quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
A Consciência Débil da Nossa Autenticidade
A consciência que te acompanha no que vais sendo é o puro registo disso que vais sendo para o poderes ler, se quiseres, depois de já ter sido.
Mas no instante de seres o que és, o que és é apenas, por uma decisão anterior ao decidires.
O que és é-lo onde a tua realidade profunda em profundeza obscura se realizou.
O que és é-lo no absoluto de ti.
A consciência testifica-nos apenas como o ser privilegiado que sabe o que é por aquilo que vai sendo e pode assim reconverter-se à posse iluminada disso que vai sendo. A consciência constata mas não interfere senão para se não ser mais o que se foi, ou mais rigorosamente, para se não querer ser o que se é - o que é ser-se ainda, embora de outra maneira.
Porque se neste instante me sobreponho, ao que sou, outra maneira de ser - a consciência que me altera o primeiro modo de ser é a paralela iluminação do modo de ser segundo.
Decidi ainda antes de decidir, quando decidi não ser o que primeiramente decidira.
Assim no torvelinho dos actos que me presentificam e da consciência desses actos, sempre o insondável de nós se abre para lá do que podemos sondar.
Sempre a realidade de nós é a realidade original que na origens se gera.
Sempre a autenticidade de nós está a uma distância infinita das razões que a justificam.
Vergílio Ferreira
in, Invocação ao Meu Corpo
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