Quero um carro novo vermelho", o universo está correspondendo à vibração de seu desejo. Quando dizem: "Mas, um carro novo vermelho é muito caro", o universo está correspondendo também a essa vibração.

Ora, o universo está correspondendo a duas vibrações contraditórias e, desse modo, nada muda para vocês.

Vocês estão incluindo o que não querem naquilo que realmente querem e o resultado líquido para vocês é nenhum movimento para  adiante.

A maioria das pessoas acredita que pode dizer não a uma coisa e outra, apontando que não querem e que deveria ir embora.

Mas, nunca acontece assim. Não existe essa coisa da  "lei do afaste-se de mim."

Só existe a lei da atração.

Vocês não têm a capacidade de evitar algo, porque tudo aquilo para o qual voltam sua atenção já é uma inclusão.



Abraham-Hicks
in, Leis da Atracção




segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Jim Carrey explains Depression








“People talk about depression all the time. The difference between depression and sadness is sadness is just from happenstance—whatever happened or didn’t happen for you, or grief, or whatever it is. Depression is your body saying f*ck you, I don’t want to be this character anymore, I don’t want to hold up this avatar that you’ve created in the world. It’s too much for me.
You should think of the word ‘depressed’ as ‘deep rest.’ Your body needs to be depressed. It needs deep rest from the character that you’ve been trying to play.”


“I have no depression in my life whatsoever—literally none. I have sadness, and joy, and elation, and satisfaction, and gratitude beyond belief. But all of it is weather, and it just spins around the planet. It doesn’t sit on me long enough to kill me. It’s just ideas.” 




Jim Carrey





POEMA DO GATO





Quem há-de abrir a porta ao gato 
quando eu morrer?

Sempre que pode 
foge prá rua, 
cheira o passeio 
e volta pra trás, 
mas ao defrontar-se com a porta fechada 
(pobre do gato!) 
mia com raiva 
desesperada. 
Deixo-o sofrer 
que o sofrimento tem sua paga, 
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim 
como acorre a mulher aos braços do amante. 
Pego-lhe ao colo e acaricio-o 
num gesto lento, 
vagarosamente, 
do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos, 
olhos semi-cerrados, em êxtase, 
ronronando.

Repito a festa, 
vagarosamente. 
do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele aperta as maxilas, 
cerra os olhos, 
abre as narinas. 
e rosna. 
Rosna, deliquescente, 
abraça-me 
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse 
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?



ANTÓNIO GEDEÃO
in, "NOVOS POEMAS PÓSTUMOS"






sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Nuvens


Nathan Kaso




Ó nuvens pelos céus que eternamente andais!
Longo colar de pérolas na estepe azul,
exiladas como eu, correndo rumo ao sul,
longe do caro norte que, como eu, deixais!

Que vos impele assim? Uma ordem do Destino?
Oculto mal secreto? Ou mal que se conhece?
Acaso carregais o crime que envilece?
Ou só de amigos vis o torpe desatino?

Ah não: fugis cansadas da maninha terra,
e estranhas a paixões e ao sofrimento estranhas
eternas pervagais as frígidas entranhas.
E não sabeis, sem pátria, a dor que o exílio encerra.


Mikhail Lermontov






SEPARAÇÃO AFETIVA – UMA VISÃO BUDISTA


Marion Bolognesi





Separar-se dói, 
mas também pode ser uma bênção.



É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura.

É possível um divórcio verdadeiramente amigável.

Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas.

Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida.

Minha professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, comentou em uma de nossas aulas:

“A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.”

O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo ao conflito conhecido.

Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras.

Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros.

Como dar limites? Como conhecer esses limites?

Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento de filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares.

Caminhamos lado a lado.

Ou não.

Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino.

Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade do assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo.

Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser.

Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”:

“Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso agradecemos.”

Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa.

Nada é fixo. Nada é permanente.

Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos.

Por que sofrer?
Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente?
Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento?

Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada.

Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos.

Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão.

Observe em profundidade.

Será que ainda é possível restaurar o vaso antigo?

No Japão, as peças restauradas são mais valiosas do que as novas. Tem história, emoção, sentimento.

Cuidado com o eu menor.

Cuidado com sentimentos de rancor, raiva, vingança.

