quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Anaïs Nin





Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela.
Anaïs Nin


A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo.
Anaïs Nin


O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos. A mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de articular.
A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela não consegue ser tão articulada.
Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo. O segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino. Por isso existe uma diferença, penso eu, que é muito profunda, mas que está a começar a desaparecer. Com efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por qualquer experiência psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das mulheres são os mesmos, o inconsciente é universal, e que aí as coisas brotam do sentimento e do instinto e não passaram pelo processo de racionalização, e portanto este é um ponto de vista feminino.
Anais Nin


Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos.
Anaïs Nin


A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.
Anaïs Nin


Toda a arte da psicologia ou da ciência da psicologia, se lhe quisermos chamar assim, é baseada numa inversão do processo de objectividade. Não que não possamos tornar-nos objectivos, mas que apenas possamos tornar-nos objectivos depois de termos confrontado as nossas atitudes não objectivas, as nossas atitudes não racionais. Atingir uma objectividade honesta significa termos de saber quais os pontos da nossa natureza que são propensos a determinado preconceito, que parte de nós é defensiva, que parte de nós distorce o que ouvimos. E é necessária uma tremenda auto-honestidade para começar a remover essas distorções e a clarificar a nossa visão. De modo que só podemos atingir a objectividade depois de termos descoberto quais as áreas da nossa psique que não são objectivas.
Além disso, o reconhecimento básico da psicologia é que, lá bem no íntimo, a maior parte da nossa vida é desconhecida da mente consciente e que, quanto mais nos tornamos consciente dela, mais honestos e mais objectivos nos podemos tornar. Nós não vemos os outros com clareza, e o que obscurece a nossa visão são os preconceitos que a pessoa supostamente objectiva se recusa a reconhecer. Uma pessoa objectiva diria que não é responsável pela guerra, mas uma pessoa que sabe psicologia sabe que cada um de nós é responsável porque cada um de nós tem sempre uma área de hostilidade, que depois é projectada para hostilidades colectivas mais vastas.
Anais Nin





O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia.
Anaïs Nin


Nenhum mar mais forte que o mar dos sentimentos, em que ela nadava dentro dele, encrespando, nenhuma onda como as ondas do desejo, nenhuma espuma como a espuma do prazer. Nenhuma areia mais morna que a pele e a areia movediça das carícias. Nenhum sol mais poderoso que sol do desejo, nenhuma neve como a neve de sua resistência derretendo em alegrias azuis, em lugar nenhum uma terra tão rica quanto a carne. Ela dormia, caía em transe, estava perdida, sentia-se renovada, abençoada, transpassada pela felicidade, aquietada, queimada, consumida, purificada, nascida e renascida dentro do ventre da baleia da noite.
Anaïs Nin


Boca encontrando boca, o prazer batendo como um gongo, uma, duas, três vezes como o bater de asas de grandes pássaros. Os corpos atravessados por um arco-íris de prazer. Pela boca fluíam um dentro do outro e a pequena rua cinzenta deixou de ser um impasse em Montparnasse. O balcão estava agora suspenso sobre o Mediterrâneo, o mar Egeu, os Lagos Italianos e pela boca fluíam e corriam através do mundo.
Anaïs Nin


Perdi Gerard porque saltei. Expressei meus sentimentos. Ele estava assustado. Por que amo homens que se assustam? Ele tinha medo e eu tinha que cuidar dele. Você já pensou alguma vez por que os homens que brigam por uma mulher e não a conseguem não ficam magoados? As mulheres se magoam. Se é a mulher que banca o Dom Juan e faz a corte e o homem dá para trás, ela fica assustada de alguma forma.
_ Sim, reparei isso. Imagino que é uma espécie de culpa. Para um homem é natural ser agressor, aceita bem a derrota. Para a mulher é uma transgressão e ela assume a derrota como se fosse causada pela transgressão
Anaïs Nin


Aprendi uma contabilidade muito rígida, em que considerava o prazer como uma jóia, uma espécie de jóia roubada, pela qual se deve pagar grandes somas de sofrimento e culpa. Mesmo hoje, quando alguma coisa realmente maravilhosa me acontece, quando alcanço o amor, o êxtase ou o momento perfeito, espero sempre que sejam seguidos pela dor
Anaïs Nin


