terça-feira, 31 de maio de 2016

Quem em você quer dominar o outro através do sexo?




Parece que ao entrar na esfera 
de relacionamento e sexualidade 
é como abrir a caixa da Pandora.


O tema da sexualidade é comum no universo dos buscadores espirituais. Tenho visto muitos buscadores comprometidos em aprender técnicas de retenção do orgasmo, retenção da ejaculação, técnicas para fazer a energia subir pela coluna para abrir os chakras, ganhar poderes.

Mas aqui cabe uma reflexão: 
Quem em você é que está querendo controlar a energia? 
E para quê?

É facto que ao trabalhar com a energia dessa maneira, você vai adquirir poderes, mas esses poderes estarão a serviço de quem? Especialmente quando você ainda está na fase da cura da sua repressão e precisa se valer do remédio da variedade.
Compreenda que ao praticar essas técnicas com várias pessoas diferentes, você acaba criando situações muito perigosas para você e para o outro. Para você, primeiramente, porque amplia tremendamente seu magnetismo e acorda aí o poder de dominar o outro. O ego vai se tornando robusto e astuto. Talvez o principal poder que você desenvolve é o da manipulação; você manipula para ter poder sobre o outro para fugir de si mesmo.

Para que é que você quer ter poder? 
Para fugir da angústia? 
Você quer acreditar que tem domínio sobre o outro 
para não se sentir carente? 

Ter domínio sobre uma pessoa não é diferente de você ter um carro novo, de você ter uma casa nova, de você ter dinheiro na sua conta bancária. Tudo que você tem agrega valor à ideia que você tem de ‘eu’. No mais profundo você está em busca de uma identidade, está tentando preencher uma carência. Enquanto tenta preencher uma carência ganhando dinheiro, comendo ou comprando coisas, você prejudica prioritariamente a você mesmo. Machuca o outro também, mas indiretamente. Não é possível fazer mal a si mesmo sem fazer mal para o outro, assim como é impossível fazer mal para o outro sem fazer para si mesmo. Mas enquanto você está tentando fugir da carência através de conquistas materiais, é você quem acaba se machucando mais.

Mas quando você tenta suprir sua carência dominando o outro, aí as coisas se complicam. Porque para isso acontecer, para você ter domínio sobre o outro, você tem que fazer o outro se sentir inferior, tem que fazer o outro se sentir impotente para você se sentir potente, tem que responsabilizar o outro pela sua responsabilidade. E aí machuca de verdade. Ao mesmo tempo, é uma verdade cósmica que, em algum momento, a energia deve ser direcionada para dentro e para cima. Esse estágio poderíamos até chamar de um supra sexo, mas esse supra sexo é um florescimento. Você precisa primeiro passar pelo sexo normal – onde você tem a chance de purificar a sua personalidade, tem a chance de purificar seu coração -, para que, então, haja espaço para o Eu Maior conduzir essa prática.

Esse aspecto do tantrismo precisa nascer da pureza do coração. 
À medida que o casal vai amadurecendo enquanto ser humano, como indivíduos que estão vivendo essa experiência de se relacionar – e amadurecer significa transformar o medo, o ódio, significa acordar o respeito pelo outro, significa acordar a gentileza, significa acordar a honestidade -, vagarosamente, começa a vir mesmo uma intimidade mais profunda e mais autêntica. E essa pureza no coração funciona como um íman que puxa a energia sexual para cima e naturalmente a energia sexual começa a se mover em direcção ao coração.

Naturalmente, esse movimento mecânico em que a energia se move para baixo e para fora é interrompido, porque tem uma força magnética puxando a energia para cima. Essa força magnética é a pureza do seu coração. Nesse estágio a energia sexual começa a se juntar com o amor, e aí começa a nascer o tantra superior, esse supra sexo. E aí podem surgir rituais, mas sempre espontâneos, que se renovam a cada dia, porque você não se prende a mente condicionada que deve fazer assim e assado.
Todos esses condicionamentos nascem do controle, são formas de se proteger e de dominar.

