domingo, 29 de março de 2020

Cristóvam - Andrà Tutto Bene (English)

                                               




Lyrics:

Cities are vacant like they've never been
Everyone's scared of what blows in the wind
The plans we all had
Have all gone down the drain
Our lives were postponed
But I know in the end we'll be alright
We stand together as one

People are lining in grocery stores
Silence is screaming the fear in their hearts
Don't give up your faith, no
Don't let your light fade
Together we'll get through the dark of these days

Two or three months
They're saying on TV
Be safe in your shelters and soon we'll be free
One day we'll remember the hardest of times
When distance meant love and it kept us alive

Andrà tutto bene
Vai ficar tudo bem
Everything will be alright
Andrà tutto bene
Tout ira bien
Everything will be alright

To doctors and nurses
And all those who fight
The heroes that save us
By risking their lives
We'll give them our love, yeah
We'll shout to the skies
Brothers and sisters
We're here by your side

Take care of our loved ones
Be strong and be brave
Your kindness is something that cannot be paid
And when this is over the memories will shine
Of those who passed on and those who stood in line

A few more months
The anchorman said
Divided we fight but united we stand
One day we'll remember the hardest of times
When distance meant love and it kept us alive

Andrà tutto bene
Vai ficar tudo bem
Everything will be alright
Andrà tutto bene
Tout ira bien
Everything will be alright
Andrà tutto bene
Alles wird gut
Andrà tutto bene
Todo estará bien
Everything will be alright


Cristóvam





The things that count


William Smith 





Now, dear, it isn’t the bold things,
Great deeds of valour and might,
That count the most in the summing up of life at the end of the day.
But it is the doing of old things,
Small acts that are just and right;
And doing them over and over again, no matter what others say;
In smiling at fate, when you want to cry, and in keeping at work when you want to play -
Dear, those are the things that count.

And, dear, it isn’t the new ways
Where the wonder-seekers crowd
That lead us into the land of content, or help us to find our own.
But it is keeping to true ways,
Though the music is not so loud,
And there may be many a shadowed spot where we journey along alone; 
In flinging a prayer at the face of fear, and in changing into a song a groan -
Dear, these are the things that count.

My dear, it isn’t the loud part
Of creeds that are pleasing to God,
Not the chant of a prayer, or the hum of a hymn, or a jubilant shout or song. 
But it is the beautiful proud part 
Of walking with feet faith-shod; 
And in loving, loving, loving through all, no matter how things go wrong; 
In trusting ever, though dark the day, and in keeping your hope when the way seems long -
Dear, these are the things that count.


Ella Wheeler Wilcox






Astérix e Obélix na corrida com o Coronavírus





A obra de banda desenhada 
foi publicada em Outubro de 2017.
O livro chama-se "Astérix e a Transitálica".


Na história aos quadradinhos, o senador Lactus Bifidus organiza uma corrida de cavalos ao longo da península itálica na esperança de desviar as atenções de um crime de corrupção que havia sido descoberto e provar que as estradas romanas estavam em bom estado.

Astérix e Obélix decidem juntar-se à corrida depois de um adivinho ter previsto que Obélix poderia tornar-se brevemente num campeão de corridas de cavalos. Os dois gauleses abandonam tudo, compram uma carroça de madeira e roubam dois cavalos aos romanos para participarem na corrida.

Ora, o atleta com que mais têm problemas, e que é o preferido à vitória, é um vilão chamado Coronavírus que representava os romanos. Na história de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, os autores da obra, Coronavírus abandona a corrida depois de saber que Bacillus, o co-piloto, afinal tinha feito batota. E é substituído secretamente por Júlio César, que quer salvar a todo o custo a honra das estradas romanas. No final de contas, o Coronavírus é derrotado. E os bons da fita ganharam.










sexta-feira, 27 de março de 2020

Sedento


Alexander Lefler




Havia meses que não escrevia 
nem um único poema. 
Vivia com humildade, lendo os jornais,
pensando no enigma do poder 
e nas causas da obediência. 
Olhava para os pores-do-sol
(escarlates, cheios de inquietação), 
escutava o emudecimento das vozes dos pássaros 
e o silêncio da noite. 
Via os girassóis a pendurarem 
as cabeças ao lusco-fusco, como se um carrasco distraído 
passeasse por entre os jardins. 
No parapeito recolhia-se
a doce poeira de Setembro enquanto os lagartos 
se escondiam nas curvaturas dos muros. 
Dava longos passeios, 
sedento duma coisa só:
dum relâmpago, 
duma mudança, 
de ti. 



Adam Zagajewski




As Grandes Questões





Grandes Questões
O Abre-Latas da Consciência


De onde vimos?
O que devemos fazer?
Para onde vamos?
- Miceal Ledwith


Quando é que somos encorajados a fazer perguntas?
E no entanto, a maior parte das grandes descobertas e revelações que a nossa sociedade acarinha provieram de respostas a grandes questões.
As questões são o precursor, ou a primeira causa, em todos os ramos do conhecimento humano.
As grandes questões levam-nos àquilo que anteriormente não sabíamos.
E são na verdade a única forma de lá chegar - ao outro lado do desconhecido.
É uma Viagem de Descoberta!

Então, porque não questionamos?
Porque questionar abre a porta do caos, do desconhecido e do imprevisível.
Abrimo-nos para um campo de todas as possibilidades.
Está disposto a receber uma resposta com a qual pode não concordar?
E se o fizer, sentir-se desconfortável e obrigá-lo a sair da sua zona de conforto que construiu para si?
E se a resposta não for a que quer ouvir?

Não são precisos músculos, 
é preciso coragem para fazer uma grande questão.


Mas, o que é uma Grande Questão?

Não tem de vir de grandes livros de filosofia, nem ser acerca de Grandes Assuntos da Vida.
Uma grande questão depende das circunstâncias que vivemos, da realidade de cada um.
"O que aconteceria se eu decidisse voltar à faculdade e tirar um curso diferente?"
"Deverei seguir a minha intuição?"
Entre tantas outras...
Perguntas que podem mudar a direcção da nossa vida.

Então, porque não as fazemos?
Porque a maior parte das pessoas prefere ficar na segurança do que conhece, a ir à procura de problemas. Mesmo que esbarrem numa pergunta, o mais provável é fugirem dela, enfiarem a cabeça na areia, ou ignorar e passar rapidamente para outra coisa.
Para a maior parte de nós, é preciso uma crise séria para levantar Grandes Questões.
Doenças graves, morte de alguém muito próximo, casamentos desafiantes, problemas no emprego, divórcios, falências financeiras, dependências de drogas e álcool, solidão impossível de suportar, desespero, etc...
Nestas alturas, as Grandes Questões surgem a ferver das profundezas do nosso Ser como lava.
Estas grandes questões não são exercícios intelectuais, mas Gritos da Alma!


"Porquê eu?"
"O que fiz eu de errado?"
"Porque a vida é tão injusta?"
"Depois disto, valerá a pena viver?"
"Como pôde Deus permitir isto?"


Se conseguíssemos reunir a mesma paixão para fazer Grandes Questões acerca das nossas vidas agora, quando não há nenhuma crise imediata, quem sabe o que poderia acontecer?

Tal como diz Fred Alan Wolf,
Fazer uma Grande Questão pode abrir novas formas de estar no mundo.
Pode ser o catalisador da transformação.
Crescer. Amadurecer. Continuar.


"Nunca podemos chegar a uma conclusão acerca da vida.
A vida é tanto uma coisa eterna quanto nós somos uma coisa eterna.
Temos de começar a procurar mais significados para o que somos.
O significado do que somos ainda tem de ser descoberto por nós."
- Ramtha


Para os grandes cientistas da História, as Grandes Questões trazem à tona uma paixão por Compreender que vai muito mais além da mera curiosidade. Uma das coisas boas da ciência é a sua suposição de que o que pensa hoje, estará provavelmente errado amanhã. Apenas fazendo perguntas, desafiando as presunções e as "verdades" tidas como certas a dada altura, é que a ciência progride.

E se isso fosse verdade para as nossas vidas pessoais, para o nosso crescimento e progresso individual?
Quando nos libertamos de presunções acerca de nós próprios, crescemos mais do que alguma vez achámos possível.
Ponderar sobre uma Grande Questão é uma óptima forma de passar "tempo de qualidade" com a nossa mente.
Fazer perguntas é o Portão para a Mudança!

Perguntas como as que faz Joe Dispenza:
- Por que é que continuo a recriar a mesma realidade?
- Por que é que continuo a ter as mesmas relações?
- Por que é que continuo a conseguir o mesmo tipo de emprego?


Tal como disse Albert Einstein,
"Uma das definições da insanidade é 
fazer as mesmas coisas vezes sem conta 
e esperar um resultado diferente"


As Grandes Questões abrem-nos para uma realidade maior, uma visão mais abrangente com mais opções.


in, Afinal, O que Sabemos Nós?







quinta-feira, 26 de março de 2020

What the Bleep Do We Know ... legendado em português

Afinal, O Que Sabemos Nós?







