Hoje em conversa, disseram-me:
"Há feridas que é preciso fazer arder por uns segundos,
para que depois possam sarar."
E vim aqui falar um bocadinho sobre isto, para me ajudar a entender melhor...
A ferida vai alastrando, vai-se tornando mais profunda e dilacerante com o tempo, mas nós não podemos ceder perante tamanha dor que nos corrói a alma.
Temos de manter as aparências, para não sermos julgados pelos outros.
E mesmo assim, sabe Deus...é como se todo o Esforço não fosse suficiente...o que se torna desgastante.
A tal velha história..."ser preso por ter cão, e por não ter..."
Então para quê tanto Esforço em manter as aparências????
Tudo o que é feito em Esforço, é sinal que se está na direcção errada...
Mas há um momento...
Há sempre um momento em que tudo se conjuga, e compreendemos que "o que é demais é erro"!
E nesse preciso momento, temos que tomar uma decisão que ainda nos vai doer mais, porque essa decisão implica destapar a ferida, olhar para ela, tocar-lhe, porque é preciso limpá-la e aplicar-lhe um verdadeiro bálsamo que realmente a cicatrize.
Esse momento é único e indescritível, pois cada um a seu modo irá senti-lo de forma igualmente única, devido ao percurso singular que cada um de nós acredita ter na vida presente.
Algo realmente mágico e profundamente curador acontece nesse momento.
É como se um peso enorme nas nossas costas se estivesse a soltar aos poucos.
Esse momento para mim aconteceu com o meu divórcio, aos 29 anos.
Foi um dizer Basta a mim própria!!!
Foi olhar-me ao espelho e não me reconhecer.
Foi um precisar de me descobrir, de ajustar os azimutes e recomeçar do Zero!
O Zero: o Tudo e o Nada!
E o processo foi-se revelando bem mais difícil do que eu estava à espera...longo, demorado, complicado...uma verdadeira Caixinha de Pandora...em que tal como no mito, só restou a Esperança.
Nós somos energia codificada.
Temos códigos para tudo.
E nesse exacto momento activamos um código de cura, e quando a contagem para essa activação tem início, o processo torna-se irreversível.
Já não nos revemos no nosso velho Eu, mas também ainda não se vislumbra nenhuma saída...e nesse instante perdemos a nossa identidade, deixamos de saber quem somos, só sabemos que queremos seguir em frente e descobrir o que estará lá à nossa espera...
É uma viagem no escuro...sem garantias de nada, sem rede...uma viagem solitária.
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos magoa,
é não ver o futuro que nos convida...
Pablo Neruda
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