segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Coronel inglês Percy Harrison Fawcett e a Teoria da Terra Oca

 





O Coronel Percy Harrison Fawcett, nasceu em Torquay, 15 de agosto de 1867, e morreu no Mato Grosso em 1925, foi um arqueólogo e explorador britânico que desapareceu ao organizar uma expedição para procurar por uma civilização perdida na Serra do Roncador, em Barra do Garças, no estado do Mato Grosso, Brasil.

A primeira expedição de Fawcett na América do Sul ocorreu em 1906 quando ele viajou ao Brasil para mapear a Amazónia num trabalho organizado pela Royal Geographical Society, atravessando a selva e chegando em La Paz, na Bolívia em Junho desse mesmo ano.

Fawcett realizou sete expedições entre 1906 e 1924
Ele tinha a habilidade de conquistar os povos que habitavam os locais explorados dando-lhes presentes. Ele retornou a Inglaterra para servir no exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial, mas logo após o fim da guerra retornou ao Brasil para estudar a fauna e arqueologia local.

Em 1925 convidou seu filho mais velho, Jack Fawcett, para acompanhá-lo numa missão em busca de uma cidade perdida, a qual ele tinha chamado de "Z"
Após tomar conhecimento de lendas antigas e estudar registos históricos, Fawcett estava convencido que essa cidade realmente existia e se situava em algum lugar do estado do Mato Grosso, mais precisamente na Serra do Roncador. 

Curiosamente, antes de partir, ele deixou uma nota dizendo que, caso não retornasse, nenhuma expedição deveria ser organizada para resgatá-lo. O seu último registo deu-se em 29 de maio de 1925, quando Fawcett telegrafou uma mensagem à sua esposa dizendo que estava prestes a entrar num território inexplorado acompanhado somente pelo seu filho e um amigo de Jack, chamado Raleigh Rimmell. Eles então partiram para atravessar a região do Alto Xingú, e nunca mais voltaram.

Muitos presumiram que eles foram mortos pelos índios selvagens locais. 
Porém não se sabe o que aconteceu. 
Os índios Kalapalos foram os últimos a relatar terem visto o trio. 
Não se sabe se foram realmente assassinados, se sucumbiram a alguma doença ou se foram atacados por algum animal selvagem.

Há três publicações biográficas do coronel Fawcett: 
O Enigma do Coronel Fawcett - o verdadeiro Indiana Jones, do escritor Hermes Leal e publicado pela Geração Editorial em 2007. 
A Expedição Fawcett em busca da cidade perdida de Z do escritor Luis Alexandre Franco Gonçales, publicado e editado pelo autor em 2016 e 
Z: A Cidade Perdida, do escritor norte-americano David Grann e publicado pela Companhia das Letras em 2009. Inclusive esse livro serviu de base para o filme lançado nos cinemas em Junho de 2017 denominado Z: A Cidade Perdida, com a participação de Robert Pattinson, no papel coadjuvante de um explorador amigo do coronel Fawcett.

No aniversário da primeira década do caso, em 1935, Fawcett foi homenageado pelo cartunista belga Hergé, em "O Ídolo Roubado" da coleção "As aventuras de Tintim", onde o repórter das HQs encontra um explorador que teria deixado a civilização para viver entre os índios, numa referência a Fawcett. 

"Com seu inseparável chapéu Stetson, uniforme cáqui e botas longas", como descreve Hermes Leal, Fawcett foi inspiração para a criação do personagem Indiana Jones, franquia de aventura criada pela dupla George Lucas e Steven Spielberg. De acordo com outro biógrafo do coronel, David Grann, a primeira inspiração foi no romance "Indiana Jones e os Sete Véus", de 1991, em que o arqueólogo procura Fawcett.

Mais do que cruzar portais para outras dimensões, Fawcett parecia querer, sozinho e do seu jeito, encontrar ouro e obter fama internacional.

Para alguns, o coronel inglês Percy Harrison Fawcett foi um grande explorador romântico. 
Para outros, um ganancioso buscador de riquezas. 
Há quem diga que não passava de um gringo desastrado que encontrou a morte em 1925, no Mato Grosso, seguindo a pista de uma quimera: uma cidade perdida construída pelos descendentes dos hipotéticos habitantes de Atlântida. 

São muitos os boatos que atribuem ao explorador a inspiração do escritor Rob MacGregor para criar as aventuras de Indiana Jones, imortalizado no cinema por Steven Spielberg na  pele do ator Harrison Ford. 

O explorador também inspirou Sir Arthur Conan Doyle, o “pai” de Sherlock Homes, especialmente no livro O Mundo Perdido. 

Fotografado com seu cachimbo, botas e bombachas, Fawcett era um homenzarrão cuja vida foi salpicada de aventuras na Ásia e América Latina. Nasceu em 1867, em Torquay, Inglaterra, e foi criado no auge do Império Britânico, canalizando seu caráter forte e arrogante a serviço da conquista de territórios para a rainha. 
Aos 19 anos, alistou-se na Real Artilharia de Sua Majestade. Foi enviado à ilha do Ceilão (atual Sri Lanka) e depois para a África negra, Malta, Hong Kong, Marrocos e Irlanda. 

Sua visão do mundo, centrada na suposta superioridade britânica, fez com que descrevesse os outros povos com uma série de preconceitos: sujos, ignorantes e atrasados – embora pudesse ter compaixão pelos índios e raiva dos europeus sem escrúpulos que buscavam a fortuna fácil. 

Em 1906, com 39 anos, o incansável viajante foi convidado pela Sociedade Geográfica Real para demarcar as fronteiras da Bolívia com o Brasil e o Peru. Durante esse período, fez contato com vários grupos indígenas, dos quais recolheu lendas, tradições e muitas histórias fantásticas. Os grandes descobrimentos arqueológicos daqueles tempos, como as tumbas faraónicas do Egito e a cidade perdida de Machu Picchu, aguçaram ainda mais a curiosidade do militar britânico. 

Em 1912, deu de cara com um documento supostamente escrito no século 18 e traduzido em inglês por outro aventureiro britânico, Richard Burton. Era a descrição de uma cidade de pedra abandonada no sertão baiano. Depois, em 1920, realizou uma viagem solitária pela Chapada Diamantina – há quem diga que motivado não só pela vontade de encontrar uma cidade perdida, mas também pelas minas de ouro e diamantes. 

Em 1925, ele decidiu, junto com seu filho Jack, de 22 anos, e um amigo do filho, fotógrafo, Raleigh Rimell, procurar a tal cidade perdida nas proximidades da Serra do Roncador, no Mato Grosso, Brasil. Nunca mais foram vistos. 

Surgiram milhões de lendas para explicar o desaparecimento. 
Houve quem descrevesse o sisudo coronel a viver com os índios Xavantes. 
Os místicos da Sociedade Teúrgica do Roncador espalharam a história de que Fawcett encontrou a cidade misteriosa e ficou a viver lá: um povoado subterrâneo cujos habitantes possuem poderes paranormais. O jornal inglês The Times ofereceu uma pequena fortuna para quem encontrasse pistas sobre o militar e  organizou expedições de buscas sem sucesso. 


A Serra do Roncador, que deve seu singular nome aos estranhos sons que parecem surgir do solo. Outro feito inexplicável já que o vento não pode gerar tremendos fragores que parecem gerar-se na entranhas do lugar. E já se descartou qualquer tipo de atividade sísmica na zona. Então, quem ou o que gera esses sons, que as vezes são metálicos ou mecânicos?

