sexta-feira, 11 de julho de 2014

COMER REZAR AMAR (2010). Um Mergulho no Universo Feminino



Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love).
2010.
EUA.
Direção: Ryan Murphy.
Género: Drama, Romance.
Duração: 133 minutos.

Baseado no livro homónimo e autobiográfico de Elizabeth Gilbert.


“Sabes quando reformas a cozinha, compras um livro de receitas, e dizes que irás aprender a cozinhar? 
Pois bem! Isso é o mesmo que ir meditar na Índia. 
Só que numa cultura diferente.” 

Deixo um convite a Todos, não importando o sexo, e quase para todas as faixas etárias – para os adolescentes também.
Vejam  este filme – “Comer, Rezar, Amar“.
Eu gostei muito mais do Livro!
Mas é muito interessante visualizar o que li.

Para que conheçam, entendam, sintam o que é ser mulher. 
Porque nele não é mostrado apenas a cabeça da personagem principal, mas de muitas.
Desde a cabeça de uma menina aos quatro anos de idade, até de mais idosas.

Aos homens, fica um convite especial. 
Verão qual é o limite que leva uma mulher a dar um basta numa relação. 
Mesmo ainda sentindo amor por ele.
Um dia um ex-namorado meu disse-me que não entendia como é que eu me tinha divorciado do meu ex-marido, ainda a sentir amor por ele...e eu na altura, não lhe consegui explicar de forma a que ele entendesse...

Assim, após assistirem, o convite é para uma troca de impressões.
O porquê disso?
É que a partir daqui, o texto terá spoiler.
Hesitei um pouco se traria ou não, mas senti uma vontade intensa em destacar vários trechos deste filme. O que ficaria complicado sem contar os detalhes.

Li o livro, e fiquei com vontade de ter o dvd.
Até porque nele há várias falas que eu gostei.
Clichês ou não, elas traduzem uma cabeça comum: livre de um certo pedantismo advindos de muitos estudos.
Mas também sempre gostei de colecionar Citações, que para mim segue junto na composição de um texto.
 Em “Comer, Rezar, Amar“, essas frases, a maioria delas, são como peças de um quebra-cabeça para se chegar à mente feminina.
São várias reflexões que, na montagem final, temos o universo singular e particular de cada uma delas. E porque não, de cada uma de nós.

A fala com que iniciei, a escolhi-a, primeiro por mostrar um dos propósitos da protagonista, depois pela sapiência contida nela.
Pela Liz (Julia Roberts), surgiu nela uma busca espiritual. 
Pela frase como um todo, em mostrar que essa busca não depende muito do lugar, mas sim da ferramenta usada. Mais até, em desligar a mente da questão maior fazendo outra coisa até fora da rotina diária.

O que me lembrou de uma frase que ouvi num filme (Layer Cake): 
“Meditar é concentrar parte da mente numa tarefa mundana para que o restante encontre a paz.“ Também por mostrar que cada pessoa agirá de um jeito próprio, quando se dispõe a se conhecer por inteiro. Alguns levarão anos, outros, o farão num tempo menor. Outros nem terão esse desejo, e nem por isso serão infelizes."

O que a história mostrará, é um encontro com a religiosidade.

“Ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara. 
Você precisa realmente ter certeza de que é isso que você quer antes de se comprometer.”

A Liz encontra-se às vésperas de completar trinta anos de idade( no meu caso, divorciei-me ao 29 anos).
Que seria uma data marcada para uma mudança radical em sua vida.
Algo decidido num passado recente, por ela e o então marido, Stephen (Billy Crudup).
Talvez uma promessa feita no calor da paixão.
Haviam decidido que ela sossegaria, teriam filhos, que se dedicaria mais ao lar.
Tudo já planeado.
Num processo depressivo, em vez de remédios, decide rezar.
Pedir a Deus que lhe mostre um caminho.
E é quando se houve: se sua mente estava conturbada, seu corpo, cansado fisicamente, clamava por uma boa noite de sono.

Acontece que Liz não se via como mãe.
Não ainda.
Diferente de sua grande amiga Delia (Viola Davis).
É Delia quem tenta convencê-la a não partir, a não abandonar a casa que ela, Liz, participou activamente da reforma à decoração, e principalmente a não se separar de Stephen.
Delia sempre quis ser mãe, dai não entendia muito o facto da amiga não querer.
Até aqui, chapa 4 com a minha vida...

São escolhas que em nenhum momento denigre uma mulher.
Aliás, um dos pontos positivos que esse filme trouxe, é o facto da mulher se libertar daquilo já imposto pela sociedade.
Uma liberdade que ainda pesa quando parte da mulher.
Um largar tudo e pôr o pé na estrada ainda é um território masculino.
Assim, quando uma jornada dessas é feita por uma mulher: recebe a minha bênção.

