quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Efémeros em palavras efémeras


Kasia Derwinska




1.
Vocês que passam com palavras efémeras,
levem seus nomes e vão embora
tirem suas horas do nosso tempo e vão embora
roubem à vontade do azul do mar e das areias da lembrança
tirem fotos à vontade, e assim vão saber
que não hão de saber
como uma pedra da nossa terra constrói o teto do céu.

2.
Vocês que passam com palavras efémeras
de vocês vem espada, de nós vem nosso sangue
de vocês vêm fogo e aço, de nós vem nossa carne
de vocês vem outro tanque, de nós vem pedra
de vocês vem a bomba de gás, de nós vem chuva.
Um mesmo céu e um mesmo ar nos cobre
peguem seu quinhão do nosso sangue, mas vão embora
entrem no jantar dançante, mas vão embora
temos que zelar pela rosa dos mártires
temos que viver como a gente quer!

3.
Vocês que passam com palavras efémeras,
como a poeira amarga, passem onde quiserem, mas
não passem entre nós como insetos com asas
temos o que fazer na nossa terra
temos trigo a criar e regar com o orvalho do nosso corpo
temos o que a vocês aqui não agrada:
temos pedra... e perdiz!
Levem o passado, se quiserem, ao mercado das quinquilharias
devolvam, se quiserem, o esqueleto do passarinho ao prato de porcelana.
Temos o que não lhes agrada: temos o futuro
temos o que fazer na nossa terra.

4.
Vocês que passam com palavras efémeras,
soquem seus dramas num buraco abandonado e vão embora
voltem atrás o ponteiro do tempo até o bezerro sagrado
ou até o disparo ritmado do revólver!
Temos o que a vocês aqui não agrada, então vão embora
temos o que por dentro vocês não têm:
uma pátria que jorra um povo que jorra uma pátria
que combina com esquecer e lembrar.
Vocês que passam com palavras efêmeras,
é hora de irem embora
de morarem onde quiserem, mas não entre nós
é hora de irem embora
de morrerem onde quiserem, mas não entre nós
temos o que fazer na nossa terra
aqui temos o passado
temos a primeira voz de vida
temos o presente, o presente e o que está por vir
temos o mundo aqui e temos a outra vida
saiam da nossa terra, do nosso deserto, do nosso mar
saiam do nosso trigo, do nosso sal, da nossa ferida
de tudo
saiam das lembranças da nossa memória,
vocês que passam com palavras efémeras.


Mahmoud Darwish




Mahmud Darwish, um dos poetas mais importantes que deram voz à causa palestina no mundo e contribuíram para a construção da identidade da poesia árabe moderna.
Nasceu em 1941 na aldeia palestina de Al-Birweh, destruída por Israel em 1948 para a construção em seu lugar da aldeia agrícola de Ahihud.
Trabalhou no Jornal Al-Etihad e na revista Al-Jadid, que pertenciam ao partido comunista na cidade de Haifa. Neste período começou a escrever poesias e ficou conhecido na Palestina como “um poeta da resistência”. Sua poesia irritava os israelenses, por isso a polícia israelense passou a cercar qualquer aldeia que lhe organizasse uma noite de poesia.
Darwish sofreu intensa perseguição. Foi preso três vezes pelos israelenses (1961, 1965, 1967), antes de ser submetido à prisão domiciliar devido às suas declarações e atividades políticas.
Criticou os combates entre os palestinos no poema, "Você agora é outro", publicado em junho de 2007.
Mahmoud Darwish dedicou muitos poemas à causa palestina, a resistência e ao seu povo refugiado e injustiçado. Mesmo tendo uma vida difícil ao lado dos outros palestinos, conseguiu escrever sobre o amor, a esperança, o ser humano e a vida. 
Darwish faleceu em 2008, em Houston, Estados Unidos, com 67 anos.





Judas





Amós Oz é o mais importante escritor israelita da atualidade.
Candidato constante ao prémio Nobel, fez da sua obra uma reflexão profunda sobre o destino do povo judeu.
  • Quais cicatrizes a história turbulenta do país deixou sobre os seus habitantes? 
  • Que marcas imprime no indivíduo uma vida marcada pela guerra? 
  • Há solução possível para um conflito que remonta a tempos imemoriais?
Ainda menino, Amós Oz descobriu o que é ser mal visto por seus pares.
No longínquo ano de 1946, com Israel sob domínio britânico, ele ousou fazer amizade com um sargento inglês. Em sua maioria apoiante de grupos rebeldes sionistas, que buscavam banir o Mandato Britânico da Palestina, a sua vizinhança enfureceu-se. Para eles, qualquer aproximação com o inimigo constituía um imperdoável ato de traição. Um judas.

Em relação ao conflito israelo-palestino, sempre defendeu soluções menos belicistas para o embate, como a criação de dois estados (Israel e Palestina), e por isso é visto por muitos de seus conterrâneos como um inconfidente da causa israelita.

Não é por acaso que, o tema da traição está no centro do seu novo romance, “Judas”.
O livro traz uma ideia diferente da palavra: a de que o traidor pode ser o mais leal e devotado dos indivíduos. Aquele que, em meio ao medo de mudança, é injustiçado por tomar decisões impopulares, mas necessárias.
Numa das entrevistas que deu ele disse:
“ Não me interessa o traidor trivial, que vende informações por dinheiro. Isso é para romances de espionagem, para o James Bond. O que me entusiasma é um tipo específico de traidor, incompreendido por estar à frente do seu tempo ou por propor grandes mudanças. E que acaba visto como traidor por pessoas que não aceitam as mudanças, mas as temem.”
Faleceu há pouco tempo, no dia 28 de Dezembro de 2018, com 79 anos em Tel Aviv, cidade onde vivia. Nasceu em Jerusalém.

Como prometido no último post, cá estou para falar do livro:
“Judas” é um livro sobre traidores e amantes, pais e filhos, numa prosa sensível e bem-humorada, e evoca conflitos pessoais e políticos, teologia e heresia, lealdade e traição, explorando o lado sombrio da história judaico-cristã e o lado trágico da história judaico-árabe.
A partir da história de amor entre um estudante e uma mulher misteriosa, Amós Oz questiona a fundação do estado de Israel e as guerras que abalam o Médio Oriente.

O protagonista é Shmuel Asch, um estudante que se vê em apuros no inverno de 1959: sua namorada deixou-o, os seus pais faliram e ele foi obrigado a abandonar os estudos na universidade e interromper a sua pesquisa — trata-se de uma investigação sobre a figura de Jesus sob a ótica dos judeus. Passado o desespero inicial, ele encontra morada e emprego numa antiga casa de pedra, situada num extremo de Jerusalém. Durante algumas horas diárias, a sua função é servir de interlocutor para um velho inválido e perspicaz, chamado Gershom Wald. Na mesma casa, vive uma mulher bonita e sensual chamada Atalia Abravanel, com quase o dobro da sua idade. Shmuel é atraído por ela, até que a curiosidade e o desejo transformam-se numa paixão sem futuro. Entre várias discussões filosóficas e revelações históricas (o pai de Atalia, Shaltiel Abravanel, era um militante que foi expulso do movimento sionista por ser contra a transformação de Israel num país independente) a dupla inicia nas cicatrizes do passado, repletas de falsos traidores. Muitos deles poderiam ter mudado a violência na região, se tivessem sido melhor compreendidos.

Paralelamente à trama, Oz desenvolve uma tese polémica, discutida pelos personagens.
O livro subverte a imagem do Judas bíblico: em vez do traidor histórico que vendeu Jesus, ele seria o mais fiel de todos os discípulos do profeta. A ideia pode enfurecer cristãos e judeus, mas o objetivo de Oz é outro. Ao longo dos séculos, a figura de Judas tornou-se, nas palavras do autor, uma espécie de “Chernobyl do antissemitismo”, sempre usada para atacar os judeus. Sua reabilitação é uma maneira de desacreditar os antissemitas, que veem em todo judeu um traidor.
Amos Oz diz:
“Neste romance, Judas é o primeiro cristão do mundo, e talvez o último. Eu sei que a ideia contém uma provocação, mas o livro também provoca muitos leitores israelenses, por apresentar o personagem de Shaltiel Abravanel, que não acredita na criação de um Estado de Israel. Precisamos de líderes israelenses, palestinos e árabes com coragem para tomar decisões vistas como “traição” pelo seu próprio povo. Se estes líderes vão aparecer, não tenho como dizer. É difícil ser profeta na terra do profeta. Por aqui há muita competição no negócio das profecias.”
Disse também que:
"Há uma diferença entre ser pacifista e um ativista da paz. O pacifista acredita que se pode dar a outra face ao agressor, eu não. Ou considera que a guerra é o último passo e eu não penso assim. No entanto, se me perguntar se defendo as atuais políticas de Israel, a resposta é não. Sou contra, mas não por ser pacifista, antes por achar que a política atual do governo é egoísta e perigosa."
Neste romance cheio de lirismo, Amós Oz retorna ao cenário de alguns de seus livros mais apreciados, entre eles “Meu Michel” e “De amor e trevas: a Jerusalém dividida em meados do século XX”. Ao lado de seus personagens, Oz é corajoso o bastante para questionar o estabelecimento de um estado para os judeus, com suas consequentes guerras, e se pergunta se seria possível eleger um caminho histórico diferente.
Como lembra o ensaísta Alberto Manguel, neste livro Amós Oz revolve, com profunda inteligência e paixão, o coração da tragédia palestina. Mais uma vez, Oz nos dá uma absoluta, necessária obra-prima.