É importante este mistério da Bahia pelo fato desta cidade aparecer no “manuscrito 512”, que se conserva na Biblioteca Nacional de Rio de Janeiro. A existência deste enclave, e as revelações deste manuscrito, puseram Fawcett atrás de uma “pista. 
“Relação histórica de um oculto e grande povoado antiquíssimo sem habitantes que se descobriu no ano 1753”.

Fawcett conhecia a narração deste insólito documento, e as possíveis “pistas” que outorgava para encontrar outras cidades perdidas no Brasil. No entanto, o estímulo mais poderoso com que contava o Coronel para penetrar o Mato Grosso, era outro. E talvez tão inquietante como o mesmo manuscrito.

O que motivou finalmente Fawcett a partir em busca de “Z” na perigosa Serra do Roncador radicada numa estranha estatueta de estilo egípcio feita em basalto negro (rocha vulcânica vitrificada). O objeto tinha chegado a suas mãos graças ao famoso novelista Sir Rider Haggard ―autor da fascinante obra “As minas do Rei Salomão”― que a conseguiu no Brasil em finais do século XIX.

Através da investigação psíquica ―como a psicometria― determinou-se que a estranha estatueta, de uns 25 cm. de altura, provinha possivelmente de Atlântida, sendo resgatada por um sobrevivente que a manteve em sua custodia numa cidade de pedra, escondida nas selvas de América do sul. O curioso é que a estatueta representava um possível sacerdote sustentando uma taboa com inscrições com 24 estranhos signos que esperavam ser decodificados. Fawcett conseguiu decifrar 14 destes símbolos ao encontra-los em peças de cerâmica pré-histórica procedentes do Brasil. E pensa-se que os utilizou como “coordenadas” para alcançar seu objetivo.

O objeto ―como se tratasse de uma profecia― acompanhou o ousado explorador inglês no seu último e estranho viagem ao Mato Grosso. Tinha que devolve-lo a seu lugar de origem?
   
 A similaridade deste episodio com a Pedra de Chintamani que portava Nicolas Roerich no deserto de Gobi e as montanhas do Altai para ser “devolvida” a Shambhala, é sugerido. 

Por um lado, a denominada “Pedra de Orión” representava as forças cósmicas, ao tratar-se do fragmento de um presunto meteorito. E a estatueta de Fawcett, ao ser de basalto, fecharia a energia telúrica do planeta. Mais longe de um ato simbólico, em tudo isto parece deslizar-se certas transmissões de energia ao levar estes objetos aos Retiros Interiores. Temos que nos perguntar se aquelas viagens foram induzidas pelos mesmos “Mestres Invisíveis”.

No caso desse tema que comparte China e Mongólia, se ouviram muitas vezes que as caravanas que atravessavam o deserto asiático de repente escutavam um “canto antigo” sair das entranhas da terra. Imediatamente tudo ficava em silencio. Até os animais que iam com a caravana se encontravam imóveis, sobrenaturalmente tranquilos. Incluso o vento, frequente daqueles locais, também, misteriosamente, tinha acalmado. Ao cabo de uns instantes mais, tudo voltava à normalidade. 
Os lamas afirmam que isto sucede quando o Rei do Mundo, o Supremo Mestre de Shambhal segundo suas crenças, está a rezar pela humanidade.

Ricardo González
in, “Uku Pacha: O Mundo Subterrâneo da Irmandade Branca” 






"Muito ainda nos falta. 
Falta-nos o elo de ligação que nos permita compreender, sentir e viver em plenitude, conectados com o movimento cíclico do Cosmos, com os diversos planos de existência, integrados e em harmonia conosco, com nosso próximo e com o universo."

in, Cidades Intraterrenas - O depertar da Humanidade

 



PRINCIPAIS AUTORES QUE FALARAM DOS REINOS SUBTERRÂNEOS
Esses sao alguns autores que lembram da possibilidade da existência de Mundos Subterrâneos:

Francis Bacon, na Nova Atlântida fala-nos da Ilha Branca, Morada dos Bem-Aventurados, que teria existido na superfície terrestre mas cujo povo se transferiu para o Interior da Terra aquando da grande catástrofe diluviana há milhares de anos.

Thomas Moore, no seu livro Utopia faz menção a uma região desconhecida com uma Sociedade altamente organizada e liderada pelo Rei Utopos, que bem pode ser o “Rei do Mundo” cuja morada é Shamballah;

Tommaso Campanella, no seu livro a Cidade do Sol aborda temas muito semelhantes aos referidos na Utopia de Thomas Moore;

Júlio Verne, o conhecido autor da Viagem ao Centro da Terra(1864) também fala-nos duma aventura vivida através de uma rede de túneis que levam a lugares desconhecidos no interior do Planeta onde existem espécies vegetais e animais que se julgavam extintos.

Bulwer Lytton, escreve em “A Raça futura” um romance entre um homem da superfície com uma entidade feminina dos mundos subterrâneos que lhe mostra como está organizada a sua Sociedade onde vive com um nível social, tecnológico e espiritual bastante avançada em relação a nós;

James Hilton, no livro Horizonte Perdido, fala-nos de uma região inóspita nos Himalaias que se denomina Shangri-Lá onde impera a harmonia dos seus habitantes que supostamente teriam descoberto há muito o “elixir da longa vida”...

Helena P. Blavatsky, a grande teosofista , escreve inúmeras obras nas quais Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta, que falam de um lugar onde se encontram os Santos Sábios no Governo Oculto do Mundo.

Saint-Yves d´Alveydre, na sua obra Missão da Índia fala-nos minuciosamente de um reino de Agharta e todos os seus aspectos hierárquicos, filosóficos, sociológicos, políticos e tecnológicos, duma grande Sociedade que se localiza no interior da Terra;

Ferdinand Ossendowski, na sua obra sobre Animais, Homens e Deuses, fala-nos das suas viagens pelo Oriente e dos relatos antigos relacionadas com os Mundos Subterrâneos e o enigma do Rei do Mundo e das suas profecias;

Alice Bailey, fala-nos de Shamballah, Lugar Sagrado no Centro do Mundo onde se situa um “Sol Central” (com 960 Km de diâmetro), cuja luz origina as chamadas Auroras Boreais e Austrais através dos Polos, e não o Sol a 150 milhões de Km da Terra;

René Guénon, em o Rei do Mundo, fala-nos das inúmeras tradições em todo o planeta que descrevem a existência de Agharta e de Shamballah, assim como das cavernas e túneis subterrâneos que se perdem nas profundezas da Terra, Gaia ou Urântia, como também é conhecida;

Mas foi Raymond Bernard, Nicholas Roerich e Alexandra David-Neel, que deram o melhor contributo em prol da divulgação dos Mundos Subterrâneos e bem assim Henrique José de Souza (JHS), no seu livro O Verdadeiro Caminho da Iniciação, onde fala abertamente de um País Maravilhoso com suas 7 cidades no interior da Terra, conhecido por Agharta (AG – Fogo; HARTA - Coração) havendo outros dois reinos mais à superfície conhecidos por Badagas e Duat.



O QUE DIZ A CIÊNCIA

A possibilidade de que a Terra seja oca, que possa entrar nela através dos Pólos Norte e Sul, e de que civilizações secretas floresçam em seu interior tem aguçado a imaginação desde tempos atrás. 

Assim, o herói babilónio Gilgamesh visitou seu antepassado Utnapishtim nas entranhas da Terra; 
na mitologia grega, Orfeo tratou de resgatar Eurídice do inferno subterrâneo
dizia-se que os faraós do Egito comunicavam-se com o mundo inferior, onde desciam através de túneis secretos ocultos nas pirâmides
e os budistas  acreditam que milhões de pessoas vivem em Agharta, um paraíso subterrâneo governado pelo Rei do Mundo.