O que sabemos que não sabemos.
O que não sabemos que não sabemos.


Uma vez que só temos consciência de
2000 bits
de informação dos
400 mil milhões de bits
da informação
que processamos
por segundo...

Quando argumentamos contra o novo conhecimento...
quanta da nossa "consciência" está a argumentar?

Como podemos saber tudo acerca
de todas as coisas que não sabemos?


AFINAL, O QUE SABEMOS NÓS?







terça-feira, 24 de março de 2020

Exiled Chinese Billionaire's Accusations of China (w/ Guo Wengui & Kyl...

Laboratório de Wuhan. Nível de Biossegurança 4


Chen Wein



Virologista, militar, mãe. 
Quem é a major-general Chen Wei, 
a criadora da vacina chinesa para o coronavírus.



A 26 de janeiro, Chen Wei e a sua equipa chegavam a Wuhan, capital da província de Hubei, o ground zero da atual pandemia. Não foram diretos para o Instituto de Virologia, começaram antes por se instalar numa tenda equipada para o efeito. Mas o destino era inevitável e uns dias mais tarde o seu local de trabalho passava a ser dentro do instituto, no primeiro e único laboratório de biossegurança de nível 4 na China continental, inaugurado em 2015.

Existem quatro níveis de biossegurança (NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4), relacionados com o grau de contenção e a complexidade do nível de proteção envolvidos. No nível 4, trabalha-se com agentes infecciosos que podem ser transmitidos via aerossóis e que não têm nenhuma vacina ou terapia disponível. São normalmente instalados em zonas isoladas, com uma complexa e especializada ventilação e sistemas de lixo próprios.

O facto de um laboratório de nível 4 estar localizado em Wuhan, onde começou a propagação do vírus, levou à propagação de uma ideia igualmente viral: o SARS-CoV-2 estaria a ser criado em laboratório e uma brecha na segurança teria permitido que o vírus escapasse para a região. Nunca tal foi provado, mas a imagem da injeção foi quanto bastou para reforçar a crença de quem acredita que o coronavírus é uma arma biológica e que a vacina está há muito criada.
A vacina mata-SARS, mata-ébola, mata-tudo.

No vasto currículo de Chen também se pode ler que é especialista em vacinas geneticamente modificadas. O seu percurso académico conduziu-a aí, embora inicialmente a sua ideia fosse seguir a carreira docente.

Em 1991, formou-se na Universidade Tsinghua, em Pequim, e, como tinha por objetivo servir o exército, desejo que cumpriu nesse mesmo ano, ingressou na Academia de Ciências Médicas Militares. Foi ali que obteve o seu doutoramento em 2008. Chegou ao cargo de diretora de laboratório, e durante uma década liderou a equipa que desenvolveu a primeira vacina recombinante — obtida por engenharia genética, como a da Hepatite B — a ser incluída na reserva estratégica nacional. Esse feito valeu-lhe um pedestal no seu campo de investigação.

O sucesso continuou. Em 2003, durante a epidemia de SARS, desenvolveu um spray que permitiu que milhares de profissionais de saúde não contraíssem o vírus (e que lhe valeu um prémio nacional de invenção tecnológica), proteção que, seguindo os seus conselhos, também foi usada em Wuhan. Para o momento atual, o spray tem um problema: é demasiado caro para ser produzido em larga escala.

“Na ausência de medicamentos específicos, alguns profissionais de saúde que estão na linha da frente estão a usar este fármaco. No entanto, devido à complexidade técnica deste spray nasal, ainda não foi produzido em larga escala”, explicou Chen Wei numa entrevista recente à China Science News, garantindo que se o país achar que o spray pode ser usado como material de emergência, a sua equipa tem capacidade para produzi-lo.

“A vacina é a arma científica mais forte para acabar com o coronavírus”, dizia em declarações à CCTV. “Se a China for o primeiro país a inventar essa arma, e a ter as suas próprias patentes, isso mostra o progresso de nossa ciência e passa a imagem de um país gigante.” 

Os objetivos da virologista, que em Wuhan também tem estudado a transfusão de plasma de pacientes doentes para novos pacientes infetados, são claros: encontrar a cura e elevar o poderio científico da República Popular da China.
“A epidemia é como uma situação militar. O epicentro é equivalente ao campo de batalha ”, disse.

Os seus esforços de investigação não têm sido apenas focados nas doenças que afetam o seu país. Em fevereiro de 2014, durante o surto de Ébola na África Ocidental, liderou uma equipa que tentou desenvolver uma vacina contra o vírus. Em apenas quatro meses, desenvolveram a primeira vacina do genótipo Ébola do mundo para a fase de ensaios clínicos, ou seja, testes em humanos. Os de fase 1, em indivíduos saudáveis, mostraram que a vacina de nova geração era segura e eficaz.

“Em 19 de outubro de 2017, a vacina desenvolvida pela nossa equipa tornou-se o primeiro lote da primeira vacina de Ébola de nova geração [a ser] aprovada no mundo”, afirmou Chen ao site China Story quando em 2018 voltou a África na sequência do surto de Ébola na República Democrática do Congo.

E agora? Começam os testes em humanos saudáveis.
Antes de qualquer teste em humanos, como os que agora a equipa de Chen Wei vai iniciar para procurar uma cura para o coronavírus, uma potencial vacina tem de passar pelos testes em laboratório, onde são analisados os novos compostos, pelos testes pré-clínicos, onde é avaliada a segurança e eficácia, e finalmente pelos estudos de toxicidade in vivo em animais. Só depois se entra na fase de ensaios clínicos, ou seja, testes em humanos.

Foi essa aprovação que Chen Wei conseguiu na segunda-feira à noite — decisão anunciada pelo próprio Governo chinês em comunicado. Essa medida indica que a segurança, eficácia e qualidade da vacina terá sido atingida.

Chega-se assim aos testes em humanos. Num estudo clínico, a fase I refere-se ao uso do medicamento pela primeira vez num ser humano (saudável e sem a doença que está a ser estudada). Na fase II, estudam-se cerca de 100 a 300 indivíduos com diferentes dosagens. Na fase III, acompanham-se milhares de pacientes por um período maior de tempo e o voluntário recebe ou o novo tratamento ou o placebo. Há ainda a fase IV, a farmacovigilância, que serve para recolher detalhes adicionais sobre a segurança e a eficácia do produto, como efeitos colaterais.

Cada uma destas fases leva o seu tempo e, se demorar vários meses até se chegar à fase III, o principal risco é não haver doentes suficientes para se fazer o ensaio em grande escala. “O que precisamos de construir é um poderoso sistema de ‘cientistas líderes’, de forma a que eles possam passar a sua vida a estudar e a investigar determinados tipos de vírus e germes, independentemente de este coronavírus desaparecer ou não”, disse Chen Wei, na entrevista ao China Science Daily.

Para a virologista, a gestão da saúde pública na China tem um antes e depois da SARS — momento a partir do qual o país começou, na sua opinião, a investigar seriamente a prevenção e tratamento de doenças infecciosas. E não tem dúvidas: “o isolamento mais primitivo é o melhor caminho” para combater a propagação dos agentes infecciosos.

Como militar, está longe de dar a vitória como assegurada.
“Existem vários tipos de vitória, a primeira é a erradicação. Esta é a ideal e o objetivo dos nossos esforços. No entanto, muito poucas doenças infecciosas foram erradicadas na história humana, como a varíola e a poliomielite”.
O segundo tipo de vitória, continua, foi a que teve sobre a SARS. “Em 17 anos, não voltou a surgir nenhum vírus com a mesma sequência.
O terceiro tipo [de vitória] é como o H1N1: apesar de controlarmos a pandemia do ano, ela existirá, de tempos em tempos, em certa escala de epidemia. Atualmente, esse vírus é usado como um componente da vacinação de rotina contra a influenza para bloquear a continuação da epidemia.”

Mesmo que o sabor a vitória comece a ser pressentido, já que o ponto de inflexão da pandemia parece aproximar-se na China, isso não leva a que Chen Wei descarte o aparecimento de novos surtos da doença. A sua maior preocupação?
 “Um hospedeiro intermediário, que ainda não foi encontrado, e ainda pode estar a desempenhar o seu papel no surto.”



Ana Kotowicz



 VER AQUI 2015 engineered-bat-virus-stirs-debate-over-risky-research






Truth china is hiding from the world

                                               







domingo, 22 de março de 2020

4109 people die of tuberculosis PER DAY.