Esse sentimentos destroem você, mais do que as outras pessoas.

Desenvolva a mente de sabedoria e de compaixão.

Queira o bem de todos os seres. Isso inclui você.

Cuide-se bem e aprecie a sua vida – assim como é –, renovando-se a cada instante e abrindo portais para o desconhecido, o novo – que pode ser antigo, mas novo a cada instante.

Mantenha viva a chama do amor incondicional e saiba se separar (se assim for) com a mesma ternura e respeito com que se uniu.

Esse o princípio de uma cultura de paz e de não violência ativa.



Monja Coen
in, “Casar, Descasar, Recasar”





quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

QUANDO NOS SEPARÁMOS





Quando nos separámos
Em silêncio e choro
E quebrados ficámos
Num vazio duradouro
Pálido e frio teu rosto ficou, 
O teu beijo frio como água;
E essa hora prenunciou
Toda esta mágoa.

O orvalho matinal
Que senti nessa hora
Era já um sinal
Do que sinto agora.
O teu voto foi quebrado,
Nova luz te conhece;
Oiço o teu nome falado
E como isso me entristece.

Sempre que oiço o teu nome
Abre-se esta ferida
Um arrepio que me consome
Porque me foste tão querida?
Eles não sabem que te conheci
E que foi um conhecer profundo
Sei que vou desistir de ti
Mas não o direi ao mundo.

Conhecemo-nos sem se saber
Em silêncio sofrerei
Que o teu coração poderia esquecer
E iludir-te, não sei.
Se te encontrar
Num ano vindouro
Como te deverei encarar?
Com silêncio e choro...



GEORGE GORDON BYRON
in, THE POETICAL WORKS OF LORD BYRON





Carta de Clarice Lispector para a sua irmã Tania Kaufmann





Berna, 6 janeiro 1948

Minha florzinha,

Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades – depois disso fica-se um pouco um trapo. Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito.

Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? assim fiquei eu…, em que pese a dura comparação… Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus aguilhões – cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que nos leve de volta, só a ideia de ver você e de retomar um pouco minha vida – que não era maravilhosa mas era uma vida – eu me transforme inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lassidão de mulher de cinquenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então… Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado.

Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse a minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade?

Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã

Clarice



Clarice Lispectot 
in,  “Correspondências”





quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Soneto à luz de velas





Velas iluminavam o ambiente
E nossos olhos brilhavam
Diante nossos corpos nus e incandescentes
Impressão que as chamas davam

Começamos um jogo de exploração
Mãos percorrendo dorso
Causando inebriante sensação
Trazendo à mente um novo universo

Olhos ardendo em desejo
Bocas entre-abertas…
Meu corpo em seus braços despejo

Rolamos pelas cobertas
Pelo mundo temos desprezo,
Pois nossas almas somente para o nosso amor estão abertas…



Simone Barbariz





BYUNG-CHUL HAN





O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, um destacado dissecador da sociedade do hiperconsumismo, falou ao jornal El País sobre as suas críticas ao “inferno do igual”


“Hoje o indivíduo se explora 
e acredita que isso é realização”


As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro... São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim.
Livros como A Sociedade do Cansaço, Psicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.


“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.

Autenticidade. Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”.

Autoexploração. Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout”. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.

‘Big data’.”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual... Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças... É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos... Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições... Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”.

Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”.

Jardim. “Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações... Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto... É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números.

Narcisismo. Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”.

Os outros. Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo... Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”.

Refugiados. Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países.

Tempo. É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.




O “MONSTRO” DA UNIÃO EUROPEIA
“Estamos na Rede, mas não escutamos o outro, só fazemos barulho”, diz Byung-Chul Han, que viaja o necessário, mas não faz turismo “para não participar do fluxo de mercadorias e pessoas”. Também defende uma política nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tensão atenua brincando:

“Se Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista”.

Já no aspecto político, enquadra o assunto no contexto da União Europeia: “A UE não foi uma união de sentimentos, mas sim comercial; é um monstro burocrático fora de toda lógica democrática; funciona por decretos...; nesta globalização abstrata acontece um duelo entre o não lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial é incômodo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade é a reconciliação entre o geral e o particular e isso, hoje, é mais difícil...”. Mas recorre à sua revolução do tempo: “O casamento faz parte da recuperação do tempo livre: vamos ver se haverá um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconciliação”.



