domingo, 17 de janeiro de 2016

A Náusea sou eu




Os homens.
É preciso amar os homens.
Os homens são admiráveis.
Sinto vontade de vomitar – e de repente aqui está ela: a Náusea.
Então é isso a Náusea: essa evidência ofuscante?
Existo – o mundo existe -, e sei que o mundo existe.
Isso é tudo.
Mas tanto faz para mim.
É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta.
Gostaria tanto de me abandonar, de deixar de ter consciência de minha existência, de dormir.
Mas não posso, sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca…
E subitamente, de repente, o véu se rasga: compreendi, vi.
A Náusea não me abandonou, e não creio que me abandone tão cedo; mas já não estou submetido a ela, já não se trata de uma doença, nem de um acesso passageiro: a Náusea sou eu.

Jean-Paul Sartre
in, A Náusea


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