“As pessoas acham que a alma gémea é o encaixe perfeito, e é isso que toda a gente quer. 
Mas a verdadeira alma gémea é um espelho: a pessoa que mostra tudo o que te está a prender, a pessoa que chama a tua atenção para ti mesmo, para que tu possas mudar a tua vida. 
Uma verdadeira alma gémea é provavelmente a pessoa mais importante que tu vais conhecer, porque elas derrubam as tuas paredes e te acordam com uma bofetada na cara. 
Mas viver com uma alma gémea para sempre? Não! Dói demais. 
As almas gémeas só entram na tua vida para te revelar uma outra camada de ti mesma, e depois vão embora. “

Liz não entendia ainda o porquê do desconforto sentido no seu relacionamento com Stephen.
O amava, mas seu interior estava sufocado.
Ao se separar, apesar do litígio, sentia-se culpada pelo rompimento.
Só se libertaria desse peso, na sua passagem pela Índia.
Uma cena emocionante, que me levou às lágrimas.
Quando a vida nos ensina que, não podemos nem esperar muito por alguém, nem que esse alguém, também espere muito por nós, vem como uma libertação.
Para alguém com o pé no mundo, cada dia era de facto um novo dia.

Liz após esse rompimento, conhece David (James Franco). Um jovem actor.
Com esse romance, era mais uma tentativa de se encaixar nas tradições.
Mas por ser alguém muito Zen, David leva Liz a conhecer um lado religioso.
Por ele, indirectamente,  vem-lhe a vontade de ir à Índia.
Conhecer de perto o Templo, e a comunidade da Guru. Mas isso só se concretizou, quando viu que com David também levaria um casamento tradicional.
O acordar veio com uma observação de um amigo.
Com David, o rompimento em definitivo, acontece num email.

“Aprenda a lidar com a solidão. 
Aprenda a conhecer a solidão. 
Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. 
Bem-vinda à experiência humana. 
Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa,
como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“

Liz dá-se conta de que passou grande parte da vida sem um tempo só para si.
Quando saía de um relacionamento, entrava noutro.
Então resolve fazer a sua jornada.
Como era alguém que queria sempre ter controle da sua vida, mesmo querendo fugir de tudo planeado, traçou uma rota.
Ficaria um ano longe de família, amigos, carreira, NY… 
Passaria quatro meses em cada um desses países: Itália, Índia, Indonésia. 
Ela vê uma curiosidade na escolha dos três: começam com “I”, que em sua língua, é “Eu”.
Faria um encontro com ela mesma; com o seu self.
Algo que eu adorei nesta sua peregrinação foi o facto de não fazer um caminho solitário.
 Mesmo indo sozinha, não se isolou do mundo, das pessoas.

Seu período na Itália veio como puro prazer. 
Quase como o alimentar o corpo. 
Transgredindo o pecado da gula. 
Primeiro, ou melhor, a escolha por esse país partiu porque sempre quis aprender a língua italiana.
Mas quando chegou lá, descobriu também o prazer em comer. Ela tinha fome!
De comer sem culpa. Comer sem se preocupar em engordar. De comer até se fartar.
Afina o seu paladar entre sabores, aromas e saberes.

A cena da Julia Roberts a saborear um esparguete – e como eu gosto: com muito molho de tomate -, ficará na minha memória. 
Sabes aquele prato que te leva a esquecer do mundo?
Que te vem à mente – Não quero que nem Deus me ajude!?
A cena em si, leva-nos a pensar nisto.
E regada ao som de: Der Hölle Rache Kocht In Meinem Herzen.

                                                   


Mas esse período não ficou só em comilanças, e a conhecer a cultura e a forma de levar a vida dos italianos. Liz faz uma descoberta de si mesma.
A de que há partes da sua personalidade que ficarão para sempre.
Que se adaptarão a cada nova realidade que a vida lhe trouxer.

O que me levou a pensar nessa frase da Clarice Lispector:

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. 
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

Liz aprenderá a canalizar estas forças dentro de si, nos períodos passados nos outros dois países.

Ainda na Itália, vem-lhe o desejo de encontrar a sua palavra: aquela que a definirá.
Que será o seu norte.
E a palavra aparece na Itália, mas só terá consciência dela em Bali.
Voltarei a ela mais para o final.

