quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Ensaios sobre o Amor
Fala-se no amor como a essência da vida.
O caudal das águas potáveis e correntes, fonte de energia inesgotável onde possamos saciar a nossa necessidade de consolo, que o escritor sueco Stig Dagerman, com previdência, ditou impossível de satisfazer.
Os paladinos do amor universal dizem que todo o grande amor permite a ocupação de amores fortuitos, como uma grande casa (Sanzala) repleta de quartos (ler Os Filósofos e o Amor, ed. Tinta da China).
O amor, o AMOR, porém, é coisa rara, a que a mestra do amor do eterno retorno, Hélia, disse ser tão rara como um homem se evolar pelos ares ou um analfabeto citar Cícero em correcto latim.
O que é o amor senão a raiz da própria existência onde cabe tudo, até o desamor e os sucedâneos da raiva, do ódio, e acima de todos os males, o medo.
O medo leva ao ataque como dirão o zoólogo e o etólogo avisados.
No amor há o medo da perda, pela morte ou o abandono, e muitos são os órfãos de amor do princípio ao fim, por conta de uma dor funda e antiga.
Há amores que toleram o amor fortuito, mas são amores infelizes.
O amor fortuito não é, na maior parte das vezes, amor.
Não o amor raro, que, porém, é tão vulnerável e frágil como a árvore de tronco mais robusto. Sem rega e poda nenhum amor chega a ser maduro.
Sem capacidade de chegar ao concílio de que um amor é a soma de duas partes e de todas as partes de cada um, o amor não passará de um usufruto mútuo, uma satisfação de necessidades complementares.
Ama-se melhor quando se sabe amar no amor-próprio e dele se sabe sair antes de o egoísmo tomar conta do ser e impedir a justa medida.
Ter ou Ser, são o raio de escolha.
Um raio de luz.
Tiago Salazar
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