Mas de volta ao livro:
O equívoco maior, segundo o autor, dá-se com Judas Iscariotes (assim chamado porque ele era de Cariot, uma cidade na Judeia) que durante milénios é tido como o judeu que traiu Jesus, seja por apontá-lo  ou  por  beijá-lo,  sendo  que  o  beijo  seria  a  senha  entre  Judas  e  os  romanos  para identificá-lo.  Fez  isso para  alertar  os  algozes sobre  quem  era  o  acusado no meio  dos  outros apóstolos na praça em que se ergueria uma cruz, instrumento de tortura e morte que, inventado ou não pelos romanos, era por eles aplicado àqueles que julgavam “delinquentes” ou“dissidentes”.
Para  o  “serviço”  prestado,  Judas teria  recebido  trinta  moedas.  O  romance  faz uma  minuciosa revisão do incidente que teria acontecido há  mais  de  dois  mil  anos, dando voz a Judas, que se explica pela extensão de um longo capítulo na página 47.
Pela  voz  do  próprio  Judas  e  por  explanações  distribuídas  ao  longo  do  romance,  Oz procura demonstrar que, ao contrário do que se acredita, Judas foi um dos mais fiéis seguidores de Jesus, talvez até o maior dentre eles, pois acreditou tanto na sua divindade e imortalidade que o estimulou a ir a Jerusalém e deixar-se levar pelos romanos. Isto porque, aceitando a divindade de Jesus, Judas tinha a certeza de que o mestre não chegaria a ser crucificado, saltaria da cruz e seria consagrado  como  o  divino  filho de Deus. Para Judas, Jesus era imortal,  como  é característico de uma entidade divina, o que, no entanto, não se  mostrou verdadeiro.  Diante  do fracasso do seu plano  e da sua desilusão, Judas sentiu-se culpado por ter convencido Jesus a deixar-se prender, e derrotado ao vê-lo morto. Assim, o peso da culpa e o sentimento de derrota levaram-no ao suicídio.
Amós Oz procura mostrar que é pura invenção pós-data que Judas se tenha vendido por trinta  moedas.  Sendo  dono  de  terras  e  de  rebanhos,  não  iria denunciar  Jesus  por  tal  ninharia (como seria  a  quantia  para um homem  tão  abastado)  ou  por  dinheiro  algum,  visto  serem  dois
grandes  amigos.  De  todos  os  apóstolos,  Judas  foi  o  mais deslumbrado,  o  mais  convicto  da divindade de Jesus e o mais  fiel  de  seus  seguidores. Tampouco  teria  o  encargo de mostrar aos romanos  quem  era  Jesus,  pois quem  o desconhecia?  Era  o  ser  mais  visto, ouvido,  seguido  e perseguido daquelas paragens. No entanto, Judas foi estigmatizado como seu traidor e os judeus são julgados, tantos mil anos passados, como seus herdeiros morais.

Num passado não muito distante, a efígie de um homem vestido com trapos era erguida nalguma árvore ou parede para ser espancada ou “malhada”  por homens, mulheres e crianças com  bastões  ou martelos nas mãos. A  “malhação de  Judas”  tem  sido  executada  no  “sábado  de  Aleluia” em  inúmeras localidades onde o Catolicismo é religião predominante. Com a passagem do tempo, em alguns locais têm-se substituído tais imagens por figuras de administradores e políticos contra os quais o povo guarda ressentimentos. A pancadaria expressaria desgosto popular pelos rumos do governo reinante.

O romance também introduz um lado político (como se a questão do Judas não fosse política o bastante, ainda que tenha aspecto religioso). Amós penetra por terreno bem espinhoso, mas,  na  verdade, está  dentro  dessa  arena  há muito  tempo. Seu posicionamento  nesse  campo é
universalmente conhecido, e o romance apenas coloca em formulação ficcional o que o autor tem dito e escrito em artigos ao longo dos anos. No campo da política, o embate emblemático entre Ben Gurion e o personagem Shaltiel Abravanel, como narrado em Judas, revela o que cada um deles pensava e como agia em relação ao sionismo. O plano de Ben Gurion foi o que prevaleceu, como  se  sabe,  enquanto  Abravanel  representaria  os  opositores  a  esse  plano. Ele terminou seus dias sozinho, perdera tanto os seus amigos árabes como seus amigos judeus que o chamavam de traidor.  Shaltiel  é  o  pai falecido de Atalia, mulher de 45 anos que mora na casa onde um jovem, Shmuel Asch, conseguiu um  emprego  de acompanhante  e  interlocutor  de Guershon  Wald,  um  senhor semi-inválido. Atalia é nora de Wald e viúva do seu filho único Micha, que morreu na guerra de 1948, cerca de doze anos antes do foco da narrativa. Amós Oz reuniu pela duração de um inverno, no cenário de uma casa de pedra, em Jerusalém, essas três pessoas: Atalia, Shmuel e Guershon, mais os fantasmas de Micha e de Abravanel. Shmuel se apaixona por Atalia, 25 anos mais velha do que ele, depois de um revés sentimental com a sua ex-namorada Yardena, que o abandonara pouco antes para se casar com o seu ex-namorado.

Guershon Wald falava e gritava ao telefone com personagens que se mantiveram incógnitos em todo o decorrer da narrativa. Contudo, como professor aposentado, encobre mal uma vibrante passagem pela história de Israel como militante do sionismo, representando a geração que fundou o país e que o manteve bem montado até o aparecimento da geração seguinte, representada por seu único filho, Micha, assassinado numa das batalhas para manter o sionismo vivo, assassinado pelos árabes na Guerra da Independência quando foi criado o Estado de Israel. O velho Wald é um professor aposentado, uma pessoa muita culta que gosta de falar horas sobre política, filosofia e religião, e ao passar os dias a conversar com ele e descobrindo aos poucos a história daquela família, Shmuel começa a mudar o seu ponto de vista sobre algumas coisas. Os dois costumam discorrer a respeito do tema da pós-graduação de Shmuel sobre Jesus na ótica do povo judeu. Muitos evitam tocar no assunto, já alguns judeus na ânsia de levantar dúvidas sobre a divindade de Jesus e diminuir a sua importância, procuram até mesmo difamá-lo. Wald é contra essa linha de pensamento, embora concorde que gostaria de questionar Jesus sobre coisas como “amar a todos o tempo todo”. Mas o que intriga tanto Shmuel quanto Wald são as controvérsias sobre a relação entre Jesus e Judas Iscariotes, algo que já foi referido no evangelho apócrifo de Judas, um manuscrito redigido há cerca de 1.700 anos e que ficou a maior parte do tempo perdido numa caverna no deserto egípcio. Se Judas não tivesse supostamente traído Jesus e o entregado aos romanos, como seria o cristianismo moderno? Jesus nasceu judeu e não seria sua intenção criar uma nova religião. O fato é que desde então o estigma de “assassinos de Jesus” ajudou a selar o destino do povo judeu em diversos momentos históricos.

