terça-feira, 29 de dezembro de 2020

PASSAGEM DO ANO






O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus…

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles… e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
in, ROSA DO POVO






A Vida





A vida decepciona-te para parares de viver com ilusões, e para veres a realidade.
A vida destrói todo o supérfluo até que reste somente o importante.
A vida não te deixa em paz, para que deixes de te culpar, e aceites tudo como “É”.
A vida vai tirar-te o que tens, até parares de reclamar e começares a agradecer.
A vida envia pessoas difíceis para te curar, para deixares de olhar para fora e começares a reflectir o que tu és por dentro.
A vida permite que tu caias de novo e de novo, até que decidas aprender a lição.
A vida tira-te do caminho e apresenta-te encruzilhadas, até que tu pares de querer controlar tudo e fluas como um rio.
A vida coloca os teus inimigos na estrada, até que tu pares de “reagir”.
A vida te assusta e assustará quantas vezes for necessário, até que tu percas o medo e recuperes a fé.
A vida tira-te o teu amor verdadeiro, não concede ou permite, até que tu pares de tentar comprá-lo.
A vida distancia-te das pessoas que amas, até entenderes que não somos este corpo, mas a alma que ele contém.
A vida ri-se de ti muitas e muitas vezes, até tu parares de levar tudo tão a sério e começares a rir de ti mesmo.
A vida quebra-te em tantas partes quantas forem necessárias para a luz penetrar em ti.
A vida confronta-te com rebeldes, até que tu pares de tentar controlar.
A vida repete a mesma mensagem, se for preciso com gritos e tabefes, até tu finalmente ouvires.
A vida envia raios e tempestades, para te acordar.
A vida humilha-te, e por vezes derrota-te de novo e de novo, até que tu decidas deixar o teu ego morrer.
A vida nega-te bens e grandeza, até que pares de querer bens e grandeza e comeces a servir.
A vida corta a tuas asas e poda as tuas raízes, até que não precises de asas nem raízes, mas apenas desapareças nas formas e o teu ser voe.
A vida nega-te milagres, até que entendas que tudo é um milagre.
A vida encurta o teu tempo, para te apressares a aprender a viver.
A vida ridiculariza-te até te tornares nada, ninguém, para então te tornares tudo.
A vida não te dá o que tu queres, mas o que tu precisas para evoluir.
A vida magoa-te e atormenta-te até que tu soltes os teus caprichos e birras, e aprecies a respiração.
A vida te esconde tesouros até que tu aprendas a sair para a vida e buscá-los.
A vida nega-te Deus, até que consigas vê-lo em todos e em tudo.
A vida acorda-te, poda-te, quebra-te, desaponta-te… Mas acredita, isso é para que o teu melhor se manifeste… até que só o AMOR permaneça em ti.



Bert Hellinger





quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

I Dream I'm the Death of Orpheus



Anka Zhuravleva





I am walking rapidly through striations of light and dark thrown under an arcade.

I am a woman in the prime of life, with certain powers
and those powers severely limited
by authorities whose faces I rarely see.
I am a woman in the prime of life
driving her dead poet in a black Rolls-Royce
through a landscape of twilight and thorns.
A woman with a certain mission
which if obeyed to the letter will leave her intact.
A woman with the nerves of a panther
a woman with contacts among Hell’s Angels
a woman feeling the fullness of her powers
at the precise moment when she must not use them
a woman sworn to lucidity
who sees through the mayhem, the smoky fires
of these underground streets
her dead poet learning to walk backward against the wind
on the wrong side of the mirror.



Adrienne Rich





Para vencer é preciso arriscar


Gabriel Barceló
Exposição "Rostros Andinos"





- As serpentes podem ser muito perigosas. - Explicou Mama Maru.
Existem três tipos de serpentes: 
O primeiro tipo são as serpentes que se assustam ou fogem facilmente e que, assim que ouvem os passos de alguém escapam e só atacam quando estão encurraladas; 
O segundo tipo são as serpentes agressivas, perversas, com um carácter terrível e que, quando se zangam, costumam andar às voltas, e quando não conseguem morder, mordem-se a si mesmas acabando por suicidarem-se, tal como fazem os seres humanos; 
O terceiro tipo são serpentes serenas, normalmente de grandes dimensões, pacíficas e sábias, chegando até a proteger as crianças em situações de perigo, e que habitualmente morrem de fome ou de morte natural.
(...)
- Há duas maneiras de domar as serpentes, disse Mama Maru a Kantu.
Com a Voz e com o Olhar.

(...)
É assim que se deve domar as serpentes.
E é assim que deves superar o medo. - Concluiu Mama Maru.
Na vida, não basta saber conviver com as serpentes, é fundamental aprender a conhecer e a enfrentar as serpentes de qualquer espécie.
Terás de usar a tua força mental para domares as serpentes e persuadi-las de que não podem e não devem morder-te, porque és mais forte do que elas. 
Terás de infundir muita força às tuas palavras, fazendo com que os sons venham do teu ventre; só assim as conseguirás subjugar; e para as domares totalmente terás de usar os olhos. 
Não podes duvidar, um instante que seja, de ti própria, do teu poder, da tua vontade - recomendou-lhe Mama Maru.
(...)
A verdadeira mulher deve mover-se como a serpente: aproxima-se e afasta-se sem dar nas vistas.
O movimento da mulher deve ser como uma carícia.