                                           



DO NOT trust the World Health Organization which has strong ties with Bill Gates and control by the Rockerfellers and Rothchilds. The WHO is driving this coronavirus narrative and I noticed they had a spokesman from the WHO on 60 Minutes...They are NOT good examples of what health really looks like. But I'm going to quote some things I found on their website about tuberculosis (TB) and which  claim is a Global Pandemic even today.

https://www.tballiance.org

The TB Alliance claim that TB kills someone every 21 seconds. 
4109 people die of tuberculosis PER DAY.

The WHO claims 
1 million children will be affected by tuberculosis per year.


It is apparently the leading infectious cause of death worldwide. 
The World Health Organization estimates that 1.8 billion people—close to one quarter of the world's population—are infected with Mycobacterium tuberculosis (M.tb), the bacteria that they 'claim' causes TB.

In 2018, 10 million fell ill from TB and 1.5 million died.

So now we have this huge push once again to convince everyone that germs are the enemy.
It does not matter whether it's the flu, tuberculosis, coronavirus, etc.
Once the fear sets in that germs need to be avoided at all costs it's really hard to shake...like it did with many back in the 30's.

The cause of disease is not germs, it's toxicity ie. poisons. 
Unless we get that this is how the body is actually dealing with toxicity, 'infectious diseases' are here to stay, vaccine or not! 
In fact we don't need another poisonous vaccine which just keeps this paranoia spiral spinning, creating more drugs and treatment...and death.


Kathy Hughes



sábado, 21 de março de 2020

O quadro do futuro






Havemos de ir ao futuro
Havemos de ir ao futuro
e quando lá chegarmos
hão-de estar no sofá os nossos pais
a cuidar dos sonhos que nos deram
Os nossos avós a encher de luzes a árvore de natal
Os nossos filhos, e os filhos deles
espantados e atrevidos como nós
Havemos de ir ao futuro
e quando lá chegarmos
hão-de estar todos juntos numa festa à nossa espera
mesmo os amigos que perdemos no caminho
Hão-de lá estar todos com balões de várias cores, bolo-rei
e ao fundo da sala um cartaz do tamanho da nossa idade
onde se lê: ainda bem que vieram
Havemos de ir juntos ao futuro
ou se não houver boleia para todos ao mesmo tempo
havemos de nos encontrar lá
Havemos de ir ao futuro e, no futuro, 
estará finalmente tudo, como dantes.


Filipa Leal
in, «Vem à quinta-feira»




terça-feira, 17 de março de 2020

Bill Gates...“O próximo surto? Não estamos prontos.”

Estas Almas Incertas






Quero um mal de morte
A estas almas incertas.
Tortura-as a honra que vos fazem,
Pesam-lhes, dão-lhe vergonha os seus louvores.
Porque não vivo
Preso à sua trela,
Saúdam-me com um olhar agridoce.
Onde passa uma inveja sem esperança.

Ah! Porque não me amaldiçoam!
Porque não me viram francamente as costas!
Aqueles olhos suplicantes e extraviados
Hão-de enganar-se sempre a meu respeito.


Friedrich Nietzsche
in, "A Gaia Ciência"





Quando Nietzsche Chorou - excertos





O convite impressionou Breuer pela ousadia, masculinidade; entretanto, dos lábios dela, parecia normal, genuíno - a forma natural como as pessoas deveriam conversar e viver. Se uma mulher aprecia a companhia de um homem, por que não dar-lhe o braço e pedir para o acompanhar? Contudo, que outra mulher sua conhecida teria proferido aquelas palavras? Estava diante de uma espécie diferente de mulher.
Aquela mulher era livre!
(...)
Para mim a palavra "dever" é pesada e opressiva.
Reduzi os meus deveres a apenas um: perpetuar minha Liberdade.
O casamento e o seu séquito de possessão e ciúme escravizam o espírito. Eles jamais me dominarão. Espero, doutor Breuer, que chegue o tempo em que nem o homem, nem a mulher sejam tiranizados pelas fraquezas mútuas.


- Atinge-se a verdade - continuou Nietzsche - através da descrença e do ceticismo, e não do desejo infantil de que uma coisa aconteça de certa maneira! O desejo do seu paciente de estar nas mãos de Deus não é verdadeiro. É simplesmente um desejo infantil, e nada mais! É um desejo de não morrer, um desejo do eterno mamilo intumescido que classificamos como "Deus". A teoria da evolução demonstra cientificamente a redundância de Deus, embora o próprio Darwin não tivesse a coragem de levar as evidências até à sua verdadeira conclusão. Certamente, o senhor tem que entender que nós criámos Deus, e que todos nós, agora  em conjunto, o matamos.
(...)
- Não é a verdade que é sagrada, mas a procura de nossa própria verdade! Haverá ato mais sagrado do que a auto-inquirição? A verdadeira escolha, a plena escolha - respondeu Nietzsche -, só pode florescer sob o clarão da verdade. Como poderia ser de outra forma?
- E meu paciente desta manhã? Qual é a sua possibilidade de escolha? Talvez a confiança em Deus seja a sua escolha!
- Isso não é escolha para um homem. Não é uma busca humana, mas sim a busca de uma ilusão externa a nós. Tal escolha, a escolha de outrem, do sobrenatural é sempre debilitadora. É sempre redutora do homem em si. Amo aquilo que nos torna mais do que somos!


"Qual é o sinal da libertação? Não se envergonhar perante si próprio!"


Assim como ossos, carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados numa pele que torna a visão do homem suportável, também as agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade; esta é a pele da alma.


- Ah! Existe uma importante distinção entre nós. Eu não alego que filosofo para si, enquanto o senhor, doutor, continua a fingir que a sua motivação é servir-me, aliviar a minha dor. Tais alegações nada têm a ver com a motivação humana. Elas fazem parte da mentalidade de escravo astutamente engendrada pela propaganda sacerdotal. Achará que alguma vez alguém fez algo totalmente para os outros. Todas as acções são auto-dirigidas, todo serviço é auto-serviço, todo o amor é amor-próprio. - As palavras de Nietzsche fluíram mais rapidamente, e ele prosseguiu célere. - Parece surpreso com este comentário? Talvez esteja a pensar naqueles que ama. Cave mais fundo e descobrirá que não os ama a eles: ama, isso sim, as sensações agradáveis que o tal amor produz em si! Ama o desejo, não o desejado. Assim, permita que lhe pergunte de novo: por que deseja servir-me? Novamente, pergunto-lhe, doutor Breuer - aqui a voz de Nietzsche se tornou severa -: quais são as suas motivações?
(...)
- O problema não é o que o senhor irá contar aos outros, confio na sua palavra. O que importa é o que irá contar a si mesmo e o que eu contarei a mim mesmo. Em tudo o que me contou sobre as suas motivações, não houve, a despeito da sua constante alegação de assistência e alívio do sofrimento, nada realmente sobre mim. É assim que deve ser. O senhor usar-me-á no seu auto-projecto: isso também é de esperar - assim funciona a natureza. Mas não vê que serei usado por si? A sua piedade por mim, a sua caridade, a sua empatia, as suas técnicas para me ajudar, para me tratar, os efeitos de tudo isso, tornam-no mais forte à custa da minha força.







Anotações do doutor Breuer sobre Nietzsche: 
A sua mente é original. Não consigo prever as respostas dele. Talvez Lou Salomé esteja certa; talvez  esteja destinado a ser um grande filósofo. Na medida em que evitar o tema dos seres humanos! Na maioria dos aspectos das relações humanas, os seus pontos cegos são prodigiosos. Mas, no que se refere às mulheres, é bárbaro, quase inumano. Qualquer que seja a mulher ou a situação, a sua  resposta é previsível: a mulher é predadora e maquinadora. O seu conselho sobre as mulheres é igualmente previsível: culpe-as, puna-as! Faltou um item: evite-as! Quanto aos sentimentos sexuais: terá algum? Verá as mulheres como perigosas demais? Ele deve ter desejos sexuais. Mas o que lhes fará? Estará reprimido, exercendo uma pressão que, de alguma forma, precisa extravasar? Será essa, pergunto-me, a fonte das suas enxaquecas?