Ao mesmo tempo, eu não posso também eliminar a possibilidade de, vez ou outra, alguém usar uma coisa assim como um remédio. Fique atento para não engessar minhas palavras. Como, por exemplo, ontem eu falava a respeito que a cura da repressão sexual implica na variedade. Mas aí uma pessoa que é bem reprimida, que agora está começando a se envolver com alguém: “Ah o Prem Baba falou que eu tenho que ser livre, que não tenho que me prender a alguém, que eu tenho que variar”. Eu não disse isso, o que eu estou dizendo o tempo todo, repetindo e repetindo é que você precisa ter bom senso, você precisa saber o que é melhor para você.

Então, às vezes, você até contraria uma lei, porque aquilo é o mais importante para você naquele momento. Nesse caso, contrariar a lei significa você se aprofundar nessa relação mesmo sabendo que ainda tem muita lenha para queimar. Porque se você cai no truque da mente de largar essa relação para viver a variedade, você vai viver nada, porque eu te conheço, sei que você vai ter medo de se envolver. Da mesma maneira, às vezes tudo bem você usar um ritual, usar uma técnica de respiração para ajudar a prolongar sua experiência sexual com o parceiro, mas para facilitar a sua aproximação do outro. Mas não se esqueça que o foco está em criar intimidade, o foco está em purificar o coração, e então deixar que naturalmente o tantra possa florescer desse encontro de centro com centro.

Aí, nesse estágio você pode usar uma técnica de respiração, usar os bandhas, usar mantra, usar conhecimento do tantra mágico para sua energia subir; se você quiser você pode. Mas isso deve estar a serviço do amor, você não pode cair na tentação de querer usar isso para fortalecer o seu ego. Um dos maiores obstáculos do buscador espirituais são os siddhis, são os poderes espirituais. Isso só alimenta sua vaidade espiritual, isso só alimenta o falso ‘eu’.

Maior milagre é você estar em harmonia com a natureza. 
Trabalhe para você desenvolver o siddhi de dormir quando você tem sono, acordar quando você tem que acordar, de comer quando você tem fome e não para saciar um buraco emocional. E aí, se você se harmoniza com a natureza nesse grau, se você pode ser espontâneo nesse grau, aí você vai conhecer o verdadeiro poder.

O interesse no acto sexual diminui conforme, com os anos, vamos nos conectando mais com o divino?
Sim. E mesmo se você não se conectar muito com o divino. Com a idade, as hormonas vão se modificando, tem uma tendência natural a diminuir o interesse pelo acto sexual. Mas claro que, quanto mais você direciona a sua energia sexual para Deus, o interesse pela matéria vai caindo, e se você pode curar suas repressões, então quanto mais você direciona a sua energia para Deus, mais rápido você sobe. Porque não tem uma âncora te segurando na Terra; a âncora que te segura na Terra são os desejos reprimidos. Tudo aquilo que é reprimido é desejado, mas se você pode amadurecer nisso, já brincou o suficiente com a bicicleta, se desinteressa dela. Você até vê as outras crianças brincando, mas você nem pensa a respeito, é natural, é da vida humana. É assim, criança gosta de brincar de bicicleta, mas você já brincou o suficiente, não tem mais necessidade, sua mente não está nisso, sua mente está em Deus.


E sobre aqueles que escolheram o celibato?
Existem muitos caminhos, a questão que se repete: quem é que está escolhendo trilhar esse caminho. É verdade que algumas almas vêm com o propósito de fazer um voto vitalício de celibato. A alma precisa passar por aquela experiência, ele tem que lidar com as tentações de uma forma diferente daquele que não tem esse voto.
A tentação é o convite natural para unir o masculino com o feminino.
Mas aquela alma que veio com o propósito, com o contrato assinado de nessa encarnação ter o voto de celibato, ele precisa lidar com os recursos que ele tem disponibilizado pela tradição que inspirou ele a fazer o celibato. Alguns se propõem a fazer um período de celibato a titulo de experiência e aí você precisa estar consciente de quem é que te levou a viver essa experiência.
Me faz lembrar uma história que li certa vez, de um meditador que entendeu que era hora dele se recolher num voto de celibato. Assim como era tempo também dele se recolher do mundo, ele queria se isolar numa caverna num alto de uma montanha. Ele sentia que estava na hora de se distanciar do mundo, que o mundo estava só estimulando os desejos dele; estava na hora de sair do mundo. E aí ele fez um plano, encontrou um lugar num vilarejo bem distante, na montanha bem alta, numa caverna. Não tinha acesso para o ser humano, quase impossível chegar lá, bem difícil, bem íngreme, bem inacessível. Então ele chegou ao vilarejo, fez as compras, teve que alugar um burrinho para levar as coisas. Ia passar uma temporada lá na montanha. Chegando lá ele se entregou para meditação e para suas austeridades. Foi passando o tempo, ele começou a se sentir um pouco incomodado e aí começou a olhar para o burrinho; descobriu que não era burrinho, que era burrinha (risos), começou a olhar para as pernas da burrinha, aí ele pensou: “Está na hora de descer para a cidade”.