(...)
- Vês? Já as dominas. mereceste o direito de entrar para o grupo das Mulheres Serpente, das mulheres que venceram a guerra, das mulheres que conhecem a impiedosa guerra que aflige o mundo. 
Nós pertencemos a outra classe: 
somos mulheres apaixonadas pela vida e pela morte.
Acabaste de abrir outra porta. - Disse-lhe Mama Maru.
(...)
Agora, Kantu mereceu entrar para o grupo das Amaru.
Agora, era uma Mulher Serpente!
Agora Kantu sabia que a Serpente é um animal poderoso, enérgico, mas também que a mulher é muito mais poderosa e enérgica. Começou a compreender o significado do símbolo da mulher que pisa a cauda da serpente, utilizado por algumas religiões. 
Compreendeu que a mulher possui uma força interior muito poderosa que pode projectar-se para o exterior através da Voz e dos Olhos.
Mas para isso, a mulher tem de ter nervos de aço, uma enorme determinação, coragem, audácia, astúcia, e muita paciência. 
Atributos que Kantu demonstrou possuir.
Sentia-se muito mais segura de si, agora sabia que era capaz.
Aquela experiência demonstrou-lhe que sempre possuíra aquela força dentro de si, só que antes não sabia como projectá-la para o exterior.
(...)
- Para obter o que quer que seja na vida, temos de ousar, temos de enfrentar os obstáculos que se apresentam diariamente na nossa estrada e que fazem parte da nossa vida.
Temos de ser audazes e arriscar.
Os obstáculos superados fortalecem-nos e fazem-nos crescer como seres humanos porque nos valorizam. - Explicou Mama Maru.




in, A Profecia da Curandeira
Hernán Huarache Mamani








terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Era Urso?





Um urso hiberna na floresta e depois de meses acorda no pátio de uma fábrica que ali, no inverno, fora construída. Todos o tratam como um operário barbudo e imundo que precisa tomar banho para assumir o trabalho sem mais demora.
O que se segue é um embate feroz entre a argumentação do Urso, pautada em sua certeza de quem ele é, e todos os outros – o Vigia, o Chefe, o Gerente, o Diretor, o Vice-presidente e as respectivas todas Secretárias – que desdenham de seu engano e afirmam em coro que ele não passa de um vagabundo que mente.
O Presidente, quando por fim é acionado, do alto de sua presidência, profere tranquilamente a sentença: – Caaaaalma, meu filho. Você está muuuuuuito nervoso. Não precisa esconder nada… Sei muito bem que você não é urso. Faça a barba, tome banho, troque de roupa e vá trabalhar.
E como o Urso ainda assim insiste, para que se convença de uma vez por todas, levam-no ao Zoológico e ao Circo, lá onde vivem os ursos, lá onde se fosse urso certamente estaria.
O que lhe dizem os bichos – os ursinhos, inclusive – é que ele é um impostor, um vagabundo querendo se passar por urso! E trazem de volta o coitado para trabalhar com os operários.

Passa o tempo, passa de novo o tempo, e um dia a fábrica fecha…
Vão todos embora, mas o Urso não tem para onde voltar.
Olha para o céu e avista um bando de gansos voando para os trópicos – sabia que os gansos só voam naquela direção quando chega o inverno. Procura uma toca para se enfurnar, mas quando por fim encontra lhe vem à cabeça a imagem do Vigia, do Chefe, do Gerente, do Diretor, do Vice-presidente e do Presidente e da sua condição de humano, demasiado humano: – Eu não posso entrar na toca. Não sou um urso. Sou apenas um homem preguiçoso, que precisa tomar banho, fazer a barba e trocar de roupa.

O frio aumenta e aumenta e ele tem saudade do quentinho da fábrica…
Quando não dá mais para suportar, levanta-se, afasta a neve em redor e caminha para a toca – lá na certa haveria calor. Entra com dificuldade, deita-se lá no fundo, se espreguiça, boceja, coça a barriga, deita-se outra vez de costas, cochila, dorme e sonha… que era um Urso.


Adaptação feita por Rosaura Soligo 
de Esdras do Nascimento, 
adaptado do original de Frank Tashlin (Ediouro, 1994).





Staind - It's Been Awhile (Official Video)

domingo, 6 de dezembro de 2020

Be as fresh as consciousness


Laura Zalenga



What you are is magnificent;
what we believe we are is so limited.
We don’t need to carry on this personal story.
It is not contributing to the beauty and freedom of your life.
Don’t be enslaved by the conditioned or indoctrinated mind.
It wants you to make anniversaries out of your pain—forget about it.
You don’t have to be so loyal, so faithful
to any tendency that causes suffering.

Often we ruminate over the past, not in order to be free,
but to strengthen the sense of ‘me’.

We say we can’t change the past, but yes you can!
Did you perceive it right in the first place?
Who is to say your perception is a fact?

It would be a futile and unending task
to search for the innumerable strands that have contributed
to the person you take yourself to be; mostly they are untraceable.
Better just drop the whole thing
and thus remain empty of conceptual debris.
Be fresh every moment.
Be as fresh as consciousness—history-less and happy.


~ Mooji


Seres Inteiros





Antigas formas de se relacionar não funcionam mais, nem antigos paradigmas de amor romântico, posse, sacrifício, culpa, de "salvar" o outro e depositar nele a nossa felicidade. Cada pessoa necessita trabalhar seus padrões emocionais, suas dores e dissabores, para não repetir sempre as mesmas situações nas relações. Necessitamos desenvolver relacionamentos mais íntegros, com respeito à individualidade e às peculiaridades de cada um. Não são metades que se buscam, mas seres inteiros que, nesta inteireza, são capazes de compartilhar aprendizagens e evolução. É um desafio e tanto, mas somente dessa forma é que evoluiremos como indivíduos e como parceiros de vida. 
Isabel Mueller




quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

The Pawn


 Victoria Ivanova





As I often watch people playing chess
my eye follows one Pawn
that little by little finds his way
and manages to reach the last line in time.
He goes to the edge with such eagerness
that you reckon here surely will start
his enjoyments and his rewards.
He finds many hardships on the way.
Marchers hurl slanted lances at him;
the fortresses strike at him with their wide
flanks; within two of their squares
speedy horsemen artfully
seek to stop him from advancing
and here and there in a cornering menace
a pawn emerges on his path
sent from the enemy camp.