Notas de Friedrich Nietzsche sobre o doutor Breuer: 
Como fazê-lo ver que os seus problemas clamam por atenção apenas para obscurecer aquilo que não deseja ver? Pensamentos mesquinhos infestam-lhe a mente como um fungo. Acabarão por lhe degenerar o corpo. Hoje, quando se foi embora, perguntei-lhe o que veria se não estivesse cego por trivialidades. Assim, indiquei-lhe o caminho. Ele segui-lo-á? Ele é uma mescla curiosa: inteligente mas cego, sincero mas tortuoso. Terá consciência da sua própria falta de sinceridade? Diz que o ajudo. Elogia-me.Terá ideia de como odeio dádivas? Saberá que as dádivas arranham a minha pele e destroem o meu sono? Será um daqueles que fingem dar - apenas para auferir dádivas? Não lhas darei. Será um daqueles que reverenciam a reverência? Será alguém que deseja encontrar-me em vez de se encontrar a si próprio? Nada lhe darei! Quando um amigo necessita de um local de repouso, é melhor oferecer-lhe um catre duro! Ele é envolvente e simpático. É necessário cuidado! Sobre algumas coisas persuadiu-se a elevar-se, mas as suas entranhas não se persuadiram. Sobre as mulheres, é quase desumano. É uma tragédia chafurdar naquela lama! Conheço essa  lama: é bom olhar para baixo e ver o que superei. A maior árvore ascende às maiores alturas e mergulha as raízes mais para o fundo, para dentro da escuridão - mesmo para dentro do mal; mas ele nem se eleva nem cai. O desejo animal drena-lhe a força - e a razão. Foi ferido por três mulheres e sente-se grato para com elas. Lambe as terríveis garras dessas mulheres. Uma delas borrifa-o com o seu almíscar e finge sacrifício. Oferece a "dádiva" da servidão - a servidão dele. A outra atormenta-o. Finge fraqueza de forma a encostar-se a ele quando anda. finge dormir, para repousar a cabeça na masculinidade dele e, quando se cansa desses pequenos tormentos, humilha-o publicamente. Terminado o jogo, ela vai em frente e continua os seus truques contra a vítima. Ele está cego a tudo isso. Apesar de tudo, ama-a. Não importa o que faça, ele compadece-se da sua posição de paciente e a ama. A terceira mulher o mantém-no em cativeiro permanente. Mas prefiro essa. Pelo menos, não esconde as garras!


- Aqui, o senhor diz que se preocupa demais com as opiniões dos seus colegas. Conheci muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso persuadindo primeiro os outros a pensarem bem delas. Feito isso, começam a pensar bem de si próprias. Mas essa é uma falsa solução, isso é submissão à autoridade dos outros. A sua tarefa é aceitar-se a si mesmo, e não encontrar formas de obter a minha aceitação.
- Tem razão: a derradeira meta é ser independente das opiniões dos outros, mas o caminho para essa meta - falo por mim, não por si... é saber que não ultrapassei os limites da decência. Preciso de ser capaz de revelar tudo sobre mim a outra pessoa e saber que também eu sou... simplesmente humano. - Como reflexão posterior, Breuer acrescentou. - Humano, demasiado humano!


- Sim, particularmente em "A Gaia Ciência". Nesse livro defendo que as relações sexuais não diferem de outras relações, já que também envolvem uma luta pelo poder. O desejo sexual é, no fundo, um desejo de dominar totalmente a mente e o corpo de outrem.(...)
 - Sim, sim! - insistiu Nietzsche. - Olhe mais profundamente e verá que o desejo sexual também é um desejo de domínio sobre todos os outros. O "amante" não é alguém que "ama": pelo contrário, ele almeja a posse exclusiva da amada. Seu desejo é excluir o mundo inteiro de um certo bem precioso. É tão egoísta como o dragão que guarda o tesouro! Não ama o mundo; pelo contrário, é totalmente indiferente às outras criaturas vivas. Não o disse o senhor mesmo? Por isso, ficou satisfeito quando a Bertha disse que o senhor seria para sempre o único homem da sua vida.
- Mas o senhor está a roubar a sexualidade do sexo! Sinto os meus impulsos sexuais no membro genital, mas  não numa arena mental abstrata de luta pelo poder!(...) Como pode negar o verdadeiro erotismo? Ignora o impulso, o anseio biológico que está entranhado em nós, que nos permite reproduzirmo-nos! A sensualidade faz parte da vida, da natureza.
- Faz parte, mas não é a parte superior! Na verdade, é o inimigo mortal da parte superior.
Aqui, deixe-me ler uma frase que escrevi de manhã cedo. - Nietzsche colocou os óculos de lentes grossas, foi até à escrivaninha, pegou num caderno já gasto e percorreu as páginas cobertas de rabiscos ilegíveis. Deteve-se na última e, com o nariz quase a tocar nela, leu: - A sensualidade é uma cadela que nos morde o calcanhar! E quão habilmente essa cadela sabe mendigar um pedaço de espírito, quando se lhe nega um pedaço de carne. - Fechou o caderno. - Assim, o problema não é que o sexo está presente, mas que faz desaparecer outra coisa: algo mais valioso, infinitamente mais precioso! O desejo, o estímulo, a voluptuosidade... é o que nos escraviza! A ralé desperdiça a vida como suínos alimentando-se na vala do desejo. Grande paixão é necessária para derrotar a paixão! Demasiados homens foram despedaçados na roda de uma paixão inferior.(...)
- A sua afirmação anterior sobre a reprodução como meta primordial... deixe-me perguntar-lhe isto. - Nietzsche espetou o dedo por três vezes. - Não deveríamos criar, não nos deveríamos transformar, antes de nos reproduzirmos? A nossa responsabilidade para com a vida é criar o superior, não reproduzir o inferior. Nada deve interferir com o desenvolvimento do herói, dentro de si. Se o desejo o impede, então também este precisa de ser superado.





Agora precisa aprender a reconhecer a sua vida e a ter a coragem de dizer "Foi assim que escolhi!". O espírito de um homem constrói-se a partir das suas escolhas!(...)
- Caso escolha ser um dos poucos que participam do prazer do crescimento e da alegria da liberdade sem Deus, terá que se preparar para a dor máxima. Estão interligados e não podem ser experimentados separadamente! Se desejar menos dor, terá que reduzir, à semelhança dos estóicos, e renunciar ao máximo prazer.(...) Nietzsche disse, que o crescimento é a recompensa da dor...(...)
 - Exactamente! Disse-o bem! É precisamente esse o problema precisamente! E porquê nenhum crescimento? Porquê nenhum pensamento mais digno? Esse era o sentido da minha pergunta final ontem: o que estaria a pensar se não estivesse preocupado com esses pensamentos estranhos?(...) Não vê, Josef, que o problema não está no seu sentimento de desconforto? Que importância tem a tensão ou pressão no seu tórax? Quem foi que lhe prometeu conforto? Você dorme mal! E daí? Quem foi que lhe prometeu um sono tranquilo? Não, o problema não está no desconforto. O problema é que sente desconforto pela coisa errada! - Nietzsche olhou para o relógio. - Vejo que o estou a reter para além da hora. Encerremos com a mesma sugestão de ontem. Por favor, pense no que pensaria, se Bertha não lhe enchesse demasiado a mente.


Anotações do doutor Breuer sobre Nietzsche: 
Num dos seus livros, argumenta que a estrutura moral pessoal de um filósofo determina o tipo de filosofia que cria. Acredito agora que o mesmo princípio se aplica a esse tipo de aconselhamento: a personalidade do conselheiro determina o foco do seu aconselhamento. Desse modo, devido aos seus temores sociais e à misantropia, Nietzsche escolhe um estilo impessoal e distante. Claro que não está consciente disso: o que faz é desenvolver uma teoria para racionalizar e legitimar o foco do seu aconselhamento. Assim, não oferece qualquer apoio pessoal, jamais estende uma mão consoladora, olha para mim de uma plataforma elevada, recusa-se a admitir os seus próprios problemas pessoais e não se dirige a mim de uma forma humana.(...) Estamos mobilizados para uma estranha luta! Para ver quem consegue ajudar mais o outro. Perturba-me essa competição: receio confirmar para ele o seu incipiente modelo de "poder" das relações sociais. Talvez eu deva agir como Max preconiza: deixar de competir e aprender o que puder com ele. É-lhe importante ter o controle. Vislumbro vários sinais de que se sente vitorioso: diz-me o quanto tem para me ensinar, lê-me as suas notas, olha para as horas e dispensa-me, altivamente, marcando o nosso próximo encontro. Tudo isto é irritante!