O mundo científico não ficou imune desta teoría: 
Leornard Euler, um génio matemático do século XVIII deduziu que a Terra era oca, que continha um sol central e que estava habitada; 
e o doutor Edmund Halley, astrónomo real de Inglaterra no século XVIII, descobridor do cometa Halley, também acreditava que a Terra era oca e guardava no seu interior três pisos.

Nenhuma destas teorias estavam sustentadas cientificamente, porém coincidiam com várias obras de ficção sobre o mesmo tema, onde dentre as mais importantes eram: 
“As Aventuras de Arthur Gordon Pym”, de Edgar Alan Poe (1833), onde o herói e seu companheiro tem um terrível encontro com os seres do interior da Terra. 
E na Viagem ao Centro da Terra, de Julio Verne (1864), onde um professor aventureiro, seu sobrinho e um guia penetram no interior da Terra através de um vulcão extinto na Islândia, e encontram novos céus, mares e répteis gigantescos e pré-históricos que povoavam os bosques. 

Assim, quando foram vistos os primeiros OVNI's nos Estados Unidos em 1947 e a ufomania assolou o país primeiro e o mundo depois, surgiram duas teorias para explicá-los. 
  1. Os OVNI's deviam ser naves extraterrestres de alguma galáxia próxima, ou pertenciam a seres avançadíssimos que habitavam o interior da Terra. Estas teorias levaram a recuperar as lendas das civilizações perdidas da Atlântida e de Thule, e a crença de que esta última encontrava-se no Ártico (não confundir com Dundas, antes Thule, que hoje é uma base aérea dos Estados Unidos e centro de comunicação). 
  2. Acreditava-se também que outra possível fonte de procedência dos OVNI's encontrava-se na Antártida. 


in, Mistérios Desvendados



domingo, 30 de outubro de 2022

Agartha








O mundo subterrâneo é conhecido como Agartha, 
e sua capital é conhecida como Shamballa. 



Os habitantes deste mundo, a partir dos documentos, deixaram a superfície do mundo, 100.000 anos atrás, depois da catastrófica guerra entre atlantes e lemurianos, as duas grandes civilizações que dominaram a Terra naquele tempo. A Guerra estaria descrita em dois artigos da cultura hindu, o Ramayana e o Mahabharata. Após a guerra, graças às poderosas armas utilizadas, surgiram áreas como o deserto do Saara, deserto Gobi, terrenos inóspitos da Austrália e E.U.A, lugares onde eram aglomerações de atlantes e lemurianos. 
A atmosfera na superfície era irrespirável, para os sobreviventes do conflito e eles foram se retirando para o interior da terra. 

Neste sentido, a crença da sua existência estaria associada às teorias da Terra Oca e à cidade sagrada de Shambhala.

Shambhala, não necessariamente entendida como um reino subterrâneo, no imaginário do budismo e do hinduísmo, dentre outros, está associada ao axis mundi, ou eixo primordial mitológico de um povo ou cultura, sendo uma das oito cidades sagradas localizadas na quarta dimensão, como entende a tradição ocultista, baseada principalmente em textos do budismo e consequentemente do hinduismo.

A partir desse reino mítico, um monarca chamado Melki-Tsedeq, ou Melquisedeque, governaria o mundo. Este misterioso personagem é citado na Bíblia (Gên. 14:18-20 e Heb 6:17-20 e 7:1-3). 
No Budismo tibetano crê-se que haveria canais de ligação entre Shambhala e o reino budista dos Dalai Lama.

A ocultista russa Helena Petrovna Blavatsky associa Shambhala a um destino escatológico: seria o berço do Messias que apareceria para libertar a Terra antes do fim do Kali Yuga, ou ciclo de destruição de mundos. Tal reino seria mencionado nos Puranas, coleção atribuída ao Vyâsa ("compilador") Krishna Dwaipâya, autor do grande épico hindu Mahabharata, sânsc. Mahābhārata.

Em toda a Ásia Menor, não somente no passado, mas também hoje, acredita-se na existência de uma cidade de mistério, cheia de maravilhas, conhecida como Shambhala, ou Shamb-Allah, ou, entre os povos tibetano e mongol, Erdami. 

Na China, no panteão do taoismo, é considerada a residência da Mãe Sagrada do Oeste, que o budismo chinês depois associa a Kuan Yin ou Guan Yin, e o japonês a Kannon, divindade da misericórdia, advinda da representação indiana original de Avalokiteshvara, "O que olha para baixo" (em socorro dos seres), Cherenzig no Tibete.

O explorador polonês Ferdinand Ossendovski, no início do séc. XX, refere-se ao reino de Agartha, crença provavelmente inspirada na cidade mitológica de Shambhala, como um reino habitado por milhões de indivíduos, governados por Rigden Jyepo (tib.), soberano ou rei do mundo. 
No livro "Bestas, Homens e Deuses", Ossendovski, que ouviu várias histórias ao viajar pela Ásia Central, faz referências a Agartha, mostrando que o povo oriental crê em tal fato, especialmente os tibetanos, mongóis e chineses. Toda a natureza se calaria para louvar o rei do mundo nas suas manifestações no plano físico.

No final do século XIX, o marquês Saint-Yves D'Alveydre viajou pela Índia e arredores e ouviu relatos semelhantes, que registou na obra "Missão da Índia."

Entre as raças da humanidade, desde o início dos tempos, existe a tradição de uma terra sagrada ou paraíso terrestre, onde os mais elevados ideais da humanidade são realidades vivas. Este conceito é encontrado nos escritos mais antigos e nas tradições dos povos da Europa, Ásia Menor, China, Índia, Egito e Américas. Esta terra sagrada poderia ser conhecida por pessoas merecedoras, puras e inocentes, razão pela qual constitui o tema central dos sonhos da infância.

O caminho para essa terra abençoada, este mundo invisível, domínio esotérico e oculto, constitui a motivação principal e a chave-mestra de ensinamentos misteriosos e sistemas de iniciação. Essa chave mágica é o "Abre-te, Sésamo!" que destranca as portas de um mundo novo e maravilhoso. 

Os antigos da Ordem Rosa-Cruz a designavam pela palavra Vitriol, combinação das primeiras letras da frase vista "interiora terrae" retificando "invenes omnia lapidem", para indicar que "no interior da Terra está oculto o verdadeiro mistério". O caminho que conduz a este mundo oculto seria o da iniciação.

Na Grécia antiga, nos Mistérios de Elêusis e pelo Oráculo de Delfos, esta terra celestial era chamada de Monte Olimpo e de Campos Elísios. 

Também nos tempos védicos primitivos era chamada por vários nomes, tais como Ratnasanu (pico da pedra preciosa), Hermadri (montanha de ouro) e Monte Meru, lar dos deuses no Hinduísmo.

A compilação dos Eddas, textos islandeses referentes à mitologia nórdica, também menciona esta cidade celestial, que ficava na terra de Asar, dos povos da Mesopotâmia, 
terra de Amenti do Livro Sagrado dos Mortos, dos antigos egípcios, 
a Cidade das Sete Pétalas de Vixnu e a 
Cidade dos Sete Reis de Edom, ou Éden da tradição do judaismo
Em outras palavras, o paraíso terrestre.