Há um diálogo muito interessante entre Wald e Shmuel:
Shmuel disse: “Na Operação do Sinai, o seu Ben-Gurion amarrou Israel à cauda de duas potências coloniais condenadas à decadência, a França e a Inglaterra, e com isso intensificou o ódio dos árabes por Israel, convencendo definitivamente os árabes de que Israel era um corpo estranho na região, um instrumento do imperialismo mundial.”
Wald respondeu-lhe: “ Antes da Operação de Sinai, os teus queridos árabes também não morriam de amores por Israel, e até…”
Shmuel interrompeu: “ E porque haviam de gostar de nós? Porque é que acha que os árabes não têm direito de se opor com todas as suas forças aos estranhos que aqui chegaram de repente como se fossem de outro planeta e lhes tiraram a terra, os campos, as aldeias, as cidades, as sepulturas dos seus antepassados, e a herança dos seus filhos? Nós dizemos que viemos para Israel apenas para construir e ser construídos, para reviver os tempos de outrora, para resgatar a herança dos nossos antepassados, etc…, mas diga-me por favor se existirá no mundo um povo capaz de receber de braços abertos uma súbita invasão de centenas de milhares de estranhos, seguidos de milhões, que aterraram aqui de longe, com o argumento bizarro de que os livros sagrados que trouxeram consigo lhes prometem a eles, e só a eles, todo o país?”
Wald respondeu: “ Em 1948, Shaaltiel Abravanel, pai de Atália, tentou em vão convencer Ben-Gurion de que ainda era possível chegar a acordo com os árabes sobre a expulsão dos britânicos e o estabelecimento de uma comunidade conjunta de árabes e judeus, desde que desistíssemos da ideia de um Estado Judeu. Foi esse o motivo do seu afastamento do Comité Executivo Sionista. Os árabes não esqueceram a afronta da derrota de 1948, nem a conspiração que tecemos contra eles ao nos aliarmos com a Inglaterra e com a França há 3 anos, mostrando aos árabes que a nossa intensão seria expulsar todos os árabes dali. ”
Shmuel respondeu: “Até certo ponto, é possível entender a alma de um povo que durante milénios conheceu bem a força dos livros, da oração, dos mandamentos, da aprendizagem e da memorização, da devoção religiosa, do comércio e do negócio, mas que apenas conheceu a força física no seu corpo espancado. Esse mesmo povo, agora possui armas pesadas. Tanques, canhões e aviões a jato. Ficou inebriado com a força que tem, e passou a ter a tendência para acreditar que com a força militar pode fazer o que quiser, conquistar o território que quiser, sem terem noção dos limites do uso dessa força. A verdade é que, toda a força do mundo não chega para transformar um inimigo num amigo. É possível transformar um inimigo num escravo, mas não num amigo. Toda a força do mundo não consegue transformar um fanático num homem esclarecido. Toda a força do mundo não chega para transformar um homem sedento de vingança num amigo. A força, por enquanto, tem o poder de evitar o nosso extermínio. Mas, não responde nem resolve o conflito. Apenas adia a catástrofe por pouco tempo.”
Wald respondeu: “O pai de Atalia sonhava que judeus e árabes se entenderiam desde que a incompreensão e o desejo de vingança existente entre eles desaparecesse. Mas enganou-se. Entre judeus e árabes mimca existiu incompreensão. Pelo contrário. Há várias décadas que entre ambos existe um entendimento absoluto e total: estão ligados a esta terra porque é a única que têm. Os árabes sabem que nós nunca desistiremos dela, e nós sabemos que eles nunca desistirão dela. Este entendimento mútuo é perfeitamente claro. Não existe nem nunca existiu qualquer tipo de incompreensão. Sheltiel achava que todos os conflitos no mundo se resumem a equívocos, e que com uma dose de aconselhamento familiar, de terapia de grupo, e um pouco de boa vontade, tornamo-nos imediatamente irmãos de coração e de alma e disputa acaba. Ele acreditava que bastava que ambos se conhecessem para que se estimassem. Que bastava ter uma conversa de amigos para que os que se odiavam caíssem nos braços uns dos outros em lágrimas. Mas eu digo-lhe: Dois homens que amam a mesma mulher, dois povos que reivindicam a mesma terra, por muitos rios de lágrimas que chorem juntos, esses rios nunca apagarão o ódio e desejo de vingança que sentem.”

Para Wald não nascemos para amar mais do que um punhado de pessoas: 
“O amor é um evento íntimo, estranho e cheio de contradições, pois mais de uma vez nós amamos alguém por egoísmo, por cupidez, por desejo físico, por vontade de dominar o amado e subjugá-lo, ou, ao contrário, devido a uma espécie de desejo de ser dominado pelo objeto de nosso amor, e geralmente o amor se parece muito com o ódio e é mais próximo dele do que imagina a maioria das pessoas”.
Wald acha que alguns judeus são tão cheios de ódio que se tivessem o poder e o domínio agiriam da mesma maneira que os cristãos que odeiam Israel. Wald, talvez até pelo duro golpe da morte do filho, não era exatamente um cético, mas tinha adquirido certa clareza sobre o mundo e os povos. Ele não acredita que o mundo tenha conserto e acha que todos aqueles que até hoje se apresentaram como “consertadores do mundo” o transformaram em rios de sangue. As ideologias políticas se assemelham às religiões ao exigir devoção a seus dogmas, e as religiões por sua vez usam seus dogmas como trunfo quando anseiam o poder político. Ambas podem tornar-se sanguinárias.

Wald nas suas reflexões costuma dizer:
“O judaísmo e o cristianismo, e também islamismo, destilam todos eles o néctar da graça, da justiça e da compaixão, mas só enquanto não têm nas mãos algemas, grades, poder, porões de tortura e cadafalsos. Todas essas crenças, e mais aquelas que nasceram nas últimas gerações e continuam até hoje a enfeitiçar muitos corações, todas vieram para nos salvar e rapidamente acabaram a derramar o nosso sangue. Se ao menos um dia desaparecessem do mundo todas as religiões e todas as revoluções, eu lhe digo – todas, até a última delas, sem exceção – vai haver muito menos guerras no mundo”.


Para Wald, Shaltiel Abravanel era um sonhador, e assim como Jesus acreditava no amor universal, mas parece que ninguém entendeu o que ele pretendia: 
“(…) não obstante tudo que eu lhe disse antes, felizes os sonhadores, e maldito aquele que lhes abre os olhos. É verdade que os sonhadores não irão nos salvar, nem eles nem seus discípulos, mas sem sonhos e sem sonhadores essa maldição que paira sobre nós seria mil vezes mais pesada. Graças aos sonhadores, nós também, os sóbrios, talvez fiquemos um pouco menos petrificados e desesperançados do que estaríamos sem eles (…)”.

Sogro  e  nora,  em  momentos  distintos,  contam  para  Shmuel  sobre  a  decepção  de Abravanel, ativista político que imaginava um país onde judeus e árabes vivessem juntos, lado a lado e mesclados,  sem  identidade particular e sem denominação de  Estado.  Para os tempos  de Ben  Gurion,  tais  ideias  não  eram  mais  do  que  heréticas,  e  o  levaram  a  ser  expulso  das organizações sionistas de então. Sofreu ostracismo e passou seus últimos anos isolado de tudo e de todos com quem tinha antes mantido amizade, como líderes  políticos,  intelectuais,  artistas  e gente do povo em geral – judeus e árabes, pois não fazia distinção entre eles. Visto como traidor da  ideologia  sionista  não  só  por  suas  ligações  políticas  e  amistosas,  mas  principalmente  pela teimosia em firmar-se na  sua ideia de Israel e  Palestina  como território comum aos dois povos, Abravanel  morreu  para  o  mundo  muito  antes  de  falecer, de  manhã, tomando  café e  lendo  um jornal, na cozinha de sua  casa. Seus  escritos,  fórmulas  para  a convivência harmoniosa e talvez utópica entre judeus  e  árabes, foram destruídos por ele mesmo.  Nada sobrou das suas ideias  e lutas, dos projetos e miragens de um mundo ideal.
O  arquétipo representado  por  Abravanel  no romance foi  repelido  da memória política, enquanto  sobressaíram Ben  Gurion  e o sionismo prevalecente, com poucas modificações. Daí que se apresentam dois fusos ao redor dos quais gira a narrativa: a pseudotraição de Judas Iscariotes a Jesus e a ambígua traição de Shaltiel Abravanel ao sionismo, como era aceite então.

Altaia diz a Shmuel: “Os israelitas queriam um Estado só de Judeus. Queriam independência. Queriam bandeira, uniformes, notas de banco. Derramaram rios de sangue inocente para o conseguir. Sacrificaram uma geração inteira. Expulsaram centenas de milhares de árabes das suas casas. Enviaram navios cheios de refugiados sobreviventes de Hitler diretamente do cais para os campos de batalha, por isso os trouxeram para aqui. Tudo para criar um Estado Judeu. Vejam o que ganharam com isso. Os israelitas dizem que em 1948 na Guerra da Independência, combateram porque não tinham outro remédio, que estavam encostados à parede. Mas os Israelitas eram a parede! O meu pai não era adepto do nacionalismo. Não lhe agradava um mundo dividido em centenas de Estados Nacionais, como uma fila de jaulas separadas no jardim zoológico. Ben-Gurion, com a Guerra da Independência, e com o fanatismo de ter um Estado Judeu, conduziu milhares para a matança, para o massacre, para a expulsão, para o ódio eterno entre duas comunidades. O meu pai chegou a essa conclusão depois da revolta árabe de 1936, de Hitler, as organizações clandestinas judaicas, os cadafalsos erguidos pelos britânicos, e sobretudo com as muitas conversas que tinha com os seus amigos árabes, e que o levaram à conclusão de que havia lugar para as duas comunidades, e que era melhor viverem juntas, lado a lado, sem qualquer estrutura de Estado, e que essa seria a única maneira de evitar conflitos e viverem em permanente guerra décadas após décadas, que na sua opinião era o que iria acontecer. Era uma guerra sem fim. Talvez todos vocês sintam que têm razão. Talvez tenha sido melhor o que vocês fizeram aqui, que dezenas de milhares tenham sido massacrados, e que centenas de milhares tenham ido para o exílio. Pois, não serão os judeus aqui um grande campo de refugiados? E a partir de agora, os árabes vivem diariamente a tragédia da sua derrota e os judeus vivem noite após noite, com medo da vingança deles. E assim, do vosso ponto de vista, é muito melhor para todos. A guerra fez dois povos devorados pelo ódio e pelo veneno e desejosos de vingança e justiça. E a justiça é tanta que Israel está coberto de cemitérios e das ruínas de centenas de aldeias pobres que desapareceram. ”

