Às vezes tu dizias:os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque a teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade.
Uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo, meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse as palavras estão gastas.
Eugénio de Andrade
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