Essa é uma questão delicada, quem é em você que está se propondo a fazer voto de celibato?
É importante que o celibato nasça da sua consciência, que nasça da sua compreensão, o autêntico brahmacharya – que significa o direcionamento da energia sexual para Deus -, também é um florescimento. E isso acontece na medida em que você purifica seu coração.
Por isso eu estou insistindo que você se dedique para o seu japa, para sua meditação, para a sua oração, para o seu processo de auto investigação, para o seu estudo das sagradas escrituras, cuja principal escritura é o próprio livro da vida, o seu coração. E naturalmente, aquilo que você precisa vai chegando para você. É possível que em um determinado momento o seu guru, o seu mestre espiritual, te dê um comando, porque ele percebe que você está preso em um ciclo vicioso, percebe que a sua mente se apropria da ideia da variedade: “ah, tem que ser um florescimento então vamos continuar”. E aí ele pode dizer: “Agora chega! Agora trate de se entregar completamente para a vida espiritual”. E às vezes a alma está esperando, está clamando para esse comando, às vezes ela não consegue chegar nessa decisão por ela mesma.

Existe um ditado popular na Índia que diz que quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Quando você está suficientemente maduro, o comando espiritual chega para você. O que eu sei que você pode fazer nesse momento é romper, definitivamente, renunciar com a acusação, com o julgamento, com a comparação; é romper com esse ciclo vicioso que te leva para fora com a intenção de dominar o outro, voltar a atenção para si. Dirija a sua atenção para Deus, converse com Deus, dialogue com Deus, se aproxime de Deus; Deus é seu coração, converse com ele. Tratando de pouco a pouco abrir mão de todos esses jogos destrutivos, vagarosamente, você vai ser visitado pela sagrada compreensão. Clareza vai chegar, discernimento vai chegar.

Você ainda vai tentando controlar a vida, morrendo de medo de se entregar para o fluxo. Essas coisas você não domina; quando tenta dominar, só arranja problema para você. O que você pode fazer é tratar de abrir seu coração; esse deve ser o seu foco. Controle é o ‘eu’ do medo. Se tem medo, tem obstinação, tem orgulho, ou seja, tem ódio; eles não andam separados, sempre estão juntos. Então, é uma forma de sustentar o seu falso ‘eu’.

Quando eu canto Prabhu aap jago /Parmatma jago /Mere sarve jago /Sarvatra jago, é para que possa acordar em você a inspiração de também cantar esse mantra. Para que possa, cada vez mais, se comprometer em acordar a divindade em você. Mas você não acordar a divindade através do controle, através desses jogos de domínio. A palavra chave é aceitação e entrega, e assim você vai subindo. Mas para isso você tem que achar a tal da confiança. E é incrível como Deus desenhou o jogo nesse plano. Porque você aprende a se entregar para Deus e confiar em Deus confiando em um ser humano assim como você. Você tem que aprender a ver Deus no outro. Tem que aprender a olhar para o outro e ver que, independentemente de todas as mazelas e misérias, tem um princípio divino ali em que você pode confiar. É para esse Ser que você reza, é para esse ser que você fala namaste.

