quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O Ano Passado






O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.

As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.

Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.

E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.


Carlos Drummond de Andrade





quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Retorno Solar - os segredos do Novo Ano








Todos os anos somos lembrados da nossa missão espiritual com o retorno do Sol à sua posição natal. Ou seja, o nosso Aniversário. Se soubéssemos o importante que é este dia e os segredos que ele esconde para os 365 que se seguem, talvez o festejássemos de forma diferente ou pelo menos déssemos tanta importância à celebração como à interiorização e preparação do novo ano.

Ao contrário do que pensamos ou nos fizeram acreditar, o dia 1 de Janeiro tem pouca importância a nível de mudanças, a não ser que seja o teu aniversário. Na dança cósmica, esse dia não apanha a energia das poderosas mudança de estações Equinócios e Solstícios, não é normalmente o mês dos transformadores Eclipses e o Sol acabou de entrar último quadrante do Zodíaco, no Signo de Capricórnio que inaugura o profundo Inverno, tempo de recolhimento, interiorização, preservação o que explica porque as intenções de mudanças de Novo Ano caem todas por terra!
Queres que a tua lista de intenções tenha uma verdadeira oportunidade de ser aplicada e de ter sucesso? Espera pelo dia 21 de Março que é quando o Sol inaugura o Zodíaco, dá início à Primavera e recebemos todas a bombástica energia dos recomeços.

Para quem nunca deu muita importância a estes temas, deixo um mini resumo:
As posições dos Planetas no dia e hora do nascimento descrevem um plano ou um objectivo, com propostas e aprendizagens específicas, pessoais e karmicamente preparadas para cada um de nós.
Este plano ou missão tem como critério, a transformação da pessoa que éramos na vida passada, para uma nova versão de nós mesmos, mais evoluída, amorosa e iluminada.

Através de variadíssimos aspectos do mapa astrológico, conseguimos fazer um bom resumo das características tanto positivas como negativas que herdámos e compreender então a oportunidade de melhorar e transformar o passado num novo futuro.

A leitura karmica do mapa permite-nos conhecer essas duas versões, de quem fomos e de quem podemos vir a ser.
O livre arbítrio é relativo pois não ter consciência da missão original, leva-nos a manter a velha versão de quem fomos repetindo os mesmos padrões ou, se já tivermos consciência de quem viemos ser, podermos escolher a nova versão através de novas formas de viver.

A cada ano que o Sol volta à posição natal, podemos construir um novo mapa, chamado retorno ou revolução solar, que nos permite espreitar de que forma as energias nos irão condicionar e convidar durante esses 365 dias, a cumprirmos o plano de nascimento. Ou seja, em que áreas vamos ser convidados a deixar ir a velha versão e em que áreas seremos convidados a sair da zona de conforto e ir em busca de novas formas de ser.

Embora se mantenha sempre no mesmo grau do nascimento, teremos então um ascendente diferente que nos convidará a respeitar e priorizar o tema desse Signo. O Sol irá iluminar uma área de vida diferente da do ano passado. Saturno mostrará onde esforço e crescimento será exigido, Jupiter de onde virão as bençãos de nos alinharmos com o propósito espiritual, a Casa do Nodo do Sul onde nos despedirmos de algo ou alguém, e tantas outras curiosidades. Estas e outras informações permitem-nos prepararmo-nos para aproveitarmos o novo ano da melhor maneira, tal como preparamos uma viagem de férias para que tudo flua pelo melhor.

Sem todo este conhecimento também se vive claro, mas eu diria mais, sobrevive! Sem conhecermos a nossa história karmica não temos consciência do que representa o velho e o que é o novo. Ficamos sem critério de escolha do que faz ou não sentido para nós. Não percebemos o que é para largar e o que é para ir atrás. Não sabemos o que representa o passado e resistência e o que representa futuro e oportunidade. Não sabemos pelo que devemos lutar e onde devemos desistir. Ou seja, vivemos cansados, sem orientação, sem ânimo, sem sentido.

Se a esta informação ainda acrescentarmos as propostas da numerologia, o ano pessoal / ano universal, o ciclo actual, o desafio presente, a proposta de amadurecimento e tantas outras curiosidades, posso dizer que vivemos um tempo abençoado e iluminado! Há séculos que a nossa alma aguardava este momento de consciência e sabedoria para poder dar um salto quântico de transformação e evolução que não foi possível nos séculos anteriores.

A Nova Era vai exigir de nós estado de presença, consciência de nós próprios e do que nos rodeia, sabedoria para dar a melhor resposta a cada momento. Depois de séculos de adormecimento, idealizações e projeções, esta mudança não se fará facilmente. Mas as futuras gerações irão agradecer que começe connosco. É uma pequena mas poderosa maneira de ajudar a criar o Novo Mundo.


Vera Luz




quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

John Lee Hooker - Blues for Christmas

Saturnália

 





O que era a Saturnália, 
rito romano pagão 
ao qual se atribui a verdadeira origem 
da celebração do Natal



Saturnália era um feriado romano destinado a dar as boas-vindas ao inverno.

Advogado, escritor e um dos mais célebres intelectuais do Império Romano, o também filósofo Sêneca tem uma citação sobre Roma, onde diz: 
“É o mês de dezembro, mas a cidade toda está coberta de suor”
O motivo de os romanos estarem acalorados no inverno, e o estoico Sêneca, incomodado, era a grande agitação das pessoas por conta da celebração da Saturnália, festival em homenagem ao deus Saturno.