But he is saved from all perils
and he manages to reach the last line in time

How triumphantly he gets there in time,
to the formidable last line;
how eagerly he approaches his own death!

For here the Pawn will perish
and all his pains were only for this.
He came to fall in the Hades of chess
to resurrect from the grave
the queen who will save us.



C.P. Cavafy



Álbum de Família





Família é sempre um prato cheio – e agridoce. 
Amor e ódio, atração e rejeição, acolhimento e desprezo, idealizações e desilusões, carinho e perversidade: um cardápio sortido de emoções contraditórias distribuídas sobre a mesa. 
Em volta dela, nós, famintos por compreensão e tendo que ser diplomáticos e civilizados até que uma provocação nos faça perder as estribeiras.

A questão é que entre família não há divórcio. Não existe ex-pai, ex-mãe, ex-filho, mesmo que se suma do mapa, mesmo que peguemos a estrada para o mais longe possível. DNA é praga. Não tem rota de fuga. Nasceu, está danado. Então, melhor condescender do que se estressar. 

Há famílias mais serenas do que outras, mais afetuosas do que cínicas, mais cinematográficas do que teatrais. Ainda assim, sempre haverá um papel para cada um de seus membros: o de vilão, o de vítima, o de playboy, o de trabalhador, o de folgado, o de frágil, o de problemático, todos apegados aos motivos que os levaram a ser como são.

E eles se acusarão a vida inteira, e se defenderão, e nunca haverá um consenso, e de nada adiantará tanto berro: de dramáticos passarão a patéticos, inevitavelmente.
Tragédia e comédia cedo ou tarde dão-se as mãos, elas que também são da mesma família.



Martha Medeiros




segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Theodotos


Ondrej Medved






 If you are one of the truly elect,
be careful how you attain your eminence.
However much you're acclaimed, however much
the cities praise the great things you've done
in Italy and Thessaly,
whatever honours
your admirers decree for you in Rome,
your elation, your triumph won't last,
nor will you feel yourself so superior-
superior is the last thing you'll feel-
when Theodotos brings you, in Alexandria,
on a blood-stained tray,
miserable Pompey's head.

And don't be too sure that in your life-
restricted, regulated, prosaic-
spectacular and horrible things like that don't happen.
Maybe this very moment Theodotos-
bodiless, invisible-
enters some neighbour's tidy house
carrying an equally repulsive head.



Constantine P. Cavafy





Consciência das Leis Universais






A espiritualidade, ou seja, a consciência das leis universais e da viagem de evolução pessoal, acordam-nos para cumprirmos o nosso propósito e para a responsabilidade sobre tudo o que vamos colhendo como consequências de ações passadas, e também sobre o que vamos semeando através das nossas escolhas presentes.


Enquanto este Despertar para o nosso mundo interior não acontece, vivemos adormecidos presos à Matrix, ou seja, às realidades exteriores e materiais, sejam elas objectivos e metas profissionais, sociais, familiares ou mesmo românticas.

Este estado de inconsciência espiritual impede-nos de percebermos o que nos acontece, porque nos acontece, quando nos acontece, e quem nos rodeia e faz-nos acreditar que somos impotentes e que estamos sujeitos ao caos, à sorte e ao azar.


O Despertar faz-nos perceber que a realidade exterior é afinal um holograma da realidade interior. 
Que o Universo é um espaço cheio de Magia. 
Que TODOS os movimentos são inteligentes e apoiados por leis, que uma máquina cósmica muito mais avançada do que o melhor dos nossos relógios ou computadores, rege o processo de evolução espiritual de cada um de nós ao longo das nossas encarnações, através das propostas sincrónicas que vamos atraindo a cada momento. É tão avançada e inteligente que, mesmo rodeados de tecnologia avançada, se torna difícil de concebermos a inteligência e potencial desta máquina cósmica, capaz de levar a cada um de nós, propostas únicas e diferentes que fazem parte do caminho individual de cada um.

São muitos os filósofos e cientistas que começaram a perceber que a fonte de energia do cosmos é uma só, que é inteligente, que é dual, que é intemporal e que se manifesta tanto no plano físico (ciência) como no plano metafísico (espiritual).


Tenho reparado que ainda há muita gente que vê o caminho espiritual como um caminho de amor, alegria e paz interior. Um caminho onde os testes se tornam mais leves e os desafios são cada vez menores. 
A ilusão de só querermos ver e experienciar a luz, a paz e o amor é uma das ratoeiras do caminho espiritual.

A consciência do caminho espiritual é precisamente a capacidade de ver o mundo pelos olhos da dualidade, de a reconhecermos em tudo lá fora no mundo e dentro de nós próprios. 
De sermos capazes de substituir o velho julgamento e resistência perante a sombra e de sermos a luz e o amor perante a mesma. 
Ou seja, o caminho espiritual pede de nós a atitude do Mestre que enfrenta e ilumina a sombra quando ela se manifesta, e não do velho conceito de "santo" que nos ilude na busca da perfeição.

É por esta razão que muitos sentem o fenómeno de atraírem ainda mais sombra na forma de desafios, quando despertam e se começam a iluminar por dentro. Quanto mais luz resgatarmos dentro, mais preparados estamos para iluminar a sombra fora.

Enquanto vivemos inconscientes da nossa dualidade, luz e sombra são projetados nos outros e por isso tanto amamos, como odiamos. A consciência de que os outros são apenas projeções das nossas próprias energias e que nos cabe a nós curá-las no nosso interior, é uma das mais poderosas e libertadoras propostas do caminho espiritual.

Porque temos o livre arbítrio, muitas vidas se passarão em que iremos escolher a resistência e a projeção, adiando assim a tão ansiada cura e evolução e, claro, acumulando assim situações karmicas por resolver e iluminar.
Não é de estranhar por isso que, de vez em quando, o Cosmos se organize precisamente para "arrumarmos a casa", ou seja, para pormos em dia todas essas cargas acumuladas.