Eu ensino o caminho do coração, o caminho da espontaneidade, o caminho da aceitação.
Eu compreendo que esse é o caminho natural.
Todo meu esforço é para que você se harmonize com a vida, se harmonize com a natureza, com a natureza que pulsa no seu coração. Aí você ouve a vida falar dentro de você. A vida te guia através da intuição, através das sincronicidades, através dos sonhos, através dos sinais. Mas é verdade que você precisa passar pelas alegrias e misérias do amor humano, para viver a plenitude do amor divino.
Não queira pular etapas. Quem quer pular etapas é o ego que está arrumando um jeitinho de escapar de alguma coisa. A pergunta que nunca deve te abandonar é: “O que Deus quer de mim?” Não importa em que estágio você esteja na sua jornada evolutiva nessa terra, se você está encarnado aqui, de tempos em tempos você deve se perguntar: “O que Deus quer de mim?” E se renda para esse comando. Peça força para poder cumprir aquilo que o comando divino determina, porque às vezes ele pede coisas difíceis, que você rompa com seus apegos, com seu controle, e apego e controle são mecanismos de defesa, você se sente seguro e protegido. Você aprendeu a apreciar um cinzento, porque se sente seguro ali dentro; aprendeu a viver dentro de uma gaiola. Às vezes é difícil abrir mão do controle, do apego; significa abrir mão de tudo que você acredita ser importante para você.

Mas às vezes chega esse comando: 
“Larga esse apego, larga esse controle, 
vamos nos entregar para o fluxo!”.


Em síntese, você precisa se entregar para o amor. 
Se o amor é a seiva da vida, é o amor que está te conduzindo, é ele que está te dando o comando. É ele que está quebrando seus apegos, seus controles, para que você possa voltar para ele. Ele está acordando o amor que pulsa em você para que esse amor retorne para ele. Mas há que se ter certa coragem para amar, há que se ter certa coragem para essa entrega. Reze por ela, peça por ela, peça ao princípio universal do amor que te dê essa força, essa firmeza para você seguir esses comandos que vêm dele.
Chega um determinado estágio da jornada em que você não consegue sozinho, você não consegue continuar subindo sem coração, sem, realmente, a intervenção do plano da hierarquia superior. Mas essa intervenção acontece quando você usa seu livre arbítrio para isso, quando você pede através da oração.

Então, o que você quer de verdade? 
Você quer ser livre mesmo? 
Você quer mesmo viver de amor? 
Ou você quer continuar controlando? Apegado?
E usando conhecimento espiritual para se defender, para fingir que você está caminhando?

Chega esse momento em que a gente tem que se questionar: 
“quem em mim quer realmente essas práticas espirituais? 
Para quê?” 

Tudo é possível, tudo! Esse universo é tão permissivo! É impressionante como é permissivo esse universo. A verdade é que tudo pode, mas você tem que dar conta dos seus pensamentos, palavras e acções; esse é o seu principal instrumento de aprendizado, é assim que você aprende: errando, acertando, caindo, levantando; até que você possa se distanciar dessas subidas e decidas, e só assistir, só assistir, até se tornar uma testemunha de tudo que se passa. 
Aí você está livre de verdade.


Sri Prem Baba
in, Amar e Ser Livre



Mas como fica a responsabilidade de quem é manipulado?

A mesma. Para haver um intimidador, tem que haver um intimidado. 
Para que haja alguém que abusa do poder, tem que ter alguém permitindo que esse abuso aconteça. Para isso, é importante que compreendamos que a distorção do poder na forma da agressividade, da violência, da intimidação, tem o mesmo peso que a distorção do amor, que é a submissão, o vitimismo.

A distorção do poder é distorção do masculino; 
a distorção do amor é a distorção do feminino. 

A distorção do amor é perniciosa, ela destrói sem acreditar que esta destruindo. A pessoa que é o canal desta distorção realmente acredita que ela é pura. Ela não entende como o Universo é tão mau com ela. A vítima tenta dominar o outro através dessa ideia de que ela não dá conta da vida; da ideia que ela é impotente, de que ela é frágil; mas o que ela quer e manipular: “Ou faz do meu jeito ou eu me mato, tomo veneno, pulo a janela”. Às vezes pula mesmo da janela, ou toma veneno, mas compreenda que é uma forma de manipulação. Você se arrasta no chão, arranca os cabelos, mas tudo que você faz é um teatro com a intenção de dominar o outro.

Esse tema foi levantado quando estávamos falando até mesmo do uso intencional da magia sexual, da tão profunda distorção que existe neste mundo a respeito do tantrismo, das pessoas ávidas por poder e que acabam se tornando escravas deste poder distorcido. Acabam desenvolvendo mesmo um magnetismo que domina o outro, porque, no mais profundo, o que você quer é fazer do outro um escravo para atender seus caprichos, que atenda as suas expectativas. Tendo poder adquirido através de técnicas ou não, o facto de ter uma distorção do poder dentro de você faz com que você queira fazer do outro um escravo para satisfazer seus caprichos, suas necessidades; para proteger a ilusão que você criou a seu próprio respeito, para se sentir reconhecido, amado.

