sexta-feira, 26 de maio de 2017

Narciso

“Retomaríamos aqui, ainda que de outra forma, o mito de Narciso.
A tragédia que o mito de Narciso descreve não diz respeito apenas à incapacidade de amar, ou ao amor voltado para si mesmo e que exclui o outro, mas também nos remete para a impossibilidade de alguns sujeitos terem uma vida própria, na medida em que submergem no desejo ou na dificuldade de quem cuidou deles nos momentos iniciais.
É que a mãe de Narciso, por temer que a beleza dele pudesse ofender os deuses ignora e interdita nele o que ele tem de mais particular: a sua beleza. Narciso, por sua vez, submetendo-se ao temor materno, fica cego em relação à sua própria beleza, desconhecendo o que há de mais singular em si próprio”.
Carlos Amaral Dias
in, O obscuro Fio do Desejo Fim de Século





O NARCISISMO ESTUPIDO

"Uma vez na vida (tomara que fosse só uma vez), confrontamo-nos com personagens que se atribuem a si próprio um valor que não têm, julgam-se melhores e mais capazes do que na realidade são.
E reiteradamente insistem em exibi-lo.
Quem são estas personalidades?
Que características possuem?

Trata-se do narcisismo “estúpido” como lhe chama Carlos Amaral Dias, em "Costurando as Linhas da Patologia Borderland (os estados-limite): o individuo acredita (ou quer acreditar), que não há distância, pequena que seja, entre o que é como pessoa e aquilo que gostaria de ser. Julga-se magnifico, para além das suas possibilidades, embora apresente sentimentos dramáticos de nulidade quando o outro ou a realidade não o aprovam.
Esta fusão que resulta na crença de uma autossuficiência idealizada, coloca o sujeito, segundo este autor ,“perante uma impossibilidade e uma confusão entre o eu ideal e o ideal do eu” e incapacita-o para as relações de intimidade – o outro nunca está à altura de participar no Olimpo onde o sujeito habita.
Não se precisa de mais ninguém e nem de tratar bem os outros - é sempre um narcisismo destrutivo."



“Nos casos de narcisismo destrutivo, o sujeito sente-se tão ameaçado pela existência no exterior de pessoas das quais depende, e sente tanta inveja delas, que, para manter a sua posição omnipotente de “senhor de tudo o que vê” , tem necessidade de levar a cabo uma eliminação imediata do objeto. Os aspetos patológicos do narcisismo – abordagem dos outros como meios em vista dos próprios fins, egocentrismo implacável, ausência de empatia – são todos eles, manifestações desta necessidade movida pela inveja de negar a importância do objeto”.
Jeremy Holmes



O psicanalista Alexandre Simões contextualiza o que vem a ser o narcisismo, sob a perspectiva da Psicanálise. No que tange ao narcisismo, aborda as relações do sujeito com a imagem, a identificação e o investimento. Enfatiza, ainda, a interação entre fascínio e servidão para, daí, indicar que o processo analítico caminha na contramão dos excessos do narcisismo:


                               






2 comentários:

  1. Partilha pertinente, em tempos de profunda insegurança generalizada que promove mais intensamente este mito

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  2. Gostei muito de ler este livro de Carlos Amaral Dias...Por vezes nem nos apercebemos que estamos a partilhar a nossa vida com Narcisistas...e aí é que reside o perigo...

    Grata pela visita, Maria Adelina!
    Bom Domingo!

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