Notas de Friedrich Nietzsche sobre o doutor Breuer: 
Às vezes, é pior para um filósofo ser compreendido do que ser mal compreendido. Ele tenta compreender-me bem demais; ele adula-me na tentativa de obter orientações específicas. Quer descobrir o meu rumo e usá-lo também como o seu. Ainda não compreende que existe o meu rumo e o rumo dele, mas que não existe "o" rumo. Não pede directamente orientações, mas adula-me e finge que a sua adulação é outra coisa: tenta persuadir-me de que a minha revelação é essencial ao processo do nosso trabalho, que o ajudará a falar, que juntos nos tornaremos mais "humanos", como se chafurdar juntos na lama significasse ser humano! Tento ensinar-lhe que os amantes da verdade não temem águas tempestuosas ou turvas. O que tememos são as águas rasas! Se a prática médica deve servir de guia para o nosso empreendimento, não deverei chegar a um "diagnóstico"? Eis uma nova ciência: o diagnóstico do desespero. Diagnostico-o como alguém que deseja ser um espírito livre, mas não consegue libertar-se dos grilhões da crença. Quer apenas o sim, a aceitação da escolha, nada do não, da renúncia. Ilude-se a si mesmo: faz escolhas, mas recusa-se a ser aquele que escolhe. Sabe que é um desgraçado, mas não sabe que o é pela coisa errada! Espera que eu lhe traga alívio, conforto e felicidade. Mas tenho que lhe dar mais desgraça. Tenho que transformar a sua desgraça trivial na desgraça nobre que originalmente foi. Como expulsar a desgraça trivial da sua torre? Tornar novamente o sofrimento honesto? Vali-me da sua própria técnica: a técnica da terceira pessoa, que aplicou em mim na semana passada, na sua desajeitada tentativa de me induzir a entregar-me aos seus cuidados; eu instruí-o a olhar para si do alto. Mas foi forte demais; quase desmaiou. Tive que me dirigir a ele como a uma criança, chamá-lo "Josef, para o reanimar. A minha carga é grande. Trabalho para a sua libertação. E também para a minha. Mas não sou um Breuer: compreendo minha desgraça e ela é bem-vinda. Além disso, Lou Salomé não é uma aleijada como Bertha. Porém, sei o que é ser atormentado por alguém que amo e odeio!


 - Metas? As metas estão na cultura, no ar. Nós respiramo-las. Todas as crianças com quem cresci inalaram as mesmas metas. Todos queríamos sair do gueto judaico, subir na vida, ter sucesso, riqueza, respeitabilidade. Era o que todos queríamos! Nenhum de nós jamais se pôs deliberadamente a escolher metas; elas estavam mesmo ali, as consequências naturais do meu tempo, do meu povo, da minha família.
- Mas não lhe serviram, Josef. Não foram, suficientemente firmes para sustentar uma vida. Bem, talvez fossem bastante firmes para alguns: para os sem-visão, ou para os medíocres, que passam a vida toda atrás de objetivos materiais ou mesmo para os que alcançam o sucesso mas têm o dom de continuamente fixar novas metas fora do seu alcance. Mas você, como eu, é um homem de visão. Você olhou para longe demais na vida. Você viu que era fútil atingir metas erradas e fútil fixar novas metas erradas. Multiplicações por zero dão sempre zero! Não tomar posse do seu plano de vida é deixar que a sua existência seja um acidente.
 - Mas - protestou Breuer - ninguém desfruta de tal liberdade. Não se pode fugir da perspectiva da sua época, da sua cultura, da sua família, do seu...
- Certa vez - interrompeu Nietzsche - um sábio judeu aconselhou os seus seguidores a romper com os seus pais e as suas mães e a procurarem a perfeição. Esse poderia ser um passo digno de um rapaz infinitamente promissor! Essa poderia ter sido a dança correta com a melodia certa.


Anotações do doutor Breuer sobre Nietzsche:
Repeti-lhe as minhas preocupações com o envelhecimento, com a mortalidade e com a falta de sentido da vida - todas as minhas meditações mórbidas. Ele pareceu estranhamente intrigado com o meu antigo refrão do rapaz infinitamente promissor. Não estou certo de ter entendido o seu objectivo ainda - se é que existe algum! Hoje o seu método está mais claro para mim. Como acredita que a minha obsessão por Bertha serve para me desviar dessas preocupações existenciais, o intento dele é confrontar-me com elas, trazê-las à tona, provavelmente aumentar a minha aflição ainda mais. Como tal, espicaça sem dó e não proporciona qualquer ajuda. Dada a sua personalidade, é claro que não tem nenhuma dificuldade em fazê-lo. Não parece acreditar que um método de discussão filosófica me possa afectar. Tento mostrar-lhe que tal método não me afeta. Mas ele, tal como eu, vai experimentando e improvisando métodos, à medida que avança. A sua outra inovação metodológica de hoje foi empregar minha técnica de "limpeza de chaminé". É-me estranho ser o limpa-chaminés, e não o supervisor - estranho, mas não desagradável. O desagradável e irritante é sua grandiosidade, que se manifesta repetidamente. Hoje, afirmou que me ensinar o significado e o valor da vida. Mas não agora! Ainda não estou preparado para isso!!!


Anotações de Friedrich Nietzsche sobre o doutor Breuer:
Eis um homem tão oprimido pela gravidade - pela sua cultura, posição, família -, que jamais conheceu a sua própria vontade. Tão preso à conformidade, que parece espantado quando falo de escolha, como se estivesse falando uma língua estrangeira. Talvez a conformidade sufoque os judeus - a perseguição externa une um povo tão estreitamente, que o indivíduo singular não consegue emergir. Quando o confronto com o fato de que permitiu que a sua vida fosse um acidente, ele nega a possibilidade de escolha. Diz-me que ninguém imerso numa cultura tem hipótese de escolha. Quando delicadamente o confronto com a ordem de Jesus de romper com os pais e a cultura na busca da perfeição, ele declara que o meu método é etéreo demais e muda de assunto. É curioso como ele teve o conceito ao seu alcance numa idade precoce, mas nunca desenvolveu a visão para o enxergar. Ele era "o rapaz infinitamente promissor" - como todos nós somos -, mas nunca entendeu a natureza da sua promessa. Ele nunca compreendeu que o seu dever era aperfeiçoar a natureza, superar-se a si mesmo, à sua cultura, à sua família, ao seu desejo, à sua natureza animalesca brutal, para se transformar em quem era. Naquilo que era. Ele nunca cresceu, nunca se desvinculou da sua primeira pele: confundiu a promessa com a realização de objetivos materiais e profissionais. E quando atingiu esses objectivos sem nunca ter aplacado a voz que lhe dizia "Transforma-te naquilo que és"; voltou a cair no desespero e invectivou a partida que lhe tinham pregado. Ainda agora não consegue captar a verdade! Existe esperança para ele? Pelo menos pensa sobre as questões corretas e não recorre a embustes religiosos. Mas é medroso demais. Como lhe devo ensinar a tornar-se duro? Ele uma vez disse que banhos frios ajudam a enrijecer a pele. Haverá uma receita para enrijecer a determinação? Ele chegou à percepção de que somos regidos, não pelo desejo divino, mas pelo desejo do tempo. Percebe que a vontade é impotente contra o "assim aconteceu". Terei a capacidade de lhe ensinar a transformar o "assim aconteceu" no "assim o quis"?
Ele insiste em tratar-me pelo meu nome, embora saiba que não é da minha preferência. É um pequeno tormento; sou forte o bastante para lhe conceder essa pequena vitória.


Ao Breuer descrevia-lhe a sua angústia, mas Nietzsche descartava-a como trivial:
- Claro que sofre, é o preço de ter visão. Claro que sente medo, viver significa correr perigo. Fortaleça-se! - exortava ele - Não é nenhuma vaca, nem eu apóstolo da ruminação.


- Sou um escravo da obsessão: ela nunca me deixará descobrir como escapar. Por isso, pergunto-lhe sobre a sua experiência com a tal dor e sobre os métodos que usou para escapar.
- Mas foi exactamente isso que tentei fazer na semana passada, quando lhe pedi para se observar a si mesmo a uma grande distância - respondeu Nietzsche. - Uma perspectiva cósmica atenua sempre a tragédia. Se subirmos bastante, atingiremos uma altura da qual a tragédia deixará de parecer trágica.


- O problema, Josef, é que sempre que abandonamos a racionalidade e recorremos às faculdades inferiores para influenciar os homens, o resultado é um homem inferior e mais vulgar. Quando diz que deseja algo que funcione, tem em mente algo capaz de influenciar as emoções. Bem, existem especialistas nisso! Quem são eles? Os sacerdotes! Eles conhecem os segredos da influência! Manipulam com musica inspiradora, diminuem-nos, erguendo pináculos e naves monumentais, encorajam o desejo de submissão, oferecem a orientação sobrenatural, a protecção contra a morte, até mesmo a imortalidade. Mas veja o preço que cobram: escravidão religiosa; reverência pelos fracos; estase; ódio ao corpo, à alegria, a este mundo. Não, não podemos recorrer a esses tranquilizantes, a esses métodos anti-humanos! Precisamos encontrar formas melhores de aperfeiçoar os nossos poderes da razão.
- O director da peça encenada na minha mente - respondeu Breuer-, aquele que decide enviar-me imagens de Bertha e da minha casa a arder, não parece afectado pela razão.
- Mas sem dúvida - e Nietzsche agitou seus punhos cerrados -, tem que perceber que não existe realidade em nenhuma das suas preocupações! A sua visão de Bertha, a aura de atracção e amor que a rodeia, na verdade não existem. Esses pobres fantasmas não fazem parte da realidade numenal. Qualquer visão é relativa, tal como qualquer conhecimento. Inventamos as nossas experiências. E aquilo que inventamos podemos destruir.


