quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Cultura Deve Ser Uma Descoberta Individual de Cada um de Nós




Não se deve intervir, 
não nos devemos meter 
nos problemas que cada um tem 
com a leitura. 



Não devemos sofrer por causa das crianças que não lêem, perder a paciência.
Trata-se da descoberta do continente da leitura.
Ninguém deve encorajar nem incitar outra pessoa a ir ver como ele é. 

Já existe excessiva informação no mundo acerca da cultura.
Devemos partir sós para esse continente. 
Descobri-lo sozinhos. 
Operarmos sozinhos esse nascimento.

Por exemplo, em relação a Baudelaire, devemos ser os primeiros a descobrir o seu esplendor. E somos os primeiros. E, se não formos os primeiros, nunca seremos leitores de Baudelaire. Todas as obras-primas do mundo deveriam ser encontradas pelas crianças nos despejos públicos, e lidas às escondidas dos pais e dos mestres.

Por vezes, o facto de se ver alguém a ler um livro no metro, com grande atenção, pode provocar a compra desse livro. Mas não quanto aos romances populares. Aí, ninguém se engana quanto à natureza do livro. Os dois géneros nunca estão juntos nas mesmas mãos.
Os romances populares são impressos em milhões de exemplares. Com a mesma grelha aplicada, em princípio, há uns cinquenta anos, os romances populares desempenham a sua função de identificação sentimental ou erótica. Depois de os terem lido, as pessoas abandonam-nos nos bancos públicos, no metro, e serão apanhados por outras pessoas e novamente lidos.

Isso será ler?
Sim, penso que sim, é ler como se toma um remédio, mas é ler, é ir buscar a leitura ao exterior de si próprio e ingeri-la e fazê-la sua e dormir e cair no sono para, no dia seguinte, ir trabalhar, juntar-se a milhões de outras pessoas, a solidão matricular, o esmagamento.


Marguerite Duras
in, "Mundo Exterior "


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