segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Pais




Quando nascemos, 
chegamos em forma de amor puro.
Então, o que aconteceu 
para nos transformarmos nestes adultos 
cheios de bloqueios, monstros e fantasmas?
Em vez de nos aprimorarmos, 
de amadurecermos ao longo da vida?



Se observarmos a natureza, a nossa Mãe Terra, tudo o que é nutrido e acarinhado cresce e evolui de uma forma positiva. É o caso das flores, das árvores, dos animais, etc...e falo da natureza selvagem.
Mas, se pelo contrário, observarmos sítios mais inóspitos, onde existem carências de sol e água, as árvores nascem tortas, sem vida, os animais tornam-se desconfiados e agressivos, sempre em atitude de defesa, o seu pêlo não tem brilho, etc...

Ora, tal como a natureza, nós humanos, se não crescermos em ambiente positivo, com privações alimentares e afectivas, isso vai ter efeitos negativos em nós.
Vai influenciar de uma forma negativa o nosso crescimento e evolução como seres humanos.

Cada um sabe da sua história mas, da minha experiência e do que observei à minha volta quando era criança, a relação dos pais com os filhos deixa muito a desejar.
E mesmo aqueles colegas da escola que pareciam ter uns pais melhores que os meus, quando ia a casa deles, ficava sempre com a sensação de que os pais eram amorosos com os filhos apenas por carência, por dependência, com bastantes expectativas em relação aos filhos, condicionantes, regras rígidas que em nada contribuíam para o desenvolvimento natural dos filhos.
Na maior parte das vezes, as regras que impunham aos filhos não tinham resultado com eles próprios, que só serviam para reprimir os filhos, fomentar a competição e a comparação com as outras crianças.

Eu acho que as crianças precisam de ser tocadas, abraçadas, beijadas de uma forma espontânea.
Precisam de ser motivadas e estimuladas a desenvolver as suas capacidades e dons naturais, sem criar expectativas e sem planos para o futuro.
Apenas ajudá-las a desenvolverem os seus dons naturais.
E a bem da verdade, mesmo nas famílias supostamente equilibradas, nunca vi isso acontecer.

Se elas não se sentirem amadas, elas farão tudo para o conseguir!
E aqui reside o problema de base!
Falta de Amor!
E quando não se sentem amadas, vão deixar de ser elas próprias e, passam a desempenhar papéis, a serem aquilo que elas acham que os pais gostam, para ganharem a atenção, aprovação e amor dos pais.
E assim começam os condicionamentos, no que nos tornamos em adultos.
E assim aprendemos desde cedo, que a vida é uma luta diária, cheia de regras e sem lugar para as emoções.

Depois, mais tarde na adolescência, começamos a observar a sexualidade na família.
E começamos a ver que os nossos pais são muito frustrados sexualmente, que se fala com vergonha sobre sexo, com muitos preconceitos e medos, e que se reprime o sexo nos filhos de todas as formas, especialmente nas raparigas.
Passam a dizer-nos que sexo é pecado, que é sujo e vergonhoso, e que é só para quando casarmos.
Vocês gostavam de ter a vida sexual que os vossos pais tiveram?

Claro que falo da minha experiência, mas o que vi à minha volta ao longo da minha vida não é assim tão diferente...uns com mais amor do que outros, uns com vidas mais difíceis do que outros, mas o problema de base é sempre o mesmo.
Eu não quero ser como o meu pai e a minha mãe!
Respeito-os e agradeço-lhes por terem feito o melhor que sabiam e podiam.
Mas não foi o melhor para mim.
Não vou seguir os seus passos, o seu caminho, não me servem de exemplo.
Vejo as frustrações das suas vidas, o quanto sofreram e sofrem por isso, e isso dói em mim.
Até há bem pouco tempo, principalmente com a minha mãe, queria a todo o custo curar as feridas dela.
Depois, descobri que isso só ela o pode fazer!
Fizeram-me sentir culpada, como se eu fosse a responsável pelas suas angústias e infelicidades, pelo sofrimento que passaram, privações... tudo pelas filhas, inclusive tinham mantido o casamento de fachada pelas filhas, que continuavam juntos por nossa causa. Se os meus pais se separassem iria doer, mas doeu muito mais presenciar a infelicidade deles, o ambiente terrível que se viveu em casa, do que passar pelo divórcio.
Sempre pedi à minha mãe para deixar o meu pai.
Então, essa justificativa de os pais ficarem juntos pelos filhos é uma grande mentira.
As filhas cresceram, foram à sua vida, e tudo continua na mesma.

E tudo isto nos vai moldando.
Por isso, não nascemos com estes pais e com esta família por acaso.
Tudo e todos têm a sua função e com eles, uma lição a aprender.
Não me lembro nunca de ter um abraço, um beijo...olharem-me nos olhos.
Nunca estavam em casa...quando me deitava ainda não tinham chegado, e quando acordava já tinham saído.
Os meus pais dormiam em quartos separados.
E quando estavam juntos estavam sempre a discutir e a ofenderem-se verbalmente.
Desde os meus 7 anos que tive de aprender a viver sozinha, e aos 8 anos a ser mãe e pai de dois bebés, as minhas duas irmãs...

Quanta falta me fez, o companheirismo, as brincadeiras, o amor, os desafios...como me poderiam ter dado isso, se eles próprios não o tiveram?
A relação que a minha mãe tinha com a minha avó era fria e distante, sem afecto, sem toque, sem carinho.
O meu pai a mesma coisa com a minha avó paterna, mas ainda pior.

Com tudo isto...como nos poderemos desenvolver e evoluir?
A sensação que tenho é que estava viciada em sofrimento, andei a ganhar vícios, a acumular "lixo" na mente ao longo de 35 anos da minha vida, e nessa altura tive de fazer uma limpeza profunda ao sotão, senão o tecto desabava em cima de mim.
Já lá vão 6 anos desde que comecei essa limpeza profunda, e o "lixo" parece que não acaba nunca.




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