Anotações de Friedrich Nietzsche sobre o doutor Breuer
Apresenta-se como bom; não causa mal nenhum, a não ser a si e à natureza! Preciso de fazer com que deixe de ser um daqueles que se julgam bons, porque não têm garras. Acredito que tenha que aprender a blasfemar antes de eu poder confiar na sua generosidade. Não sente raiva! Terá assim tanto medo que alguém o magoe ? Será por isso que não ousa ser ele próprio? Por que anseia apenas pequenas felicidades? E chama a isso virtude. Quando o verdadeiro nome é covardia! É civilizado, delicado, um homem bem-educado. Domou a sua natureza selvática, transformou o seu lobo num cão de raça. E chama-lhe moderação. Quando o verdadeiro nome é mediocridade!...Agora confia e acredita em mim. Dei-lhe a minha palavra de que me esforçarei para o curar. Mas o médico deve primeiro, como o sábio, curar-se a si próprio. Só então o seu paciente poderá contemplar com os seus olhos um homem que se cura a si próprio. Contudo, eu não me curei a mim mesmo. Pior, sofro das mesmas aflições que atormentam Josef. (...) ...Hoje vejo quanto mudou... menos tortuoso... e já não me tenta adular, já não se tenta fortalecer demonstrando a minha fraqueza. O ataque frontal aos seus sintomas, que me pediu para lançar, é o mais terrível chafurdar em águas rasas que alguma vez empreendi. Eu deveria ser alguém que eleva, não que rebaixa! Ser tratado como uma criança cuja mente precisa de uma bofetada quando se porta mal, está a rebaixá-lo. E a mim também! SE UMA CURA REBAIXA O MÉDICO, CONSEGUIRÁ, POR ACASO, ELEVAR O PACIENTE? Há-de existir um caminho mais elevado.


Notas de Friedrich Nietzsche sobre o doutor Breuer
Hoje, o rumo do nosso trabalho mudou completamente. A chave? A ideia de significado, em vez de "origem"!(...)A "origem" a causa da histeria? Impossível! Não, aquilo não foi a "causa", mas sim uma manifestação - de uma angústia, uma Angst persistente e mais profunda! Por isso, a cura de Josef foi tão evanescente. Temos que nos voltar para o significado, o sintoma não passa de um menageiro com a notícia de que a Angst está a irromper das profundidades do Ser! Preocupações profundas com a noção do finito, com a morte de Deus, com o isolamento, com o propósito da vida, com a liberdade - preocupações profundas trancadas durante toda uma vida - rompem agora as suas cadeias e batem às portas e janelas da mente. Exigem ser ouvidas. Não apenas ouvidas, mas vividas! Aquele estranho livro russo sobre o Homem Subterrâneo continua a espantar-me. Dostoievski diz que certas coisas não devem ser contadas, excepto aos amigos; outras não devem ser contadas nem aos amigos; finalmente, existem coisas que não se contam nem a si próprio! Certamente, são as coisas que Josef nunca contou sequer a si mesmo, que agora irrompem dentro dele. Consideremos o que Bertha significa para Josef. Ela é fuga, fuga perigosa, fuga do perigo da vida segura. É também paixão, mistério e magia. Ela é a grande libertadora trazendo a suspensão da sua sentença de morte. Ela tem poderes sobre-humanos; é o berço da vida, a grande madre confessora: ela perdoa tudo que é selvagem e bestial nele. Proporciona-lhe a vitória garantida sobre todos os competidores, através do amor perdurável, da companhia eterna e da existência perene nos sonhos dela. É um escudo contra as garras do tempo, oferecendo a salvação do abismo interno e a segurança do abismo inferior. Bertha é uma cornucópia de mistério, protecção e salvação! Josef Breuer chama-lhe amor. Mas o seu verdadeiro nome é prece. Os curas paroquiais, como o meu pai, sempre protegeram os seus rebanhos de Satã. Pregam que Satã é o inimigo da fé, que Satã, de modo a minar a fé, assume qualquer disfarce - e nenhum deles mais perigoso e insidioso do que o manto do ceticismo e da dúvida. Mas quem nos protegerá a nós - os santos céticos? Quem nos advertirá das ameaças contra o amor à sabedoria e o ódio à servidão? Será essa a minha missão? Nós, os céticos, temos os nossos inimigos, os nossos Satãs que minam as nossas dúvidas e espalham as sementes da fé nos locais mais subtis. Deste modo, matamos os deuses, mas santificamos os seus substitutos: professores, artistas, mulheres bonitas. E Josef Breuer, um cientista de renome, beatifica durante quarenta anos o sorriso adorado duma menina chamada Maria. Nós, os que duvidamos temos de estar vigilantes. E fortes. O impulso religioso é feroz. Vejam como Breuer, um ateu, anseia por persistir, por ser eternamente observado, perdoado, adorado e protegido. Será a minha missão a do sacerdote do incrédulo? Devo dedicar-me a detectar e destruir os anseios religiosos, quaisquer que sejam os seus disfarces? O inimigo é assombroso; a chama da crença é alimentada incessantemente pelos temores da morte, do esquecimento e da ausência de sentido. Onde nos conduzirá o significado? Se eu descobrir o significado da obsessão, os sintomas de Josef desaparecerão? E os meus? Quando? Bastará um rápido mergulho na "compreensão"? Ou a submersão terá que ser prolongada? E que significado? Parece haver vários significados para o mesmo sintoma e Josef ainda não começou a esgotar os significados da sua obsessão por Bertha. Talvez tenhamos que descascar os significados um a um, até que Bertha deixe de significar qualquer coisa que não ela própria. Uma vez despojada dos significados excedentes, vê-la-á como o ser humano, demasiado humano, assustado e despojado, que ela, ele e todos nós realmente somos.


- Não ensino, Josef, que se deva "suportar" a morte ou "aceitá-la". Isso, seria trair a vida. Eis minha lição: Morra no momento certo! Viva enquanto viver! A morte perde o seu terror quando se morre depois de consumida a própria vida! Caso não se viva no tempo certo, então nunca se conseguirá morrer no momento certo.(...)
Breuer fez uma pausa. Sabia que Nietzsche tinha razão. Deixou de resistir e voltou a sua atenção para dentro: - Terei consumido a minha vida? Consegui muitas coisas, mais do que qualquer um esperaria de mim: sucesso material, avanço científico, família, filhos... , mas já falámos de tudo isto antes.
- Apesar disso, Josef, evita a minha pergunta. Viveu a sua vida? Ou foi vivido por ela? Escolheu-a? Ou escolhe-o ela a si? Amou-a? Ou lamentou-a? Eis o que quero dizer quando pergunto se consumiu a sua vida. Esgotou-a? Lembra-se do sonho em que o seu pai presencia, impotente, rezando, uma qualquer calamidade que caiu sobre a sua família? Não será como ele: impotente, lamentando a vida que nunca viveu?(...)
- E isto é, Josef, creio eu, a principal fonte da sua angústia. Aquela pressão precordial... é porque o tórax está a explodir de vida não vivida. O tiquetaque do seu coração marca o tempo que se esvai. A avidez do tempo é eterna. O tempo devora e devora, sem dar nada em troca. Que terrível ouvi-lo dizer que viveu a vida que lhe foi atribuída! E que terrível encarar a morte sem nunca ter reivindicado a liberdade, mesmo em todo o seu perigo!


