quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Lembrança




Não me leves a lembrança.
Deixa-me só no meu peito,

frágil cerejeira branca
no martírio de janeiro.

Só me separa dos mortos 
um muro de pesadelos.

Dou mágoas de lírio fresco 
a um coração de gesso.

Meus olhos, como dois cães,
a noite toda no horto.

A noite inteira, correndo
por uns frutos de veneno.

Algumas vezes o vento
é uma tulipa de medo,

é uma tulipa doente,
a madrugada de inverno.

Um muro de pesadelos
me separa dos defuntos.

A relva cobre em silêncio
teu corpo, vale cinzento.

No arco do nosso encontro
a cicuta cresce agora.

Deixa-me a tua lembrança,
deixa-ma só no meu peito.


| Frederico García Lorca |




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