CARLES GELI




terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Moving Into A Period


Unified-Heart
Leonard Cohen Symbol
He described the symbol as 
“A version of the yin and yang or any of those symbols that incorporate the polarities…
and try and reconcile the differences.”





We are moving into a period of bewilderment, a curious moment 
in which people find light in the midst of despair, and vertigo at the 
summit of their hopes. It is a religious moment also, and here is the 
danger. People will want to obey the voice of Authority, and many 
strange constructs of just what Authority is will arise in every mind. 
The family will appear again as the Foundation, much honoured, much 
praised, but those of us who have been pierced by other possibilities, 
we will merely go through the motions, albeit the motions of love. The
public yearning for Order will invite many stubborn uncompromising 
persons to impose it. The sadness of the zoo will fall upon society. 

You and I, who yearn for blameless intimacy, we will be unwilling to 
speak even the first words of inquisitive delight, for fear of reprisals. 
Everything desperate will live behind a joke. But I swear that I will
stand within the range of your perfume. 

How severe seems the moon tonight, like the face of an Iron Maiden, 
instead of the usual indistinct idiot. 

If you think Freud is dishonoured now, and Einstein, and Hemingway, 
just wait and see what is to be done with all that white hair, by those 
who come after me. 

But there will be a Cross, a sign, that some will understand; a secret 
meeting, a warning, a Jerusalem hidden in Jerusalem. I will be wearing 
white clothes, as usual, and I will enter The Innermost Place as I have 
done generation upon generation, to entreat, to plead, to justify. I will 
enter the chamber of the Bride and Bridegroom, and no one 
will follow me. 

Have no doubt, in the near future we will be seeing and hearing 
much more of this sort of thing from people like myself. 


Leonard Cohen 
in, Book of Longing




...................................... é para lá que eu vou





Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.

À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma ideia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.

Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.

Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.

Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.

Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.

E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.

À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.

Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.


Clarice Lispector





segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

And This Day It Was Spring….Us





and this day it was Spring….us
drew lewdly the murmurous minute clumsy
smelloftheworld.       We intricately
alive,cleaving the luminous stammer of bodies
(eagerly just not each other touch)seeking,some
street which easily tickles a brittle fuss
of fragile huge humanity….
                                        Numb
thoughts,kicking in the rivers of our blood,miss
by how terrible inches speech—it
made you a little dizzy did the world’s smell
(but i was thinking why the girl-and-bird
of you move….moves….and also,i’ll admit—)

till,at the corner of Nothing and Something,we heard
a handorgan in twilight playing like hell



E. E. Cummings 
in, 100 Selected Poems





As 4 Frequências Cerebrais





You are the surface 
on which the universe 
encodes information... 
You give the universe 
the surface to grow and learn... 

– Nassim Haramein









O cérebro intercomunica-se através de impulsos elétricos, estes formam ondas electromagnéticas de várias frequências,
 existindo 4 frequências distintas.


As células cerebrais, especificamente os neurónios, utilizam impulsos elétricos para se comunicarem entre si, além de fazer os músculos contraírem e os membros se moverem.
Cada neurónio produz determinada descarga elétrica com o objetivo de este comunicar com os neurónios e outras células vizinhas.

Quando esse impulso elétrico é excessivo surge a epilepsia, e quando se “perde” parcialmente até chegar ao destino surge o Parkinson.


É evidente que o cérebro possui atividade elétrica, 
por consequência surgirão ondas electromagnéticas. 
Estas por sua vez, podem ser medidas/avaliadas por aparelhos como EEG. 
Estas ondas elétricas, têm frequências que podem ser medidas em ciclos ou Hertz. 
A frequência das ondas muda consoante a atividade elétrica dos neurónios 
que estão associados a alteração de estados de consciência.





