Antes do Yoga,
precisamos viver todas as experiências possíveis?
Algumas pessoas pensam que é preciso viver todos os prazeres possíveis antes de dedicar-se à espiritualidade. Essa é uma crença bastante espalhada e comum. Isso acontece porque algumas pessoas que começam essa caminhada acabam fazendo exatamente o contrário do que pregam: deixam-se levar pelas paixões exacerbadas quando supostamente deveriam ser contidos, acumulam imensas fortunas quando deveriam cultivar a simplicidade e coisas do género.
Daí, com algum direito as pessoas pensam:
“ele fez isso porque não viveu o suficiente número de experiências mundanas antes de dedicar-se à espiritualidade”.
Porém, essa ideia é uma falácia.
Parece verdade mas não é.
Na medida em que realizamos ações, criamos novas condições para fazer outras novas no futuro próximo. O apego às memórias passadas nos prende nos condicionamentos. O nosso karma pode ser prazeroso ou doloroso. Mas nós mesmos é que escolhemos, em todo caso, o que fazemos com ele.
É preciso discernir as coisas:
Em primeiro lugar, há uma situação kármica, que pode ser prazerosa, dolorosa ou uma combinação de ambas. Porém, sempre podemos escolher se e como, a partir desse setup, vamos continuar alimentando esse círculo ou não.
A ignorância existencial é a coisa mais medonha.
Mas não precisamos tornar-nos vítimas dela.
Em segundo lugar, Qualquer um pode cair.
Qualquer um pode se deixar arrastar pelas fraquezas. Porém, se mantivermos um coração limpo e clareza nos nossos propósitos e intenções, nada poderá nos demover do nosso objetivo.
O primeiro passo é fazer as pazes com o próprio karma. Não se sentir culpado nem vitimizado por ele. Depois, é necessário considerar a importância da renúncia. Renúncia, no sentido de suavizar a ideia de que precisamos viver para satisfazer os sentidos.
Em terceiro lugar, é recomendável desenvolver curiosidade, foco e motivação para compreender o que é melhor para nós e agir em consequência: se vamos vezes e mais vezes nos deixar arrastar pela ânsia de satisfazer os desejos e as experiências sensoriais, ou ainda, se nos mantemos dispostos a crescer através de e para além deles.
Noutras palavras, nos manter focados em cultivar bons hábitos, saudáveis e construtivos. Colocar as prioridades em primeiro lugar, em suma.
Somos ao mesmo tempo vítimas da identificação com o corpo e do nosso desleixo em relação a ele. É por isso que acreditamos que seja necessário priorizar as coisas.
Não nos deixemos levar pelo apego.
Não vivamos focados unicamente no prazer sensorial.
Isso é perder o tempo.
Afinal, viver para satisfazer os sentidos acaba sendo uma autopunição que pagamos muito caro nas diversas formas do sofrimento e da aflição.
Pedro Kupfer
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