segunda-feira, 6 de junho de 2016

Canção de mim Mesmo 52




O gavião pintado mergulha e me acusa, ele reclama de minha tagarelice e de minha vadiagem.

Eu também não sou muito domado, eu também sou intraduzível,
Lanço no ar o meu urro bárbaro sobre os telhados do mundo.

A última sombra do dia espera por mim,
Ela arremessa minha imagem atrás das outras e,
tão verdadeira quanto qualquer coisa no agreste sombrio,
Me arrasta para o vapor e para o crepúsculo.

Eu parto como o ar, agito minhas mechas brancas sob o sol fugitivo,
Derramo minha carne em remoinhos e deixo-a à deriva em saliências rendilhadas.

Lego-me ao pó para crescer da relva que amo,
Se queres me ver novamente, procura-me grudado à sola de tuas botas.

Dificilmente saberás quem sou ou o que significo,
Mas hei de ser para ti boa saúde assim mesmo,
E filtrarei e darei fibra ao teu sangue.

Se não puderes me encontrar na primeira vez, mantém a esperança,
Não me achando em certo lugar, procura em outro,
Fico em alguma parte à tua espera.


in, Song of Myself
Walt Whitman


E assim termina o livro...

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