As festas religiosas em Roma eram chamadas de feriae (de onde veio a palavra “férias”) e nesses dias os romanos não trabalhavam, havia troca de presentes e a esperada inversão de papéis entre mestres e escravos. A maior de todas as festas era a Saturnália, a princípio comemorada no dia 17 de dezembro, mas depois “esticada” para três dias, e mais tarde uma semana. Para Sêneca, parecia um ano.

Depois que o imperador César introduziu o calendário juliano, no ano 45 a.C, o solstício mudou, assim como a festa, para o dia 25 de dezembro. Cinquenta anos mais tarde, a data foi escolhida pelo Papa Júlio I para marcar o nascimento de Jesus Cristo, e a festa pagã acabou se transformando no Natal, onde apenas a tradição de troca de presentes se manteve.

Celebrada inicialmente, entre os dias 17 e 23 de dezembro, a Saturnália era definida pelo poeta Catulo como “o melhor dos dias”. A festa era considerada um retorno à era de Saturno, um tempo mítico em que todos os seres humanos eram iguais. Um rei era eleito por sorteio, o Saturnalicius princeps, para abrir os festejos.

Durante as comemorações, havia banquetes, músicas, danças, jogos e muita bebida. Ninguém trabalhava, nem mesmo os camponeses ou os servos. Nesse período, os escravos tinham todas as regalias de um cidadão comum, podendo até desrespeitar os seus mestres.


O Império Romano deixou como legado ao mundo ocidental, entre muitas coisas, os princípios do ordenamento jurídico praticado em dezenas de países, as raízes de línguas como o espanhol, o francês ou o italiano, e até a lógica com que operam os Corpos de Bombeiros que trabalham nas cidades.

Mas talvez haja um elemento desse legado que não é tão conhecido: a festa do Natal.

Em uma das principais celebrações do Cristianismo, hoje marcada por árvores luminosas, Papai Noel, manjedouras e reuniões familiares, é difícil ver qualquer vestígio da cultura romana.
Principalmente porque, por mais de cinco séculos, o Império Romano era um povo que acreditava em múltiplas divindades.


Mas qual é a ligação entre o Natal que conhecemos e a Roma Antiga?

A resposta a essa pergunta se refere a uma celebração romana em particular: a Saturnália, o rito com o qual o inverno era recebido no Império Romano.

"A escolha de 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus não tem nada a ver com a Bíblia; ao contrário, foi uma escolha bastante consciente e explícita de usar o solstício de inverno para simbolizar o papel de Cristo como a luz do mundo", diz Diarmaid MacCulloch, professor de história da Igreja na Universidade de Oxford, no Reino Unido, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
"Os costumes festivos e desregrados da Saturnália na mesma época do ano naturalmente migraram para a prática cristã, uma vez que no século 4 o Cristianismo estava se tornando mais proeminente na sociedade romana. As novas crenças seriam mais bem aceitas se não entrassem em conflito com antigos costumes não cristãos", acrescentou.

Mas quando ocorreu esse encontro entre os ritos romanos e as celebrações cristãs e como chegaram aos nossos dias?

A Saturnália era um festival realizado pelos romanos antigos para celebrar o que chamavam de "renascimento" do ano, para marcar o solstício de inverno no calendário juliano (prevalente no império romano e na Europa durante séculos) que, curiosamente, era celebrado em 25 de dezembro.

Porém, a festa começava oito dias antes, em 17 de dezembro, quando as normas que ordinariamente regiam a sociedade eram invertidas: os homens se vestiam de mulher e os senhores se vestiam de servos.

Mas começaram então as semelhanças com o Natal que conhecemos nos dias de hoje: as casas eram decoradas com folhagens, velas eram acesas e... presentes eram trocados.

"Essa celebração era realizada em homenagem ao deus Saturno (daí o nome) e sempre foi caracterizada pelo relaxamento da ordem social e pelo clima de carnaval", diz a historiadora Marguerite Johnson, da Universidade de Newcastle, na Austrália, em entrevista à BBC News Mundo.

Johnson enfatiza que a celebração em homenagem a Saturno no início do inverno tinha um significado: Saturno era a principal divindade dos romanos.

"Ele era o deus do tempo, da agricultura e das coisas sobrenaturais. Como os dias encurtavam e de alguma forma a terra morria de forma simbólica, era necessário que o deus do tempo e da comida ficasse feliz", explica Johnson.

E como parte dessa tradição de agradar a divindidade e outras pessoas, os presentes foram introduzidos.

"Como parte das festividades, os romanos trocavam presentes: velas, chinelos de lã, chapéus e até meias. E o faziam entre famílias, enquanto os escravos desfrutavam de tempo livre."

Mas a historiadora lembra que, 
além da festa da Saturnália, 
os romanos tinham outra celebração importante: 
a do "nascimento do sol invicto ou não conquistado"
 (Natalis Solis Invicti), 
que era celebrado todo dia 25 de dezembro, 
segundo diversos documentos dos tempos romanos.

"No almanaque do século 4, o Calendário de Filocalus, é mencionado uma celebração do Invictus em 25 de dezembro, que é provavelmente uma referência ao 'Sol Invicto'", diz Johnson.

"E é nesse documento que se faz a primeira menção que 25 de dezembro é o nascimento de Jesus", acrescenta a historiadora.

A verdade é que, no fim da era romana, o Natal já fazia parte do calendário romano.

Foi um processo gradual, segundo os historiadores, que teve a ver com uma hibridização ou amálgama de tradições.

