quinta-feira, 10 de março de 2016
A Sacrossanta Doutrina Do Minete
Os rapazes, assim que aprendem a habilidade de se sentar, conseguem olhar para a sua pilinha, estando por isso, chegando à idade adulta, absolutamente familiarizados com ela. É coisa que anda à vista, quase como o nariz. Olham para ela porque vão fazer xixi, porque se querem armar ao pingarelho, para ver se ela ainda lá está, enfim, uma vida inteira de namoro. Nós não. Eu não sei se isto é culpa da natureza ou se de Deus-nosso-Senhor que é homem, já se sabe, mas nós, até chegarmos à idade de usar um espelho, nunca olhamos para a “abençoada” a não ser aquelas moças que trabalham no circo e têm muita elasticidade desde pequeninas. Nós não a vemos e não a mostramos. E não a mostramos porque, além de não ser anatomicamente fácil andar com ela para a frente ou virada para cima, não é simples mostrar aquilo de que não se conhece muito bem o aspecto… Encerra alguma insegurança.
Assim, de segredo em segredo, de vergonha em vergonha, vai a mulher fugindo ao dever que tem consigo mesma de escancarar as pernas e dar-se a beijar, e vão os mancebos, tímidos e poltrões, alardeando por aí, que beijos na “culpada” lhes fazem confusão.
Uns, bem-intencionados, tentam, vão lá, no escuro ou de olhos fechados, e repenicam uns beijinhos ou com a ajuda didáctica dos filmes para adultos, chegam a passar a língua ferozmente, como um corredor a pano, deixando as suas mais que tudo um bocadinho desconsoladas, assim como quem diz: mas é só isto?
São poucos os homens que sabem, na verdade, fazer um minete. Até porque não existe realmente uma técnica infalível ou matemática para a execução de uma coisa tão íntima, quanto pessoal.
São poucas as mulheres que se entregam ao supremo gozo de serem beijadas, adoradas, sorvidas, numa rendição despudorada e orgulhosa da sua feminilidade.
Primeiro, era bom que as mulheres, que agora até se depilam, enfeitam, tatuam e inclusive põem cristais, olhassem muitas vezes para si. Não é para “ela”, é para nós! Porque ali, no meio das pernas, está uma parte tão importante do Ser, que é bem capaz de ser por isso que as antigas lhe chamavam “boca do corpo”. Que percebêssemos que a vulva excitada e húmida é absolutamente apetecível e bonita, uma flor carnuda a pedir para ser mostrada e devidamente enaltecida.
Depois, os homens, eleitos por nós, para a nossa cama, para entrar no nosso corpo, para receber e dar prazer, realizassem que não há melhor maneira de fazer uma mulher sentir-se amada, ali entre quatro paredes, do que querer olhá-la toda, conhecê-la, dedilhá-la e saboreá-la. Que não há técnica perfeita, da mesma maneira que também não o há para degustar uma fruta a não ser a polposidade da própria e a fome de quem come. Que não há glória maior do que levar a sua mulher ao céu, ao infinito e fazê-la derreter-se em si.
Talvez seja por isso que o sexo entre mulheres é tão diferente e diz, quem sabe, por vezes, mais compensador. As mulheres são, na generalidade, mais atentas aos detalhes e menos centradas no orgasmo próprio. A minha querida Almerinda, mulher versada nas artes do amor, refere muitas vezes a amiga francesa, que rapidamente passou a amante depois de lhe experimentar as artes da boca… Que nenhum homem lhe tinha oferecido tanto prazer ou ensinado tanto sobre o seu próprio corpo, que a alternância com que a lambia com a ponta da língua para depois a abocanhar como se fosse cair. Tinha sido o momento mais surpreendente de uma vida cheia de afectos.
Não conheço a amiga francesa da Almerinda, confesso com alguma amargura. Mas já tenho tido momentos felizes nesta coisa da felação. E vos garanto, quando lhe chamam trombada, nada fazem pela aclaração do procedimento, porque remetem muito mais para uma colisão e o que se quer é encostar devagarinho. Um arrulho, como os pombos.
A coisa não é complicada, pelo menos daquilo que sei. E tenho para mim, que o que eu gosto não há-de ser muito diferente do que faz as minhas amigas felizes, lá está, com as pequenas e particulares variações.
Nós gostamos que nos olhem para a “abençoada”, é meio caminho andado para que a mostremos bem. Gostamos que a explorem. Sentir a língua a passear corpo a baixo, ou a cima, parando onde sente a pele eriçar-se, recolhendo-se, para deixar que a boca chupe e sorva até aos centímetros seguintes. Gostamos de a sentir afastar os lábios. Primeiro os grandes, depois os pequenos, tal como nos cá de cima, e que curiosa e frenética lhes faça pequenas cócegas que nos preparam, que nos entesam para lá do que a bíblia aceitaria. Gostamos que ela nos açoitem o clitóris até que ele cresça o suficiente para ser sugado, mordido, tragado e mesmo ali, antes do orgasmo, abandonado para que a pequena vilã nos penetre hirta a preparar caminho. Nos adentre onde bem lhe e nos apetecer, reconhecendo todos os nossos buracos e deixando os anfitriões felizes. Isto feito, nós não nos vimos… Vamo-nos! Para o paraíso e acompanhadas por quem para lá nos enviou.
É claro que isto não é para meninos. É coisa de homem! Ou de mulher! Dos crescidos. Com tesão e apaixonados. De um adulto que goste realmente de uma mulher. Do cheiro da mulher, do sabor da mulher. Quem quer uma coisa inodora e insípida pode sempre treinar naquelas de borracha que até podem ser desinfectadas com lixivia.
E convém não ir lá directo, como quem arranca a fruta da árvore sem querer trepar, lá porque a vulva é importante, o resto da pele não deixa de o ser e já diziam as nossas mães que não se entra em lado nenhum sem pedir licença. Passeiem por nós, abram caminhos… E percebam que cada mulher é única, que o que funcionou com a ex, não tem que necessariamente correr bem aqui. Olhem para a nossa cara, para os nossos mamilos, para a barriga que se contrai e apreciem, não fiquem lá enfiados como um cão com sede, a ignorar o resto do mundo… Já que por acaso, nós também estamos ali.
E gostamos de vocês, ou não vos daríamos o privilégio de olhar e tocar tão profundamente em nós!
PATRICIA MOTTA VEIGA
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