Os persas denominam-na Alberdi ou Aryana, terra dos seus ancestrais. 
Os hebreus chamam-na Canaã 
Os mexicanos Tula ou Tolan
Os astecas chamavam-na de Maya-Pan

Conquistadores espanhóis que vieram para a América acreditavam na existência de tal cidade e organizaram muitas expedições para procurá-la, chamando-a de El Dorado, Eldorado, ou "Cidade do Ouro". Provavelmente souberam a seu respeito pelos aborígenes que a ela se referiam como Manoa ou "Cidade Cujo Rei se Veste com Roupas de Ouro".

Para os celtas, esta terra sagrada era conhecida como "Terra dos Mistérios", Duat ou Dananda

Uma tradição chinesa fala de uma Terra de Chivin ou Cidade das Doze Serpentes.

Na Idade Média estava associada à Ilha de Avalon e à saga dos Cavaleiros da Távola Redonda, que, sob a liderança do Rei Arthur e a orientação do mago Merlin, empreendiam a busca do Graal ou Cálice Sagrado, símbolo da obediência, da justiça e da imortalidade, e que teria sido usado na última ceia de Jesus com os apóstolos e, após a crucifixão, contido o sangue do "golpe de misericórdia" dado pelo soldado Longino e guardado pelo devoto José de Arimatéia.


Alguns creem que Agartha não seria uma cidade como as outras, de dimensão material e concreta, mas sim um recanto livre de vícios e sombras, no qual apenas raros poderiam entrar. Este refúgio pode ter sido inspirado no mito de Shambala, próprio dos lamas tibetanos e também conhecido na Mongólia, locais visitados por Ossendowski, embora ele não se refira diretamente a esta história. Este viés mitológico teria sido usado por este aventureiro anticomunista para impressionar o Barão Von Sternberg, feroz caçador de bolcheviques, identificados na narrativa como o Anticristo que Agarthi tentava vencer. Muitos líderes que atingiram a Mongólia tentaram, por sua vez, convencer o povo deste país de que eram a Shambala dos sonhos dourados desta nação.

Independente de interesses políticos ou estratégicos, muitas crenças mongóis giravam em torno de Agartha ou de Shambala, de uma cidade mítica sob a terra, à qual se teria acesso por um portal secreto. Alguns chegam a afirmar que este reino englobaria todo o planeta, com milhões de habitantes, um recanto sem a presença do mal, banhado interiormente por luzes atípicas, que permitiriam o cultivo de variados alimentos. 

Sua capital seria circundada por povoados habitados por sacerdotes e homens de Ciência, semelhante a Lhasa, onde se localiza o palácio do Dalai Lama, no cimo de uma montanha repleta de templos e mosteiros.






Este grande reino, teria portais em vários continentes, e entre as supostas entradas mais famosas, uma estaria dentro de uma pirâmide do Egíto, outra num local do Kentuchy nos EUA, outra num local na Itália e outra no nordeste do Brasil. 

A grande esfera que é o Planeta Terra, está descrita como uma esfera oca, com duas entradas principais e feitas pela natureza, uma no Polo Norte e outra no Polo Sul.

Do lado direito de cima para baixo, vemos outros portais de entrada, tais com um situado 
no Monte Epomeo na Itália
outro na Pirâmide de Gizé no Egito. Quanto aos túneis que ligam a Pirâmide de Gizé à Terra interior, estes teriam sido feitos pelo homem, ou seja, seriam túneis artificiais feitos no tempo dos Faraós, segundo esta teoria.
Acredita-se que das legendárias Minas do Rei Salomão, também partia um túnel para o interior da Terra.

Assim os portais naturais de comunicação entre os dois mundos situam-se numa grande área do Polo Norte e também existe uma pequena entrada no Polo Sul. 
E existem também outras entradas, através de cavernas e passagens cavernosas, situados em vários pontos do planeta, como uma caverna existente nos Estados Unidos, no Parque Nacional Caverna de Mammoth no estado do Kentucky. 

Mais abaixo do lado esquerdo da ilustração, vemos mais três entradas, sendo as três em território brasileiro. A primeira situando-se em Manaus, outra situando-se em Mato Grosso, na Serra do Roncador, e uma terceira nas grandes cataratas de Foz do Iguaçu.
Mas esta interessante e fantasiosa teoria enumera muitos outros pontos da terra onde supostamente existem portais.
Seria um portal que leva a uma dimensão desconhecida por muitos, baseada na hipótese de um Planeta Terra oco.

O desenho acima representa o Planeta Terra como se tivesse sido cortado ao meio. 
Assim vemos em corte a representação das camadas internas da terra, e os portais de entrada que ligam a Terra exterior e a interior. Vemos também a representação dos mares e continentes em terra.

No mapa é vista a área de terra continental da civilização mais avançada ou desenvolvida, chamada Agartha, cuja capital é Shamballah.

Vemos também noutra parte, a Cidade das Cavernas, ocupada por civilizações menos desenvolvidas.

Nesta teoria, pode-se notar que existe um sol no centro da Terra Interior, que ilumina toda este mundo proporcionando uma vida praticamente igual à existente na superfície exterior da Terra.

O mais estranho desta teoria é quanto ao centro de gravidade da Terra, que ao invés de ser pontual, ou concentrado no centro da Terra, o centro de gravidade na verdade situa-se distribuído na superfície de uma hipotética esfera, cuja superfície situa-se a uma distancia de 400 milhas, tanto da face exterior como da face interior da Terra.

Esta esfera com superfície gravitacional, e cujo centro geométrico se encontra no centro da Terra, faz com que a força da gravidade se aplique com igual intensidade em cada face da Terra.

Deve-se lembrar também que existiria uma outra força, que deve ser considerada nesta teoria, força esta que também faria com que as pessoas e objetos soltos ficassem sobre a superfície da terra interior e não saíssem a voar pelo ar. 

A outra força que teria que ser considerada é a força centrifuga, proveniente do movimento de rotação da Terra, que também produziria uma força em direção ao exterior.

Enfim, seria necessário um novo Isaac Newton das profundezas para explicar e equacionar tudo isto, caso seja necessário entender como funciona a gravidade no solo do mundo interior da Terra Oca.

De acordo com documentos secretos, estas seriam as 5 cidades mais poderosas do mundo intraterreno:

1- POSEID – o primeiro refúgio dos Atlantes, com a entrada no estado brasileiro do Mato Grosso, com uma população de 1,3 milhões de habitantes;

2- SHONSHE refúgio dos Uigures, um ramo da raça lemurina, com a entrada através dos Himalayas, com uma população de 3,5 milhão de habitantes;

3- RAMA – perto de Jaipur, na Índia, 1 milhão de habitantes;

4- SHINGWA – a fronteira entre a China e Mongólia, com 1,5 milhões de habitantes;

5- TELOS – perto de Mount Lassen, na Califórnia, com 1,5 milhões de habitantes.




                    




Virgil Armstrong, ex-agente da CIA, descreve o universo subterrâneo fascinante, habitado por  seres humanos como nós só que lá são imortais, a atmosfera controlada, velocidades de deslocação de 3.000 Kms por hora, atlantes e lemuriens, a voar sobre aeronaves que superam a nossa tecnologia humana. As cidades estão colocadas em profundidades variando entre 1,5 e 2 milhas abaixo da crosta terrestre. 

O que Armstrong diz: 
“Atlantes entendem-se por telepatia e os lemurianos falam uma língua – Maru – que é uma raiz comum do hebraico e do idioma sânscrito."

Agora, as duas civilizações vivem em paz e harmonia. Eles são liderados por um Conselho Superior composto por 12 pessoas, 6 homens e 6 mulheres.