Em meados do primeiro século, os cristãos já haviam chegado a Roma e começaram a moldar a sociedade do império.

"À medida que o cristianismo se tornou mais arraigado no mundo romano e a antiga religião politeísta ficou para trás, os cristãos se adaptaram a esses ritos estabelecidos e os tornaram seus", observa Johnson.

"É muito plausível que tenham escolhido essa festa pela sua relação com o renascimento, mas dessa vez com o renascimento de Cristo, a quem ao mesmo tempo foi confiada a missão de os redimir e conduzir à vida eterna", acrescenta.

Já no século 4 tudo passou a estar escrito: entre 320 e 353, o Papa Júlio 1º fixou a solenidade do Natal em 25 de dezembro, talvez como estratégia para converter os romanos.

No ano de 449, o Papa Leão 1º estabeleceu a data para a comemoração do nascimento de Jesus como uma das principais festas da Igreja Católica e finalmente o Imperador Justiniano em 529 a declarou feriado oficial do império.

Então, começou-se a supor que Jesus havia nascido em dezembro. No entanto, o historiador italiano Polidoro Virgilio no século 15 começou a notar as semelhanças entre vários ritos pagãos e a celebração do Natal.

"Polidoro Virgilio apontou a conexão entre a tradição predominantemente inglesa, 'The Lord of Misrule', que ocorria no dia de Natal, e o costume equivalente que ocorria durante a Saturnália. Ambos envolviam senhores e servos ou escravos trocando papéis por um dia", observa Johnson.

Por exemplo, os senhores usavam o pilleus – chapéu de escravo liberto –, e deixavam os escravos fazerem aquilo que mais desejassem ou, até mesmo, demonstrarem algum ato de insolência. Esta peculiaridade do festival era uma forma de escape das pressões sociais acumuladas, ao longo do ano, dentro das rígidas regras de sociabilidade romana.

O findar das festividades era marcado pela compra e oferta de velas, de figos gelatinosos e, em especial, de pequenas estatuetas em argila (sigillaria) que se encontravam à venda numa feira, especialmente realizada para o festival. Esta dera nome ao último dia de celebração, e era muito habitual as pessoas darem aos seus dependentes uma quantia monetária, para que pudessem comprar alguns bens por lá.

Desde então, busca-se a data exata do nascimento de Jesus, que alguns historiadores situam em meados de março ou início de abril.

Mas a influência é tão forte que continuamos a comemorar com presentes, festas e reuniões familiares no dia 25 de dezembro.

Nem sempre o dia 25 de Dezembro foi dia de Natal. 
A origem da celebração deste dia parece ser muito antiga mas a filiação mais directa provêm, como tantas outras coisas, dos Romanos. Estes celebraram durante muito tempo uma festa dedicada ao deus Saturno que durava cerca de quatro dias. Nesse período ninguém trabalhava, ofereciam-se presentes, visitavam-se os amigos e, inclusivamente, os escravos recebiam permissão temporária para fazer tudo o que lhes agradasse, sendo servidos pelos amos. Era também coroado um rei que fazia o papel de Saturno. Esta festa era chamada Saturnália e realizava-se no solstício de Inverno.

Convém lembrar aqui que o Solstício de Inverno era uma data muito importante para as economias agrícolas – e os Romanos eram um povo de agricultores. Fazia-se tudo para agradar os deuses e pedir-lhes que o Inverno fosse brando e o Sol retornasse ressuscitado no início da Primavera. Como Saturno estava relacionado com a agricultura é fácil perceber a associação do culto do deus ao culto solar.

Mas outros cultos existiam também, como é o caso do Deus Apolo, considerado como "Sol invicto", ou ainda de Mitra, adorado como Deus-Sol. Este último, muito popular entre o exército romano, era celebrado nos dias 24 e 25 de Dezembro data que, segundo a lenda, correspondia ao nascimento da divindade. 

Em 273 o Imperador Aureliano estabeleceu o dia do nascimento do Sol em 25 de Dezembro: Natalis Solis Invicti (nascimento do Sol invencível).

É somente durante o século IV que o nascimento de Cristo começa a ser celebrado pelos cristãos (até aí a sua principal festa era a Páscoa) mas no dia 6 de Janeiro, com a Epifania. 

Quando, em 313, Constantino se converte e oficializa o Cristianismo, a Igreja Romana procura uma base de apoio ampla, procurando confundir diversos cultos pagãos com os seus. Desistindo de competir com a Saturnália, deslocou um pouco a sua festa e absorveu o festejo pagão do nascimento do Sol transformando-o na celebração do nascimento de Cristo. O Papa Gregório XIII fez o resto: é mais fácil mudar o calendário do que mudar a apetência do povo pelas festas...



Mark Cartwright




É Tempo de Natal





É tempo de Natal. Exibe-se um pinheiro,
Com lâmpadas de cor, sobre o balcão.
Tem, também, pendurados, a isca do dinheiro
E flocos finos de algodão.

Nas férias, foge a freguesia
Do final das manhãs,
Com os seus kispos disformes, de inflada fantasia,
E o conforto das lãs.

Bebem-se mais bebidas quentes.
O chão, mais húmido, incomoda.
E há apelos insistentes
Do cauteleiro que anda à roda.

Os embrulhos, nas mesas, nos regaços,
Com vistosos papéis,
Florescem de acetinados laços,
Lembram o oiro, o incenso, a mirra, em mãos de reis.

Muitos adultos. Pouca criançada.
Muito cansaço. Pouca animação.
A vida (a cruz!) tão cara, tão pesada!
E dão-se as boas-festas sem se sentir que o são.

