Ketut Liyer, Bali, Indonésia
"São três da tarde e estou sentada ao lado de um velhinho de olhos alegres, pele dourada e a boca quase sem dentes."
É assim que a escritora Elizabeth Gilbert descreve Ketut Liyer, curandeiro indonésio de nona geração.
"Esta é a minha primeira visita a Ketut, e ele lê a minha mão.
“Você viverá muito tempo [...] Perderá todo o seu dinheiro [...] Não se preocupe, vai recuperar tudo e retornará a Bali, e então vou lhe ensinar tudo o que sei.”
Elizabeth Gilbert está certa ao dizer que Ketut se parece com Yoda, personagem da série Guerra nas estrelas.
Raramente o xamã encarquilhado sai do seu lar humilde em Ubud, na Ilha de Bali.
Mas é provável que o seu nome seja mais famoso agora, com o sucesso mundial da versão cinematográfica do livro de memórias de Elizabeth Gilbert, o best-seller "Comer, rezar, amar", protagonizado por Julia Roberts.
De acordo com a autora, Ketut é responsável pela previsão que mudou a sua vida. Foi a profecia dele que a levou a formular o conceito de Comer, rezar, amar – um ano de vida passado na Itália, na Índia e em Bali – e obter o adiantamento que permitiu tudo isso.
E a descrição encantadora de Ketut fez multidões de forasteiros baterem à porta dele.
A vida antiga de obscuridade, a receitar remédios caseiros e rituais para os vizinhos, virou lembrança.
A "Ilha dos Deuses"
Dá o nome que quiseres: destino, providência, kismet ou apenas a velha, simples e burra sorte, mas, assim que peguei no livro para ler, senti que era um dos livros da minha vida.
Curioso, mergulhei nas páginas do livro e decidi fazer uma visita ao adivinho.
Será que ele estaria à altura das expectativas sobrenaturais criadas por Elizabeth Gilbert?
Eu espero que sim.
Se ele realmente contribuíra com as aspirações dela de escritora, talvez consiga dar vida às minhas.
O curandeiro
Pedi ajuda a alguns viajantes para encontrar o endereço de Ketut, e, num piscar de olhos, estou a sonhar com a minha viagem a caminho de Ubud.
Aquela sensação predominante de felicidade mostra-se contagiosa.
Embora fale um inglês muito básico, as palavras simples de Ketut são de entendimento universal e especialmente positivas.
É difícil descobrir detalhes exactos da sua vida.
Parece que eles mudam um pouco depois de várias visitas.
Sob a influência das reflexões de Elizabeth Gilbert, muita gente lhe pergunta a idade, mas o número continua a ser um mistério. Parece que, sinceramente, ele não se lembra do ano em que nasceu.
Isso é muito comum entre os balineses, que acham que, na data do nascimento, o mais importante é o dia da semana.
Ketut começou a trabalhar como artista plástico e entalhador.
Mais tarde, o avô passou-lhe os conhecimentos e também o ofício de curandeiro, confiando-lhe pergaminhos sagrados com séculos de existência.
Esses textos balineses antigos contêm muitas doutrinas diversas, com rituais sagrados e o tratamento de doenças comuns.
A fama de ter influenciado a hoje famosa Elizabeth Gilbert é que lhe dá o seu encanto.
Muita gente quer reencenar a viagem da autora em "Comer, rezar, amar", do mesmo modo que os backpackers continuam a procurar na Tailândia "A praia", da adaptação do livro para o cinema, com Leonardo DiCaprio.
Ketut não é guru ou iogue, no sentido tradicional indiano.
Não tenta penetrar nas profundezas da alma com olhos candentes para colaborar com a viagem rumo ao esclarecimento, nem parece aceitar alunos, como fez com Elizabeth Gilbert no livro.
No entanto, cada visita é uma oportunidade de se banhar na aura de felicidade descomplicada que ele transmite.
“Agora você vai encontrar alguém para o resto da vida, que ficará muito feliz de estar com você, e não vai se divorciar de novo.”
O sucesso não traz necessariamente felicidade, mas a felicidade em si cria o sucesso.
Acho que esse ditado é verdadeiro no caso de Ketut.
Acho que a maior parte das minhas expectativas originais, vindas das páginas de "Comer, rezar, amar", vão fugir um pouco à realidade.
A alegria e o contentamento profundos de Ketut empolgam os visitantes e são como um estímulo para que busquemos concretizar as nossas aspirações, como fez a Elizabeth Gilbert.
A real magia de Ketut tem base numa propriedade muito mais subtil e aparentemente humana:
A sabedoria da felicidade.
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