Tenho observado muitas histórias em que a encarnação presente parece ter sido tirada para isso mesmo. Ou anos como foi por exemplo o de 2010 ou o de 2018 e que ainda temos a viver até 2020. 
Embora desafiantes, são tempos muito mágicos e que muitas vezes fazem por nós, o que não conseguíamos fazer sozinhos. 
Muito exigentes a todos os níveis pois escondem curas de vidas passadas nem sempre fáceis de reconhecer no presente, mas cheias de potencial de cura e libertação que nos irá finalmente permitir aceder a experiências com muito mais qualidade e amor.

Temos assim pela frente anos de intensidade, de cura, cheios de oportunidade de trazer à consciência velhos padrões que já não fazem sentido manter para que possamos estar livres para a abundância que temos em potencial e que irá aparecer lá mais à frente.



Vera Luz





sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Things Ended


Phil McKay





 Engulfed by fear and suspicion,
mind agitated, eyes alarmed,
we try desperately to invent ways out,
plan how to avoid
the obvious danger that threatens us so terribly.
Yet we're mistaken, that's not the danger ahead:
the news was wrong
(or we didn't hear it, or didn't get it right).
Another disaster, one we never imagined,
suddenly, violently, descends upon us,
and finding us unprepared -there's no time now-
sweeps us away.


Constantine P. Cavafy




Saber Viver

 




1. "Evite fazer observações sarcásticas.

2. Se entrar em uma briga, bata primeiro e bata com força.

3. Nunca ignore uma mão estendida.

4. Tenha um aperto de mão firme.

5. Escute o que as pessoas têm a dizer. Não interrompa, deixe-as falar.

6. Guarde segredos.

7. Empreste apenas os livros que você espera não ver novamente.

8. Seja corajoso. Mesmo se não for, ao menos finja ser. Ninguém consegue perceber a diferença.

9. Olhe nos olhos das pessoas.

10. Escolha o companheiro da sua vida com cuidado. A partir dessa decisão, virão 80% de toda a sua felicidade ou miséria.

11. Se a casa do seu vizinho está em chamas, a sua também está em perigo.

12. Nunca elogie a si mesmo, se houver elogios, que venham dos outros.

13. Seja um bom vencedor.

14. Solte-se. Relaxe. Exceto por raros assuntos de vida ou morte, nada é tão grave como parece à primeira vista.

15. Quando aflito: respire fundo, assovie ou cantarole.

16. Dê às pessoas uma segunda chance, mas nunca uma terceira.

17. Cuidado ao queimar pontes. Você ficará surpreso quantas vezes precisará atravessar o mesmo rio.

18. Seja rápido em reconhecer aqueles que o ajudaram.

19. Guarde bem o nome das pessoas.

20. Assuma o controle da sua atitude. Não deixe que outra pessoa fale ou faça escolhas por você.

21. Visite amigos e parentes quando estiverem no hospital, você só precisa ficar alguns minutos.

22. A maior riqueza é a saúde.

23. Atenda o telefone com energia em sua voz.

24. Mantenha um bloco de anotações e um lápis em sua mesa de cabeceira. Idéias que valem milhões de reais normalmente surgem às 3 da manhã.

25. Mostre respeito por todos que trabalham para viver. Não importa o quão simples seja a profissão.

26. Vista-se adequadamente.

27. Elogie a refeição quando for hóspede na casa de alguém.

28. Não permita que o telefone interrompa momentos importantes. Ele está lá para sua conveniência, não para a de quem liga.

29. A menos que ela seja da sua família, sempre cumprimente uma mulher comprometida com um leve aperto de mão.

30. Não se demore onde você não é bem recebido.

31. Todo mundo “gosta” de ver você crescer, isso, até você começar a superá-los.

32. A inveja de um amigo é pior que o ódio de um inimigo. ⠀

33. Cuidado com as pessoas que não têm nada a perder. ⠀

34. Nunca pegue o que não é seu. Conquiste.

35. Se a bagunça é sua, limpe você mesmo. Termine o que começou. ⠀

36. Lembre-se de que 70% do sucesso em qualquer área se baseia na capacidade de lidar com pessoas. ⠀

37. Defenda os menores. Proteja os indefesos. ⠀

38. Não espere que a vida seja justa com você. ⠀

39. Ouça os mais velhos.

40. Jamais se esqueça de onde veio e lembre-se diariamente onde quer chegar."


Autor Desconhecido



quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Poesia moderna


JOE  FERRARO




Todas as línguas do mundo se sujaram.
Fomos condenados à gaguez triunfal
pela qual procuramos ainda dizer o que nos recusaram.

Na mínima dor há um pomar onde colhemos
os esplêndidos frutos que alimentam a nossa linfa, o nosso sangue,
a corrente que sem recurso nos prende
à furiosa morte.

A metáfora da alma será ainda a melhor dádiva
deste corpo tão eficiente e tão pobre.

Assim nos saciamos.



LUÍS QUINTAIS





ENTRE AMIGOS






Para que serve um amigo? 
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.




Martha Medeiros 




segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A Pantera







De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.


Rainer Maria Rilke





Etta James - I've Been Loving You Too Long (to stop now)

Fugir da Verdade





 
Deve-se estar atento às ideias novas que vêm dos outros. Nunca julgar que aquilo em que se acredita é efectivamente a verdade. Fujo da verdade como tudo, porque acho que quem tem a verdade num bolso tem sempre uma inquisição do outro lado pronta para atacar alguém; então livro-me de toda a espécie de poder - isso sobretudo.