Consigo mesa junto à vidraça.
E é em mim que procuro, ou é lá fora,
A estrela que não luz, o pastor que não passa,
O anjo que não vem anunciar a hora?


ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA




terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A vida é um ciclo onde morte e renascimento se interligam.

 





A vida é um ciclo onde morte e renascimento se interligam. No entanto, se a sociedade moderna lida cada vez pior com o conceito de Vida, com "V" grande, pior ainda lida com a morte. 
Não estou a falar de Vida e Morte físicas apenas mas principalmente de Vida simbólica na forma inícios, ideias, criação de algo novo, nascimento, começos, encontros, etc. Mas também de morte nas formas de fins, destruição, derrocada, doença, perda. 

É fácil sentir a facilidade / alegria com que o coração abre para as experiências de Vida assim como é difícil sentir a resistência / tristeza com que ele se fecha para os momentos de morte. 
Mas não são estes dois movimentos que fazem o coração bater? 
E não são as batidas do coração sinal de Viver? 

Da mesma maneira que a contração e a expansão do coração são condição essencial de Vida, assim são os conceitos de morte e renascimento, de abraçar e deixar ir, de ter e perder, de viver o Verão e o Inverno nas mais variadas expressões da Vida.  

A mudança é a forma como sentimos esse convite de eterna regeneração, é nas mudanças que nos apercebemos que há que saber ganhar e saber perder pois quando perdemos ganhamos mas quando ganhamos corremos sempre o risco de perder. Que há uma pele velha que deve dar lugar à nova. Que há velhos apegos e formatos que impedem o novo e fresco de se manifestar. 
A mudança tal como uma obra, é sempre chata, desagradável, suja, dolorosa mas sem ela, jamais sentiríamos a excitação, a alegria e o crescimento do novo, do melhor, do mais evoluído, do mais verdadeiro.

Nos próximos 6 meses vamos ter muitos momentos destes, muitas oportunidades de fecharmos ciclos assim como iremos sentir muitos novos a abrir. 
Posições planetárias raras e únicas trazem convites de mudanças gigantescas que têm como objetivo levar a humanidade / indivíduo a um patamar novo e mais evoluído. 

A pergunta é:
Vais resistir à mudança e agarrar-te ao velho e ultrapassado, acabando arrastado à força? 
Ou vais permitir a mudança, confiar e fluir com fé nos planos da vida, fazer a limpeza e permitires que o novo se manifeste?

Observa internamente como te tens sentido nos últimos 2/3 meses: 
  • Que experiências emocionais, de cura e limpeza vieram ter contigo? 
  • Que convites de mudança recebeste? 
  • Que cara ou forma tem o novo pelo qual o teu coração anseia? 
  • Que emergência na tua vida pede fim, limpeza e libertação urgente? 
  • Que barreiras terás que derrubar para seres quem és?


Vera Luz



Robert Adams - Não Reaja

What Matters Most is How Well You Walk Through the Fire




 





I write poetry, worry, smile, 
laugh 
sleep 
continue for a while 
just like most of us 
just like all of us; 
sometimes I want to hug all 
Mankind on earth 
and say, 
god damn all this that they’ve brought down 
upon us, 
we are brave and good 
even though we are selfish 
and kill each other and 
kill ourselves, 
we are the people 
born to kill and die and weep in dark rooms 
and love in dark rooms, 
and wait, and 
wait and wait and wait. 
we are the people. 
we are nothing 
more.


Charles Bukowski 




sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Oposição de Marte ao Sol, conjunto à Lua Cheia em Gémeos

 





Marte é, entre outros simbolismos, o bisturi, a faca. Gosto de associar os seus períodos de retrogradação a cirurgias internas, a momentos em que nos voltamos dentro para agir internamente sobre o que precisa ser operado em nós, ao nível da ação, das lutas que travamos, da agressividade, assertividade e nível de desejo e violência que carregamos, e também da nossa capacidade de conquista pessoal.

Esta retrogradação de Marte acontece em Gémeos, e toda este processo requer que incluamos a dimensão mental por trás do impulso:
* Que crenças enraizadas e mentalidade é esta, que nos faz agir desta forma ou que nos impulsiona a lutar?
* O que me estimula mentalmente a agir?
* Como uso a comunicação para lutar e que lutas são essas?
* O que será necessário denunciar e consciencializar para que a minha acção seja mais consciente, a minha violência se torne assertividade, ou a forma de agir seja reflexo da minha visão de vida e esta reflita também a consciencialização e/ou cura de crenças limitadoras e intransigentes?
* Como me abro à comunicação do outro e qual o meu nível de reactividade?
* Será que outros modos de pensar e crenças diferentes me fazem defender de algo?
* De que modo o estímulo mental ou a sua falta e as crenças que carrego amparam ou prejudicam a minha vida sexual e/ou a minha libido?
* A minha mente sabe abrandar e dar espaço ao tempo de descanso?
* De que forma me motivo à ação a partir das ideias que tenho?

São algumas questões possíveis. É um tempo de reparar, fazer uma cirurgia ao que necessita de intervenção para que a acção saia fortalecida e clarificada.
A exteriorização e canalização da nossa energia e intenção abranda ou encontra dificuldades, tal como a velocidade e o impulso espontâneo.

Dividimos os períodos da retrogradação em dois: antes e depois da oposição ao Sol. Marte opõe-se ao Sol no próximo dia 8 de Dezembro, dia de Lua Cheia.