Algum dia vou sentar e escrever um pequeno dicionário para você, um pequeno dicionário chinês. Vou por todas as interpretações daquilo que lhe dizem, a interpretação correta, isto é, aquela que não magoa, humilha, acusa ou duvida. E todas as vezes que lhe disserem alguma coisa, você vai consultar meu pequeno dicionário, para ter certeza, antes de entrar em desespero, que entendeu o que disseram”
Anaïs Nin


A fuga não me trouxe libertação. Todas as noites tenho o mesmo sonho de prisão e lutas para conseguir fugir. É como se apenas meu corpo fugisse, mas não os meus sentimentos. Meus sentimentos ficaram como raízes dependuradas , quando se arranca uma planta com muita violência. A violência não significa nada e não liberta ninguém
Anaïs Nin






Apenas os bêbados e os loucos trocaram aquilo que não é essencial pelo caos e apenas no caos há riqueza.
Anaïs Nin


Me aflijo quando não consigo perceber o que me dizem. Quando ouço um som, uma língua estrangeira que não compreendo. Quando o pensamento é truncado e confuso. Quando, por preconceitos, somos radicais e surdos. Me aflijo quando não consigo expressar meus sentimentos, quando me faltam as palavras certas, quando não alcanço a sensibilidade de um poema. Quando não tenho o conhecimento específico que me permita argumentar com o médico, o técnico ou o cientista. Me aflijo e me entristeço quando o fanatismo político e a imposição de dogmas religiosos impedem o diálogo, a possibilidade de uma nova ideia… A música é mais universal. Notas musicais, combinadas, são mais acessíveis que os fonemas.
Muitas vezes o corpo diz mais que a palavra. O contato físico, o olhar, um simples gesto… Mas acredito que os sentidos ainda dizem mais que o corpo. No pleno encontro dos sentidos, conversamos horas e não pronunciamos uma única palavra. Você me entende?
Anaïs Nin



Em toda criança e em todo criminoso está presente a convicção que não há retribuição que possa sarar a feria infligida. O homem que passou fome uma vez, vinga-se do mundo - não rouba apenas aquilo que precisa, mas cobra do mundo uma taxa sem fim como pagamento de algo insubstituível que é sua fé perdida
Anaïs Nin


Ela sabia, assim como ele, que condecorações e honrarias conferidas a homens ou mulher, não alteravam o talento básico e a falta de talento como amante...Não há prêmio de arquitetura capaz de conferir o conhecimento mágico da estrutura do corpo. Nenhum jogo de palavras substituirá o conhecimento dos pontos secretos da resposta. Não há medalha concedida por coragem que confira audácia, a sedução da conquista, o exato conhecimento da batalha do amor
Anaïs Nin


Ele gostava de se encontrar com ela no escuro, de modo que, antes de poderem ver o rosto um do outro, suas mãos tomavam consciência da presença um do outro. Sentiam o corpo um do outro como cegos, demorando-se nas curvas mais sensíveis, fazendo a mesma trajetória de cada vez; sabendo pelo toque os locais onde a pele era mais suave e macia e onde era mais grossa e exposta ao sol; onde o batimento cardíaco ecoava no pescoço; onde os nervos tremiam quando a mão se aproximava do centro, no meio das pernas.
Anaïs Nin



"Ele dava a sensação que o mundo inteiro estava fechado naquele momento e de que só existia aquele festim sensual, de que não haveria amanhã - nem encontros com mais ninguém, de que só havia aquele quarto, aquela tarde, aquela cama.
Anaïs Nin





A cama desfeita me lembra sexo. A mente só pede corpos perfeitos, quentes e depravados. O resto não existe. Como se há muito não o visse, corro para o travesseiro, que me é todo um dorso, e depois um rosto, e um peito que respira, sem pernas, braços ou pescoço. Um bloco de carne macia como pano. Um pedaço de corpo por inteiro. Fico com o meu travesseiro, dizendo sem medo que o amo. Ficamos assim num abraço apertado de amigos. Onde estão a língua, a saliva? Onde está o pau do meu travesseiro? Meu travesseiro dorme de bruços o sono dos justos. Então, de uma de suas costelas, faço a cama – linda e sensual! A cama… Que é toda um ventre que nos põe em posições de feto, de filho e de amante… Comi a minha cama. Sangrei-a e a engravidei de fantasias sórdidas, de sonhos puros e infantis…
A cama e o travesseiro. Seres perfeitos, que se entregam plenos a qualquer um que chegue: homem, mulher, velho e criança. Pretos, brancos e amarelos. Doentes, sábios e ignorantes, monges e devassos, que importa?, gregos e troianos!
Amor e sexo. E depois, a paz, o sono. É aqui nestes quatro pontos cardeais que nasce o mundo inteiro. Eu, você, a cama, e o travesseiro. Meu mundo é retangular. Meu centro do universo é a cama. Daí em diante tudo é abismo. Tudo, mistério. Não há nada que o ser humano veja com nitidez fora dessas quatro linhas. Lugar algum onde navegue com segurança. A proteção verdadeira, o cuidado e o cafuné vivem no leito. E por mais que se conheçam, que se aventurem outros limites, o que se quer em vida, depois de nascer, é amar, descansar e morrer na cama. Queria levar o mundo inteiro pra cama.
Anaïs Nin