Agostinho da Silva




 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Dreamwood



Jan Faukner





In the old, scratched, cheap wood of the typing stand
there is a landscape, veined, which only a child can see
or the child’s older self, a poet,
a woman dreaming when she should be typing
the last report of the day. If this were a map,
she thinks, a map laid down to memorize
because she might be walking it, it shows
ridge upon ridge fading into hazed desert
here and there a sign of aquifers
and one possible watering-hole. If this were a map
it would be the map of the last age of her life,
not a map of choices but a map of variations
on the one great choice. It would be the map by which
she could see the end of touristic choices,
of distances blued and purpled by romance,
by which she would recognize that poetry
isn’t revolution but a way of knowing
why it must come. If this cheap, mass-produced
wooden stand from the Brooklyn Union Gas Co.,
mass-produced yet durable, being here now,
is what it is yet a dream-map
so obdurate, so plain,
she thinks, the material and the dream can join
and that is the poem and that is the late report.


ADRIENNE RICH





DEPENDÊNCIA E A PROCURA DO ESTADO INTEGRAL

 




E é então que surge aquele relacionamento especial. 

Parece ser a resposta a todos os problemas do ego e parece satisfazer todas as suas necessidades. Pelo menos assim parece, ao princípio. Todas as outras coisas a partir das quais você obtinha a sua sensação de identidade tornam-se agora relativamente insignificantes. Você tem agora um único ponto fulcral que as substitui, que dá sentido à vida e através do qual você define a sua identidade: a pessoa por quem está "apaixonado". Aparentemente, você deixa de ser um fragmento num Universo que não quer saber de si. O seu mundo tem agora um centro: a pessoa amada. 

O facto é que o centro está fora de si e, por conseguinte, você continua a ter uma sensação de identidade com origem no exterior, o que ao princípio parece não ter importância. O que importa é que os sentimentos subjacentes ao estado não integral de medo, de carência e de insatisfação pessoal, tão características do estado egoico, deixam de existir. 

Será? 

Na verdade, esses sentimentos desaparecerão ou continuarão a existir sob a superfície de uma aparência de felicidade?

Chegará uma altura em que o seu parceiro se comportará de uma maneira que deixa de satisfazer as suas necessidades, ou antes, as do seu ego. Os sentimentos de medo, sofrimento e carência, que são parte intrínseca da consciência egoica, mas que foram encobertos pelo "relacionamento amoroso", vêm de novo à superfície. 

Tal como qualquer outra dependência, você sentir-se-á bem enquanto a droga estiver disponível, mas chegará invariavelmente uma altura em que a droga deixará de ter efeito em si. Quando esses sentimentos dolorosos reaparecem, você sente-os com uma  intensidade ainda maior e, pior ainda, passa a encarar o seu parceiro como a causa desses sentimentos. Significa isto que você os projeta para o exterior e ataca o outro com violência feroz que faz parte da sua dor. Este ataque pode despertar a do próprio parceiro que poderá contra-atacar. Neste ponto, o ego continua a ter a esperança inconsciente de que o seu ataque ou a sua manipulação serão castigo suficiente para levar o parceiro a mudar de comportamento, e assim usá-lo novamente para encobrir a sua dor.

Qualquer dependência tem origem numa recusa inconsciente de você enfrentar e ultrapassar a sua própria dor. Qualquer dependência começa e acaba com sofrimento. Seja qual for a substância de que fica dependente - álcool, comida, drogas legais ou ilegais, ou uma pessoa - você está a usar alguma coisa ou alguém para encobrir a sua dor. É por isso que, passada a euforia inicial, há tanta infelicidade e tanto sofrimento nos relacionamentos íntimos. 

Não são eles que provocam sofrimento nem infelicidade. O que eles fazem é fazer ressaltar o sofrimento e a infelicidade que já estão dentro de si. Qualquer dependência faz isso. Qualquer dependência, passado algum tempo, deixa de ter o efeito de acalmar o seu sofrimento, e então você sente o sofrimento mais intensamente do que nunca.

É por essa razão que muitas pessoas estão sempre a fugir do momento presente e a procurar algum tipo de salvação no futuro. 

A primeira coisa que encontrariam, se concentrassem a atenção no Agora, seria a sua própria dor, e é disso que elas têm medo, 

Se ao menos soubessem como é fácil de aceder, no Agora, ao poder da presença que desfaz o passado e o seu sofrimento, da realidade que desfaz a ilusão. 

Se ao menos soubessem quão perto estão da sua própria realidade, quão perto estão de Deus.


Eckhart Tolle





quarta-feira, 18 de novembro de 2020

The City








 You said: “I’ll go to another country, go to another shore,
find another city better than this one.
Whatever I try to do is fated to turn out wrong
and my heart lies buried like something dead.
How long can I let my mind moulder in this place?
Wherever I turn, wherever I look,
I see the black ruins of my life, here,
where I’ve spent so many years, wasted them, destroyed them totally.”

You won’t find a new country, won’t find another shore.
This city will always pursue you.
You’ll walk the same streets, grow old
in the same neighborhoods, turn gray in these same houses.
You’ll always end up in this city. Don’t hope for things elsewhere:
there’s no ship for you, there’s no road.
Now that you’ve wasted your life here, in this small corner,
you’ve destroyed it everywhere in the world.


C. P. Cavafy
in, Collected Poems





....................................... o conceito de normalidade





A comparação 
é um dos piores ataques à nossa essência.

É a aniquilação da nossa individualidade e o abafar de todas as características que nos tornam únicos, diferentes e maravilhosamente especiais. Não especiais porque somos mais ou melhores do que alguém, mas simplesmente porque somos diferentes e únicos.

O conceito de normalidade, nos dias que correm, não só é perigoso como é altamente subjectivo. Quando julgamos alguém por não ser “normal” estamos apenas a declarar que o outro não se encaixa no nosso modelo do mundo e logo no nosso conceito de normalidade. Infelizmente na maior parte das vezes a comparação vem de mão dada com o julgamento, que arrogantemente usamos para qualificar negativamente a diferença do outro. 

  • Mas o que é afinal ser normal? 
  • Que critérios definem normalidade? 
  • Será que a defesa da normalidade não esconde apenas um medo do diferente?