Antes da oposição ao Sol, Marte Rx está numa fase de descongestionamento do que está inconsciente para que seja consciencializado na oposição - a fase de maior tomada de consciência. 
Depois da oposição, Marte estará mais pronto para assimilar o que foi apreendido e interagir com isso a partir de outro nível de consciência. É uma fase mais consciente, ainda que não seja ainda fluida como quando o Marte já está Direto.

Esta oposição de Marte ao Sol acontecerá conjunto à Lua, na Lua Cheia a 16º - a fase do ciclo Sol-lunar de mais potência, energia, consciencialização. Marte Rx conjunto à Lua pode ser o guerreiro que traz à consciência compulsões, dores, e processos inconscientes lunares. É um tempo de grande activação, de tremenda energia, e todos iremos precisar de espaço para respirar as nossas emoções e observar os nossos pensamentos e crenças.

Dia 29, Mercúrio, dispositor de Marte, estaciona Rx também, aumentando a necessidade de desaceleração e interiorização, para facilitar toda a revisão necessária. 

Em Janeiro, Marte estaciona Direto dia 12, no grau 08°08 de gémeos e mercúrio no dia 18, no grau 08°09 de Capricórnio, dois pontos que fazem um quincôncio entre si, acentuando a mensagem de ajuste e alinhamento entre a mente e a nossa ação, e a necessária limpeza/purificação/seleção para que seja possível.

Marte estacionou Retrógrado (Rx) no dia 30 de Novembro, a 25°37’ de gémeos e passará a Direto no dia 12 de Janeiro, aos 8°08’ de gémeos. Porém, o período sombra pré e pós retrogradação, vai desde 3 de Setembro até 16 de Março, quando sentiremos que o processo de aprendizagem se integra e conclui.



Vânia Duarte Silva



quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Gitanjali 60


Royce Bair




On the seashore of endless worlds children meet. The infinite sky is 
      motionless overhead and the restless water is boisterous. On the seashore 
      of endless worlds the children meet with shouts and dances.

They build their houses with sand, and they play with empty shells. With 
      withered leaves they weave their boats and smilingly float them on 
      the vast deep. Children have their play on the seashore of worlds.

They know not how to swim, they know not how to cast nets. Pearl-fishers 
      dive for pearls, merchants sail in their ships, while children gather 
      pebbles and scatter them again. They seek not for hidden treasures, 
      they know not how to cast nets.

The sea surges up with laughter, and pale gleams the smile of the sea-beach. 
      Death-dealing waves sing meaningless ballads to the children, 
      even like a mother while rocking her baby’s cradle. The sea plays with 
      children, and pale gleams the smile of the sea-beach.

On the seashore of endless worlds children meet. Tempest roams in the 
      pathless sky, ships are wrecked in the trackless water, death is abroad 
      and children play. On the seashore of endless worlds is the great 
      meeting of children.



RABINDRANATH TAGORE





Um Sopro De Vida

 





Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto. 
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos. 

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço- -me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é. Hoje está um dia de nada. 

Hoje é zero hora. Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tempo contido e total. Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim. A sombra de minha alma é o corpo. O corpo é a sombra de minha alma. Este livro é a sombra de mim. Peço vênia para passar. Eu me sinto culpado quando não vos obedeço. Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam. 

Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a idéia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. 

E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia. O aguilhão de abelha do dia florescente de hoje. Graças a Deus, tenho o que comer. O pão nosso de cada dia. 

Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? esgotaram-se os significados. Como surdos e mudos comunicamo-nos com as mãos. Eu queria que me dessem licença para eu escrever ao som harpejado e agreste a sucata da palavra. E prescindir de ser discursivo. Assim: poluição. 

Escrevo ou não escrevo? 
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? Como, digamos, o próprio fim do mundo? Ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência? 

Eu não quero apostar corrida comigo mesmo. Um fato. O que é que se torna fato? Devo-me interessar pelo acontecimento? Será que desço tanto a ponto de encher as páginas com informações sobre os «fatos»? Devo imaginar uma história ou dou largas à inspiração caótica? Tanta falsa inspiração. E quando vem a verdadeira e eu não tomo conhecimento dela? Será horrível demais querer se aproximar dentro de si mesmo do límpido eu? Sim, e é quando o eu passa a não existir mais, a não reivindicar nada, passa a fazer parte da árvore da vida — é por isso que luto por alcançar. Esquecer-se de si mesmo e no entanto viver tão intensamente. 

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto — e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras — quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo. 

Meditação leve e terna sobre o nada. Escrevo quase que totalmente liberto de meu corpo. É como se este estivesse em levitação. Meu espírito está vazio por causa de tanta felicidade. Estou tendo uma liberdade íntima que só se compara a um cavalgar sem destino pelos campos afora. Estou livre de destino. Será o meu destino alcançar a liberdade? não há uma ruga no meu espírito que se espraia em leves espumas. Não estou mais acossado. Isto é a graça. 

Estou ouvindo música. Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia, refluindo e fluindo. Bach é matemático. Mozart é o divino impessoal. Chopin conta a sua vida mais íntima. Schoenberg, através de seu eu, atinge o clássico eu de todo o mundo. Beethoven é a emulsão humana em tempestade procurando o divino e só o alcançando na morte. Quanto a mim, que não peço música, só chego ao limiar da palavra nova. Sem coragem de expô-la. Meu vocabulário é triste e às vezes wagneriano-polifônico-paranóico. Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte seca e na luz fria. 