“Galopamos pela vida como artistas de circo, equilibrados em dois cavalos que correm lado a lado a toda velocidade – com um pé sobre o cavalo chamado ‘destino’, 
e o outro sobre o cavalo chamado ‘livre arbítrio’. 
E a pergunta que você precisa fazer todos os dias é: qual dos cavalos é qual? 
Com qual cavalo devo parar de me preocupar, porque ele não esta sob meu controle, 
e qual deles preciso guiar com esforço concentrado.”

Na Índia, antes de chegar ao Templo da Guru, fica assustada com o trânsito local.
Numa de se perguntar como do caos chegam ao equilíbrio zen.
Já no Templo, constata que tal como o de NY, não há a presença física da Guru, mas sim um retrato. Depois entenderá que a busca é para dentro de si.

Esta sua passagem pela Índia, leva-nos do riso às lágrimas.
A diferença cultural, mais que deixá-la em choque, a levará a se pôr em xeque. 
Ela quis aprender a se devotar a algo maior. A encontrar a espiritualidade em si.

Duas forças amigas serão o peso em sua balança.
De um lado, uma jovem indiana, Tulsi (Rushita Singh) que sonha seguir carreira como Psicóloga.
Que gostaria de se revoltar com o seu destino: um casamento arranjado.
Tradição familiar e cultural.
 Liz vai à cerimónia de casamento, e dá um belo presente à jovem. Algo não material.
E que também fez com que Liz descobrisse mais de si.
Que fazemos parte de uma engrenagem, não somos, não devemos  ver-nos como uma peça isolada o tempo todo. Há vários momentos em que estaremos em contacto com alguém. Então, é saber a arte de uma boa convivência. Mais! Que há vivências que não teremos como escapar. Assim, o melhor a ser feito é tirar bom proveito da situação.

Do outro lado, estava Richard (Richard Jenkins), o seu James Taylor.
Richard ficava levando-a a conhecer os seus limites, para então ultrapassá-los.
Além do ex-marido, do jovem actor, ele foi mais um personagem masculino a mostrar que não basta só um querer manter a relação a dois.
No caso dele, o desrespeito chegou aos extremos: bebidas, drogas, relações extra-conjugais…
Ao contar a sua história, dá-lhe um aperto no coração. Principalmente quando pessoas como ele, fazem parte do nosso ciclo, ou familia, ou de amizade.
Certa vez, eu perguntei a uma pessoa se fora preciso mesmo abraçar uma religião, para então dar valor à linda família que tinha, e ele disse que sim.

Liz, Richard e Tulsi foram parar ali por motivos diferentes, mas igual no que buscavam: 
depurar o passado, se adequarem ao presente, para então seguirem mais confiantes para o futuro. Inconscientemente, um ajudou o outro nessa busca.
Dos três, o fardo maior trazido do passado, era o de Richard.
Perdera um tempo enorme de não ver o filho crescer, por não o ter colocado antes na sua vida. Voltando ao tema do início.
De que maternidade e paternidade tem que querer de facto.
Até pela responsabilidade que terá com a criança.
E quando Liz consegue perdoar-se a si própria… minhas lágrimas desceram. Leve. Por me levarem a pensar num momento meu.
“Eu quero vê-la dançar novamente“…

Nesta fase na Índia, Liz diz:
"...a verdade da aventura aqui na Índia, está numa frase:
Deus mora dentro de ti! Sendo TU!
Ele não quer ver uma performance de como alguém espiritualizado se veste e se comporta.
A miúda quieta que passeia com um sorriso estéreo e gentil.
Quem é essa pessoa?
É Ingrid Bergman, em "Os Sinos de Santa Maria".
Essa não sou Eu.
Deus reside dentro de mim!
Essa sou EU!"   

Livre, era chegada a hora de seguir em frente.
Próximo destino: Bali.


         


“Imagine que o universo é uma imensa máquina giratória. 
Você quer ficar perto do centro da máquina – bem no eixo da roda -, 
e não nas extremidades, onde os giros são mais violentos, 
onde você pode se assustar e enlouquecer. 
O eixo da calma fica no seu coração. 
É aí que Deus reside dentro de você. 
Então, pare de procurar respostas no mundo. 
Simplesmente retorne sempre ao centro, e sempre vai encontrar a paz.”

Da vez anterior, que estivera a trabalho em Bali, Liz conhecera um Xamã: Ketut. Uma figuraça!
Então, o procura.
Gostei muito mais de Ketut – até pelo seu jeito irreverente de ser -, do que da Guru da Índia.
Ketut, mesmo com todo o peso de ser um Xamã, é alguém mais objectivo.
Ligado com o que há por vir.
Por conta disso, propõe uma troca a Liz: ela transcreveria seus manuscritos – que com a acção do tempo estavam se esfarelando – e ele a ajudaria nesse seu vôo em sua alma.
Ah! A companheira de Ketut mostra-se uma mulher de grande sapiência.