A verdade é que a diferença ainda é vista como negativa numa sociedade que tenta continuamente impor-nos moldes de igualdade e normalidade absurdos, que inconscientemente nos vão roubando a nossa individualidade. 
Quanto mais constatarmos que não existem duas pessoas ou histórias iguais, mais fácil se torna de aceitar o conceito de diferença. E quanto mais aceitarmos o conceito de diferença, melhor o poderemos celebrar e festejar, expressando para o mundo o que nos torna únicos e extraordinários.

Acredito que lá chegaremos, quando pararmos de alimentar o julgamento negativo e conseguirmos sarar todas as consequências psicológicas e emocionais que daí advêm.
Só incentivando o que temos de melhor e diferente, aprenderemos a unir diferenças e poderemos criar um mundo melhor.

  • Que lógica teria uma discussão comparativa entre as características e beleza de uma orquídea e entre as características e beleza de uma palmeira? 
  • Onde fica o conceito de “normal” quando comparamos um peixe com um tigre? 
  • O que é mais “bonito”, um pôr do sol ou a alegria de uma criança?

A magia da natureza reside precisamente na diversidade, na diferença e em como cada parte individual, única e diferente, contribui para o maravilhoso todo.
Que ridícula seria uma orquestra só com violinos!
Ou um quadro só com a cor amarela ou uma música só com a nota “dó”.

A descompensação desta questão cria dilemas tanto pessoais como sociais e até emocionais.
O nosso amor próprio, a nossa auto-estima, a capacidade de valorizarmos os nossos talentos e dons únicos, só pode acontecer quando abraçarmos a nossa diferença e nos libertarmos da necessidade de tentar encaixar em moldes externos que não respeitam a nossa individualidade. Só na consciência dessa diferença seremos capazes de reconhecer que contribuição única e diferente temos para dar à sociedade. Onde, como, de que maneira iremos oferecer o nosso dom único que trouxemos à Terra.

É no orgulho de quem somos e de quem nos queremos tornar que nasce a responsabilidade por essa diferença pessoal e logo social também.

Se continuarmos a investir a nossa energia a tentar ser normais, obviamente sem retorno positivo, desperdiçamos a nossa vida e perdemos a nossa oportunidade de oferecer ao mundo o tesouro que nos foi confiado, com as respectivas consequências emocionais de vivermos desalinhados do nosso propósito.

Todo o ser humano é diferente. A nossa história é pessoal e única, resultado de infinitos momentos únicos, consequência já das energias que trazemos de vidas passadas e logo não há duas histórias iguais.

Tenho observado que a dificuldade que temos de perceber e aceitar a nossa história pessoal e as energias que trazemos de vidas passadas vem da tomada de consciência de que ela foi, é e sempre será feita de escolhas e que obviamente nem todas foram ideais. Enquanto não houver disponibilidade, abertura e responsabilidade para abraçar a sombra que carregamos em nós, o Universo simplesmente suspende o acesso ao nosso potencial.

Compensando então o vazio que a ignorância sobre a nossa história cria em nós, o nosso ego aproveita-se para criar ilusões e filmes fantasiosos onde na nossa história, nos iremos sempre ver como o herói, o mártir, a vítima, o correto, o poderoso e o perfeito.

Enquanto este estado de encantamento durar, a verdade nua e crua de quem somos e do que carregamos na nossa mochila energética, não tem como se revelar. A partir do ego, a visão do mundo será sempre caótica, os embates positivos irão ser vistos como sorte e os embates negativos irão ser vistos como azares. Na visão do ego, Deus, Cosmos, Ordem Superior, Leis Universais não existem.

Porque a experiência do desligamento faz parte da viagem terrena, mais cedo ou mais tarde, acordamos. Algures num qualquer momento iluminado, com o livro certo, na conversa curiosa, chega a informação que rebenta a bolha da ilusão e do caos, conseguimos ver a ordem pela primeira vez e o despertar acontece.

Num tempo de transição enorme que apanhou o fim de Era, fim de século e milénio, nunca antes houve tantos “despertos”. Depois de séculos de vidas em estado de adormecimento, este despertar devolve-nos o poder perdido, a responsabilidade que rejeitámos e tudo fazemos para voltar à casa esquecida: a nossa alma.

Tenho percebido que em praticamente todos os ambientes e relações nos dias que correm, encontramos o violento embate destas duas visões do mundo. Entre casais, entre pais e filhos, entre colegas, amigos, a discórdia é permanente. Imaginem duas pessoas na mesma janela uma virada para fora e a outra virada para dentro a descrever as suas realidades. Claro que o que vêm é óbvio e real para elas e por isso a mudança interna se torna difícil de considerar e a tentação de julgar a visão do outro absurda ou distorcida toma conta. No entanto, quando são ainda condicionadas a conviver, ambas as visões têm algo a aprender uma com a outra.

O desperto está a trabalhar a sua oportunidade de pôr as leis da atração e do karma em ação. Está a colher as consequências do tempo em que viveu adormecido, está a observar no outro comportamentos seus passados. Está a ganhar humildade e a perdoar o seu próprio passado como adormecido. Está a aprender a libertar com amor e compaixão o que já não lhe faz sentido manter e a abraçar o seu grande objetivo presente; o seu desenvolvimento pessoal e evolução espiritual.

O adormecido na sua obsessão por poder e superioridade está a testar o amor próprio e todas as questões de poder pessoal do desperto. Está a viver as suas ilusões que irão obviamente gerar as respectivas desilusões. Está a fazer uso do seu livre arbítrio, escolhendo o que para si lhe faz sentido mesmo que esteja desalinhado da luz.

O que desempata então as duas visões da realidade e o que nos irá ajudar sempre a fazer boas escolhas? 
A eterna dualidade entre o medo e o amor. Entre a culpa e projeção e a responsabilização pessoal. Entre a resistência e o medo e a capacidade de amar, fluir e confiar.