Quero escrever esquálido e estrutural como o resultado de esquadros, compassos e agudos ângulos de estreito enigmático triângulo. «Escrever» existe por si mesmo? Não. É apenas o reflexo de uma coisa que pergunta. Eu trabalho com o inesperado. Escrevo como escrevo sem saber como e por quê — é por fatalidade de voz. O meu timbre sou eu. Escrever é uma indagação. 

É assim: Será que estou me traindo? Será que estou desviando o curso de um rio? Tenho que ter confiança nesse rio abundante. Ou será que ponho uma barreira no curso de um rio? Tento abrir as comportas, quero ver a água jorrar com ímpeto. Quero que cada frase deste livro seja um clímax. 

Eu tenho que ter paciência pois os frutos serão surpreendentes. 
Este é um livro silencioso. E fala, fala baixo. 
Este é um livro fresco — recém-saído do nada. Ele é tocado ao piano delicada e firmemente ao piano e todas as notas são límpidas e perfeitas, umas separadas das outras. Este livro é um pombo- -correio. Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e auto-risco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. 

O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim. 

Sinto que não estou escrevendo ainda. Pressinto e quero um linguajar mais fantasioso, mais exato, com maior arroubo, fazendo espirais no ar. 

Cada novo livro é uma viagem. Só que é uma viagem de olhos vendados em mares nunca dantes revelados — a mordaça nos olhos, o terror da escuridão é total. Quando sinto uma inspiração, morro de medo porque sei que de novo vou viajar e sozinho num mundo que me repele. Mas meus personagens não têm culpa disso e eu os trato o melhor possível. Eles vêm de lugar nenhum. São a inspiração. Inspiração não é loucura. É Deus. Meu problema é o medo de ficar louco. Tenho que me controlar. Existem leis que regem a comunicação. 

A impessoalidade é uma condição. A separatividade e a ignorância são o pecado num sentido geral. E a loucura é a tentação de ser totalmente o poder. As minhas limitações são a matéria-prima a ser trabalhada enquanto não se atinge o objetivo. 

Eu vivo em carne viva, por isso procuro tanto dar pele grossa a meus personagens. Só que não agüento e faço-os chorar à toa. 

Raízes semoventes que não estão plantadas ou a raiz de um dente? Pois também eu solto as minhas amarras: mato o que me perturba e o bom e o ruim me perturbam, e vou definitivamente ao encontro de um mundo que está dentro de mim, eu que escrevo para me livrar da carga difícil de uma pessoa ser ela mesma. 

Em cada palavra pulsa um coração. Escrever é tal procura de íntima veracidade de vida. Vida que me perturba e deixa o meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável dor que parece ser necessária ao meu amadurecimento — amadurecimento? Até agora vivi sem ele! 

É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar- -me plenamente? é uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha palavra tem um coração onde circula sangue. 

Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase nada. Mergulho enfim em mim até o nascedouro do espírito que me habita. Minha nascente é obscura. Estou escrevendo porque não sei o que fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer com meu espírito. O corpo informa muito. Mas eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia. Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever — esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão, sem palavras, do pensamento — palavra que se seguirá, quase imediatamente — diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei. Suponho que o compositor de uma sinfonia tem somente o «pensamento antes do pensamento», o que se vê nessa rapidíssima idéia muda é pouco mais que uma atmosfera? Não. Na verdade é uma atmosfera que, colorida já com o símbolo, me faz sentir o ar da atmosfera de onde vem tudo. O pré-pensamento é em preto e branco. O pensamento com palavras tem cores outras. O pré-pensamento é o pré-instante. O pré-pensamento é o passado imediato do instante. 

Pensar é a concretização, materialização do que se pré- -pensou. Na verdade o pré-pensar é o que nos guia, pois está intimamente ligado à minha muda inconsciência. O pré-pensar não é racional. É quase virgem 


Clarice Lispector 
in, Um Sopro de Vida




quarta-feira, 30 de novembro de 2022

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Tulips








 The tulips are too excitable, it is winter here.
Look how white everything is, how quiet, how snowed-in.   
I am learning peacefulness, lying by myself quietly
As the light lies on these white walls, this bed, these hands.   
I am nobody; I have nothing to do with explosions.   
I have given my name and my day-clothes up to the nurses   
And my history to the anesthetist and my body to surgeons.

They have propped my head between the pillow and the sheet-cuff   
Like an eye between two white lids that will not shut.
Stupid pupil, it has to take everything in.
The nurses pass and pass, they are no trouble,
They pass the way gulls pass inland in their white caps,
Doing things with their hands, one just the same as another,   
So it is impossible to tell how many there are.

My body is a pebble to them, they tend it as water
Tends to the pebbles it must run over, smoothing them gently.
They bring me numbness in their bright needles, they bring me sleep.   
Now I have lost myself I am sick of baggage——
My patent leather overnight case like a black pillbox,   
My husband and child smiling out of the family photo;   
Their smiles catch onto my skin, little smiling hooks.

I have let things slip, a thirty-year-old cargo boat   
stubbornly hanging on to my name and address.
They have swabbed me clear of my loving associations.   
Scared and bare on the green plastic-pillowed trolley   
I watched my teaset, my bureaus of linen, my books   
Sink out of sight, and the water went over my head.   
I am a nun now, I have never been so pure.

I didn’t want any flowers, I only wanted
To lie with my hands turned up and be utterly empty.
How free it is, you have no idea how free——
The peacefulness is so big it dazes you,
And it asks nothing, a name tag, a few trinkets.
It is what the dead close on, finally; I imagine them   
Shutting their mouths on it, like a Communion tablet.   

