Silêncios, silêncios de todos os géneros circulam no meu sangue.
Silêncios inexplicáveis, silêncios que vêm dalgum lado desconhecido
do meu corpo, do sul muito ao sul da memória. E as moscas voam
em volta do candeeiro, desesperadamente. O silêncio mais constrangedor
emana-se delas, do ruído surdo das asas cortando o ar.
Ouço-me agora atentamente, as mãos cansadas sobre a mesa de trabalho.
Não me ocorre qualquer palavra escrever. A noite acende-se pelas
paredes, abro a janela e um rumor de mar chega até mim.
Os roncos dos petroleiros no porto, o zumbido laminar dum insecto. Apoio-me
ao parapeito e começo a esmigalhar as formigas que passam.
Que horas serão no tremer inquieto do coração?
Uma ave nocturna levantou voo, por entre as palmeiras, e noite tornou-se
mais escura. Incompreensível, distante desta janela.
O silêncio abate-se também sobre o rosto. Sinto-o quente no lado de dentro da pele.
Gostava de falar em voz alta comigo mesmo, mas tenho medo.
Al Berto
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