As cidades são artificialmente iluminadas e têm uma atmosfera controlada, mais pura do que a da superfície. As aglomerações urbanas estão estruturadas em vários níveis. Os moradores  se movem entre as cidades subterrâneas por meio de veículos de alta velocidade ( cerca de 3000 milhas por hora), que flutuam “.






Agartha estará a 100kms da superfície da Terra, na astenosfera.
Segundo Edward Snowden, e os documentos que revelou da NSA, vivem no Manto Inferior do Planeta Terra.




                               


Edward Snowden, reported on the facts known to it concerning UFOs. According to the documents, which Snowden copied to the CIA, the U.S. government has long known that UFOs exist and are managed species more advanced than humanity. These species are not alien, and our earth, only more advanced. They live here for billions of years, and far ahead of us in development.
The CIA stores data tracking systems and deep-sea sonar, but they have the status of state secrets, and even the scientists do not have access to this data about these objects. This kind of intelligent Homo sapiens and lived in the Earth's mantle. This is the only place where conditions were more or less stable for billions of years. Extremophiles can live at different temperatures, they have been able to flourish and develop intelligence at an accelerated pace. Homo sapiens and they have evolved at the same rate, but their living conditions in the Earth's mantle defended their civilization from the many disasters that have occurred on the surface of the earth...

The general consensus is that we're just ants from their point of view and there is a small chance that they will not continue to pay attention to us. But the military and are considering the possibility of aggression and the current plan of action in emergencies includes a plan - detonate a nuclear weapon in the deep caves to "seal" the enemy in the hope of destroying their communications that will prevent further attacks from the bowels of the earth. 




                               




sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Segredo


Andrea Costantini 




É este o meu segredo –
fechar-me, calar-me, adormecer espantosamente.

Sem mover os dedos,
sem abrir os lábios,
irei devagar, mais tarde, à hora do sol que se
apaga,
à beira de um rio negro,
quando o coração pára.
Serei apenas um homem sem nome,
caminhando ao acaso, pelas ruas de uma cidade
que devora a sua luz.

Não quero ser mais nada.
Sou a estátua cega, sou de dentro, e por dentro
me perdi.


José Agostinho Baptista
in, Quatro Luas



Nuvens Carregadas






O esforço que é preciso para desenrolar estes pensamentos que me enegrecem os dias, e não são as nuvens carregadas que andam já por aí, o tempo já traz a chuva e já está um pouco frescote, principalmente ao anoitecer, mas ainda não está frio de forma a largar as t-shirts, nem a vestir as camisolas de lã nem a acender a lareira, embora também saiba que quando o verdadeiro Inverno chegar, aquele que faz bater o dente, irá ser de um dia para o outro, hoje está ameno e amanhã estará gelado, é assim agora com o clima, mas não são as nuvens carregadas, estava eu a dizer que me enegrecem os dias mas sim os problemas que nós, nós os Homens, estamos sempre a criar para nos fodermos, para foder com a vida porque não conseguimos ser felizes, não queremos ser felizes, não queremos ser um paraíso porque se criou a ideia que é a guerra que promove o progresso, queremos crescer para os outros, sobre os outros, ser melhor que os outros, ganhar mais que os outros, ter uma pila maior que a de todos os outros, nem que seja na forma de uma pistola carregada nas mãos ou num foguete rumo à Lua, somos cada vez mais gananciosos, mais consumistas, mas consumistas de número, não de qualidade e prazer, compramos porque sim, porque precisamos muito de ter, porque o vizinho tem, o meu irmão tem, a minha mulher quer, o meu filho merece e eu desejo, mas que depois fica ali, esquecido, muitas vezes nem sabemos para o que serve, para o que é que o queremos, longe vão os tempos dos livros que eu comprava a torto e a direito, não para ler mas para ter, um dia serão lidos, antes ter em casa e fazer um fundo de catálogo que procurá-lo mais tarde numa livraria e já não existir, estar descontinuado, esquecido, os tempos são outros, já ninguém quer saber desse livro Porra! quero eu, eu quero saber desse livro e quero-o em condições, as folhas coladas à cota, as folhas todas, a impressão correcta, não ter de o comprar em segunda mão em lojas de velharias onde os livros estão descarregados para lá, como num depósito de ferro-velho, são enfiados em caixas, dia-sim dia-não, para ir para feiras de antiguidades, feiras de velharias, feiras de coisas mostras de outras coisas, descontos e promoções e assim e gente que pega e dobra e não tem cuidado e gente que vende e revende e não cuida e é uma dor de alma ver um livro estragado, rasgado, não lido nem cuidado, e já nem falo nos que perdi, deixei perdidos, larguei noutras casas, noutras vidas, mas já me perdi, quando começo a falar de livros perco o raciocínio porque fico desvairado, sou um amante de livros, não só de os ler mas de os ter, de os ver, de os cheirar, de saber que os tenho, olhar para a prateleira e ver a cota, ler a cota, desenrolar o mistério que se fecha lá dentro, lembrar o que li, antecipar o que vou ler, sim também tenho a minha opinião sobre coisas que desconheço mas que sinto que posso vir a gostar, ou não gostar, que importa?, mas isto para falar que afinal não são as nuvens escuras e carregadas de tempestade que me carregam os dias e me fazem andar macambúzio e maldisposto, angustiado e deprimido, mas os dias dos Homens, a sua ganância, a sua irredutibilidade para salvar a sua própria vida, o dinheiro é sempre mais importante, o dinheiro e o consumo, o progresso e o crescimento económico, o mantra mais estúpido que já se criou, o crescimento económico! o crescimento económico! enquanto uns ganham tudo outros não ganham nada e temos de fingir-nos felizes para que ao nosso lado as pessoas que convivem connosco achem que somos melhores, com melhor vida, um Instagram de sonho, uma vida de lantejoulas e samba, mas que choramos na almofada, à noite, sozinhos, choramos as ausências, a perdas, a morte, sempre às escondidas porque as vidas são perfeitas, a minha não, a minha é uma vida coxa, às vezes sem tesão, sem brilho, solitária, perdida, negra, muitas vezes uma vida de merda onde a saída está na lâmina de uma navalha da barba que se guardou religiosamente porque era uma lembrança paterna, mas não a trocava por outra, porque pode ser uma merda, mas é a minha merda e gosto dela assim, imperfeita, partida, triste, mas pura e minha.


Álvaro Romão
in, Estórias de Violência



quinta-feira, 27 de outubro de 2022

................... aceitar que não sou uma pessoa simples


Agustín Ruiz

 



São mais os problemas que invento do que os que tenho. São mais os que antecipo do que os que se confirmam. As minhas apreciações de mim mesma são sempre destrutivas, os elogios embaraçam-me por não os merecer, o meu coração é pequeno e preguiçoso, a minha solidariedade para com os outros é medíocre, estou a perder galopantemente o sentimento da empatia, a minha evolução pessoal é ainda larvar, nunca venci um defeito, qualquer “pobre diabo” tem mais grandeza do que eu, sou trocista e cínica, estou cada vez mais cobarde e mais demissionária das causas públicas. Não encontro nada de verdadeiramente magnânimo a apontar-me. 

Todavia, fui e sou amada, é um mistério. Quando não sou triste sou alegre - parece axiomático, mas não é - e, nesses dias, posso dar força e sentido à vida dos outros, mais do que à minha, ajudá-los sem grande esforço, merecer a sua gratidão. No entanto, se a generosidade é maior quando nos custa, não sou generosa. Tenho entusiasmo pela vida e pelo seu perpétuo aliciante, acredito no amor apesar do enigma que encerra. Não sei como chamar a estas competências, que estão longe de ser virtudes, mas são elas que me salvam de um balanço mais deprimente .