The tulips are too red in the first place, they hurt me.
Even through the gift paper I could hear them breathe   
Lightly, through their white swaddlings, like an awful baby.   
Their redness talks to my wound, it corresponds.
They are subtle : they seem to float, though they weigh me down,   
Upsetting me with their sudden tongues and their color,   
A dozen red lead sinkers round my neck.

Nobody watched me before, now I am watched.   
The tulips turn to me, and the window behind me
Where once a day the light slowly widens and slowly thins,   
And I see myself, flat, ridiculous, a cut-paper shadow   
Between the eye of the sun and the eyes of the tulips,   
And I have no face, I have wanted to efface myself.   
The vivid tulips eat my oxygen.

Before they came the air was calm enough,
Coming and going, breath by breath, without any fuss.   
Then the tulips filled it up like a loud noise.
Now the air snags and eddies round them the way a river   
Snags and eddies round a sunken rust-red engine.   
They concentrate my attention, that was happy   
Playing and resting without committing itself.

The walls, also, seem to be warming themselves.
The tulips should be behind bars like dangerous animals;   
They are opening like the mouth of some great African cat,   
And I am aware of my heart: it opens and closes
Its bowl of red blooms out of sheer love of me.
The water I taste is warm and salt, like the sea,
And comes from a country far away as health.


Sylvia Plath
in, Collected Poems



A dor de desistir




Ollyy





Normalmente, a gente associa o luto a uma perda real. 
Perda de algo amado ou que nos sustentava de alguma forma. 
Eu tinha algo no passado —ou achava que tinha— que no presente não tenho mais. 
Agora a missão é “elaborar o luto”.

Mas talvez o luto mais difícil de atravessar seja quando o que se perdeu está no futuro: uma miragem, um sonho. É algo abstrato, uma ideia. Ideia tanto no sentido de algo não concreto, como algo que, justamente por isso, aponta para o ideal. Por exemplo, o de construir um novo país, lindo, forte, vasto. À altura do nosso potencial. Agora vai, e com apoio transcendental. Como no antigo slogan envernizado: Deus, Pátria, Família, Liberdade. Até eu acharia maravilhoso se todos esses quatro ideais existissem e funcionassem, de preferência simultaneamente.

Se a gente de fato tinha uma conexão com o que se perdeu —com muita energia psíquica colocada nesse elo— é dureza elaborar o luto. Pois dá mesmo muito trabalho se reinventar como não tendo mais ao seu lado (ou dentro) aquilo que se tinha. Tecnicamente: a perda de um objeto psíquico necessariamente implica a reconstrução da própria subjetividade. Então, imagina o desafio: além de perder algo e sofrer por isso, a gente ainda tem que reinventar um eu —e isso quando está tudo em carne viva.

É tão sofrido esse processo que se tenta, inconscientemente, escapar dele. Quase sempre a primeira e também mais primária estratégia é, como se sabe, a negação. Não é possível, não aconteceu isso. Não é bem assim, essa informação está errada, estão tentando me enganar. A verdade (que eu desejo) vai se revelar.

Porém, o que está sendo difícil aceitar, no fundo, é que a macroforma mental de organizar a vida não funciona mais. A antiga montagem psicossocial está derretendo e parece que estamos muito angustiados diante disso. Então nos esforçamos para reafirmar direitinho os lugares previamente desenhados para as pessoas serem encaixadas. Lugar de homem é aqui e desse jeito (único). Lugar de mulher é assim, e limitado. Lugar de ‘mulher da vida’ é assado. Lugar de branco é no topo. Lugar de negro é servindo ao branco. Lugar de rico é andando de avião. Lugar de pobre é na senzala. Como agora tem tanto pobre no aeroporto? Essa rodoviária. Como agora tem pobre que tem a desfaçatez de ocupar o poder e andar com amigo rico dono de avião? A nossa mente logo associa: só roubando. No caso, ajudando o rico a roubar.

Um outro mecanismo de defesa é abafar o que se sente diante da perda e fazer racionalizações apaziguantes. Ah, tudo bem, é a vida. Nem estou com inveja ou me sinto rejeitado. Qual o problema? Vida que segue. Next. A fila anda. Veja como nossa sociedade nos ajuda a não elaborar nada muito bem. Já pensou se a cada vez que sentíssemos dor, tristeza, indignação, revolta… A gente parasse tudo e se deixasse invadir por esses afetos? Ou ficasse fazendo manifestação o tempo todo? Não tinha mais sistema produtivo. Aliás, por isso que os pragmáticos —seja um jovem ambicioso ou um operador do mercado— podem trocar de namorada ou de presidente sem grandes dramas.

Mas para os menos espertos ou mais sensíveis, a negação pode chegar ao limite do delírio. Alucinar a vitória. Lembra dos japoneses que durante décadas negavam que o Japão tinha perdido a guerra? O imperador era sagrado e invencível. Como vemos, por aqui também está doendo muito abrir mão de um projeto heroico. Não posso abrir mão desse ideal, e ser reconduzido a um lugar que eu mesmo talvez ache insignificante ou injusto. Alguém está roubando o meu país. E os pragmáticos, aliás, sabem bem como manipulá-los, seja nas estradas ou nas igrejas.



Enfim, uma das coisas mais difíceis da vida é desistir. 
Desistir de um sonho, de um projeto, uma ideia. 
Ou de um amor. 
Mesmo que seja óbvio que aquilo não é bom, 
que não vai dar certo, que não funciona mais, 
a gente insiste. 
Quem sabe agora tenhamos uma nova chance 
de aprender a desistir do que merece ser deixado.