Podemos então distinguir 4 frequências distintas:

Beta

Neste estado você esta acordado e a sua mente concentrada, pronta para trabalhos que requerem a atenção total. Fundamental em processos que envolvam a concentração, como a aprendizagem, a análise e organização de informações.  A faixa beta, situa-se entre os 14 -30 HZ, associado à atenção, à acuidade visual e coordenação


Alfa

Neste estado você está relaxado, a sua consciência interna aumenta, aumentando com isso a auto-perceção, a consciência dos pensamentos e processos internos. Aumenta a criatividade e a ansiedade tende a diminuir. Experiência a sensação de paz e bem-estar. A faixa alfa, situa-se entre os 7 -13 HZ, associado à resolução de problemas,criatividade, memorização, relaxamento e pensamento abstrato e imaginação (visualizações).


Teta

Neste estado você entra num estado ainda mais profundo de relaxamento, baixando a atividade cerebral quase ao nível do sono. Este estado é considerado “misterioso”, neste estado surgem imagens inconscientes, que não se sabe a origem ao certo. Propicia também a criatividade e acesso a memórias à muito “esquecidas”. Situam-se entre os 4-7 Hertz, neste estado estamos num “sonho acordado”, proporcionando um estado ideal para o acesso a memorias, aprendizagem acelerada, criatividade e “re/programação mental”.


Delta

Este estado, muitas vezes contestado cientificamente, situa-se entre os 4-1Hertz é a mais baixa de todas as frequências de ondas cerebrais. Nesta frequência é produzido a hormona do crescimento, além deste estado ser benéfico para a regeneração celular e cura. Neste estado, têm-se acesso mais profundo ao inconsciente e à intuição.

Existem métodos e técnicas que facilitam alterar a frequência cerebral e o estado mental, tais como o relaxamento, a hipnose, até mesmo software. Convém que estes métodos e técnicas, sejam utilizados por profissionais ou entidades credenciadas, pois uma má utilização pode provocar consequências a vários níveis.



Jorge Elói







O nosso cérebro emite ondas cerebrais (Alfa, Beta, Delta, Gama e Teta), possuidoras de inúmeras propriedades.
Podemos usá-las em nosso favor para mudar a nossa vida em vários aspectos.
Aprenda a gerar esses diferentes tipos de ondas cerebrais e a utilizá-las em seu benefício para melhorar sua vida.
Do estado de vigília... aos estados modificados de consciência! 
Os cinco tipos de ondas cerebrais conhecidos variam em frequências cuja intensidade é calculada em Hertz (um Hz corresponde a um impulso por segundo).




As ondas Gama são provocadas pelas fases de intensa reflexão intelectual.
Para gerá-las, reflita sobre um problema importante para você e mantenha esse estado de concentração o maior tempo possível.
Você também vai progressivamente encontrar soluções para qualquer problema.






Para gerar ondas Beta de melhor qualidade, basta manter a calma em todas as circunstâncias e manifestar pensamentos positivos.
Por isso, procure levar uma vida calma e equilibrada para melhorar a qualidade das suas ondas Beta e gerar mais rapidamente os outros tipos de ondas.









As Ondas Alfa permitem alcançar o primeiro nível dos estados modificados de consciência.
Os estados modificados de consciência são fases de atividade cerebral superiores, onde você tem uma visão mais profunda da realidade e um acesso às suas capacidades escondidas e aos seus dons extrassensoriais.
Você pode provocar o estado cerebral Alfa através do controle da sua respiração deixando que ela se aprofunde naturalmente.
Comece por dedicar 5 minutos a essa prática e depois vá aumentando gradualmente esse tempo.
A prática da meditação, a visualização e o pensamento positivo também provocam o aparecimento das ondas Alfa.
No estado Alfa, você aumentará as suas capacidades de aprendizagem e de assimilação de conhecimentos.






As ondas Teta induzem estados de consciência mais profundos que as ondas Alfa.
Podemos alcançar o estado Teta em etapas superiores da prática da meditação e do relaxamento.
Ele permite uma consciência mais ampla da realidade que o estado Alfa, possibilitando igualmente encontrar soluções para problemas mais complexos do que aqueles que podemos resolver através da produção de ondas Alfa.
O estado Teta permite descobrir as nossas capacidades ainda desconhecidas, possibilitando com frequência desencadear o surgimento de poderes extrassensoriais, de vidência, de previsão do futuro, de contato com entidades superiores, entre outros.