...Vista de fora, pelo olhar alheio, parece que eu sou uma parte das propriedades materiais e mundanas de Hugh. Eu sou uma aquisição. Eu sou um instrumento de sua ascensão. Em troca, ele me protege, me ama, me mima. Mas também me aprisiona.
Anaïs Nin


Quem não quer o êxtase do amor e depois conhecer de pleno e não apenas de perto a leveza da paz descansada e o aconchego de um abraço verdadeiro? Todos queremos voar. Mas a força da gravidade nos atrai para baixo. A força da gravidade. Estamos irremediavelmente divididos entre o voo da alma e o peso do corpo. E ainda que um dia na ciência, consigamos romper as barreiras do som e da luz, ainda que um dia, por progresso, cheguemos a passear pelo espaço sem gravidade. De nada nos irão valer estas conquistas. Nossa alma continuará fatalmente presa ao peso do nosso corpo, numa gangorra de equilíbrio precário e desigual.
Gangorra – vida, brinquedo, brincadeira em que a alma por absurdo fica sempre no alto, mas de castigo. É, meu corpo me deixa a alma assim: no alto, mas de castigo. Só quando ele deixa e dá impulso é que minha alma se solta e desce à Terra. O balanço é sempre ele com seu peso que determina. E minha alma, sopro divino, se contenta com este parceiro desmedido. Brutamontes que ama a seu jeito – um jeito primitivo e bestial. Por isso, meu corpo só é livre quando se desapega. E minha alma só se solta, quando desce à Terra.
Anaïs Nin


Henry me cura profundamente. Ele disse: ´Eu não tenho como ser desleal porque é dentro de você que eu vivo´. Rimos. Nos deitamos e trepamos devagar, com jeito, absortos, e pela primeira vez o orgasmo vem sem eu desejar, como uma paz, uma lenta aurora, um lento florescer originado no relaxamento e na entrega do não-ser. Sem almejar. Caindo como a chuva, florescendo, afogando a consciência.
Anaïs Nin



Eu magôo, machuco, e sei apenas que sou eu quem mais sofre com isso, mais do que as pessoas que magôo. É um mistério, um mistério terrível e assustador, que Allendy jamais foi capaz de desvendar.
Anaïs Nin


Em todo começo de relação acontece a jornada em direção ao passado: o desejo de todo amante de dar ao ser amado todas as formas de ser desde o princípio.
Anaïs Nin


O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor. O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor.
Anaïs Nin






Um homem que domina é um homem que não ama. Tem uma tremenda vitalidade animal, uma força, capaz de conquistar. É um conquistador, as pessoas submetem-se-lhe, mas ele não ama ou compreende. É apenas uma força e encontra-se imbuído da sua própria força. Se chegar a amar, será uma força como a sua, pelo que, novamente, ama apenas uma espécie de força igual à sua, e não as outras, o que seria uma infiltração. Observe-se bem o conquistador; observe-se o homem ou a mulher que domina os outros: não é ele quem ama. Aquele que ama é o ser que é dominado.
Anais Nin


Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma.
Anaïs Nin


Nunca encontrei uma pessoa oca. Nunca encontrei uma vida sem significado quando se procura realmente o seu significado. É esse o perigo de dizer que não procuramos, porque foi assim que chegámos ao ponto em que sentimos que a vida não tinha qualquer significado. Bem vê, nós repudiámos tantas formas de terapia. Quer dizer, tantos de nós repudiam actualmente a filosofia, a religião ou qualquer outro padrão que nos mantinha coesos anteriormente. Repudiámos tudo. Até repudiámos a terapia da arte. Por isso não nos restou realmente mais que olhar para dentro, e os que o fazem descobrem que toda a vida tem significado porque a vida tem significado. Fomos seriamente prejudicados por pessoas que disseram que a vida era irracional e de qualquer modo não significava nada. Mas assim que começamos a olhar, descobrimos o padrão e descobrimos a pessoa. Nunca encontrei aquilo a que se poderia chamar uma pessoa totalmente oca.
Anais Nin



