quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Heroísmos




Eu temo muito o mar, o mar enorme, 
Solene, enraivecido, turbulento, 
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento; 
O mar sublime, o mar que nunca dorme. 

Eu temo o largo mar, rebelde, informe, 
De vítimas famélico, sedento, 
E creio ouvir em cada seu lamento 
Os ruídos dum túmulo disforme. 

Contudo, num barquinho transparente, 
No seu dorso feroz vou blasonar, 
Tufada a vela e n'água quase assente, 

E ouvindo muito ao perto o seu bramar, 
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente, 
Escarro, com desdém, no grande mar! 


Cesário Verde
in 'O Livro de Cesário Verde' 


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