-Tudo que adoro agora, Friedrich, é o pensamento de que cumpri o meu dever para com os outros.
- Dever? Como pode o dever preceder o seu amor por si próprio e pela sua própria busca de liberdade incondicional? Se não se realizou pessoalmente, então "dever" é um mero eufemismo para proveito dos outros, visando o engrandecimento deles. Breuer reuniu a energia para mais uma refutação.
- Existe uma coisa que é o dever para com os outros, e tenho sido fiel a esse dever. Pelo menos aí tenho a coragem das minhas convicções.
- Melhor, Josef, é muito melhor ter a coragem de mudar as suas convicções. O dever e a fidelidade são patranhas, cortinas para esconder o que está por trás. A auto-libertação significa um sagrado não, mesmo ao dever. Pretende tornar-se em si mesmo - continuou Nietzsche. - Quantas vezes o ouvi dizer isso? Quantas vezes se lastimou de que nunca conhecera a liberdade? A sua bondade, o seu dever, a sua fidelidade... são essas as barras da sua prisão. Perecerá dessas pequenas virtudes. Tem que aprender a conhecer a sua maldade. Não pode ser parcialmente livre: também os seus instintos anseiam por liberdade; os seus cães ferozes no porão...rosnam por liberdade. Escute atentamente: não os consegue ouvir?
- Mas não posso ser livre - invocou Breuer. - Estou ligado aos laços do sagrado matrimónio. Tenho um dever para com os meus filhos, os meus alunos, os meus pacientes.
- Para formar crianças, precisa primeiro de estar formado. Senão, terá filhos por força de necessidades animais, ou da solidão, ou para tapar os seus buracos. A sua tarefa como pai não é produzir outro eu, outro Josef, mas algo mais elevado. É produzir um criador. E a sua esposa? - prosseguiu Nietzsche inexoravelmente. - Não será tão prisioneira do casamento como você? O casamento não deveria ser uma prisão, mas um jardim onde algo mais elevado é cultivado. Talvez a única forma de salvar o seu casamento seja desistir dele.
- Estou preso aos votos do matrimónio.
- O casamento é algo grandioso. É grandioso serem sempre dois, permanecer apaixonado. Sim, o matrimónio é sagrado. Porém... - a voz de Nietzsche foi se extinguindo.
- Porém? - perguntou Breuer.
- O matrimónio é sagrado. Porém - a voz de Nietzsche tornou-se áspera - é melhor acabar com o matrimónio, do que deixar que ele acabe consigo!(...)
-Quis dizer apenas que a relação conjugal só é ideal quando não é necessária para a sobrevivência de cada parceiro. - Sem notar qualquer sinal de esclarecimento no rosto de Breuer, Nietzsche acrescentou. - Quis dizer apenas que, para se relacionar plenamente com outro, precisa primeiro de se relacionar consigo mesmo. Se não conseguirmos abraçar a nossa própria solidão, simplesmente usaremos o outro como um escudo contra o isolamento. Só quando se consegue viver como a águia, sem absolutamente qualquer público, se consegue voltar para outra pessoa com amor; só então se é capaz de preocupar com o engrandecimento do outro ser humano.
Ergo, se é incapaz de desistir do casamento, então o casamento está condenado.







- Acredito - respondeu Breuer - que o fator mais poderoso foi identificar o inimigo certo. Tendo compreendido que preciso combater o inimigo real - o tempo, o envelhecimento, a morte - , percebi que a Mathilde não é minha adversária nem salvadora, mas simplesmente uma colega de jornada, enfrentando o mesmo ciclo da vida. De algum modo, esse simples passo libertou todo o meu amor aprisionado por ela. Hoje, Friedrich, amo a ideia de repetir minha vida eternamente. Finalmente, sinto-me capaz de dizer: "Sim, escolhi a minha vida. E muito bem escolhida."
- Sim, sim - disse Nietzsche, apressando Breuer. - Vejo que mudou. Mas quero saber o mecanismo, como isso aconteceu!
- Só sei dizer que, nos últimos dois anos, fiquei muito assustado com o meu próprio envelhecimento ou, conforme o Friedrich disse, com o "apetite do tempo". Lutei contra ele, mas às cegas. Ataquei a minha mulher em vez do inimigo real e, finalmente, em desespero, procurei a salvação nos braços de alguém que não tinha como me salvar. - Breuer pausou, coçando a cabeça. - Não sei o que mais dizer, excepto que, graças a si, percebo que a chave para viver bem é primeiro, desejar aquilo que é necessário e, depois, amar aquilo que é desejado.









sábado, 14 de março de 2020

O Solitário





Detesto seguir alguém assim como detesto conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Quem não se mete medo não consegue metê-lo a
          ninguém,
E só aquele que o inspira pode comandar.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
De me perder durante um grande pedaço,
Acocorar-me a sonhar num deserto encantador,
E forçar-me a regressar de longe aos meus penates,
Atrair-me a mim próprio... para mim.


Friedrich Nietzsche
in, "A Gaia Ciência"





Quando Nietzsche Chorou





Quando Nietzsche chorou é um romance parcialmente fictício, de Irvin D. Yalom, escritor e psiquiatra, escrito em 1992, que relata vários factos reais sobre o filósofo e o coadjuvante não menos importante, Dr. Josef Breuer. Há ainda o amigo de Breuer, o jovem médico interno de hospital e ainda desconhecido Sigmund Freud.
Porém, Yalom coloca encontros e conversas na trama que não ocorreram na vida real (pelo menos, não há registos de que Nietzsche e Breuer se tenham conhecido).
Yalom teve o poder de falar sobre Medicina, Psicologia, Psiquiatria, Filosofia e Amor com extrema maestria.

Como fazer um paciente como Nietzsche cooperar?
Pior ainda: como fazê-lo cooperar sem saber que estaria sendo tratado? 

Yalom narra o nascimento da psicanálise. 
Um romance histórico impressionante. 
O autor juntou pedaços das biografias de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche e do médico austríaco Josef Breuer para criar uma história fictícia. Assim como as personagens reais, Lou Salomé e Bertha Pappenheim (Anna O.), ambas com 21 anos.
O que mais impressiona na obra é que algumas passagens são reais: algumas cartas de Nietzsche, o estudo pioneiro de Breuer com pombos, a amizade deste com Freud, até mesmo os principais pacientes são reais.

O livro conta a história de como o Doutor Josef Breuer é procurado por Lou Salomé para tratar do seu amigo atormentado Friedrich Nietzsche. Já tinha sido tratado por vários médicos na Europa sem sucesso, e por essa razão, Lou Salomé entra em contacto com Breuer, para que este último trate da tendência suicida e das fortes enxaquecas de Nietzsche, durante o ano de 1882. 
Estando de férias em Veneza, recebe a visita de Lou Salomé, uma russa enigmática, com pensamentos e atitudes de uma pessoa livre dos acordos sociais. Lou pede a Breuer que trate do seu amigo, um filósofo com uma mente à frente do seu tempo, com a condição de que Nietzsche nunca venha a saber que fora ela que marcou a consulta com Breuer.

A princípio Lou Salomé aproximou-se de Nietzsche, pelo fato de se ter apaixonado por ele intelectualmente. Friedrich Nietzche é um filósofo brilhante e está em crise, pois o seu pedido de casamento à sedutora escritora russa Lou Salomé foi negado, além também de ter rompido ligações com o seu melhor amigo Paul Rée, por ter começado a namorar com Lou Salomé. O distanciamento entre Lou Salomé e Nietzsche deu-se por que, inicialmente,  eles e Paul Reé viviam um relacionamento a três. Só que Friedrich não suportou a pressão em saber que ela o amava intelectualmente, não carnalmente, daí os conflitos começarem. Dessa forma, ele deixa de ter contacto com Lou Salomé e Paul Rée e passa a sofrer de fortes dores de cabeça e outros problemas de saúde. Por sua vez, Salomé procura Breuer com o intuito dele ajudar Nietzsche a tratar o seu desespero e  parar de lhe enviar cartas cheias de angústias e tristezas, onde ele deixa claro a sua forte propensão ao suicídio.
Quando Breuer conversa com Lou Salomé, ele fica seduzido pelo seu génio forte e manipulador, e aceita a incumbência de ajudar Nietzsche a lidar com o seu desejo de morte e suas dores de cabeça. 

Nietzsche começa a ser tratado por Breuer, e os dois esboçam um diálogo que seria o embrião da terapia experimental fundamentada na conversa, desenvolvida posteriormente por Freud. Mas, quando Breuer lhe propõe ser internado para as suas enxaquecas poderem ser monitorizadas, Nietzsche recusa e abandona o tratamento com Breuer, e fica evidente que as suas dores físicas são psicossomáticas.
A interação de Sigmund Freud é de grande valia para a história já que além de aluno de Josef, ele guia Breuer com conselhos que o ajudam na sua terapia com Nietzsche, e é Freud quem desvenda a interação do consciente (sonhos) com o inconsciente (pensamentos).

Então numa atitude desesperada, e seguindo as instruções de Freud, Breuer propõe ao filósofo uma troca, onde trataria as suas dores de cabeça e Nietzsche o ajudaria a se curar do seu desespero por meio da filosofia. Propõe a Nietzsche que os papéis sejam invertidos; ele será o paciente e Nietzsche o médico. Breuer diz-lhe que é um paciente desesperado, que busca a solução para a sua falta de crenças e, aflito, diz a Nietzsche que não sabe como viver assim.
O resultado é surpreendente.

Ao aceitar relutante a tarefa, o eminente médico realiza uma grande descoberta - somente encarando seus próprios demónios internos poderá começar a ajudar o seu paciente. Assim, dois homens mergulham nas profundezas de suas próprias obsessões românticas e descobrem o poder redentor da amizade.
Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios.E no final, não é apenas Nietzsche que exorciza os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões sexuais.

Josef Breuer, um renomado médico vienense de 40 anos no final do século XIX, está no auge da sua carreira após curar uma paciente com o seu novo método de tratamento, a “terapia através da conversa”. No entanto, isso também se revela um grande tormento, pois ele desenvolve obsessivas fantasias sexuais com a sua paciente, que lhe causam insónia e pesadelos. Passa a ser assombrado pelos desejos eróticos por uma de suas pacientes, Bertha Pappenheim (Anna O.) de 21 anos, que sofre de Depressão e Hipocondria. Assustado com a chegada da decadência da velhice, tentará encontrar na filosofia de Nietzsche a solução para conseguir se livrar da fixação sexual por Bertha. 

