domingo, 27 de julho de 2014

Do Simbólico ao Real...


" O verdadeiro pecado original, / ingénito / nos homens é nascer de uma mulher. 
O único vício humano é amar a própria mãe.
Felizes os que nunca a conheceram. 
Grande o que a mate. 
Impossível, de enorme, o que a esfolasse. " 

- Fernando Pessoa


Já é mais do que conhecida a misoginia de Fernando Pessoa...
Mas, o que sempre me interessou saber foi o porquê...e com o tempo, percebi que está relacionado com a relação que teve com a sua Mãe...
A relação com as Mães na infância, seja menino ou menina, é crucial na vida de um Ser Humano.

Tive de ler várias vezes...
A primeira vez que li, vem essa misoginia à flor da pele...até custou a ler.
Mas, ao ler pela segunda vez, e sabendo da sua relação com a Mãe, já se sente de outra forma.

É necessário maturidade e estar no processo de crescimento interno para matar a mãe, como refere Pessoa.
Algo semelhante também se encontra no livro de Clarissa Pinkola Estés - "Mulheres que correm com lobos". É preciso cortar em nós esse nó de ligação que nos faz amar e ser dependentes, ... é um laço precioso na infância, mas limitador no conhecimento que é necessário termos de e em nós.
É preciso cortar e libertar, para podermos conhecer quem somos na nossa plenitude ...

Porém...o sentimento do texto pode em determinada altura ser revertido, revelando um certo despudor pela mulher, como se fosse uma baixeza nascer duma mulher, ... no fundo uma lacuna pervertida, como se esse nascimento fosse um desdobrar da mulher na sua condição masculina, mas em forma submissa e inferior pela sua incapacidade de não criar enquanto homem.


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