quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Largar o fio energético dos que amamos




É desejo intenso esse que guardamos bem fundo em nós, de nos vermos livres de pesos e medos e também de livrarmos aqueles que amamos, do mesmo. 
Que nada os faça tropeçar, que apenas o bem lhes surja no caminho e que o verão seja sempre nas suas vidas.

Guardamos, porque sabemos que desejar desenhar o caminho dos outros não é para ser divulgado nem em voz baixa para nós mesmos, mas trazemos estes desejos na mente com eterno cuidado porque deles não nos queremos desfazer.
Eles, os familiares e amigos, são o nosso esteio, são quem nos mantém ligados ao mundo e por isso desenvolvemos preocupações que nos deixam tantas vezes em sufoco.

Custa-nos ainda imenso largar o fio energético dos que amamos.
Custa-nos até pensar o que será deles se não ocuparem a nossa mente, se não lhes ajeitarmos os destinos, se não pedirmos repetidamente para que nada de menos bom lhes aconteça…custa-nos imenso isto.

Trazê-los no coração não nos chega…queremos trazê-los sob a nossa pele também.
A arte de amar sem prender assusta-nos…tal como o confiar na totalidade, entregando tanto a nossa vida como as dos nossos.

Sofrer por antecipação é um dom que desenvolvemos ao longo dos vários medos que vamos vivendo e, desse modo, transferindo para os nossos vários amores.
O “meu”, a “minha”…como se tivéssemos sido nós a criar o mundo só para que eles vivessem no paraíso.

Quando aprendermos a entregar, a confiar totalmente sem mácula ou dúvida, saberemos que cada ser humano, ligado afectivamente a nós ou não, é íntegro na sua caminhada pessoal e esta, não pode ser vivida por mais ninguém, mesmo que intercedamos para adiar isto ou aquilo, temos de compreender que não temos esse direito.

Todos nós, família restrita ou alargada, escolhida antes de virmos ou escolhida aqui, somos cuidadosamente protegidos e guiados e completamente amados de uma forma incondicional e muitas vezes é o nosso apego desmesurado que impede que eles vivam as suas experiências e evoluam naturalmente.

Saber estar em paz, sabendo que todos os outros estão bem acompanhados e guiados, é a maior libertação que podemos experimentar e com ela, compreendemos que afinal, tudo esteve, está e estará, divinamente articulado para o melhor resultado, sendo que este resultado não é, muitas vezes, compreensível para a nossa mente racional.

Desate-se o nó da corda que prende a barca e ela fluirá em perfeito equilíbrio, rio fora…nem rochedos nem tempestades a tirarão do seu curso e as correntes mais fortes fá-la-ão mais experiente na arte de bem navegar.



Alexandre Viegas


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