As ondas Delta estão associadas ao estado de sono profundo.
Você poderá se beneficiar delas programando o seu sono antes de adormecer.
Nesse caso, você vai se recordar com mais facilidade do que sonhou e assim poderá extrair mais ensinamentos dos seus sonhos.











sábado, 17 de fevereiro de 2018

Não tenho limites





Não. Não tenho limites. 
Quero de tudo 
Tudo. 
O ramo que sacudo 
Fica varejado. 
Já nascido em pecado, 
Todos os meus pecados são mortais. 
Todos tão naturais 
À minha condição, 
Que quando, por excepção, 
Os não pratico 
É que me mortifico. 
Alma perdida 
Antes de se perder, 
Sou uma fome incontida 
De viver. 
E o que redime a vida 
É ela não caber 
Em nenhuma medida. 


Miguel Torga





................................. the geometry of the Phi ratio





When looking at a nautilus shell, one doesn't see the geometry of the Phi ratio explicitly mapped out on the shell, only the result of the underlying geometric structure is apparent: a Fibonacci spiral that contracts towards and expands from singularity.

In a similar way, one does not "see" the underlying geometric lattice of the structure of the vacuum of spacetime. What we observe is the result of that geometry: the organization of matter and flow of energy at all scales adhering to a foundational infinite scalar tetrahedral lattice...


Nassim Haramein

















quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

News of the Day






Everything not in was out and we were the bride
and groom in the marriage of this ridiculous day
and life is only ever a comic opera. To write lower-
case after decades of elevating the noun, this could
be seen as an arm sweeping the past from the
pedestal into the ashcan. To pull a question out of
that hat, the one with an electric rabbit hidden
inside, can become a critique if the overreaching
world looking in is terribly nervous - like a diva
sitting in a warm-water bath extolling the benefits of
hot running water. How embarrassing, the singing
chorus says above a clatter of cubicles where the
press corps pushes out kitsch and vulgarity. Perhaps
the staged hot bath is an embarrassment but who
doesn't want to forget the tank blocking the main
street as well as every other exit. The news of each
day is that times passes quickly regardless - some
hours, however, are longer than others, with many
more minutes that count.



Mary Jo Bang
in, A Doll for Throwing: Poems





Richard Zimler e Alexandre Quintanilha






Richard Zimler:
"Temos um bocadinho de sorte, e foi um bocadinho de trabalho. Em qualquer relação que é um verdadeiro casamento (e há casamentos que não são casamentos, são duas pessoas a viver juntas), existe a pessoa A, a pessoa B e o casamento. Há três seres vivos numa relação, e tem que se ter muito cuidado com o terceiro ser vivo: o próprio casamento. Tem que se valorizar, polir, prestar atenção, senão a relação vai acabar. Os dois estamos muito conscientes disso. Apaixonarmo-nos por uma pessoa é muito fácil (com algumas pessoas que conheço acontece de duas em duas semanas). Mas é preciso aprender a respeitar o outro. Para o Alexandre era mais natural, tinha dois pais muito respeitosos. Eu não tinha isso. Os meus pais diziam coisas um ao outro que eu não diria ao inimigo mais feio do mundo, coisas reles. Apaixonar-me por ele era super fácil, mas respeitar a sua opinião, a sua maneira de ser, as coisas que ele dizia e com as quais não concordava, as coisas que ele fez e que não compreendi, levou-me anos."

Alexandre Quintanilha: 
"Não acredito que haja relações duradouras se cada uma das pessoas não tem a sua própria vida construída. Quando o Richard está a escrever (já sei, porque escreveu vários livros), está de tal maneira obcecado com a escrita que eu sou uma espécie de audiência. E quando estou muito ocupado e ando muito cansado, ele sabe que estou a fazer qualquer coisa que para mim é importante. Nessas alturas temos muito respeito para não exigir mais do outro. Isto aprende-se. Quando a pessoa começa a sentir uma verdadeira realização pessoal com a realização do outro, quando deixa de haver aquela necessidade egocêntrica – “preciso que me dês mais atenção porque estou inseguro” – isso é que é uma relação conseguida."



quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Quando Eu não te Tinha





Quando eu não te tinha 
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo. 
Agora amo a Natureza 
Como um monge calmo à Virgem Maria, 
Religiosamente, a meu modo, como dantes, 
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ... 
Vejo melhor os rios quando vou contigo 
Pelos campos até à beira dos rios; 
Sentado a teu lado reparando nas nuvens 
Reparo nelas melhor — 
Tu não me tiraste a Natureza ... 
Tu mudaste a Natureza ... 
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim, 
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma, 
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, 
Por tu me escolheres para te ter e te amar, 
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente 
Sobre todas as cousas. 
Não me arrependo do que fui outrora 
Porque ainda o sou. 