Maria Homem



domingo, 27 de novembro de 2022

Honor Bound

 

Draco
Dragonheart




A Dragon asks unspoken questions and will not tolerate
Attempts by lesser beings to dodge or fluctuate.

Do not try to side-step, she will recognize your dance.
Do not create deception, wisely, do not take the chance.

Make your answers straightforward, unerringly sincere,
For only honesty and candor will not offend her ear.

Once she descries your motives and deems them right and just,
You’ll have earned a staunch supporter and a Dragon’s trust.

So if ye dare, look deeply into Dragon’s whirling eyes,
But believe ye that she knows who is truthteller and who lies.


Thomas Kneeland




Bem haja aos que nos deitam abaixo






Bem haja aos que nos deitam abaixo. 
Bem haja aos que constantemente 
nos testam as nossas reações, 
que nos provocam ao limite, 
que nos picam nas feridas 
e nos fazem disparar 
o que ainda de pior há em nós. 



É nesses momentos que é trazido à Luz tudo o que ainda vivia no escuro. 
Tudo o que ainda nos condicionava e impedia de viver uma vida livre e abundante. 
Tudo o que estava preso nas nossas catacumbas. 

Sem a ajuda deles, sem esses lembretes, sem essas personagens a obrigar-nos a abrir esses caldeirões, essas energias iriam manter-se estagnadas, lamacentas, podres pela negação das mesmas ou simples falta de coragem de as limparmos sozinhos. 


Por isso, 
baixemos as espadas 
quando estivermos frente a frente com eles. 



Lembremos que aqueles "dragões" que vislumbramos não são mais do que projeções ativas dos nossos medos e dos nossos fantasmas interiores. 

São eles que, por vezes violentamente, nos vêm convidar a agir de uma nova maneira, a fechar ciclos velhos e a neutralizar aquele passado de uma vez por todas. 
Sem eles não teríamos a oportunidade de o fazer. 
Sem eles nem saberíamos quem somos e viveríamos ainda na ilusão que somos aquilo que a nossa mente nos faz acreditar: Perfeitos e Imaculados!

Bem haja a essa força amorosa que não desiste do nosso equilíbrio e que sempre nos irá enviar agentes de transformação exteriores até que encontremos o equilíbrio interior. 
A 'perda' não tem mais nem menos do que essa intenção!

Por isso bem haja, tanto aos dragões nas nossas vidas 
como aos momentos em que a vida nos pede que sejamos dragões nas vidas dos outros... 

Vera Luz




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A Dialogue between the Soul and the Body


PhotoTeo






 SOUL
O who shall, from this dungeon, raise
A soul enslav’d so many ways?
With bolts of bones, that fetter’d stands
In feet, and manacled in hands;
Here blinded with an eye, and there
Deaf with the drumming of an ear;
A soul hung up, as ’twere, in chains
Of nerves, and arteries, and veins;
Tortur’d, besides each other part,
In a vain head, and double heart.

BODY
O who shall me deliver whole
From bonds of this tyrannic soul?
Which, stretch’d upright, impales me so
That mine own precipice I go;
And warms and moves this needless frame,
(A fever could but do the same)
And, wanting where its spite to try,
Has made me live to let me die.
A body that could never rest,
Since this ill spirit it possest.

SOUL
What magic could me thus confine
Within another’s grief to pine?
Where whatsoever it complain,
I feel, that cannot feel, the pain;
And all my care itself employs;
That to preserve which me destroys;
Constrain’d not only to endure
Diseases, but, what’s worse, the cure;
And ready oft the port to gain,
Am shipwreck’d into health again.

BODY
But physic yet could never reach
The maladies thou me dost teach;
Whom first the cramp of hope does tear,
And then the palsy shakes of fear;
The pestilence of love does heat,
Or hatred’s hidden ulcer eat;
Joy’s cheerful madness does perplex,
Or sorrow’s other madness vex;
Which knowledge forces me to know,
And memory will not forego.
What but a soul could have the wit
To build me up for sin so fit?
So architects do square and hew
Green trees that in the forest grew.


 ANDREW MARVELL



O QUE É CURAR A ALMA?






É perdoar quem te feriu.
É parar de falar mal dos outros.  
É parar de julgar.
É agradecer por cada acontecimento de nossas vidas.
Está trabalhando em nosso ser interior.  
Auto observação.
É entender que não somos perfeitos e aceitar nossos erros.
É conectar-se todos os dias com nosso poder divino.
É deixar ir o que dói e não continuar no passado.
É se livrar do que não precisamos.
É abraçar nossos dias como se fossem os últimos.
É ajudar quem precisa e praticar a compaixão.
É aprender a receber e dar sem esperar.
É deixar de lado nossas expectativas. Pratique o desapego. 

Curar a alma é um processo de liberação e aceitação.
É um processo de evolução e consciência.
A cura da alma se faz através de pequenos atos em nossas vidas que não exigem mais do que nossa boa vontade, aceitação e amor próprio.
Onde quer que você vá, esconda o que você esconde, se você não colocar seu caos interior em ordem, ele estará com você onde quer que você se esconda e o seguirá aonde quer que você vá.
Se você quiser mudar seus frutos, primeiro terá que mudar as raízes, se quiser mudar o tangível, primeiro mude o intangível, se quiser mudar o visível, primeiro deve mudar o invisível.
Então hoje é o dia e agora é a hora de começar.


Lídia Lopes