quarta-feira, 29 de junho de 2016

O EGO COLECTIVO




Até que ponto é difícil viver consigo mesmo? 
Uma das maneiras pelas quais o ego tenta escapar da insatisfação que tem em relação a si próprio é ampliando e fortalecendo a sua percepção do eu. Ele faz isso identificando-se com um grupo, que pode ser um país, um partido político, uma empresa, uma instituição, uma seita, um clube, uma turma, uma equipa de futebol, etc.

Em alguns casos, o ego pessoal parece se dissolver completamente quando alguém dedica a vida a trabalhar com abnegação pelo bem maior de uma colectividade sem exigir recompensa, reconhecimento nem enaltecimento. Que alívio ser libertado da carga incómoda do eu pessoal. Os membros do grupo sentem-se felizes e satisfeitos, não importa quanto precisem trabalhar, quantos sacrifícios tenham que fazer. Eles parecem ter superado o ego.

A questão é:
Será que se libertaram de verdade,
ou o ego apenas se mudou do plano pessoal para o colectivo?

Um ego colectivo manifesta as mesmas características do ego pessoal, como a necessidade de confrontos e inimigos, de ter ou fazer mais, de estar certo e mostrar que os outros estão errados, etc.
Cedo ou tarde, essa colectividade entrará em conflito com outras colectividades porque busca inconscientemente o desentendimento e precisa de oposição para definir seus limites e, assim, a própria identidade. Depois, seus integrantes experimentam o sofrimento, que é uma consequência inevitável de toda a acção motivada pelo ego. Nessa altura, eles podem despertar e compreender que o seu grupo tem um forte componente de insanidade.

Pode ser doloroso acordar de repente e perceber que a colectividade com a qual nos identificamos e para a qual trabalhamos é, na verdade, insana. Nesse momento, há pessoas que se tornam cínicas ou amargas e, daí por diante, passam a negar todos os valores, tudo o que vale a pena. Isso significa que elas adoptam rapidamente outro sistema de crenças quando o anterior é reconhecido como ilusório e, portanto, entra em colapso. Elas não encaram a morte do seu ego; em vez disso, fogem e reencarnam em outro.

Um ego colectivo costuma ser mais inconsciente do que os indivíduos que o constituem.
Por exemplo, as multidões (que são entidades egóicas colectivas temporárias) são capazes de cometer atrocidades que a pessoa sozinha não seria capaz de praticar. Uma vez por outra, os países adoptam um comportamento que seria imediatamente reconhecido como psicopático numa pessoa.

À medida que a nova consciência for surgindo, algumas pessoas se sentirão motivadas a formar grupos que a reflictam. E eles não serão egos colectivos. Seus membros não terão necessidade de estabelecer sua identidade por meio deles, pois já não estarão a procurar nenhuma forma para definir quem são.

Ainda que essas pessoas não estejam totalmente livres do ego, elas terão consciência bastante para reconhecê-lo em si mesmas ou nos outros  logo que ele se manifeste. No entanto, será preciso estar sempre alerta, uma vez que o ego tentará assumir o controle e se reafirmar de qualquer maneira. Dissolver o ego humano trazendo-o à luz da consciência – esse será um dos principais propósitos desses grupos formados por pessoas esclarecidas, sejam eles empresas, instituições de caridade, escolas ou comunidades. Essas colectividades vão cumprir uma função importante no surgimento da nova consciência. Enquanto os grupos egóicos pressionam no sentido da inconsciência e do sofrimento, os grupos esclarecidos podem ser um vórtice para a consciência que irá acelerar a mudança planetária.


Eckhart Tolle
in, O Despertar de uma Nova Consciência
Cap. Ego Colectivo




“Medo, cobiça e desejo de poder são as forças motivadoras psicológicas que estão por trás não só dos conflitos armados e da violência envolvendo países, tribos, religiões e ideologias, mas também do desentendimento incessante nos relacionamentos pessoais. Elas produzem uma distorção na percepção que temos dos outros e de nós mesmos. Por meio delas, interpretamos erroneamente todas as situações, o que nos leva a adoptar uma acção equivocada para nos livrarmos do medo e satisfazermos a nossa necessidade interior de alcançar mais, um poço sem fundo que nunca pode ser preenchido”.

— Eckhart Tolle
in, “O Despertar de Uma Nova Consciência” 

(pág. 15)

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