segunda-feira, 2 de maio de 2016
Minha alma está cansada de minha vida!
Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho tido de ter!
São como esta hora e este ar, névoas sem névoa, alinhavos rotos de tormenta falsa.
Tenho vontade de gritar, para acabar com a paisagem e a meditação.
Mas há maresia no meu propósito, e a baixa-mar em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali fora e não vejo senão pelo cheiro.
Tanta inconsequência em querer bastar-me!
Tanta consciência sarcástica das sensações supostas!
Tanto enredo da alma com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase simples e ampla do Livro de Job, "Minha alma está cansada de minha vida!"
Fernando Pessoa
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