E aquele que está aceitando ser esse escravo carrega a distorção do amor.
Ele se coloca no papel do submisso, do escravo e diz: “Me bate que eu gosto”. Essa é também uma estratégia de manipulação, só que mais subtil. Ela vai fazer de tudo para que o agressivo se sinta a pior das criaturas na face da terra porque vai colocar a culpa do mundo nas costas dele. Ela vai o tempo todo tentar dizer: “Você é o culpado pela minha infelicidade. Olha onde eu estou, estou me matando, me destruindo. Eu, uma pessoa boa, pura, estou me destruindo e você é o culpado porque você é mau. Você é mau. Você abusa do poder”. Esse é o jogo.

Quem é mais responsável por esse jogo? 
Será que é um mais responsável que o outro neste jogo? 
Aquele que é manipulado é tão responsável quanto ao que manipula, mas existe uma moral que protege aquele que é manipulado. 

Não me refiro ao abuso de uma criança, são outras leis, é outra história. Tem razões do porque isso acontece, mas essas respostas estão em uma esfera transpessoal e já falamos sobre isso anteriormente.
Agora eu falo da relação entre dois adultos, onde os dois estão disputando pela energia. Onde muitas vezes os dois estão desconectados da fonte, se sentindo impotentes, e a única maneira de se sentir potente é tirando a energia do outro, fazendo o outro se sentir inferior.

Você faz isso usando os recursos que tem, o repertorio que você adquiriu ao longo da vida.
Alguns desenvolveram a distorção do poder e tentam tirar energia através da falsa autossuficiência: “Sou poderoso, estou acima das emoções humanas”. Aí o outro tenta ganhar o que precisa fazendo-se de vítima, de submisso.
O agressivo normalmente tem nojo do submisso, o submisso tem raiva do agressivo; mas geralmente se casam. Geralmente casam porque tem também uma profunda atração, pois são polos opostos e se atraem. É justamente o que percebe que falta nele.

Se esse casal, essa sociedade, essa parceria estiverem atentos, estiverem no caminho do autodesenvolvimento, eles tem grande material de escola nas mãos, até porque, tirando todo o romantismo, relacionamento é material de escola. É importante que você compreenda que tanto os agressivos como o submisso estão querendo a mesma coisa, querendo ser amados. Só que estão buscando esse amor no outro; estão querendo amor exclusivo do outro.
A relação se torna um campo de batalha.
Quer reconhecimento, amor exclusivo do outro, força o outro a te amar, mas amor forçado não é amor. E quando o outro te dá, você fica com raiva, indiferente, porque dentro de você tem uma consciência de que amor forçado não é amor; você quer ser amado de graça.

Mas é exatamente esse cenário que precisa ser transformado nos relacionamentos humanos.
Quando isso se manifesta mais especificamente na vida sexual, se torna ainda mais complexo e mais danoso.

Por exemplo:
O meu orgasmo é diretamente orientado pelas fantasias sexuais bastante sombrias de prostituição e incesto. Não consigo ter firmeza para renunciar a esse prazer e não tenho ideia de como lidar com essa questão. Uma amiga sugeriu que eu tentasse viver essas fantasias na pratica, mas tenho medo de estar apenas dando mais alimento aos meus demónios. O que fazer?
Primeiro lugar, que você reveja seu conceito de amizade. Um amigo não vai te colocar numa fogueira desta. Essa pessoa até pode ser, também, sua amiga – na verdade somos muitos, uma multidão nos habita -, deve ter uma amiga dentro desta pessoa, mas quem te deu este conselho foi a inimiga.
As fantasias sexuais são mensageiras dos aspectos da personalidade que ainda não foram integrados, e que, às vezes, não têm nada a ver com a sexualidade. 
Actuar na fantasia te coloca em situações mais complexas, delicadas; te faz se enredar nas teias do karma. O que você precisa é compreender o que essa fantasia está tentando te dizer. Qual é a mensagem? 
Às vezes a fantasia está conectada a um conteúdo psicológico que não tem nada a ver com a sexualidade, mas ela é um sinalizador. Talvez seja o principal sinalizador, pois ela mostra claramente onde você está. É fácil se enganar, achar que está num lugar diferente de que você está de verdade, e as fantasias sexuais te ajudam a tomar consciência daquilo que precisa ser trabalhado e transformado dentro de você.