Wald, por sua vez diz a Shmuel: “Apelidaram Shaltiel Abravanel de traidor, porque confraternizava diariamente com árabes. Recebia-os com frequência em casa. Apelidaram-no de traidor porque de 1947 a 1948, no auge da batalha da guerra da independência, continuou a defender que a decisão de criar um Estado Judeu era um erro trágico sem solução. Defendia que em vez do Mandato Britânico, existisse um Mandato Internacional. Dizia que era quase certo que os 100 mil sobreviventes do Holocausto provenientes dos campos de trânsito espalhados pela Europa seriam autorizados a vir para Israel. Os americanos apoiavam esta imigração e a colónia judaica aqui cresceria de 650 mil para 750 mil. E assim se resolveria a situação dos judeus desenraizados e aumentaria a força israelita contra os árabes. Depois, seria esperar que os árabes gradualmente aceitassem a nossa presença aqui, nos próximos 20 a 30 anos. Entretanto, talvez se instalasse a calma, desde que nós parássemos de exigir um estado Judeu. Abravanel dizia que o problema para os árabes não era tanto o movimento sionista existente em algumas cidades e aldeias, mas sim o receio da força militar cada vez maior dos judeus e das suas intenções futuras. Ele dizia que os árabes temiam sobretudo a superioridade cultural e tecnológica, a astúcia e a motivação dos judeus, superioridade essa que acabaria por levá-los a expandir-se e a dominar todo o espaço árabe. Dizia que os árabes receavam mais o gigante predador dentro de cada judeu, do que o pequeno embrião sionista. Eles nunca acreditaram que 750 mil judeus vieram para aqui para fugir às perseguições na Europa, mas sim para conquistar terreno e dominar, e para destruir as mesquitas do Monte do Templo e estabelecer um império judeu do Nilo ao Eufrates. Estes receios eram o que estava na origem da intensa oposição dos árabes à realidade que se desenvolvia. Apelidaram Abravanel de traidor porque a remota possibilidade de nos anos 30 surgir aqui a aspiração de criar um Estado Judeu independente, arrebatou os nossos corações para sempre. Ele perguntava-me: Para quê essa necessidade de criar aqui a sangue e fogo mais um Estado liliputiano com barreiras fronteiriças, cercas de arame farpado, bandeira, passaportes, exército e sistema monetário separado, à custa de uma guerra sem fim? Dizia que era melhor não tentar criar aqui um Estado, seja judeu ou árabe, e que era preferível vivermos aqui lado a lado, judeus e árabes, cristãos e muçulmanos, drusos e circassianos, um conjunto de comunidades vizinhas a viver em paz. Dessa forma, aos poucos, os receios dos árabes iriam dissipar-se em relação à conspiração sionista para judaizar toda a Palestina.
30 anos de conflitos causados pelo sistema britânico de “dividir para reinar” terminariam por fim. Abravanel acreditava que esta seria a única forma de conseguir a confiança entre árabes e judeus. Ele dizia que judeus e árabes tinham várias coisas em comum: ao longo da história, de formas diferentes, árabes e judeus foram vítimas da Europa Cristã. Os árabes foram humilhados pelas potências coloniais e foram vítimas de opressão e de exploração; os judeus sofreram gerações e gerações de desprezo, opressão, perseguições, expulsão, massacres e finalmente um extermínio. Duas vítimas da Europa Cristã, dizia Shaaltiel Abravanel. Não será isto uma base histórica profunda para o estabelecimento de relações de solidariedade e de entendimento entre eles? Dizia que se no final do Mandato Britânico, os judeus continuarem a insistir em criar um Estado Judeu Independente, nesse dia rebentará uma guerra sangrenta entre eles sem retorno. A essência da tragédia dos seres humanos, dizia Shaaltiel, não é que os perseguidos e oprimidos aspirem a libertar-se e a erguer-se. Não. O verdadeiro mal consiste em que, no fundo dos seus corações, os oprimidos sonham em tornar-se opressores daqueles que os oprimiram. Os perseguidos aspiram a ser perseguidores. “

Shmuel respondeu: “ Eu tinha apenas 13 anos quando rebentou a guerra da independência. Acreditava, como todos os judeus que, nós eramos a minoria com a razão do nosso lado, e que eles, os árabes, eram os maus em maioria com a intensão de nos expulsar daqui, porque nunca aceitariam que nos instalássemos aqui. Nada nos seria oferecido de bandeja, dizia o meu pai.”

Judas é o nome do livro porque é sobre a visão de Jesus para os judeus, pesquisa que Shmuel fazia antes de largar os estudos. Através de Jesus ele chega a Judas, e com Judas os judeus, e com os judeus a formação do Estado de Israel, e com o Estado de Israel a vida do velho e da mulher, o preço que cada um deles pagou e o resultado dos seus sonhos desfeitos.
No final, Judas nos parece uma metáfora de todos os personagens – contraditórios, condenados e, se olharmos mais de perto, talvez os únicos que se mantiveram fiéis.






quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Conflito Israelo-Árabe





Tenho andado a ler um livro muito interessante que irei partilhar aqui a seguir, "Judas", do escritor israelita Amos Oz.
Mas, antes de falar sobre o livro, irei recordar o conflito israelo-árabe para melhor perceber o livro.

Estou a achar o livro muito interessante porque nos dá a visão dos dois lados do conflito israelo-árabe. Este conflito,  é um longo conflito no Médio Oriente, que ocorre desde o fim do século XIX, tendo se tornado num assunto de importância a nível internacional a partir do colapso do Império Otomano em 1917. 
Marcos importantes para o desenrolar deste conflito foram a autodeterminação do Estado de Israel e o relacionamento deste último Estado com os seus vizinhos árabes, especialmente em relação ao povo palestino, por reivindicarem as mesmas terras. O conflito teve como resultado o começo de pelo menos cinco guerras de dimensões maiores e um número significante de conflitos armados de menores dimensões. Foi também fonte de duas Intifadas (levantamentos populares).

As tensões entre judeus e árabes começaram a emergir a partir da década de 1880 do século XIX, quando judeus provenientes da Europa começaram a emigrar, formando e aumentando comunidades judaicas na Palestina, quer por compra de terras aos otomanos, quer por compra direta a árabes proprietários de terrenos.
Estabeleceram-se assim comunidades agrícolas nas terras históricas da Judeia e de Israel, que eram então parte do Império Otomano. Historicamente, os antigos judeus desde os tempos bíblicos chamaram a sua terra de Israel, Canaã, Judeia, Samaria, Galileia e outros nomes há muito tempo. Judeus modernos, e alguns cristãos, acreditam que, de acordo com a Bíblia e a Torá, Deus deu esta terra para os antigos judeus (também conhecido como hebreus ou israelitas), liderada por homens como Abraão, Moisés, David, e outros.





Cerca de 2.000 anos atrás, o Império Romano dominou esta área, e, ao suprimir várias rebeliões judaicas, destruiu o templo judaico na cidade de Jerusalém, matou um grande número de judeus, e forçou muitos outros a deixar a sua terra natal num êxodo chamado Diáspora. Nesta ocasião, o Império Romano mudou o nome da Terra de Israel para Palestina. Alguns judeus permaneceram na área, mas um grande número de judeus não retornou até aos séculos XIX e XX.

No século VII, os árabes muçulmanos invadiram a Palestina. Este é o lugar onde o verdadeiro problema começou entre os judeus, que começaram a chamar a si mesmos "os israelenses", de acordo como o antigo nome de sua antiga pátria de Israel, e a população árabe da região que veio a ser conhecido como "palestinos", de acordo com o antigo nome romano e grego da área. Após a Diáspora, os muçulmanos de língua árabe, que invadiram a Palestina no século VII, durante a expansão do Islão, tornaram-se o grupo étnico dominante. De acordo com registos do Império Otomano, que governou a Palestina durante vários séculos, no ano de 1900, a população da Palestina era de 600.000, dos quais 94% eram árabes. Enquanto muitos árabes estavam dispostos a vender terras aos judeus que chegavam, muitos outros árabes palestinos estavam preocupados com a possibilidade de se tornarem minoria em seu próprio país.

Assinado em Janeiro de 1919, o Acordo Faiçal-Weizmann promovia a cooperação árabe e judaica para o desenvolvimento de uma Terra de Israel na Palestina e uma nação árabe numa larga parte do Médio Oriente. Em 1920, a Conferência de San Remo, suportada em grande medida pelo Acordo Sykes-Picot (acordo anglo-francês de 1916), alocava ao Reino Unido a área que presentemente constitui a Jordânia, a área entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo e o Iraque. A França recebeu a Síria e o Líbano. Em 1922, a Liga das Nações estabeleceu formalmente o Mandato Britânico para a Palestina e Transjordânia, indo parcialmente ao encontro dos compromissos assumidos pelo Reino Unido estabelecidos na Correspondência Hussein-McMahon (1915-1916): todas as terras a leste do rio Jordão eram entregues ao Emirado da Jordânia (governado por Abdullah I da Jordânia, mas que estava em parte em dependência do Reino Unido), deixando a parte a oeste da Jordânia como o Mandato Britânico da Palestina.

O líder religioso muçulmano Mohammad Amin al-Husayni opôs-se à ideia de transformar parte da região da Palestina num Israel, objetando a qualquer forma de Terra de Israel. Durante a década de 1920 do Século XX, as tensões aumentaram dando lugar a episódios de violência tais como as Revoltas de Nebi Musa (1920) e as revoltas de Jaffa (1921). Para satisfazer os árabes e devido à inabilidade britânica para controlar a violência instalada no Mandato, foi criado, em todos os territórios a leste do rio Jordão, o Semiautónomo Emirado Árabe da Transjordânia (correspondente a cerca de 80% do território do Mandato). Apesar disso, a violência continuou a aumentar durante as décadas de 30 e 40, resultando em perdas de vidas em ambos os lados. Alguns dos fatos mais marcantes nesse período foram o Massacre de Hebron de 1929, as atividades da organização islâmica Mão Preta, a grande revolta árabe (1936-1939), os ataques realizados pelo grupo terrorista Irgun, os massacres como o de Ein al Zeitun e o atentado do Hotel Rei Davi em 1946.