O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho.
Anaïs Nin


O inimigo de um amor nunca vem de fora, não é homem ou mulher, é o que falta em nós mesmos.
Anaïs Nin


Os grandes amores, especialmente se não tivessem tido morte natural, jamais morriam por completo e deixavam reverberações. Uma vez interrompidos, rompidos de maneira artificial, sufocados acidentalmente, eles continuavam a existir em fragmentos separados e infinitos ecos menores.
Anaïs Nin


A vida é um processo de crescimento, uma combinação de situações que temos de atravessar. As pessoas falham quando querem eleger uma situação e permanecer nela. Esse é um tipo de morte.
Anaïs Nin


Quero cruzadas e martírio. O mundo é demasiado pequeno para mim. O mundo é pequeno demais. Estou cansada de tocar guitarra, fazer malha, passear, parir crianças. Os homens são pequenos e as paixões são curtas. Irritam- me as escadas, as portas, as paredes, irrita-me o dia a dia que interfere na continuidade do êxtase. Existe pois o martírio - tensão, febre, da continuidade da vida - firmamento em perpétuo movimento e brilho total. Nunca se viram estrelas empalidecer ou cair. Nunca adormecem.
Anaïs Nin


Vive-se assim protegido num mundo delicado, e crê-se que se vive. Então lê-se um livro(Lady Chartterly, por exemplo) ou faz-se uma viagem, ou fala-se com Richard, e descobre-se que não se vive, apenas se hiberna.
Anais Nin


Pessoas que vivem intensamente não têm medo da morte.
Anaïs Nin


A vida de todos os dias não me interessa. Procuro apenas os momentos elevados. Estou de acordo com os surrealistas quanto à procura do maravilhoso.
Quero ser uma escritora que lembre aos outros que estes momentos existem. Quero provar que existe um espaço infinito, um sentido infinito para as coisas, uma dimensão infinita.
Mas não estou naquilo que se pode chamar de estado de graça. Tenho dias de iluminação e febre. Há dias em que a música para na minha cabeça. Então remendo peúgas, limpo árvores, apanho frutos, dou brilho ao mobiliário, mas enquanto faço isto sinto que não vivo.
Anais Nin


O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. E nega o resto.
Anais Nin


Eu desprezo as proporções, as medidas, o tempo do mundo comum. Recuso-me a viver no mundo comum como mulheres comuns. Para entrar relações normais, eu quero êxtase.
Anaïs Nin





Quais são os escritores que nos enriquecem? Penso que isso é diferente para todos. Penso que lemos muito subjectivamente. Lemos aquilo de que precisamos. Há quase uma força obscura que nos guia para determinado livro numa determinada altura; depois criamos problemas quando tentamos racionalizar isso e dizemos que este escritor é bom e aquele escritor é mau. Nunca fui capaz de dizer isso. Compreende, não posso dizer que Simone de Beauvoir seja má escritora, mas posso dizer que não me enriquece. O que é uma afirmação totalmente diferente. E penso que isso varia muito. Elaborei uma lista de escritoras e dos seus livros que me enriqueceram. Mas não é uma selecção literária. É uma selecção puramente subjectiva e a sua podia ser totalmente diferente.
Perguntam-me muitas vezes o que penso acerca de Simone de Beauvoir, o que penso acerca de The Golden Notebook, e é-me sempre difícil responder. Não os considero livros enriquecedores, porque me repetem incessantemente como as coisas estão, mas nunca me mostram como posso mudá-las. Logo, quando Simone de Beauvoir escreve um livro acerca do envelhecimento, ela está a curvar-se à idade cronológica e a dizer que em determinada altura ficamos velhos. Mas nós às vezes ficamos velhos aos vinte anos. A idade é outra coisa que temos de transcender e de encarar com outra atitude. Não é cronológica. E penso o mesmo em relação à descrição de coisas tal como elas são, sem uma abertura que nos diga para onde podemos ir a partir dali ou como podemos transcendê-las, que encontro naqueles que chamo os escritores enriquecedores. É por isso que, quando não estou apaixonada por escritores, digo sempre que posso respeitar as suas ideias, mas que não me dão o sentimento que me empurra para a vida.

Anais Nin



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