quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Em Busca do homem Cósmico
A escola não me agradava, e eu não agradava à escola.
Entediava-me.
Os professores comportavam-se como sargentos.
Eu queria estudar o que eu queria saber, mas eles queriam que eu aprendesse apenas para o exame.
O que eu mais odiava era o sistema competitivo e especialmente o desporto.
Devido a isso, eu não valia nada e, várias vezes, sugeriram que eu abandonasse a escola.
Eu senti que a minha sede de conhecimento estava a ser estrangulada pelos meus professores e o sistema escolar; as notas eram a sua única medição.
Eu aprendi principalmente em casa, primeiro com o meu tio e, em seguida, com um estudante que vinha visitar-nos uma vez por semana. Ele deu-me livros sobre física e astronomia.
Quanto mais eu lia, mais ficava intrigado pela ordem do Universo e a desordem da mente humana, mais intrigado ficava pelos cientistas que não concordaram sobre o como, o quando, ou o porquê da criação.
Nessa altura, eu já não acreditava no conhecido Deus da Bíblia, mas sim no misterioso Deus expresso em toda a natureza.
As leis básicas do Universo são simples mas, porque os nossos sentidos são limitados, não podemos compreendê-los. Existe um padrão na criação.
Se olharmos para a árvore cujas raízes buscam a água abaixo do solo, ou para uma flor que envia o seu cheiro doce às abelhas polinizadoras ou, até mesmo o nosso próprio eu e as forças interiores que nos impulsionam a agir, podemos ver que todos nós dançamos uma misteriosa melodia e, quem toca a melodia, Deus, a Força Criadora ou como lhe queiram chamar, escapa a todo o conhecimento que vem nos livros.
(Einstein acreditava que todos nós dançamos uma misteriosa melodia que vem de dentro.)
Aceitemos que o mundo é um mistério.
A Natureza não é nem exclusivamente material, nem inteiramente espiritual.
O Homem também é muito mais do que carne e osso.
O fim ou o inicio de todas as causas ainda não foi encontrado.
No entanto, só uma coisa deve ser lembrada: não há efeito sem causa, e não há nenhuma incoerência ou acaso na criação.
Se eu não tivesse uma fé absoluta na harmonia da criação, eu não teria tentado por trinta anos expressá-la numa fórmula matemática.
É através da consciência e da intuição, que o homem consegue tornar-se consciente de si mesmo e da sua relação com o Universo.
O Universo é um todo harmonioso.
Cada célula tem vida.
A matéria, também tem vida; é energia solidificada.
Os nossos corpos são como prisões, e eu estou ansioso para ser livre, mas não entro em especulações sobre o que poderá acontecer-me.
Eu estou aqui agora e, a minha responsabilidade é neste mundo, agora.
Eu lido com as leis naturais. Este é o meu trabalho aqui na terra.
O mundo precisa de novos impulsos morais que não virão das igrejas, fortemente comprometidas ao longo dos séculos. Talvez esses impulsos venham de cientistas na tradição de Galileu, Kepler e Newton. Apesar das falhas e perseguições, estes homens dedicaram as suas vidas a provar que o Universo é uma entidade única, em que, creio eu, um Deus humanizado não tem lugar.
O cientista genuíno não é movido por louvor ou culpa.
Ele tenta revelar o Universo e uma imensurável verdade: a ordem, a harmonia e a magnificência da criação!
Companheirismo e serviço humano deverão tornar-se um código moral.
Sem tais fundamentos, estamos irremediavelmente condenados.
Se queremos melhorar o mundo, não podemos fazê-lo apenas com o conhecimento científico mas com ideais. Confúcio, Buda, Jesus e Gandhi fizeram mais pela humanidade do que a ciência tem feito. Temos de começar com o coração do homem, com a sua consciência e, os valores da consciência só podem ser manifestados através do serviço altruísta para a humanidade.
A alma dada a cada um de nós, é movida pelo mesmo espírito que move o Universo.
Acredito que nós não precisamos de nos preocupar com o que vai acontecer depois desta vida, desde que façamos o nosso dever aqui; amar, servir e evoluir.
Tenho fé no Universo e tenho fé no meu propósito aqui na terra.
Eu tenho fé na minha intuição, a língua da minha consciência, mas não tenho qualquer fé em especulações sobre o Céu e o Inferno.
Eu estou preocupado com este tempo, aqui e agora.
É a intuição e a consciência que avança a Humanidade e não apenas um caminho trilhado pelo pensamento.
A intuição é o pai de novos conhecimentos, enquanto o empirismo é nada mais do que um acumular de conhecimento antigo.
Intuição, não o intelecto, é a chave de si próprio e do Universo.
Na verdade, não é o intelecto, mas a intuição que avança a Humanidade.
A intuição diz ao homem o seu propósito nesta vida.
Eu não preciso de qualquer promessa de eternidade para ser feliz.
A minha eternidade é agora.
Eu só tenho um interesse: cumprir o meu propósito aqui onde estou.
Este propósito não me é dado pelos meus pais ou professores.
É induzido por certos factores desconhecidos.
Esses factores tornam-me uma parte da eternidade.
Albert Einstein
in, "Einstein e o Poeta: Em Busca do Homem Cósmico"
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