A Guerra árabe-israelense de 1948, também conhecida como a "guerra de independência" começou após a retirada britânica e com a declaração do Estado de Israel a 14 de Maio de 1948.
Os árabes rejeitaram o plano de partilha da Palestina (Resolução 181 de 29 de Novembro de 1947 da Assembleia Geral das Nações Unidas), que propunha o estabelecimento de um estado árabe e outro judaico na região da Palestina. Milícias árabes começaram campanhas com vista ao controle de territórios dentro e fora das fronteiras estabelecidas. Tropas da Transjordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque invadiram a Palestina, ao que Israel, Estados Unidos, União Soviética e Trygve Lie (Secretário-geral das Nações Unidas) consideraram como uma agressão ilegítima. A China deu o seu apoio às pretensões árabes. Os estados árabes declararam o propósito de proclamar um "Estado Unido da Palestina"  em detrimento de um estado árabe e de um estado judaico. Eles consideravam que o plano das Nações Unidas era ilegal porque vinha em oposição à vontade da população árabe da Palestina. Reclamaram também que a retirada britânica tinha deixado um vazio legal em termos de autoridade, tornando necessário a sua atuação com vista à proteção dos cidadãos árabes e das suas propriedades. Cerca de dois terços dos árabes da Palestina fugiram ou foram expulsos dos territórios que ficaram sob controle judaico; praticamente todos os judeus (em número muito menor) que habitavam territórios ocupados pelos árabes (como por exemplo na cidade de Jerusalém) também emigraram. As Nações Unidas estimam que cerca de 711 mil árabes tornaram-se refugiados como consequência do conflito. 

As lutas terminaram com a assinatura do Armistício de Rodes, que formalizou o controle israelita das áreas alocadas ao estado de Israel juntamente com mais de metade da área alocada ao estado árabe. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito e a Cisjordânia foi ocupada pela Transjordânia (que passou a se chamar simplesmente de Jordânia), até Junho de 1967, altura em que Israel voltou a tomar posse desses territórios durante a Guerra dos Seis Dias.
Aos palestinos que abandonaram ou foram expulsos das áreas ocupadas pelos israelitas não foi permitido o regresso às suas casas. Deslocaram-se para campos de refugiados localizados em países vizinhos tais como o Líbano, a Jordânia, a Síria e para a área que mais tarde se tornaria conhecida como a Faixa de Gaza. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente foi criada para melhorar as condições destes refugiados. Durante as décadas seguintes ao fim da guerra de 1948, entre 700 e 900 mil judeus abandonaram os países árabes onde viviam. Em muitos casos isto foi devido a um sentimento anti-judeu, ou devido a expulsão (no caso do Egito) ou ainda devido a opressões legais (no Iraque). Deste número, cerca de dois terços acabaram por se deslocar para campos de refugiados em Israel, enquanto que os restantes migraram para França, Estados Unidos da América e para outros países ocidentais (incluindo a América Latina).

Até a Guerra dos Seis Dias a Jordânia controlou a Cisjordânia e o Egito controlou a Faixa de Gaza. Em 1950, a Transjordânia anexou a Cisjordânia, mas tal facto foi reconhecido apenas pelo Reino Unido. Ambos os territórios foram conquistados (mas não anexados) por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Nem a Jordânia nem o Egito permitiram a criação de um estado palestino nestes territórios.

A Guerra do Suez, de 1956, foi uma operação conjunta de Israel, Reino Unido e França, na qual Israel invadiu a Península do Sinai e as forças francesas e britânicas ocuparam o porto de Suez para ostensivamente separar as partes conflituosas, apesar de a real motivação destes dois últimos países ter sido a de proteger os interesses dos investidores no Canal do Suez. Esses interesses tinham sido afetados devido à decisão do presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser de nacionalizar o canal. Israel justificou a invasão do Egito pela necessidade de se proteger de ataques à sua população civil pelos fedayin e de restaurar os direitos de navegabilidade pelo estreito de Tiro, que os egípcios reclamavam estar nas suas águas territoriais. As forças invasoras concordaram em se retirar, sob pressão internacional, particularmente dos Estados Unidos da América e da União Soviética. Israel retirou-se da Península do Sinai, que foi ocupada por uma força da Nações Unidas (UNEF), em troca de garantias de utilização e navegabilidade no canal, que afinal ficou sob o controle do Egito. Durante este período deu-se o surgimento do Nasserismo; a proclamação da República Árabe Unida em 1958 e o seu colapso em 1961; disputas entre Israel e Síria relacionadas com áreas fronteiriças terrestres e marítimas: a continuação dos ataques dos fedayin, principalmente a partir da Síria e da Jordânia e represálias israelitas; e o aumento do alinhamento dos estados árabes com a União Soviética, principal fornecedora de armas.

No início da década de 1960, os estados árabes estabeleceram a OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
O artigo 24º da carta (ou pacto) de fundação da OLP, de 1964 estabelecia:
"Esta Organização não exerce qualquer soberania territorial sobre a Cisjordânia, sobre a Faixa de Gaza e sobre a Área de Himmah."




A Guerra dos Seis Dias decorreu entre 5 e 10 de Junho de 1967. 
Foi desencadeada por Israel contra o Egito e a Jordânia nos termos de uma guerra preventiva, já que o estado israelita sentia-se ameaçado pela política pan-árabe do presidente egípcio Nasser (que se traduziu em alianças militares com a Síria e a Jordânia) e pela partida de forças das Nações Unidas presentes no Sinai desde 1956. Alegando um iminente ataque do Egito e da Jordânia, Israel antecipou-se, atacando preventivamente. Reconhece-se atualmente, entretanto, que não havia quaisquer intenções agressivas dos países árabes atacados antes da guerra.



Em consequência da guerra, Israel expandiu-se territorialmente, ocupando a Cisjordânia (conquistada à Jordânia), a Faixa de Gaza e a Península do Sinai (conquistadas ao Egito) e os Montes Golã (conquistados à Síria). A parte da Cidade Antiga de Jerusalém (também chamada Jerusalém Oriental), tomada a 7 de Junho por Israel à Jordânia, seria reunificada por Israel com a Cidade Nova, formando um único município sob jurisdição israelita. Em 1980, uma lei israelita declarou Jerusalém como capital eterna e indivisível de Israel, mas a ocupação de Jerusalém Oriental é considerada ilegal do ponto de vista do direito internacional, tendo sido condenada por uma resolução das Nações Unidas.

A 6 de Outubro de 1973 os exércitos do Egito e da Síria atacaram de surpresa Israel durante a celebração do Yom Kippur, com o objectivo de reconquistarem os territórios que tinham perdido, permitindo-lhes reabrir o Canal de Suez e clamar a vitória.

A Guerra do Líbano de 1982 começou quando Israel atacou o Líbano, justificada por Israel como uma tentativa de remover os militantes Fatah liderados por Yasser Arafat do sul do Líbano, onde tinham estabelecido, durante a guerra civil do país, um enclave semi-independente utilizado para lançar ataques terroristas a civis israelenses. A invasão, que levou à morte de 20 mil libaneses, foi amplamente criticada tanto dentro como fora de Israel, especialmente após o ataque da milícia cristã a civis palestinos da região, no episódio que ficou conhecido como Massacre de Sabra e Shatila. A partir de 16 de junho de 2000, Israel tinha retirado completamente as suas tropas do Líbano, após uma eficiente campanha de resistência do Hezbollah.

A Primeira Intifada (1987-1993) começou como uma revolta dos palestinos, em particular os jovens, contra a ocupação militar israelense na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Líderes da OLP exilados na Tunísia rapidamente assumiram o controle, mas a revolta também trouxe um aumento da importância dos movimentos nacionais palestinos e islâmicos. A Intifada iniciou-se por uma série de movimentos pacíficos. Tornou-se mais violenta depois que os protestos foram brutalmente reprimidos pelo aparato de segurança israelense. Tanto os protestos quanto os movimentos militantes tomaram como inspiração o levante xiita do Líbano que, 1985, provocou a retirada das tropas israelenses da maior parte dos territórios que ocupavam no Líbano.
A Intifada terminou com a assinatura dos Acordos de Oslo entre Israel e OLP.

A Guerra do Golfo (1990-1991) começou com a invasão iraquiana e anexação do Kuwait e não teve inicialmente envolvimento militar direto com Israel. Uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, que incluía forças árabes foi montada para retirar as forças iraquianas do Kuwait. Para chamar Israel para o confronto e dividir a coligação multinacional, o Iraque lançou mísseis Scud sobre cidades e instalações nucleares israelenses perto de Dimona. No entanto, sob forte pressão dos Estados Unidos, que temiam que o envolvimento direto de Israel pudesse ameaçar a unidade da coalizão, Israel não promoveu retaliações ao Iraque e a coalizão multinacional afastou as forças iraquianas do Kuwait. Durante a guerra, a liderança palestina e o Rei Hussein da Jordânia apoiaram a invasão iraquiana do Kuwait. O Kuwait e outras monarquias árabes do Golfo, em seguida, expulsaram pouco menos de 400 mil refugiados palestinos e retiraram o seu apoio à causa palestina, o que se tornaria um dos fatores que levaram a OLP a assinar os Acordos de Oslo.






