“Foi o salazarismo que nos ensinou a irresponsabilidade - reduzindo-nos a crianças grandes, adultos infantilizados”.
Aqui salazarismo funciona como o pai todo-poderoso, impedindo a criança de crescer, o que, apesar de não ser falso, nos encerra no círculo fechado de um conflito de ordem filial.
Porque afinal morto e enterrado o regime salazarista, por que razão não nos libertamos dele?”
Esther Muczik
"O que nos infantilizou não foi só o salazarismo, mas principalmente o catolicismo, a religião católica que dominou sempre este país atrasado e servil e que gera o medo de existir associado ao medo do pecado e da mulher.
O medo de existir reflecte-se no medo do prazer, do Ser e do viver plenamente...este é o nosso Fado...Falta-nos a ligação à Terra, à Mulher e à sensualidade da vida, o prazer dos sentidos...
A castração dos sentidos, da sensualidade, mais do que da sexualidade, prende-se com a falta de ligação ao feminino...
Falava há uns dias com um amigo francês, que vive em Portugal há muitos anos, e que inclusive foi casado com uma portuguesa, que me dizia que faltava sensualidade em Portugal…
E daí começamos uma conversa interessante em que, de facto, acabei por concordar plenamente com ele.
Ele não disse que faltava sensualidade às portuguesas, porque queria dizer precisamente que faltava sensualidade aos portugueses em geral, homens e mulheres.
Dizia que os portugueses são normalmente complexados e inibidos ou grosseiros e agressivos.
Mesmo quando são mais sensíveis, não sabem fazer o jogo da sedução ou cativar uma mulher…
Têm medo que elas pensem que eles não sejam suficientemente machos, ou que sejam impotentes, ou que não gostem de mulheres...
Então, sentem-se na obrigação de ser directos e avançar com todas as armas em riste, sem mais preâmbulos…
Os portugueses têm medo de achar outro homem bonito, se não forem gays e assumidos.
E as mulheres, se uma mulher for calorosa ou sedutora com ela, se manifestar uma sensualidade emocional é logo considerada lésbica…e sentem-se atacadas como o são habitualmente pelos homens…
Na verdade, penso que os portugueses em geral confundem tudo com sexualidade, sem ver que a sensualidade dos afectos ou dos gestos nem sempre significam sexualidade.
Com isso perdem um certo prazer de viver, e a motivação ou a criatividade que deixa de existir.
Li há dias algures uma crónica, em que se dizia que os escritores e realizadores portugueses são tão maus nas descrições das cenas eróticas ou amorosas, que passam directamente do patético ao grotesco, do mecânico ao animalesco…pelo menos, foi assim que o entendi, e de facto nunca li em nenhum escritor português uma cena amorosa que fosse elevada e realmente sensual… (Abro uma excepção para ADORAÇÃO, de Leonardo Coimbra…muito mal visto pelos académicos do seu tempo)
Com efeito, de um modo geral, entre nós não há grande sensualidade, digamos uma sensibilidade erótica, espiritualizada, vivida no sentido amoroso mais lato, que seja transversal aos sexos e às idades…
Uma sensualidade que esteja na origem de uma atracção natural, não só entre mulheres e homens, mas que se baseie na inteligência e na emoção pura, na cumplicidade, no encanto, no charme e na expressão natural do amor entre as pessoas, independentemente do género e de haver ou não desejo sexual.
As pessoas em Portugal, penso, passaram por cima de tudo o que implicaria uma tradição cultural de sedução, porque lhes faltou uma educação sensual baseada no respeito pelo próximo, nomeadamente da mulher, e do conhecimento de si mesmo, para se fixarem numa abordagem genital, exterior a si, numa agressividade verbal que fica a um passo da violência sexual.
Porque a liberdade brusca, essa falsa liberdade que se criou depois do 25 de Abril, a seguir aos longos anos de opressão social e religiosa, com muitos preconceitos de cariz sexual e preconceitos religiosos, aconteceu abruptamente e superficialmente, sem haver a transição para uma verdadeira liberdade baseada numa educação do SER, e portanto sem fundamento ético nem uma sensibilidade estética das pessoas.