Dou muito valor ao que viveram ou vivem a meu lado, são sobreviventes.

E não, não estou triste. Dormi bem, adoro viver, acordei bem-disposta, a saúde e o amor vão bem,  não sou rica mas sou afortunada, sei distinguir as dificuldades existenciais dos verdadeiros dramas e tragédias.


Rita Ferro



terça-feira, 25 de outubro de 2022

Acordar

 

Engie








Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.

Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...


Álvaro de Campos
in, "Poemas"




PROCESSO DE LUTO

 





"Não estou pedindo que você me dê um tratamento especial. 
Não estou doente, você também não precisa se afastar de mim, só quero que leve em consideração alguns aspectos do meu processo, porque estou vivendo através de uma das experiências mais difíceis da vida, a morte de um ente querido.

Primeiramente, peço que não tenham medo de pronunciar o nome dele, pois ele viveu e ainda vive em mim. Considere como estou feliz em saber que você se lembra dele também.  Eu gosto de notar que você mantém seus aniversários e datas comemorativas em mente.

Eu quero que você saiba que eu posso experimentar emoções diferentes no mesmo dia.  
De repente você vai me ver rir e vibrar de alegria ao lembrar dele e alguns minutos depois, chorar por sua ausência. Um dia estarei calmo e de bom humor, e talvez no dia seguinte nada faça sentido para mim.

Peço que me dê espaço para ser livre com minhas emoções, ainda estou aprendendo a lidar com elas.
Eu sei que você me ama e se preocupa comigo, mas por favor, não me force a me sentir alegre.  Se às vezes você me vê retraído, é porque minha mente e meu coração viajaram para outro espaço onde posso ver seus olhos, abraçá-lo, sentir seu aroma, ouvir sua voz e sua risada.

Considere que o que aconteceu comigo é difícil, não compare com outra situação que aconteceu com você.  Perder um ente querido não é igual a qualquer outra morte ou acontecimento, cada processo, como cada pessoa, é único.  
Por favor, não faça comparações.

Tenha em mente que, embora eu esteja trabalhando para transcender minha dor e processar minhas emoções, não sei quanto tempo isso vai durar para mim.  
Não se desespere, apenas me dê tempo, não sei quanto tempo ainda.

Estou ciente de que o mundo continua girando e não para diante da minha dor, mas por favor, não me conforte com frases como: 
"você tem que ser forte", 
"a vida continua" .  
Nem com explicações teológicas, não me diga: 
"Deus precisava de um anjo", 
"foi a vontade de Deus", 
"ele parou de sofrer".

É normal que neste momento eu não entenda e veja a vida de forma diferente.  
Além disso, provavelmente passarei por uma crise de fé e repensarei minhas crenças.  
Até me deixe pensar sobre isso sem me sentir culpado.
Sei que no meu ritmo e no meu tempo sairei fortalecido, renovado, resiliente e alcançarei uma nova compreensão espiritual.

Já aviso que meu corpo também me cobra esse golpe emocional.  
Posso ganhar ou perder peso, dormir muito ou não conseguir dormir. quero me isolar.  
Sentindo-se triste, ansioso, irritado.

E, finalmente, considere que tenho óculos novos para ver a vida.  
Este evento está sendo um divisor de águas para mim, não sou mais o mesmo.  Eu nunca serei.  
Estou diferente, estou me reconstruindo.

Não leve para o lado pessoal, apenas me escute, me diga coisas bonitas que neste momento você possa apreciar, me acompanhe às vezes em silêncio, tome um café comigo, me dê um longo abraço e tente me conhecer novamente."

A.D.





sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Transição Energética para o Hidrogénio Verde...e, para o futuro, com a Fusão Nuclear





 

 "Acredito que um dia a água será usada como combustível, que o hidrogénio e o oxigénio que a constituem, usados de forma isolada ou simultânea, oferecerão uma fonte inesgotável de calor e luz a uma intensidade superior à do carvão mineral" 
Assim escreveu Jules Verne no seu romance “A Ilha Misteriosa”, de 1875. E agora, 145 anos depois, a "visão" de um dos maiores escritores de romances científicos de todos os tempos está a tornar-se realidade.




É esperado que as Energias Renováveis descarbonizem uma grande parte do consumo total de energia até 2050. Este é um dos grandes objetivos do “Green Deal” –  Pacto Ecológico Europeu, divulgado no final do ano de 2019, pela Comissão Europeia.

Mas para que a dependência de combustíveis fósseis diminua e a transição energética aconteça, terá de haver mudanças substanciais no sistemas energéticos. 
Por um lado, é necessário continuar a investir no desenvolvimento de tecnologias que potenciem a produção de energia verde, quer seja através da energia eólica, energia solar, energia hídrica, ou mesmo através de tecnologias que juntem várias fontes de produção de energia renovável, através dos chamados sistemas híbridos.  
Por outro, é necessário apostar num combustível alternativo ao petróleo que seja renovável e não poluente. 

E é neste contexto que entra o Hidrogénio!


O hidrogénio é dos elementos mais abundantes do Planeta Terra. 
Mas, apesar da sua abundância, raramente se encontra no seu estado isolado. 
Normalmente encontra-se combinado com outros elementos, como é o caso da molécula da água (H2O) que contém 2 átomos de hidrogénio. 
Deste modo, para se produzir hidrogénio é necessário separá-lo da outra molécula.

O Hidrogénio verde é o nome que se dá ao processo de produção de hidrogénio obtido pela eletrólise da água, ou seja, por efeito da passagem de uma corrente elétrica pela água, essa energia permite separar os átomos de oxigénio e de hidrogénio. Como este processo não necessita de combustíveis fósseis para a sua produção é considerado Hidrogénio verde.

A principal vantagem deste processo, consiste no facto de as reações químicas necessárias para reconverter hidrogénio em energia produzirem apenas água como produto final, ou seja, não há emissão de gases poluentes ou gases de efeito estufa.

Este é o método “mais limpo” de obter hidrogénio e aquele que a União Europeia pretende investir a médio/longo prazo.




Hoje em dia, mais de 90% do hidrogénio produzido no mundo é refinado e resulta da reformação por vapor, o chamado hidrogénio cinzento. 
Na prática, passa por colocar gás natural, diesel ou carvão a altas temperaturas, num processo em que estes combustíveis vão reagir com o vapor de água e produzir hidrogénio. 
Este processo é altamente poluente. 

Segundo a IEA (Agência Internacional de Energia), a sua produção é responsável por cerca de 830 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano,igual à soma das emissões produzidas pelo Reino Unido e pela Indonésia.

A tendência de médio/longo prazo tem como foco um aumento da percentagem do consumo total de energia por parte das renováveis e uma diminuição progressiva da percentagem atribuída a energias fósseis.

O hidrogênio verde representa a chave para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e se encaixa perfeitamente na visão de sustentabilidade do planeta, que se baseia num duplo objetivo: 
Por um lado, a descarbonização através do crescimento das energias renováveis e o encerramento das indústrias fósseis(gás natural, carvão e petróleo) e centrais nucleares.
E, por outro, a eletrificação para consumo final.


