como se deita o mármore sobre a terra e
a água se derrama sobre as brasas. Vesti-me
de luto como as mulheres que derrubam
os berços vazios de tanto os olharem; e vi
o sangue calar-se finalmente sobre a ferida,
como a cera que endurece na palma da mão
antes de perder-se nos dedos em poeira. Se
te esqueci, foi porque quis alguém que me
chamasse, um corpo que fosse outro no meu
corpo,uma voz oferecida pela manhã. Mas
nada, mas ninguém. Se o tempo não se
tivesse abatido sobre o teu nome, podia ao
menos agora recordar-te – pois não há
laje sem corpo nem cinza que não tenha
ardido. E a casa está hoje mais fria do que
nunca: deixei passar o tempo sobre o teu
nome e não há lareira, não há lar, não há
filhos que se pudessem perder de mim, nem
velas para encher de memória este silêncio.
Maria do Rosário Pedreira
Sem comentários:
Enviar um comentário