Passou-se de uma sexualidade reprimida e oculta, a uma sexualidade básica, objectiva e muitas vezes abjecta, e os machos já não perdem tempo “com cantigas”…vão directamente ao “assunto”.
Claro que tudo isso é ainda mantido e fomentado pelos Médias, que se encarregaram de promover a “cultura” da alienação do ser com o propósito de impedir os verdadeiros valores humanos, assim como da conquista e expressão do pensamento próprio e da consciência individual.
Assim se manteve a repressão da mulher, e os conceitos marialvas dos machistas retrógrados que continuaram camuflados nessa falsa liberdade depois da “Revolução” de Abril, e hoje o que temos é, ou uma grande promiscuidade, ou um grande vazio de erotismo (que se confundiu totalmente com a violência e a pornografia dos filmes), e toda essa falta de respeito e de ética que existe em todo lado, inclusive nas universidades, onde se manifesta a mesma violência contra as raparigas, violência e agressão que nas escolas se manifesta já entre os mais novos, que começam a viver essa sexualidade da forma mais elementar e genital, às vezes quase brutal e que se quer tecnicamente assegurar o seu conhecimento nas escolas, quando o que falta e sempre faltou em Portugal foi a “cultura” da sensualidade, que vem da verdadeira sensibilidade, que nasce da educação e da cultura e princípios de um povo que nunca os teve…
Portugal profundo foi mantido, ainda na Republica, no seu primarismo ou feudalismo, na sua ignorância e no seu servilismo aos padres, aos nobres e aos ricos, e assim formaram filhos doutores sem sair desse ciclo vicioso de inveja e ódio ou falsa superioridade…
São esses “filhos do povo” que hoje nos Governam, que se vingam dos nobres, que humilharam os pais, como Salazar o fez…nada mudou desde Salazar, e para os que se chocarem com isto pergunto: Mas será que alguma coisa mudou de fundo, nesse provincianismo e servilismo que os portugueses têm para com os ricos e poderosos, para com os senhores e os estrangeiros?
Não.
Um exemplo disso, é uma das características mais visíveis da cultura portuguesa - e certamente da cultura de gestão portuguesa - é a propensão para o uso de títulos académicos.
O uso de títulos (Dr., Eng.º.) é certamente mais praticado em algumas organizações do que noutras, mas, na comparação com outros países da União Europeia (UE), os portugueses são pródigos no uso de títulos.
É aliás frequente, nas situações em que se conhece menos bem o interlocutor, colocar um cauteloso Dr. antes do nome.
Na dúvida, antes a mais que a menos.
A distância hierárquica reflecte o grau de deferência que os indivíduos projectam sobre os seus superiores hierárquicos, assim como a necessidade de manter e respeitar um certo afastamento (social) entre um líder e os seus subordinados.
Superiores e subordinados consideram-se desiguais por natureza.
A distância emocional entre chefias e subordinados é elevada.
Detecta-se uma grande reverência pelas figuras de autoridade, e atribui-se grande importância aos títulos e ao status.
Já noutros países, mais desenvolvidos até que Portugal, a dependência dos subordinados relativamente aos chefes é limitada. Os primeiros não sentem desconforto considerável por contradizer os segundos.
Uns e outros consideram-se iguais por natureza.
Este povo, que não teve durante meio século, nem tem ainda hoje, educação de nenhuma espécie, não teve nem tem cultura de fundo, reflecte essa falta de ética na sua classe política – a classe que faz as leis – e que não passa de uns tantos engenheiros de obras feitas e doutores mal paridos, tal e qual como os seus advogados e juízes que fazem tudo por Ego, dinheiro e poder só para manter o tacho a todo o custo, os carrões e motoristas, e é tudo o que se encontra de “evoluído” no País…"
Rosa Leonor Pedro
in, Mulheres e Deusas
Estava "Desconhecido" porque no sítio de onde o tirei , não estava identificado o autor do texto. Soube agora através de si que o texto é seu. Vou identificá-lo como seu de imediato. Grata por me alertar.
ResponderEliminar