ENERGIA FISSÃO NUCLEAR 
A energia nuclear não emite CO2 para a atmosfera, não contribuindo para o aquecimento global. 
De fato, as emissões de CO2 de uma central nuclear são praticamente nulas, pois o urânio é utilizado como combustível, não havendo queima de combustíveis fósseis. 
Entretanto, o CO2 é emitido durante as etapas do ciclo do combustível nuclear (transformação do mineral urânio para que ele possa ser utilizado como combustível nas centrais nucleares). 
A etapa de enriquecimento do urânio, por exemplo, costuma depender da eletricidade gerada por combustíveis fósseis.
Outro aspecto negativo do uso da energia nuclear é o lixo gerado pelas centrais nucleares. 
Elas produzem uma elevada e variada quantidade de dejetos, que incluem o próprio urânio utilizado nos reatores e os equipamentos contaminados pelo urânio e por outros elementos resultantes das reações ocorridas. Esses resíduos são altamente tóxicos e nocivos ao meio ambiente e à saúde humana. 
Um dos principais problemas é que estes resíduos permanecem contaminados por um longo período de tempo. Embora diversos métodos de destinação final tenham surgido, ainda há muitas incertezas sobre o correto tratamento e disposição final do lixo radioativo.
A possibilidade da ocorrência de acidentes nucleares também gera muitas discussões. Esses acidentes podem ocorrer por falhas humanas ou técnicas, causando danos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde humana.



É necessário criar uma série de instalações híbridas que consistem em indústrias de energias renováveis (solar e eólica) combinadas com eletrolisadores – estruturas que, por meio da eletricidade, dividem as moléculas de água em hidrogênio e oxigênio – para produzir hidrogênio verde, que será então vendido aos clientes para a descarbonização de seus processos. 
Esse pipeline também inclui a possibilidade de instalar os eletrolisadores nas nossas indústrias fotovoltaicas e eólicas já existentes, por exemplo, no Chile, nos Estados Unidos e na Espanha, onde existe um vasto potencial de energias renováveis e condições regulatórias favoráveis.

Embora esta não seja uma alternativa para a eletrificação, que continua sendo a maneira mais fácil e barata de descarbonizar grandes porções do consumo total final de energia, o hidrogênio verde representa um complemento desse processo, uma das soluções energéticas mais promissoras, acessíveis e sustentáveis para reduzir as emissões de CO2. 
E para alcançar a neutralidade climática de 2050, a descarbonização de indústrias que dependem do uso de combustíveis fósseis realmente fará toda a diferença.  

Além disso, se produzido dentro das fronteiras nacionais, o hidrogénio verde pode reduzir a dependência de um país das importações de combustíveis fósseis e, com a criação de uma nova cadeia de valor, pode ter  implicações sociais positivas, com o aumento de novas oportunidades de emprego e a estabilização de preços da energia comercial.

O hidrogénio tem uma ampla gama de aplicações e pode ser usado em setores como: a indústria e o transporte, nomeadamente em comboios, aviões, automóveis, camiões e autocarros movidos a células de combustível de hidrogénio.
A sua combustão não envolve a emissão de CO2, gerando apenas vapor de água.  

A visão estratégica Europeia prevê que a percentagem do consumo energético atribuída ao hidrogénio irá aumentar de 2% para 14% em 2050 (há estudos que indicam 24%).

No entanto, há muitas perguntas ainda sem resposta relacionadas à grande quantidade de energia usada na produção de hidrogénio renovável, à disponibilidade de grandes tecnologias de armazenamento ou aos altos custos de transporte. Mas a difusão das energias renováveis, o aumento da produção de eletrolisadores e a relativa economia de escala, graças à evolução tecnológica, poderia abrir o caminho.

No cenário atual, portanto, o hidrogénio nos permitiria dar mais um passo em direção à neutralidade climática, desde que seja produzido a partir de fontes de energias renováveis.




Mas, o futuro está na Fusão Nuclear!

Mas qual a diferença entre a fusão nuclear e, a energia nuclear que existe actualmente, que se chama de Fissão nuclear?

Tanto a fusão quanto a fissão nuclear são processos naturais que ocorrem no núcleo de um átomo e geram energia. 

Mas qual a diferença entre fissão e fusão nuclear? 

Em poucas linhas, é que na fusão temos a combinação de dois ou mais átomos leves, enquanto a fissão envolve a divisão de um único núcleo atómico, geralmente pesado e instável.
A fusão nuclear é um tipo de energia nuclear diferente do processo de fissão nuclear que é usado desde 1950 nos reatores de energia atómica
Na fusão, a energia é gerada a partir da união de átomos, enquanto na fissão a energia é gerada pela divisão de átomos.

A fusão é o mesmo processo que acontece no Sol continuamente, responsável pelo seu calor e sua luz, e exige calor e pressão extremos, sendo muito mais difícil de controlar do que a fissão.
A cada segundo, bilhões de toneladas de átomos de hidrogénio colidem uns com os outros em condições de temperatura e pressão extrema dentro do Sol. Isso os força a quebrar suas ligações químicas e se fundirem, formando um elemento mais pesado, o hélio.
A fusão solar gera quantidades enormes de calor e luz.

Este fato levou muitos engenheiros e cientistas a iniciar projetos para o desenvolvimento de reatores de fusão (Tokamaks) de modo a gerar eletricidade (por exemplo, a fusão de poucos cm³ de deutério, um isótopo de hidrogénio, produziria uma energia equivalente àquela produzida pela queima de 20 toneladas de carvão).

Nas últimas décadas pesquisadores têm tentado replicar esse processo na Terra, produzir "um sol na caixa", como dizem alguns físicos. A ideia é pegar num certo tipo de gás de hidrogénio, aquecê-lo a mais de 100 milhões de graus Celsius até formar uma nuvem de plasma, e controlá-lo com um poderoso campo magnético até que os átomos se fundam e libertem energia.


Potencialmente, a energia da fusão nuclear é muito limpa: não gera CO² como subproduto, não gera lixo tóxico (já que o resultado da reação é o hélio, que não é radioativo), não gera riscos de explosão.



Fusão nuclear quando ocorre com elementos mais leves que o ferro e o níquel (que possuem as maiores forças de coesão nuclear de todos os átomos, sendo portanto mais estáveis) ela geralmente liberta energia, e com elementos mais pesados ela consome. 
Até hoje, início do século XXI, ainda não foi encontrada uma forma de controlar comercialmente a fusão nuclear, como acontece com a fissão, embora existam laboratórios de pesquisa que utilizam reatores de fusão nuclear em pesquisas científicas. Um projeto que caminha para a demonstração da viabilidade comercial do uso da fusão nuclear controlada é o ITER.

Trinta e cinco países participam do projeto ITER(Reator Termonuclear Experimental Internacional) com um investimento superior a US$ 22 biliões num reator gigante, que começou a ser construído em 2007 no sul da França.
Toda a propriedade intelectual será dividida por igual pelos 35 países, o que é algo único.
O plano é ter o primeiro plasma produzido em 2025, e a fusão de deutério e trítio em 2035.
No entanto, da produção do plasma até à obtenção de energia ainda há um longo caminho.

O projeto também foi prejudicado por longos atrasos e, porque ultrapassou o orçamento inicial, mas desde 2015 que tudo voltou ao normal, mas todos esses imprevistos fazem com que seja improvável que haja uma central nuclear de fusão até 2050.



"O que estamos a fazer é desafiar as fronteiras do que é conhecido no mundo da tecnologia", diz o físico Ian Chapman, presidente da Agência Britânica de Energia Atômica. 
"E é claro que encontramos obstáculos e precisamos de os superar, o que fazemos o tempo todo."

Até o ITER estar a funcionar em 2025, o chamado JET (Joint European Torus), no Reino Unido, continuará a ser a maior pesquisa com fusão nuclear existente.