Se na Índia, Liz se livrou de bagagens inúteis para seguir em frente, na sua passagem por Bali iria aprender de facto a adequar a sua personalidade com tudo o resto à sua volta.
A ter um equilíbrio, até quando a vida lhe tirasse dele.

Em Bali, Liz conhece uma Doutora da Floresta: alguém que cura pelas plantas.
Ela é Wayan (Christine Hakim). Tem uma filha, Tutti (Anakia Lapae).
Uma menina que aos 4 anos de idade, dá um sábio conselho à mãe.
Que mesmo sendo penoso, até por conta da cultura local, Wayan aceita. As três ficam amigas.
E por elas, Liz entende que há mais religiosidade num acto, do que passar horas num templo.
Seu acto, faz um resgate a uma vida condigna a essas duas amigas.
Mãe e filha não precisariam mais de ficarem peregrinando.
Ganham de Liz, e de seus amigos, um porto seguro. O mundo carece de atitudes como esta.

Ao longo desta sua peregrinação, Liz convive com várias mulheres. De culturas diferentes.
Algumas, como ela, nadando contra a corrente, ou pelo menos, tentando.
Mas mesmo as que seguem como reza a tradição, não estão infelizes.
Esse é um dos pontos altos desse filme.
É uma verdadeira ode à Alma Feminina.

Quando tudo parecia seguir por um caminho certo, Liz vê-se literalmente atirada para fora da estrada. Desestabilizando o seu equilíbrio novamente. 
Seria o destino testando-a?
O autor dessa proeza seria o homem que Ketut viu nas linhas de sua mão?
Aquele com quem teria um longo relacionamento?
O que sustentaria essa ligação por anos?
É quando entra em cena o personagem de Javier Bardem: Felipe.
Alguém que trazia também um peso do passado.
Devo dizer que não gostei nada deste personagem no filme.

Sua personagem é um brasileiro que adoptou Bali como Lar.
Tal como Liz, é alguém que ama viajar.
O prazer nisso, até por força da profissão.
No momento da história, ele é um Guia Turístico em Bali.
Leva Liz a conhecer aromas e sabores da cultura local.

Como citei anteriormente, “Comer, Rezar, Amar” traz várias falas reflexivas, e uma delas vem com a palavra que Liz então escolhe para si. Que para mim, é a que melhor traduziria como deveria ser uma relação a dois: attraversiarmo. 
É, ela a escolheu na língua italiana.
Ela faz a ponte para a união de dois seres distintos.
Donos de suas particularidades, um não anulará isso no outro.
Saberão encontrar o ponto em comum, e respeitando as diferenças.
Mas principalmente, respeitando o parceiro, a união, o porto seguro que farão com essa relação.

E é Ketut que a leva a descobrir que estava a pôr tudo a perder, ao voltar aos velhos hábitos.
Deveria entregar-se de corpo e alma a esse universo que chegara à sua porta.
Isso, se colocava fé nessa relação.
Até porque, os relacionamentos certinhos demais, de outrora, nunca a deixaram satisfeita.
Também, algo como o jovem Ian (David Lyons) propunha não era o que ela queria.
Então, por que não viver o que Felipe lhe propôs?
Uma ponte entre NY e Bali…
Na sua despedida ao Ketut, as minhas lágrimas desceram outra vez…

Ketut diz-lhe:
" Liz, Equilíbrio é não deixar que os outros te amem menos, do que o que te amas a ti própria.
Às vezes, perder o equilíbrio por amor, faz parte de viver a vida em equilíbrio"


A história, ou as histórias, a Fotografia, a Banda Sonora, as actuações… tudo em harmonia para um filme nota 10.
E que entrou para a minha lista de que vale a pena rever.
Não deixem de ver.
Mas, depois de lerem o livro!!!!

Deixo-vos com a reflexão final da Liz:

"No fim, comecei a acreditar numa coisa a que chamo de FÍSICA DA BUSCA.
Uma força da natureza, governada por leis tão verdadeiras quanto a Lei da Gravidade.
A regra da "Física da Busca" é assim:
Se tiveres a coragem de largar tudo o que te é familiar e confortável, que pode ser a tua casa, arrependimentos, casamento, etc...e sair numa busca da verdade, seja ela interna, ou externa;
Se considerares como um sinal, tudo o que acontecer nessa jornada, e aceitares todos os que conheceres ao longo do caminho como professores;
Se estiveres preparada para enfrentar e perdoar realidades difíceis sobre ti mesma;
A VERDADE NÃO VAI SER RETIRADA DE TI.
É só nisso que posso acreditar dada a minha experiência"



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