domingo, 7 de maio de 2017

A Função do Amor é Fabricar Desconhecimento





a função do amor é fabricar desconhecimento 

(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar) 
embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno 
a verdade se confunda com o facto, os peixes se gabem de pescar 

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se 
                  importar 
se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam 
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela 
—o medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar) 

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem 
ao que esteja para ser descoberto) 
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder 
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver 

(que riem e choram)que sonham, criam e matam 
enquanto o todo se move; e cada parte permanece quieta: 

pode não ser sempre assim; e eu digo 
que se os teus lábios, que amei, tocarem 
os de outro, e os teus ternos fortes dedos aprisionarem 
o seu coração, como o meu não há muito tempo; 
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar 
naquele silêncio que conheço, ou naquelas 
grandiosas contorcidas palavras que, dizendo demasiado, 
permanecem desamparadamente diante do espírito ausente; 

se assim for, eu digo se assim for— 
tu do meu coração, manda-me um recado; 
para que possa ir até ele, e tomar as suas mãos, 
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim. 
E então voltarei o rosto, e ouvirei um pássaro 
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas. 


E. E. Cummings
in "Livro de Poemas" 






Sem comentários:

Enviar um comentário