Só me arrependo de outrora te não ter amado.


Alberto Caeiro






Dia do Amor ou o dia da dor?





Era uma vez uma Princesa que sonhava em encontrar um Príncipe perfeito e viver feliz para sempre.

Era uma vez um Príncipe que sonhava em encontrar uma Princesa perfeita e viver feliz para sempre.

É verdade… por mais que ninguém se lembre ou que os homens não o admitam, da mesma maneira que as mulheres anseiam por um príncipe, também os homens sonham com uma princesa, embora a idealização seja personalizada para cada um de nós.

O que todos precisamos é de actualizar os nossos conceitos do que são afinal príncipes e princesas…

O dia dos namorados é aquele dia em que confrontamos todas as nossas fantasias, ilusões e sonhos no que toca ao tema do Amor, com a frieza da realidade.

Sejamos de que geração formos, todos crescemos a ouvir histórias de encantar, cheias de exemplos morais da vitória do bem contra o mal, dos crimes que não compensam, da importância dos valores morais como a amizade, a honestidade, a justiça e muitos outros em que víamos os maus terem o seu castigo e os bons a sua recompensa.

Muitas dessas ilusões foram caindo por terra perante a realidade do mundo conforme fomos crescendo. Fomos assim actualizando esses conceitos, aprendendo a diferenciar a ilusão da realidade, a que valores queremos ser fieis independentemente da aparente injustiça ou até desumanidade por parte dos outros nos acontecimentos que vamos vivenciando.

Curiosamente, há uma ilusão a que teimosamente nos agarramos.

Uma que tanto nos destabiliza. Aquela que nos traz as melhores sensações mas também uma das maiores dores que o ser humano pode sentir.

Aquela que continua a alimentar e inspirar livros, filmes, musicas e peças de teatro por esse mundo fora.

Aquela ideia, crença, esperança, imagem ou o que quer que lhe chamemos, que obviamente o ser humano se recusa a desistir e que tanto nos faz subir ao Paraíso como nos atira cruelmente para o inferno:

Acreditar que é possível viver uma história de Amor verdadeiro, puro e correspondido…para sempre!

Todos continuamos a acreditar, num qualquer grau de intensidade, em histórias de Amor.
“Juntos e felizes para sempre” ainda é aquele conceito que por mais que a vida nos comprove que simplesmente não existe, nós teimamos em querer provar o contrário numa esperança teimosa e sem fim.

Se ao menos depositássemos tanta Fé, esperança e optimismo na nossa pessoa, na nossa valorização interior, no nosso crescimento e capacidade de sermos felizes, viveríamos sem duvida num mundo bem mais saudável e feliz!

Estamos a entrar num tempo em que só agora começamos verdadeiramente a olhar para nós próprios. Só agora começamos a enraizar o conceito e a tomar consciência de que somos responsáveis pela nossa felicidade, pelo nosso equilíbrio, pela nossa valorização e em última análise, pelo nosso respeito e sucesso no mundo material. Independentemente se estamos juntos com alguém ou não.

Sei que é uma imagem seca e bastante solitária mas que qualquer pessoa hoje em dia na casa dos 40 garante ser real.

Basta olharmos para a geração dos nossos avós para vermos o quanto distorcido era o conceito de Amor romântico e o quanto recente é o conceito de desenvolvimento pessoal..

Por isso mesmo acredito que só aos poucos vamos ajustando as lentes com que fomos ensinados a ver o mundo do Amor e vamos deixando ir os ultrapassados conceitos que nos foram incutidos.