Claro que o que já despertou para a visão do amor irá facilmente reconhecer o adormecido pois ele próprio um dia assim viveu. No entanto o adormecido, fechado ainda na bolha da ilusão, não consegue ainda ver o amor e a luz.
Não é possível prever o momento em que este fenómeno acontece e muito menos forçá-lo a acontecer. É um momento muito mágico num tempo muito sagrado na viagem da nossa existência, que aguarda o alarme cósmico assinalando a hora em que despertamos e finalmente percebermos que a nossa velha visão do mundo era uma ilusão.

O mundo precisa de mais ativistas, de mais rebeldes, de mais atrevidos e de mais causas nobres. Temos dentro de nós o poder de mudar a nossa ação e de aos poucos inspirar quem nos rodeia a fazer mudanças também.
Como poderemos então ajudar a criar esse mundo maravilhoso onde cada um tem a oportunidade de mostrar o seu brilho único?
Qual a nossa contribuição pessoal na construção de um mundo que valoriza e incentiva a diferença?
Sugiro duas maneiras:

1. Atrevidamente defendendo causas que incentivem o amor-próprio, a autenticidade, a individualidade e a nossa essência. Atrevendo-nos a SER cada vez mais nós próprios, inspirando outros a fazer o mesmo. Trabalhando a confiança e coragem de mostrarmos a nossa diferença ao mundo. Sendo um exemplo. 
2. Sendo pacificamente rebeldes, expondo a todos os níveis as caixas da “normalidade”. Criando resistências amorosas ou mesmo legais a tudo o que rouba o nosso brilho pessoal e o respeito pela diferença. Oferecendo alternativas criativas, incentivando o espírito de família humana onde cada um se respeita pela sua individualidade. Denunciando todo o tipo de julgamento, bullying, exclusão e desrespeito pela diferença e promovendo atividades que nos lembrem os que nos une como humanos.

Acredito verdadeiramente que a frustração, o stress, a depressão, o sentimento de desorientação da maioria são consequência do desligamento de cada um consigo próprio, com a sua essência e o orgulho de sermos nós próprios. É o resultado de anos a fio dentro da “caixa”.

Que cada um de nós consiga ir derrubando caixas, que se consiga manter fiel às suas causas e sendo capaz de fazer pequenas mudanças no seu mundo pessoal, pois serão todas elas que depois mostrarão resultados globais.


Vera Luz



segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Canadian government strategy to Covid-19



A leaked message outlining alleged Canadian govt plan to create a totalitarian state through lockdowns and credit strategy.

The osteopath Rashid Buttar,in a email that he says was sent to him by a woman called “Denise”, who claimed to have detail on Canada’s plan.
“This is based upon what actually happened at a meeting in the legislative bodies on the Liberal side in Canada,” Buttar tells the camera as he reads the message that is taken verbatim from an Oct. 14 post on The Canadian Report, a news aggregator and blog site. The post, itself, also resembled an email, and claimed to have been sent by an anonymous member of the Liberal Party of Canada.
Among the claims in the post quoted by Buttar was that the sender was part of a “strategic planning committee” being “steered” by the prime minister’s office (PMO). 
During this committee meeting, the sender said, plans were revealed for future lockdowns along with a scheme involving the International Monetary Fund (IMF) giving cash to Canada to eliminate debt. 
In response to this debt elimination, Canadian citizens would agree to stipulations to guarantee unrestricted travel and living arrangements. This included agreeing to a vaccination for COVID-19 and a secondary disease called COVID-21, while also giving up ownership of their property and assets forever.

The alleged email as read by Buttar reads: 
“What we were told was that in order to offset what was essentially an economic collapse on a international scale, that the federal government was going to offer Canadians a total debt relief […] This is how it works: the federal government will offer to eliminate all personal debts (mortgages, loans, credit cards, etc) which all funding will be provided to Canada by the IMF under what will become known as the World Debt Reset program. In exchange for acceptance of this total debt forgiveness the individual would forfeit ownership of any and all property and assets forever […] The individual would also have to agree to partake in the COVID-19 and COVID-21 vaccination schedule, which would provide the individual with unrestricted travel and unrestricted living even under a full lock down (through the use of photo identification referred to as Canada’s HealthPass).”


Only each person can decide if this is real or not!



         







EVIDENCE:


 THE WORLD ECONOMIC FORUM  MISSION


 THE WORLD ECONOMIC FORUM SPONSORS PARTNERS


THE WORLD ECONOMIC FORUM SPONSORS PARTNERS LIST


Welcome to 2030 I OWN NOTHING 


                              






                               






                                






                                 






FÁBULA DE JOAN MIRÓ

 
Joan Miró
O Jardim






El azul estaba inmovilizado entre el rojo y el negro.
El viento iba y venía por la página del llano,
encendía pequeñas fogatas, se revolcaba en la ceniza,
salía con la cara tiznada gritando por las esquinas,
el viento iba y venía abriendo y cerrando puertas y ventanas,
iba y venía por los crepusculares corredores del cráneo,
el viento con mala letra y las manos manchadas de tinta
escribía y borraba lo que había escrito sobre la pared del día.
El sol no era sino el presentimiento del color amarillo,
una insinuación de plumas, el grito futuro del gallo.
La nieve se había extraviado, el mar había perdido el habla,
era un rumor errante, unas vocales en busca de una palabra.

El azul estaba inmovilizado, nadie lo miraba, nadie lo oía:
el rojo era un ciego, el negro un sordomudo.
El viento iba y venía preguntando ¿por dónde anda Joan Miró?
Estaba ahí desde el principio pero el viento no lo veía:
inmovilizado entre el azul y el rojo, el negro y el amarillo,
Miró era una mirada transparente, una mirada de siete manos.
Siete manos en forma de orejas para oír a los siete colores,
siete manos en forma de pies para subir los siete escalones del arco iris,
siete manos en forma de raíces para estar en todas partes y a la vez en Barcelona.

