sábado, 13 de maio de 2017

A Esperança é o mais Frágil dos Sentimentos




Vivemos em Moçambique anos terríveis de guerra e de desespero.
Quando me perguntam como sobrevivemos a esse tempo, as pessoas se apressam a falar da esperança.
E dizem: pois é, a esperança é a última a morrer.
É isso que se diz.
Contudo, não é verdade.

A esperança é o mais frágil dos sentimentos, um dos primeiros a desvanecer.
Ela morre, porém, no sentido que os africanos têm da morte.
Quer dizer, ela morre mas não fica morta. Continua vivendo entre nós, do nosso lado. E vai comandando, secreta e subtilmente, processos e destinos.
A esperança não é a última a morrer ainda que possa ser a primeira a matar-nos.
E estaremos mortos se aceitarmos conviver, com cinismo, num mundo em que fazemos de conta acreditar.


Mia Couto
in, Pensatempos




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