A grande reflexão da obra gira em torno de pontos cruciais da filosofia de Nietzsche: a solidão, abandonar os pensamentos fúteis, crescimento intelectual, pensamento racional.
Uma grande questão é levantada:

  • A vida que se vive é uma escolha nossa, ou vivemos uma vida escolhida pelos outros, pela sociedade, pela família? 
  • É possível distanciar-se de si mesmo para se ver sobre um outro prisma? 
  • É possível construir um navio em alto mar, ou seja, mudar a vida que se tem mesmo depois de já ter feito suas escolhas?

Um livro de grandes reflexões!


"Primeiro construa o que lhe é necessário, 
depois ame-o!"


O filósofo não dará a resposta que Breuer precisa, e ele terá que num processo de introspecção que Yalom narra com maestria, buscar o seu processo de cura.

Esse seria o futuro da psicanálise: o próprio paciente expressando os seus sentimentos através da fala encontra a salvação- pois o filósofo existencialista Kierkegaard já tinha dito que a palavra é o que salva. Assim se livrando da angústia que mantinha em silêncio, o paciente encontra ele mesmo a solução para os seus problemas.

Nietzsche confronta Breuer com a sua doutrina do eterno retorno.
Cada acção não realizada volta à sua consciência por toda a eternidade.
Essa é uma questão que atormenta muitos pacientes.
Será que a minha vida poderia ter sido melhor ou diferente?
Nietzsche deu a resposta em “Assim falou Zaratustra”: 


” O que importa que você não tenha sido feliz? 
Quantas coisas são possíveis ainda!”


Então, quais são as opções para Breuer? 
Viver a paixão com a sua paciente violando assim a ética médica, ou permanecer com o amor da sua mulher Mathilde e os seus 5 filhos?
Com a ajuda da psicanálise, e da hipnose de Freud, Breuer encontra a resposta.
Breuer é hipnotizado por Freud e vive a possibilidade de deixar a sua familia.
Ao voltar da hipnose ele está curado da paixão por Bertha e da difícil relação no seu casamento, e volta a sentir-se apaixonado pela sua esposa Mathilde.

Ao contar a Nietzsche que estava curado da obsessão que tinha por Bertha, Nietzsche implora-lhe que lhe diga como se curou, e conta a Breuer sobre o seu relacionamento com Lou Salomé e da sua solidão. O filósofo despede-se de Breuer depois de ter percebido que os dois obtiveram uma "cura" por meio da conversa.
A partir do encontro dos dois homens, o que se estabelece é uma relação na qual as funções de médico e paciente se confundem, pois, assim como o filósofo consegue alívio para suas angústias, Breuer também encontra, na filosofia de Nietzsche, algumas respostas para as próprias dores existenciais.

Yalom conseguiu inserir algumas tramas no texto, sendo as principais delas a crise de metanóia (termo formulado por Carl Gustav Jung, para designar a "crise de meia idade") do doutor Josef Breuer e os dramas existenciais de Nietzsche. Esses diálogos tornam-se um verdadeiro "xadrez psíquico", no qual os dois génios primeiro se confrontam e depois se ajudam em suas dificuldades.


No capítulo final (Notas do Autor), Irvin explica-nos baseado em quê a sua história fora criada, e como os fios soltos de tantos acontecimentos foram entrelaçados.
As Cartas selvagens escritas  por Nietzsche a Salomé são originais!
Lou Salomé foi uma ensaísta, filósofa, poeta, romancista e psicanalista nascida na Rússia Imperial. De família russo-alemã, viveu a maior parte da sua vida em outros países da Europa, especialmente na Alemanha. Desde a juventude, sua intensa curiosidade intelectual, seu brilho e carisma pessoal aproximaram Lou Salomé de alguns dos mais importantes pensadores e artistas da sua época, incluindo Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Paul Rée e Rainer Maria Rilke. Essas relações inspiraram ensaios fundamentais da escritora, como "A humanidade da mulher" e "Reflexões sobre o problema do amor". De outra parte, sua filosofia e sua vida também foram fonte de inspiração para esses mesmos pensadores. Em Ecce Homo, Nietzsche reconhece a influência dela em "Assim falou Zaratustra". 
Para além disso, a correspondência trocada entre ela e esses autores - Rilke, Freud e Anna Freud, filha de Freud - mostra que houve influência recíproca.
Bertha Pappenheim,  foi uma líder de movimento feminista, assistente social e escritora judia austro-alemã. Ficou conhecida pelo pseudónimo Anna O., criado pelo médico e fisiologista Josef Breuer no seu  livro "Studies on Hysteria", escrito em colaboração com Sigmund Freud, livro esse que foi o início da Psicanálise. Bertha era uma mulher, judia e alemã, de personalidade extremamente forte, guerreira e visionária. Foi líder de diversos movimentos sociais pela defesa e garantia dos Direitos Humanos, civis e políticos das mulheres; em plena ascensão do Nazismo na Alemanha. Por volta dos vinte anos, ela sofreu muito com a longa doença terminal do pai que, juntamente com as tensões da infância, foram as responsáveis pelo desencadear de um quadro chamado na época de histeria, e marcado por sintomas como depressão, nervosismo, tendência ao suicídio, paralisia, perturbações visuais, contraturas musculares e outros, e que a deixavam praticamente inválida. Foi, então, levada ao médico Josef Breuer, pertencente à elite de cientistas vienenses da época, e ele a tratou de 1880 a 1882, documentando o seu caso. Após várias internações, e do agravamento dos sintomas da doença em razão da dependência em morfina, começou a dedicar-se ao trabalho social em prol da dignidade da mulher judia, e isso aparentemente contribuiu para a sua recuperação.Em 1902, Bertha fundou e dirigiu por 29 anos a Weibliche Fürsorge (Assistência da Mulher), uma instituição destinada a colocar órfãs em lares adotivos, a educar mães sobre o cuidado com seus bebés, e a dar orientação vocacional e oportunidades de emprego para raparigas. Foi o primeiro abrigo e lar coletivo para mães solteiras e seus filhos, para crianças e meninas retiradas da prostituição. Em 1904, fundou a "Liga das Mulheres Judias", a primeira organização judaica a lutar pelos direitos civis e religiosos da mulher judia, e da qual foi a presidente por vinte anos.


Este livro é uma grande viagem para dentro de nós mesmos, e ao mesmo tempo, é uma ficção que criou uma enorme e belíssima vulnerabilidade num dos maiores filósofos da história.
Começa de forma magistral, com uma frase do livro "Assim falou Zaratustra":

Alguns não conseguem afrouxar suas próprias cadeias e, não obstante, conseguem libertar seus amigos.
Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama:
Como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?

- Nietzsche, in "Assim falou Zaratustra"

Verdade! Nenhuma Renovação é ilesa!
Por vezes, conseguimos ajudar os outros com o que os aprisiona mas, jamais conseguimos libertarmo-nos das nossas próprias cadeias. Até que a vida nos traz desafios que nos obrigam a saltar para o abismo sem rede, e nos força a mergulhar fundo no nosso íntimo, obrigando-nos a fazer a renovação que nos recusávamos a fazer.
E por isso é tão fácil identificarmo-nos com o livro.
Porque ele fala sobre as zonas mais obscuras do nosso Ser.
Crença e cepticismo, amor e obsessão, desilusão, traição, desejos, falsas expectativas, depressão, suicídio, doenças emocionais, casamentos desgastados, escolhas, crises de identidade, etc...
Cada capítulo traz uma reflexão diferente, cada situação nos remete para algo nosso, fazendo-nos olhar de frente para os nossos próprios monstros e fantasmas.
E tal como acontece com Nietzsche e Breuer, que ao ajudarem o outro estavam a ajudar-se a si mesmos, também nós ao ajudarmos os outros nos estamos a curar a nós próprios, tendo insights profundos nesse processo, em que a ajuda é mútua.

Essa humanidade no livro, essa fragilidade, essa vulnerabilidade dos personagens, suas dores e dilemas, medos, de tão comuns, são nossos também.
A dificuldade em fazer escolhas, optar por outros caminhos diferentes dos vividos até aqui, tomar decisões não compreendidas pelos outros e lidar com os seus julgamentos e críticas infundadas, é aqui que o livro nos prende, porque nos toca nos nossos monstros mais profundos e nos obriga a fazer uma reflexão profunda sobre nós mesmos, sobre as nossas escolhas, sobre as nossas obsessões, sobre os nossos dilemas.

O valor de uma boa amizade, confiança, guardar segredos que não são nossos e que carregam dor e sofrimento. Saber falar, calar e ouvir. Saber fazer as perguntas certas. Saber ler nas entrelinhas das respostas.