Miró era una mirada de siete manos.
Con la primera mano golpeaba el tambor de la luna,
con la segunda sembraba pájaros en el jardín del viento,
con la tercera agitaba el cubilete de las constelaciones,
con la cuarta escribía la leyenda de los siglos de los caracoles,
con la quinta plantaba islas en el pecho del verde,
con la sexta hacía una mujer mezclando noche y agua, música y electricidad,
con la séptima borraba todo lo que había hecho y comenzaba de nuevo.

El rojo abrió los ojos, el negro dijo algo incomprensible y el azul se levantó.
Ninguno de los tres podía creer lo que veía:
¿eran ocho gavilanes o eran ocho paraguas?
Los ocho abrieron las alas, se echaron a volar y desaparecieron por un vidrio roto.

Miró empezó a quemar sus telas.
Ardían los leones y las arañas, las mujeres y las estrellas,
el cielo se pobló de triángulos, esferas, discos, hexaedros en llamas,
el fuego consumió enteramente a la granjera planetaria plantada en el centro del espacio,
del montón de cenizas brotaron mariposas, peces voladores, roncos fonógrafos,
pero entre los agujeros de los cuadros chamuscados
volvían el espacio azul y la raya de la golondrina, el follaje de nubes y el bastón florido:
era la primavera que insistía, insistía con ademanes verdes.
Ante tanta obstinación luminosa Miró se rascó la cabeza con su quinta mano,
murmurando para sí mismo: Trabajo como un jardinero.

¿Jardín de piedras o de barcas? ¿Jardín de poleas o de bailarinas?
El azul, el negro y el rojo corrían por los prados,
las estrellas andaban desnudas pero las friolentas colinas se habían metido debajo de las sábanas,
había volcanes portátiles y fuegos de artificio a domicilio.
Las dos señoritas que guardan la entrada a la puerta de las percepciones,
Geometría y Perspectiva,
se habían ido a tomar el fresco del brazo de Miró, cantando
Une étoile caresse le sein d’une négresse.

El viento dio la vuelta a la página del llano, alzó la cara y dijo, ¿Pero dónde anda Joan Miró?
Estaba ahí desde el principio y el viento no lo veía:
Miró era una mirada transparente por donde entraban y salían atareados abecedarios.

No eran letras las que entraban y salían por los túneles del ojo:
eran cosas vivas que se juntaban y se dividían, se abrazaban y se mordían y se dispersaban,
corrían por toda la página en hileras animadas y multicolores, tenían cuernos y rabos,
unas estaban cubiertas de escamas, otras de plumas, otras andaban en cueros,
y las palabras que formaban eran palpables, audibles y comestibles pero impronunciables:
no eran letras sino sensaciones, no eran sensaciones sino Transfiguraciones.

¿Y todo esto para qué? Para trazar una línea en la celda de un solitario,
para iluminar con un girasol la cabeza de luna del campesino,
para recibir a la noche que viene con personajes azules y pájaros de fiesta,
para saludar a la muerte con una salva de geranios,
para decirle buenos días al día que llega sin jamás preguntarle de dónde viene y adónde va,
para recordar que la cascada es una muchacha que baja las escaleras muerta de risa,
para ver al sol y a sus planetas meciéndose en el trapecio del horizontes,
para aprender a mirar y para que las cosas nos miren y entren y salgan por nuestras miradas,
abecedarios vivientes que echan raíces, suben, florecen, estallan, vuelan, se disipan, caen.

Las miradas son semillas, mirar es sembrar, Miró trabaja como un jardinero
y con sus siete manos traza incansable —círculo y rabo, ¡oh! y ¡ah!—
la gran exclamación con que todos los días comienza el mundo.



OCTAVIO PAZ
in, ANTOLOGIA POÉTICA



A Elegância do Comportamento

Inge Schuster




As pessoas geralmente se preocupam com a aparência física e se esmeram para mostrar certa elegância de acordo com suas possibilidades. Isso é natural do ser humano, tanto que muitas pessoas buscam escolas que ensinam boas maneiras. No entanto, existe algo difícil de ser ensinado pelo número reduzido de professores, menor ainda de alunos e muito pouco de praticantes e, que talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a Elegância do Comportamento. É um dom que vai muito além do uso dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais corriqueiras; quando não há festa, cerimonial, etiquetas, nem fotógrafos por perto: é uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam, nas pessoas que escutam mais do que falam. E, quando falam, passam longe das maldades ampliadas de boca em boca.

É possível detectá-la também nas pessoas que não usam tom superior de voz. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É uma elegância que se pode observar em pessoas pontuais, que respeitam o tempo dos outros e seu próprio tempo.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece. É cumprir o que promete.

Não mudar seu estilo apenas para adaptar ao de outro. 

É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. 

É elegante retribuir carinho, solidariedade e respeito. Sobrenomes, cargos, jóias não substituem a elegância do gesto cordial e amistoso. Não há livro de etiqueta que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo e viver nele sem arrogância. A essência do comportamento não se aprende nos bancos da Universidade.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é, no mínimo, simiesco. As pessoas de comportamento elegante falam no mesmo tom de voz com todos os indivíduos, indistintamente, não se alteram por motivos banais ou fúteis.

Ter comportamento elegante é ser gentil sem afetação. 

É respeitar a natureza divina do nosso corpo. É ser amigo sem conivência negativa. Ser sincero sem agressividade. Apresentar sua verdade sem alterar sua serenidade. Ser cordial sem fingimento. É ser simples com sobriedade. É ter capacidade de perdoar sem fazer alarde. É ser generoso sem humilhar. É superar dificuldades com coragem, é encorajar os outros com a força do acreditar, do estímulo e da alegria nos momentos em que as forças parecem extenuar-se.

É saber desarmar a violência com delicadeza, e alcançar a vitória sem se vangloriar. 
Enfim, elegância de comportamento é o grau que se apresenta, não é algo que se Tem, é algo que se É.


Guilherme Brasiliense