A Intifada de Al-Aqsa começou no fim de setembro de 2000, na época em que o líder da oposição israelense Ariel Sharon e um grande contingente de guardas armados visitaram o complexo Monte do Templo/Al-Haram As-Sharif em Jerusalém e declararam a área território eterno israelita. Amplos motins e ataques eclodiram em Jerusalém e em muitas das grandes cidades israelenses, e se espalharam por toda a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Um grupo israelense de direitos humanos, B'Tselem, estimou o número de mortos em 3.396 palestinos e 994 israelenses, embora esse número seja criticado por não mostrar toda a imagem, e não distinguir entre combatentes e civis (terroristas suicidas, por exemplo, são contados entre os mortos). Em 2005, Israel evacuou de forma unilateral os assentamentos e os postos militares avançados da Faixa de Gaza e do norte da Cisjordânia.

O conflito israelo-libanês de 2006 teve início em 12 de julho de 2006, com um ataque pelo Hezbollah contra Israel. Três soldados israelenses foram mortos, e dois foram capturados e feitos prisioneiros no Líbano. Alegando como intenção a busca e o salvamento dos soldados capturados, uma operação de mais cinco soldados da Força de Defesa de Israel foram mortos. Isso marcou o início de uma nova onda de confrontos entre Israel e o Hezbollah, que viu a capital libanesa, o único aeroporto internacional libanês, e grande parte do sul do Líbano serem atacados por Israel enquanto milícias libanesas, provavelmente do Hezbollah, bombardeavam o norte de Israel, atingindo até a cidade israelense de Haifa, ao sul do país. Centenas de civis foram mortos, inclusive 90% das vítimas libanesas de ataques aéreos israelenses. Cresceram as preocupações de que a situação ficasse ainda pior, com a possibilidade da Síria ou Irão se envolverem. Mas um cessar-fogo foi assinado, entrando em vigor em 14 de agosto de 2006.

A Operação Chumbo Fundido é uma grande ofensiva militar das Forças de Defesa de Israel, realizada na Faixa de Gaza, a partir do dia 27 de dezembro de 2008, sexto dia da festa judaica de Hanucá. Todavia, na maior parte do mundo árabe, a ação israelense é referida como Massacre de Gaza. O ataque israelense ocorreu dias após o fim de um cessar-fogo, que vigorou por seis meses, conforme havia sido acordado entre o governo de Israel e representantes do Hamas, partido majoritário no Conselho Legislativo da Palestina e que controla a Faixa de Gaza. O Exército de Israel declarou que retiraria as suas tropas da Faixa de Gaza até à posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro, e assim foi.

Em 2 de setembro de 2010, sob a mediação do presidente norte-americano, Barack Obama, no meio de muito ceticismo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, concordaram em retomar negociações de paz diretas, após uma interrupção de 20 meses. Contudo, a irredutibilidade do governo Netanyahu e a proteção diplomática americana impedindo na ONU punições a Israel pela transgressão das normativas internacionais têm reduzindo as margens de manobra dos negociadores, colocando mais uma vez um impasse numa solução final.

Os últimos anos têm sido marcados por acentuados confrontos entre o Hamas e Israel, enquanto as negociações com a ANP estagnavam. Em 2012, um único conflito de uma semana na Faixa de Gaza terminou com a morte de mais de 200 pessoas (a maioria palestinos).

Em 2014, o governo israelense lançou uma nova ofensiva contra Gaza que deixou centenas de mortos. Os recentes conflitos são caracterizados por bombardeios aéreos maciços por parte de Israel a áreas palestinas residenciais densamente povoadas, que fazem várias vítimas inocentes, e pelo lançamento de foguetes Qassam, pelos militantes palestinos, que acabam por atingir primordialmente áreas desabitadas, embora foquem a população civil israelense.





Segundo o jornalista Pepe Escobar, especialista em questões geopolíticas, os últimos grandes ataques de Israel à Faixa de Gaza (Operação Chumbo Fundido, entre 2008 e 2009, e sobretudo a Operação Margem Protetora, em 2014) constituem uma espécie de mini solução final, que consiste em expulsar os palestinos de Gaza, despovoando gradativamente a zona e convertendo seus antigos residentes em refugiados. Para o jornalista, a vitória, definida pelos israelenses como 'destruição do Hamas', significa a inexistência de qualquer poder político capaz de impedir Israel de ter acesso à "terra económica prometida", a saber, os jazimentos de gás natural do território de Gaza. 

"Trata-se de uma guerra energética disfarçada de limpeza étnica em câmara lenta", diz Escobar.

Com a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos a 20 de janeiro de 2017, as coisas voltaram a piorar. O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos Estados Unidos e a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para a cidade de Jerusalém em 2017, foram responsáveis pelos confrontos mais mortíferos registados entre israelenses e palestinos desde 2014. Jerusalém está no centro do conflito que já dura há mais de 70 anos entre israelenses e palestinos - ambos veem a cidade como sagrada e a reivindicam como capital.
Os recentes desdobramentos abrem mais um capítulo na história de animosidade entre os dois povos. A disputa pela cidade, sagrada não só para judeus e muçulmanos, mas também para cristãos, é quase tão antiga quanto a luta por territórios entre israelenses e palestinos - e a decisão tomada pelo presidente Trump foi vista como um risco às negociações de paz na região. 

A construção nos colonatos registou um 'boom' desde a chegada ao poder do presidente norte-americano, Donald Trump, em 2017. 
Os colonatos israelitas são assentamentos ilegais construídos a partir de 1968, no Egito, Jordânia, Líbano e Síria, em territórios ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Desde então esses territórios são controlados pelo estado judeu. A ocupação dos territórios não é reconhecida internacionalmente.
Esses assentamentos estão localizados em três áreas principais:
Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golan. 
Em novembro de 2009, cerca de 400.000 israelenses viviam na Cisjordânia, em 168 assentamentos oficialmente reconhecidos. Outros 280.000 viviam em Jerusalém Oriental. Esses assentamentos tanto podem ser fazendas comunitárias como vilarejos de fronteira, com algumas centenas de habitantes, ou verdadeiras cidades, como Ariel. No caso de Jerusalém Oriental, trata-se de bairros dentro da cidade.

Os três maiores colonatos - Modi'in Illit, Maale Adumim e Betar Illit - são cidades com população superior a 30.000 residentes. Todavia, segundo um relatório confidencial do Ministério da Defesa de Israel, publicado pelo jornal Haaretz, em cerca de 75% dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, construções foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses. Segundo o mesmo estudo, em 30 colónias foram construídos “prédios e infraestruturas, incluindo estradas, escolas e delegacias policiais, em terras privadas de palestinos”.

Em Maio de 2018 o ministro da Defesa de Israel anunciou a intenção de aprovar mais 2.500 habitações para colonos na Cisjordânia ocupada. O ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano afirmou que os colonatos israelitas constituem a "ameaça mais perigosa para a vida dos palestinianos e para os seus meios de subsistência". Nestes colonatos vivem 400.000 israelitas, enquanto 200.000 estão a residir em Jerusalém Leste, ocupado e anexado pelo Estado hebreu. De acordo com a Manutenção de Paz, uma organização não-governamental opositora à colonização nos territórios ocupados por Israel desde 1967, 6.742 projetos de construção de habitações foram aprovados no ano passado, o maior número desde 2013, enquanto em 2016 o registo foi de 2.629.

A comunidade internacional considera ilegal os colonatos judaicos na Cisjordânia e um obstáculo maior para se encontrar a paz com os palestinianos.
Em Agosto de 2018 Israel autoriza a construção de mais de 1.000 casas em colonatos na Cisjordânia. Segundo a organização anticolonatos Shalom Achshav (Paz Agora),  uma Organização Não-Governamental (ONG) israelita, 96% dos fogos agora autorizados localizam-se em colonatos que teriam de ser evacuados num futuro acordo de paz. A organização afirma ainda que a construção nos colonatos registou um 'boom' desde a chegada ao poder do presidente norte-americano, Donald Trump, em 2017. Desde então, o governo israelita aprovou mais de 15.000 novas residências na Cisjordânia, território palestiniano ocupado há mais de 50 anos pelo exército israelita.

Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelita) quer sacrificar os interesses israelitas para as eleições de 9 de Abril de 2019, oferecendo aos colonos um presente para reforçar os votos da extrema-direita a seu favor.

A expansão dos colonatos na Cisjordânia retalhou este território, tornando difíceis as deslocações sobretudo desde que os israelitas construíram vedações e muros de separação, isolando os palestinos deixando-os sem fornecimentos fundamentais à sua sobrevivência. Qualquer perspectiva de resolução para aquela região implica que se encontre uma solução para os colonatos. Israel terá sempre de abandonar a maioria dos colonatos, e alguns são muito populosos, ao contrário do que sucedia no Sinai e na Faixa de Gaza.




Há também dificuldades políticas. 
Alguns dos partidos israelitas sem os quais não se consegue formar uma maioria de governo defendem a ideia de que a Cisjordânia – as terras bíblicas da Judeia e Samaria – são parte inalienável de Eretz-Israel, e por isso nunca deverão ser cedidas aos palestinianos. Os colonos também têm um partido político com representação parlamentar e são politicamente muito activos. Em contrapartida Israel está totalmente isolado na sua política face aos colonatos.
Já foi condenado duas vezes nas Nações Unidas e nem os seus aliados ocidentais apoiam a expansão desta forma de ocupação apesar de o lançamento de novas construções nunca ter verdadeiramente parado. 

