sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A intervenção surrealista




Eu digo-te que não há razão para queimar a esperança, esta esperança que tinge os teus lábios e vai contigo até ao fim dos abismos, êxtase delirante onde não existe o Presente e onde o Futuro é um espasmo violento, uma chama súbita em que eu e tu nos fundimos.
Não há razão para queimar a esperança, esta rubra mistura de sonho e lava, perfeitamente conjugada como um círculo em repouso.
Tenho-te sempre nos meus braços, no meu ser, e por isso quando me debruço nos debruçamos no precipício olvidamos a nossa condição de indivíduos para sermos o fluxo e o refluxo da História.
Já não somos o que se classificaria de um homem e de uma mulher, mas sim uma multidão de sombras povoada de nuvens, a fusão de dois ácidos, a resolução de um problema.
A minha carne é o teu nevoeiro perpétuo.


Pedro Oom 
in, “ A intervenção surrealista ”



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