quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ascendente: significados e implicações psicológicas



O Ascendente representa a qualidade energética específica do instante em que nascemos, a “aura” desse momento único.

É a essência desse momento que não se repetirá, a qualidade energética específica que nos deu as boas-vindas ao chegarmos à existência.


É como se representasse a qualidade como cada um chega à vida, ou a energia que estava disponível para nos receber, qualificar, ou abençoar.

E porque a Astrologia é uma linguagem simbólica e um símbolo pode ser interpretado em muitos sentidos e níveis diferentes, o Ascendente representa várias coisas em simultâneo.

Em termos físicos, e porque é calculado para o momento em que o corpo entra em contacto directo com o ambiente de uma forma individualizada, já não mediada pela nossa mãe nem protegida pelo seu ventre, o Ascendente representa o corpo físico e a nossa aparência, o “veículo” que utilizaremos ao longo da vida para nos expressarmos e relacionarmos com o mundo.

Ao longo da vida, representa a imagem que projectamos sobre os outros, o nosso contacto espontâneo com o ambiente imediato, a imagem com que num primeiro contacto os outros ficam de nós, antes de nos conhecerem mais profundamente.

O Ascendente é uma espécie de “máscara” e o primeiro nível de manifestação dessa máscara é o próprio corpo físico.

Assim, por exemplo, um Ascendente Capricórnio pode corresponder a um corpo que sugere estrutura e onde não há excessos, apenas o essencial (por exemplo, ossos salientes ou um corpo seco, sem gordura), um rosto angular com o maxilar inferior destacado, lábios finos, nariz saliente, sugerindo actividade, decisão, prontidão para encarregar-se de tarefas ou cheirar oportunidades, capacidade de planeamento, ou calculismo;

um Ascendente Caranguejo pode corresponder a um corpo mais flácido com tendência a reter líquidos (assim como emoções e memórias) e a proteger-se do ambiente (às vezes através da gordura), assim como um rosto arredondado e suave que sugere receptividade e feminilidade;

um Ascendente Peixes pode corresponder a uma estrutura física frágil, olhar sonhador, mãos e pés delicados, dando a impressão de que desliza numa nuvem em vez de andar com os pés na terra.

Em termos psicológicos, o Ascendente representa uma espécie de “marca psíquica” indelével, ligada às circunstâncias em que nascemos ou as circunstâncias do ambiente que nos acolheu, e que qualifica muitas vezes a forma como “nascemos” para as novas experiências de vida, como começamos as coisas, como nos projectamos espontaneamente no ambiente em redor, a facilidade relativa em afirmarmo-nos e impormo-nos ao ambiente imediato.

Assim, um Ascendente Carneiro atira-se às coisas mais facilmente do que um Ascendente Touro, que é mais lento e paciente; um Ascendente Virgem tende a analisar cuidadosamente o ambiente antes de interagir com ele, um Ascendente Leão sentirá maior necessidade de ter impacto sobre o exterior, um Ascendente Caranguejo terá maior necessidade de se proteger ou procurar referências familiares para se sentir mais seguro, etc.


Implicações Psicológicas

O Ascendente pode falar também das próprias circunstâncias do nascimento físico que se manifestam, ao longo da vida, como um “filtro” através do qual interpretamos os acontecimentos e os outros. Sabemos, dos estudos da Psicologia Pré-natal, que as circunstâncias que envolvem e antecipam o nascimento físico ficam indelevelmente marcadas em nós e condicionam largamente a forma como nos sentimos acerca de nós próprios e como percepcionamos a própria vida.


Imaginemos dois tipos diferentes de nascimento para exemplificar o que foi dito.

No primeiro exemplo, temos um bebé que teve um nascimento relativamente fácil, rápido e até gratificante, recebido com grande alegria, pompa e circunstância. Toda a família está reunida, alegre, à espera do momento de lhe dar as boas-vindas, o obstetra está feliz com toda a operação, a mãe está a viver o momento mais feliz da sua vida e nem sofreu particularmente com o processo, o pai está ao lado dela a apoiá-la e dar-lhe força, presente desde o primeiro instante na vida do bebé e reforçando assim o amor e a união familiar.

O bebé é saudado e recebido com alegria, em toda a segurança, sente-se como uma coisa boa que acontece a pessoas felizes, e assim são as suas boas-vindas ao mundo.

No segundo exemplo, (o meu caso) temos um bebé que nasce por fórceps, porque ao fim de dois dias e duas noites em trabalho de parto a mãe já está esgotada, o obstetra teme pela vida dos dois e já está ele próprio desesperado, recorrendo às suas reservas de energia física e emocional para levar este parto a bom termo, a família vive este nascimento com grande ansiedade e preocupação.

A mãe eventualmente é anestesiada e deixa de poder colaborar tão activamente no nascimento do filho, o pai teme pela vida da esposa e não consegue evitar pensar que seria tão melhor nada daquilo estar a acontecer. Existe um ambiente de tensão, preocupação e urgência em redor do nascimento, e o nascimento, quando se cumpre, é finalmente saudado não tanto com alegria, mas com alívio – como um perigo que foi ultrapassado, uma experiência má que finalmente acabou, um drama que chegou finalmente ao seu termo.

O bebé sente tudo isto, e experiencia o seu nascimento como um problema, uma ameaça e uma imposição de chatices aos outros, e assim é a sua chegada a este mundo.

Que percepções irão ter estes dois bebés de si próprios, da sua existência, dos outros, e da própria vida?

O Ascendente, assim, fala das energias e das tensões ao redor do nosso próprio nascimento físico, e isso reflecte-se na auto-imagem que temos de nós próprios, na maneira como os outros nos vêm enquanto não nos conhecem mais profundamente, na maneira como abordamos a vida sempre que fazemos algo pela primeira vez: quando vamos a uma entrevista de emprego, quando chegamos a uma festa, quando nos apresentamos a alguém.

Às vezes, de tão identificados estamos com a nossa máscara, ou persona social, esquecemo-nos de que ela não corresponde necessariamente (e na maior parte das vezes não corresponde mesmo) àquela que é a nossa essência, que seria melhor representada pela totalidade do Mapa Astrológico, administrada pela consciência simbolizada pelo Signo Solar.


Nuno Michaels

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