Se ao menos o Sr. Walt Disney se tivesse lembrado de criar uma princesa que tinha escolhido cuidar de si própria, que tinha escolhido ter uma relação de respeito para com os outros, com a Natureza, com as Estrelas e com os animais. Alguém que representasse a importância de vivermos em constante ligação com a nossa Alma e tivesse perfeita consciência da Lei Cósmica que nos lembra que atraímos no outro o espelho do que temos de melhor mas também o que temos de inconsciente.
A diferença positiva que tinha feito se ele tivesse deixado a mensagem de que o mundo é um espaço de crescimento e evolução e o objectivo seria usá-lo como um palco onde iria revelar os seus dons e desenvolver todo o seu potencial.!
Ideal teria sido o Sr. Disney mostrar que tanto príncipes como princesas precisam primeiro aprender a honrar as suas naturezas, tomar consciência dos seus potenciais, assim como das suas sombras e só depois desse trabalho feito, escolherem com qualidade com quem querem partilhar os seus castelos.

Curioso observar como todos bebemos da água daqueles filmes e, falando mais em nome das meninas, crescemos a acreditar que se a Gata Borralheira teve a “sorte” de arranjar um príncipe perfeito, porque não terei eu a mesma sorte também?

Pena a história da gata borralheira não ter uma parte 2 para vermos como estaria a sua história de amor uns anos depois…

Escusado será dizer que a nossa sociedade é hoje espelho do contrário das intenções do Sr. Disney.

Casamos na ostentação e à imagem da Princesa e acabamos como gatas borralheiras da mesma maneira que os Príncipes, depois de casados e ao fim de meia dúzia de beijos, viram sapos…

Facto, não da Disney, mas sim nosso interior; O ser humano segue o que acredita, esteja essa crença consciente ou não. Faça sentido, ou não.

Enquanto não analisamos as nossas crenças e nos questionamos o que afinal nos leva a agir, somos simplesmente levados inconscientemente por elas.

Sei que não é o texto mais romântico do mundo para o dia dos namorados. Mas à parte da meia dúzia de sortudos aqui e ali que tenho visto conseguir passar o dia em verdadeiro estado de momentânea felicidade digna do dia dedicado ao Amor a dois, a maior parte estará, ou sozinha ou mal acompanhada, suspirando interiormente pelo dia em que a “sorte” lhe irá bater à porta.

Aos primeiros deixo um lembrete, gozem o momento e lembrem que nada é para sempre…

Aos últimos deixo um consolo e um convite: – Enquanto não houver trabalho interior, estamos sozinhos ou a viver relações superficiais que não resistirão à passagem do tempo, enquanto não houver fragilidade e verdade não há uma relação ao nível da Alma, enquanto não houver consciência superior de que o outro jamais irá preencher o nosso vazio, será uma relação manipuladora, enquanto não houver Amor-próprio não iremos amar ou ser amados por ninguém.

Resumindo, enquanto não assumirmos e incorporarmos dentro de nós os príncipes e as princesas que tanto ansiamos, jamais os iremos atrair. Devo esclarecer que não é para sermos o que o outro espera de nós, mas sim sermos a mais elevada versão de nós próprios.

O espectáculo a que assisto todos os dias, e estou a falar a nível emocional, mental e comportamental, são sapos a ansiar por Princesas e Gatas Borralheiras a ansiar por Principies.

Por mais nua e crua que seja a verdade, acredito hoje que ela é menos dolorosa do que a dor da desilusão que se segue após nos termos iludido.

Acredito sinceramente que a lista que define um Príncipe ou uma Princesa é a mesma para ambos os sexos no que toca às qualidades que desejamos ter ao nosso lado.

Mas mais do que namorados e namoradas, príncipes ou princesas, lembremos sim no dia do Amor, que todos somos humanos, que todos ansiamos por sentir Amor, todos evitamos e fugimos da dor e que somos responsáveis pela gestão do que nos acontece.

Só depois de construirmos o nosso castelo interior temos bases para construir em belo castelo a dois.

A relação que todos esperamos viver só será possível dessa maneira e não é quando “achamos” que estamos prontos mas, quando a Vida nos traz o retorno do trabalho interior.

Sabendo isto, a nós cabe-nos ir fazendo a nossa parte, ir trabalhando arduamente no nosso castelo interior afastando de vez a questão da sorte e azar do panorama amoroso.


Vera Luz