Actualmente vivem mais de 300 mil judeus nos colonatos da Cisjordânia e mais 200 mil nos que foram construídos nos subúrbios Jerusalém Oriental. Cerca de 500 mil colonos israelitas vivem em coexistência, muitas vezes num ambiente tenso e conflituoso, com mais de 2,5 milhões de palestinianos na Cisjordânia, território ocupado desde 1967 por Israel.




Tudo isto começou com o Movimento Sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, que ganhou força por volta de 1920, em reação ao antissemitismo sofrido por eles na Europa.
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. As aspirações sionistas deram início a um forte movimento migratório judaico, que gerou resistência entre as comunidades locais. Após a desintegração do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações, órgão internacional antecessor da Organização das Nações Unidas (ONU), para administrar o território da Palestina. Antes e durante a guerra, contudo, os britânicos fizeram, tanto aos árabes quanto aos judeus, uma série de promessas que não se cumpririam - entre outras razões, porque o Reino Unido já havia repartido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre os dois lados que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes. 

Após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, aumentou a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. O plano original previa a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e palestinos.
A religião judaica diz que a área em que Israel foi fundado é a terra prometida por Deus ao primeiro patriarca, Abraão, e seus descendentes. A região foi invadida pelos antigos assírios, babilónicos, persas, macedónios e romanos. Roma foi o império que nomeou a região como Palestina e, sete décadas depois de Cristo, expulsou os judeus de suas terras depois de lutar contra os movimentos nacionalistas que buscavam independência.

Com o surgimento do islão, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e depois conquistada pelas cruzadas europeias. Em 1516, estabeleceu-se o domínio turco, que durou até a Primeira Guerra Mundial, quando o mandato britânico foi imposto.
A Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina disse em seu relatório à Assembleia Geral em 3 de setembro de 1947 que as razões para estabelecer um Estado judeu no Oriente Médio eram baseadas em "argumentos a partir de fontes bíblicas e históricas" e na Declaração de Balfour de 1917, em que o governo britânico se posicionou favoravelmente a um "lar nacional" para os judeus na Palestina. Reconheceu-se a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e as bases para a constituição de um Estado judeu na região.





Após o Holocausto nazista contra milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, cresceu a pressão internacional para o reconhecimento. Sem conseguir resolver a polarização entre o nacionalismo árabe e o sionismo, o governo britânico levou a questão à ONU. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral aprovou um plano de partilha da Palestina, que recomendou a criação de um Estado árabe independente e de um Estado judeu, além de um regime especial para Jerusalém. O plano foi aceito pelos israelenses, mas não pelos árabes, que o viam como uma perda de seu território. Por isso, nunca foi implementado. Um dia antes do fim do mandato britânico da Palestina, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel, representante dos judeus durante o mandato, declarou a independência do Estado de Israel. No dia seguinte, Israel solicitou a adesão à ONU e foi aceito um ano depois. Hoje, parte dos membros da organização ainda não reconhece o Estado israelense - o mesmo vale para a Palestina.

A divisão do território foi definida pela linha de armistício de 1949, estabelecida após a primeira guerra árabe-israelense, criando assim dois territórios palestinos: a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) e a Faixa de Gaza. A distância entre eles é de cerca de 45 km. Têm uma área de 5.970 km2 e 365 km2, respectivamente.

Originalmente ocupada por Israel, que ainda mantém o controle de sua fronteira, Gaza foi tomada pelo Exército israelense na guerra de 1967 e desocupada apenas em 2005. Israel, no entanto, mantém um bloqueio por ar, mar e terra que restringe a circulação de mercadorias, serviços e pessoas, deixando os palestinos de Gaza completamente isolados. 

Em 2007, Gaza passou a ser governada pelo Hamas, grupo islâmico que nunca reconheceu os acordos assinados entre Israel e outros grupos palestinos. Em Outubro daquele ano, um acordo de reconciliação entre o Hamas e o laico Fatah - ambos grupos palestinos, porém rivais - deu à Autoridade Palestina o controle administrativo de Gaza.

Após a criação do Estado de Israel e o deslocamento de milhares de pessoas que perderam suas casas, o movimento nacionalista palestino começou a se reagrupar na Cisjordânia e em Gaza, controlados pela Jordânia e pelo Egito, respectivamente, e nos campos de refugiados criados em outros países árabes. Pouco antes da guerra de 1967, organizações palestinas como o Fatah, então liderado por Yasser Arafat, formaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e lançaram operações contra Israel - primeiro a partir da Jordânia e, depois, do Líbano. Os ataques também incluíram alvos israelenses em solo europeu.
Em 1987, teve início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense, a intifada. A violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a assinatura, entre a OLP e Israel em 1993, dos Acordos de Paz de Oslo, nos quais a organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de Israel "de existir em paz e segurança", algo que o Hamas nunca aceitou. 

Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele, por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades civis e de segurança controlam áreas urbanas (a chamada "zona A"). Somente representantes civis - e não militares - governam áreas rurais ("zonas B").

Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica pelos palestinos, não está incluída nesse acordo e é uma das questões mais polémicas entre as partes. Em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, quando teve início a segunda intifada palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito permanentes.

Os principais pontos de conflito: 
A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e o bloqueio de Israel a Gaza, condenada pelo Tribunal Internacional de Haia, complicam o andamento de um processo de paz.
Mas esses não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então presidente americano Bill Clinton não conseguiu mediar um acordo entre Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak.

As diferenças que parecem irreconciliáveis são:
- Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira e afirma que a cidade é sua capital "eterna e indivisível", após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital.
- Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria Jerusalém Oriental, algo rejeitado por Israel.
- Colonatos: ilegais sob a lei internacional, foram construídos pelo governo israelense nos territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, há mais de meio milhão de colonos judeus.
- Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com a OLP, dos quais cerca de metade são registados na ONU) têm o direito de voltar ao que é hoje Israel. Mas, para o governo israelense, permitir o seu retorno destruiria a sua identidade como um Estado Judeu.

A ONU reconheceu a Palestina como um "Estado observador não membro" no final de 2012, deixando de ser apenas uma "entidade" observadora. A mudança permitiu aos palestinos participar de debates da Assembleia Geral e melhorar as hipóteses de filiação a agências da ONU e outros organismos. Mas o voto não criou um Estado Palestino. Um ano antes, os palestinos tentaram, mas não conseguiram apoio suficiente no Conselho de Segurança.

A existência de um importante e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos e o fato de a opinião pública ser frequentemente favorável aos israelenses torna praticamente impossível a um presidente americano retirar o apoio a Israel.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela BBC em 2013 em 22 países, os Estados Unidos foram a única nação ocidental com opinião favorável a Israel e a única com uma maioria de avaliações positivas (51%).
Além disso, ambos os países são aliados militares: Israel é um dos maiores receptores de ajuda americana, em grande parte destinada a subsídios para a compra de armas.

Já os palestinos não têm apoio declarado de nenhuma potência. 
Na região, o Egito deixou de apoiar o Hamas, cujo apoio principal hoje vem do Catar.


O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura? Israelenses teriam de aceitar a criação de um Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas três áreas que formariam o Estado palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. 
Grupos palestinos precisariam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel.
Além disso, teriam de chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, colonatos e o retorno de refugiados. 

No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram, especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e israelenses. Para Israel, esses são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967. 

Além disso, enquanto no campo militar a tensão é constante na Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de colonatos israelenses, o que reduz, na prática, o território palestino nestas áreas.





Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém. 
Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o Hamas, em Gaza, reivindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel tê-la ocupado em 1967. Um pacto definitivo dificilmente será possível sem resolver esse ponto, questão agora ainda mais complexa após a decisão americana de reconhecer a cidade como capital de Israel e transferir a sua embaixada para lá. 
A decisão de Trump é a concretização de uma medida aprovada em 1995 pelo Congresso americano, prevendo a mudança da embaixada para Jerusalém. No entanto, isso nunca havia sido posto em prática, porque era necessária a aprovação da Presidência. Desde então, em todos os semestres, o ato do Congresso foi encaminhado aos presidentes americanos, mas a praxe sempre foi renunciar à mudança. Apesar de parecer contraditório, foi o que o próprio Trump fez inicialmente. O republicano também assinou a renúncia, para que houvesse tempo de iniciar a transferência da embaixada, mas anunciou publicamente o reconhecimento da cidade como capital israelense. Agora, a transferência da embaixada foi consumada, o que intensificou ainda mais a tensão na região na véspera da celebração da Nakba.

Atualmente, a maioria dos países mantém as suas embaixadas em Tel Aviv, justamente pela falta de consenso na comunidade internacional sobre o status de Jerusalém. A posição da maior parte da comunidade internacional,  é a de que o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.

No conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém, cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é uma das questões mais polémicas e ponto crucial nas negociações de paz.  
A Autoridade Palestina reclama toda Jerusalém Oriental, incluindo o Monte do Templo, como a capital do Estado da Palestina. A posição oficial dos palestinos é de que Jerusalém deveria ser uma cidade sem partição física e que a Palestina garantiria liberdade de culto, acesso e proteção dos locais de importância religiosa.