Se existe maturidade dentro desta relação para que o assunto seja tratado abertamente, pode contribuir para a elaboração e para o tratamento do que ainda precisa ser curado. 
Há algum tempo venho dizendo que que o casamento, as parcerias sexuais, precisam ser ressignificados.
O casamento é o núcleo da família, que é o núcleo da sociedade. 
Se esse núcleo está contaminado, se não tem verdade, honestidade, transparência e cooperação, não vamos ter uma sociedade justa e equilibrada.

Não é de se admirar que a nossa sociedade seja tão corrupta, mentirosa e destrutiva.
Isso começa no casamento.
Se você não é capaz de ser honesto e verdadeiro com a pessoa que esta dormindo com você, com quem você vai ser honesto?
Temos visto que não é tão simples ser honesto, ser transparente. Porque muitas vezes tem vergonha, tem medo. Você tem medo de ser você mesmo, de ser espontâneo, de mostrar a sua luz e suas misérias para o outro. É o medo de ser rejeitado, não ser aceite, não ser amado.
Com isso você fica escondendo e fica prisioneiro do que você está escondendo.
Aí, a sua evolução fica paralisada, você tem motivos suficientes para ter raiva do outro, porque você o culpa por se sentir prisioneiro.
Mas é você que está se colocando neste lugar, por conta de sua carência, medo de ser rejeitado, de não agradar.

Você tem que ter coragem de se encarar. 
Só quem consegue ficar bem consigo mesmo, 
consegue ficar bem com o outro. 

Se você tem tanto medo de se revelar, claro que a sua relação está fadada a ser um campo de sofrimento. E mais, você também não dá conta de receber a revelação do outro. Percebe que existe aí pouca inclinação para a verdade. Você prefere ficar na mentira, com a ilusão de que está protegido. Você criou uma zona de conforto e tem a fantasia de que está protegido nesta zona de conforto.
É a mentira que mantém essa zona.

Ao mesmo tempo temos que respeitar os limites de cada um. 
Há que se ter estrutura de ego para lidar com a verdade. 

Eu já vi pessoas levantando a bandeira da verdade, contando tudo o que se passa dentro dela, e o outro pirar e só piorar a situação. Há que se ter sensatez, bom senso.
Porém, o caminho é o da intimidade, o novo casamento tem como base a intimidade, a transparência, não há segredo nenhum.
Essa abertura possibilita a elaboração desses conteúdos trancados dentro do sistema.
Conversar com o parceiro sobre essas fantasias pode ajudar, mas se você vê que vai atrapalhar, procure um terapeuta que vai te ajudar a lidar com a situação.


Independente do que está por trás da fantasia sexual, 
com certeza existe bloqueio da energia vital. 
Tudo que é proibido é desejado. 
Eu não tenho dúvida de que a repressão sexual 
é o principal veneno na nossa sociedade.


Certa vez eu vi numa revista americana, não me lembro de qual revista, mas que falava de uma pesquisa sobre as indústrias que mais facturavam no mundo naquele momento.
A segunda indústria que mais facturava era a indústria da pornografia.
A terceira era a indústria da guerra,
a quarta era a das drogas e
a primeira era a Igreja, o Vaticano.
Estou falando só o que eu vi na revista. É algo muito sério.

Se formos estudar esse assunto a fundo mesmo, os cabelos ficam em pé.
Se formos estudar como o jogo da luz e sombras se manifesta neste plano, é de ficar de cabelo em pé. Mas o facto é que a repressão é a mãe da carência afectiva e, consequentemente, de todos esses jogos de ganha e perde; você tem que ter coragem de olhar para isso.

E se você não é amigo do seu parceiro, isso fica muito mais complicado, fica quase impossível escapar desta situação. Aí é melhor ficar sozinho. Pára e vai tratar o que precisa tratar.
Não caia na armadilha de dominar o outro prometendo coisas que não pode dar, dizendo: 
“Eu te amo eternamente”. 
Você está crescidinho para entender que isso não existe. 
A não ser que você tenha acordado e esteja mesmo podendo falar, sabendo do que está falando.


Sri Prem Baba
in, Amar e Ser Livre




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