O JET teve financiamento da União Europeia de 100 Milhões de 2019 a 2020, e irá continuar a funcionar até 2023, e em 2024 será desativado devido ao BREXIT. 
Mas o governo do UK recentemente anunciou um investimento de 220 milhões de libras para o desenvolvimento de uma central de fusão até 2040. 
Durante os próximos quatro anos, pesquisadores vão desenvolver um projeto para uma central de fusão chamada Tokamak Esférico para Produção de Energia, ou STEP, na sigla em inglês (Tokamak é um tipo de reator experimental de fusão).


A participação do Reino Unido no ITER, que tem o dobro do tamanho do JET, apesar da saída do país da União Europeia, foi mantida com a assinatura do acordo Trade and Cooperation Agreement, entre o UK e a UE.
Neste momento, existem à volta de 20 reatores de Fusão no mundo.



The Joint European Torus Tokamak generator, seen from the inside



O método mais conhecido de fusão envolve um reator Tokamak, que tem uma câmara de vácuo em formato de donut. Nela, o hidrogénio é aquecido a 100 milhões de graus Celsius, e então se torna um plasma. Um campo magnético fortíssimo é usado para confinar o plasma para que ele não derreta o reator e encaminha-o para que a fusão ocorra.

No Reino Unido, pesquisadores desenvolveram um tipo diferente de Tokamak, que parece mais uma maçã do que um donut. Chamado de Tokamak esférico, ele tem a vantagem de ser mais compacto, permitindo que centrais futuras sejam localizadas em áreas urbanizadas.

"Se olharmos para algumas unidades, com as grandes máquinas que precisamos instalar, podemos ver que a tarefa de encontrar um local para colocá-los por si só já é difícil", diz Nanna Heiberg, da Agência de Energia Atómica do Reino Unido.
"O ideal é colocá-las perto de onde a energia é usada. E se conseguirmos criar reatores em espaços menores, podemos colocá-los mais próximos aos usuários e criar mais pelo país."



REATORES PRIVADOS
Enquanto governos internacionais tentam fazer o ITER ir para a frente, alguns países também têm suas iniciativas nacionais. A China, a Índia, a Rússia e o Estados Unidos estão a trabalhar no desenvolvimento de reatores comerciais.

O Banco de Investimento da Europa também está a colocar centenas de milhões de euros num programa de produção de energia de fusão nuclear italiano que prevê operações a partir de 2050.

A marinha americana já registou a patente de um "dispositivo de fusão de plasma por compressão", que usará campos magnéticos para criar uma rotação acelerada e produzir energia para o funcionamento de navios e submarinos. A ideia é criar reatores pequenos o suficiente para que sejam portáteis. Há muitas dúvidas sobre a possibilidade de que isso seja possível na prática.

Talvez a maior expectativa venha do setor privado. 
São empresas menores, mais ágeis, e se desenvolvem a cometer erros e a aprender com eles rapidamente.
Hoje, há dúzias delas no mundo todo, levantando fundos e avançando com abordagens diferentes das tradicionais.

A First Light, por exemplo, surgiu na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e envolve lançar um projétil num alvo que contém átomos de hidrogénio. A onda de choque do impacto pressiona o combustível e produz o plasma.

A Commonwealth Fusion Systems (CFS) foi criada por ex-funcionários do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e conseguiu levantar mais de US$ 100 milhões. Seu objetivo é desenvolver um reator Tokamak com Ímanes supercondutores que permitirão produzir um reator menor e mais barato.

A TAE Technologies, da Califórnia, conseguiu investimento de empresas como a Google e quer usar um tipo diferente de combustível: uma mistura de hidrogénio e boro, ambos elementos abundantes e não-radioativos. O protótipo deles é um reator cilíndrico que forma dois anéis de plasma que são unidos e mantidos juntos com raios de partículas não reagentes para que fiquem mais quentes e durem mais.

Uma das empresas mais competitivas é a empresa canadense General Fusion
A sua abordagem atraiu bastante atenção ao ser apoiada por bilionários como o criador da Amazon, Jeff Bezos.
A General Fusion nomeou o seu sistema de "magnetised target fusion", algo como "fusão magnetizada direcionada", em inglês.
O método funciona inserindo plasma quente injetado numa bola de metal líquido dentro de uma esfera de aço. A mistura então é comprimida por gigantescas pistolas de pressão, mais ou menos como um motor a fissão.
"As pistolas disparam simultaneamente e colapsam a cavidade com o combustível dentro", diz Michael Delage, diretor de tecnologia da empresa.
"No pico da compressão, quando a reação acontece, ela está cercada por todos os lados por metal líquido, então a energia vai para o metal, que depois é usado para ferver água e produzir vapor, que por sua vez é usado para produzir energia elétrica."
A General Fusion diz que espera que seu protótipo esteja a funcionar em cinco anos.

"O custo de energias renováveis caiu, enquanto o custo do projeto de fusão internacional, o ITER, subiu", diz o físico britânico Chris Llewellyn Smit, que já foi presidente do conselho do ITER. 
"Agora parece bem improvavel que consigam completar o projeto sem novas ideias."

A Fusão nuclear ainda é muito cara mas, precisamos de uma fonte de energia livre de carbono para complementar as renováveis no futuro.

"A fusão precisa de recursos para realmente funcionar", diz Ian Chapman, da agência britânica de energia atómica. 
"A investigação pode ser feita por um país ou pela iniciativa privada.
Mas é necessário haver uma maior escala e maiores recursos para passar a ter uma produção mais barata como as renováveis."



Faz todo sentido. 
Tal fonte de energia é abundante: fundir átomos controladamente libera 4 milhões de vezes mais energia que a queima de petróleo e quatro vezes mais que a fissão nuclear. Ela também é sustentável: seus reagentes estão disponíveis no mundo todo e são praticamente inesgotáveis. Para iniciar a fusão, são necessários apenas dois isótopos do hidrogénio — deutério e trítio. O deutério é praticamente infinito, uma vez que está presente na água do mar. Já o trítio precisa ser fabricado. Mas a produção desse isótopo está atrelada ao próprio processo da fusão: é só garantir que os neutrões emitidos reajam com o lítio. 

“Acho que uma bateria de lítio de um laptop e, talvez, uma garrafa de água forneceriam eletricidade para sua vida toda”, afirma Eva Belonohy, especialista de plasma na investigação de fusão JET, do Reino Unido

Reservas de lítio também são muito abundantes, disponíveis em terra firme e nos oceanos.

A fusão nuclear não emite dióxido de carbono (CO2), apenas hélio, e o gás nobre em estado inerte não é tóxico. Ao contrário do processo de fissão, não há produção de lixo nuclear nem riscos decorrentes da fabricação de armas atómicas. 
Por outras palavras, a fusão é segura: por ser um processo tão difícil de manter, caso algo dê errado, basta apertar um botão e o plasma resfria em segundos. Não existe risco de Chernobyls ou Fukushimas.

Mais de 99% do Universo, como as estrelas e a matéria interestelar, é feito de plasma. 
Para contê-lo no dispositivo continuamente aquecido sem danificar as paredes de um reator, os cientistas usam grandes ímanes para criar uma “prisão” magnética. 
Encontrar o material ideal para a parede do equipamento, desenvolver a tecnologia para cultivar o trítio e projetar o mecanismo que produzirá vapor para transformar a energia gerada em eletricidade e colocá-la na rede elétrica são outros desafios. 
Há décadas, físicos tentam montar esse quebra-cabeça.