O Monte do Templo é a grande questão no que diz respeito a Jerusalém:



O Monte do Templo, Har Ha-Bayit em hebraico, em alusão ao antigo templo, conforme é conhecido pelos judeus e cristãos, também chamado Nobre Santuário pelos muçulmanos, é um lugar sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, sendo também um dos locais mais disputados do mundo.
Lá se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, construídos no século VII e que estão entre as mais antigas estruturas do mundo muçulmano. Por essa razão, o lugar é também referido pela imprensa como Esplanada das Mesquitas.

Trata-se do local mais sagrado do judaísmo, já que é no Monte Moriá que se situa a história bíblica do sacrifício de Isaac. O monte Moriá (em hebraico: Mōriyāh, que significa "ordenado/considerado por Deus") é o local onde, segundo o livro de Génesis, ocorreria o sacrifício de Isaque. Também seria o local onde Salomão construiu a casa do Senhor, em Jerusalém. No monte Moriá, Deus apareceu a Davi, pai de Salomão quando Davi preparou a eira (o lugar) que pertenceu a Araúna, o jebuseu, para a construção do Templo do Senhor a que Jeová prometeu que seria construído por seu filho Salomão. O rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888), no seu conhecido comentário sobre a Tora, comenta: "Se é verdade aquilo que os Mestres ensinam, que o nome Moriá indica a localidade da qual saiu o ensino, o esclarecimento; se foi nesse lugar que Caim e Abel ofertaram os primeiros sacrifícios; se foi nesse lugar que Noé, quando saiu da arca depois do Dilúvio, ofereceu a Deus o seu sacrifício de gratidão; se tudo isso é verdade, então devemos concluir que com a indicação do monte Moriá como lugar consagrado, foi dado a conhecer a Abrahão que este seu ato não seria importante e transcendental somente para ele, mas também para as gerações vindouras." Monte Moriá também é a designação dada a uma colina rochosa onde o rei Salomão construiu o templo para Deus. Foi o seu pai, o rei David, que adquiriu o terreno do jebuseu Araúna para erigir ali um altar.
A antiga tradição judaica associa o lugar onde o Templo de Salomão se erguia com o monte na "terra de Moriá", onde Abraão, às ordens de Deus, ofereceu o seu filho. Foi para a "terra de Moriá" que Abraão viajou e, no terceiro dia, ele viu à distância o lugar indicado por Deus. Parece evidente que o monte Moriá não era habitado no tempo de Abraão, sendo portanto um local isolado e adequado para a realização do sacrifício. Salém, o povoado que mais tarde deu origem à capital do Reino de Israel, Jerusalém, deveria situar-se a alguma distância daquele local. Que o lugar ainda se encontrava isolado séculos depois pode ser deduzido do facto de ali existir uma eira, nos dias de Davi, não se mencionando qualquer construção naquele local.

Actualmente, o santuário islâmico conhecido como Domo da Rocha ou Cúpula da Rocha fica no alto do Monte Moriá, Cúpula da Rocha ou Domo da Rocha são nomes atribuídos à Mesquita de Omar, situada no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém. O edifício, construído no século VII, é um dos sítios mais sagrados do islamismo e uma das grandes obras da arquitectura islâmica. Sua vistosa cúpula dourada é um dos pontos mais emblemáticos da cidade. A mesquita é parte integrante do centro histórico de Jerusalém, declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1981. O edifício é um santuário onde teria sido o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas que introduziram o ritual nos cultos judaicos. Davi e Salomão também consideraram o local sagrado, mais tarde enquanto altar, a Cúpula da Rocha teria sido o lugar de partida da Al Miraaj (viagem aos céus realizada pelo profeta Maomé) permanece hoje como um templo da fé islâmica. A Cúpula da Rocha recebeu esse outro nome devido à grande rocha circunscrita a ela que foi usada em sacrifícios — atualmente protegida no interior da Mesquita de Omar — e constitui uma das razões pelas quais a cidade de Jerusalém é considerada Cidade Santa por várias religiões.

Segundo a tradição judaica, foi nessa rocha que Abraão preparou o sacrifício do seu filho Isaac a Deus e onde, mil anos antes de Cristo, o rei Salomão construiu o primeiro templo.
Para os muçulmanos, lá teria ocorrido o sacrifício de Ismael. O lugar da "pedra do sacrifício" (a Sagrada Pedra de Abraão) foi eleito pelo rei David para construir um santuário que albergasse o objeto mais sagrado do judaísmo, a Arca da Aliança. As obras foram terminadas por Salomão no que se conhece como Primeiro Templo ou Templo de Salomão e cuja descrição só conhecemos através da Bíblia, já que foi profanado e destruído por Nabucodonosor II em 587 a.C., dando início ao exílio judaico na Babilónia.

Uns anos depois foi reconstruído o Segundo Templo, que voltou a ser destruído em 70 d.C. pelos romanos, com a exceção do muro ocidental, conhecido como Muro das Lamentações, que ainda se conserva e que constitui o lugar de peregrinação mais importante para os judeus. Segundo a tradição judaica, é o sítio onde deverá construir-se o terceiro e último templo nos tempos do Messias.
É o terceiro lugar mais sagrado do islamismo, por se referir à jornada de Muhammad de Meca a Jerusalém e sua ascensão ao paraíso. O local é também associado a vários outros profetas - assim considerados tanto por judeus quanto por muçulmanos.

Actualmente, o acesso aos templos é bloqueado por questões de segurança (o que algumas organizações vêem como violações aos direitos humanos), porém em determinadas ocasiões do ano o acesso de fiéis oriundos da Cisjordânia é liberado pelo exército israelense; durante o Ramadão de 2008, por exemplo, o então ministro da defesa do país, Ehud Barak, permitiu o acesso, durante as reuniões de sexta-feira, apenas de homens entre 45 e 50 casados, mulheres de 30 e 45 anos, além de homens com mais de 50 e mulheres com mais de 45 anos.

A ONU não reconhece a anexação de Jerusalém Oriental, considerada como território ocupado. Ela declarou a lei israelense de 1980 como uma violação Direito Internacional. Para o organismo, o status final de Jerusalém deve ser negociado entre as partes.

O governo russo, no qual Moscovo disse considerar "Jerusalém Ocidental como a capital de Israel". A nota também reconhecia "Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado palestino". "Confirmamos lealdade às decisões da ONU sobre os princípios de resolução, incluindo o estatuto de Jerusalém Oriental como capital do futuro estado palestiniano. Entretanto, achamos necessário acrescentar que, neste contexto, classificamos Jerusalém Ocidental como a capital de Israel", diz o comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, citado pela imprensa estatal.

Não há consenso sobre o status de Jerusalém. 
Há sete décadas, a cidade é disputada por Israel e Palestina como capital de seus respectivos estados. 
Para a comunidade internacional, a cidade deveria ser partilhada entre israelenses (porção ocidental) e palestinos (porção oriental), enquanto Israel diz que a cidade toda, unificada, é sua.

Encravada entre Israel e a Cisjordânia (território palestino ocupado por Israel onde tem feito bastantes colonatos para aumentar aí a sua influência), Jerusalém funciona como um microcosmo do conflito israelense-palestino.

Argumentos a favor e contra o reconhecimento da cidade berço das três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e judaica) como capital de Israel:

  •  Para a maior parte da comunidade internacional, incluindo a maioria dos países membros ONU, a capital de Israel não é Jerusalém. Todas as embaixadas - excetuando-se, agora, a dos Estados Unidos - estão em Tel Aviv, a 90 quilómetros dali. Isso porque foi em Tel Aviv onde, em 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência e começou a organizar o governo do novo país.

"A posição quase consensual internacional é: enquanto não for definido o status de Jerusalém, são reconhecidas como capitais as sedes provisórias de seus governos. No caso da Palestina, o governo de fato está em Ramala, a alguns quilómetros de Jerusalém. E o mesmo vale para Israel. Israel, no entanto, declarou Jerusalém como sua capital "completa e unificada" em 1980, anexando formalmente a porção oriental da cidade e contrariando compromissos firmados em 1949. Na época, após a guerra árabe-israelense, criou-se a chamada "linha verde", que definiu as fronteiras internacionalmente reconhecidas para Israel até hoje, dividindo Jerusalém entre Palestina e Israel.


  •  O governo de Israel evoca diversos argumentos. Um deles é a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Após o conflito, para defender-se de uma coalizão de países árabes, Israel tomou territórios até então sob controle palestino - incluindo a parte leste de Jerusalém. Na sequência, Israel passou a ampliar os assentamentos judeus na região, de maneira a reforçar sua presença na área. Argumentos religiosos também estão presentes nos discursos oficiais. "Jerusalém é mencionada no Novo Testamento 220 vezes. Na Bíblia judaica, aparece 260 vezes. Não aparece uma vez no Alcorão.
  •  A população de Jerusalém é hoje de maioria judaica devido aos colonatos. Na parte oriental, prevalecem palestinos, que vivem lá com uma permissão de residência concedida pelo governo de Israel - são os palestinos jerusalemitas. Embora eles tenham liberdade de circulação no território, não são considerados cidadãos israelenses e, portanto, não gozam dos mesmos direitos que os israelenses.