quinta-feira, 19 de maio de 2016
Que poder atribuímos aos outros...
Nós que ainda estamos ancorados na compaixão temos de aprender a ser consequentes.
Não no sentido de poderosos, mas no sentido de deixarmos de querer seja o que for daqueles que nada têm para dar.
É a calamidade interior, a necessidade inadmitida de nos fazermos amar pelo inimigo, que impossibilita lidarmos de forma consequente com o Mal.
Quando os adeptos deste reclamam a nossa comiseração, não temos de mostrar-lhes que os amamos. O que está por detrás de tal altitude é o desejo deles nos amarem, e esse torna-se a nossa desgraça por queremos algo deles. É este o ensinamento mais duro, porque sempre estamos dispostos a acreditar que toda a gente é capaz de sentir o amor.
Mas na realidade há gente que está separada de si a tal ponto que o nosso desejo de grandeza se nos torna fatal.
Não lhes entregarmos o poder, privamo-los do amor por não o esperarmos deles, é o antídoto com que podemos vencê-los.
Quando eles deixarem de poder jogar com as nossas expectativas, terão perdido o seu poder sobre nós e nós podemos dedicar-nos à construção do mundo, em vez de passarmos o tempo a consertar o rasto de destruição que eles vão deixando atrás de si.
(...)
O Homem procura a autonomia mas subjuga-se a autoridades; anseia pelo amor, mas faz-se dependente; segue os que lhe prometem felicidade sem reconhecer que o caminho conduz à catástrofe.
Por que é que as coisas se passam assim?
Quais são as causas de um comportamento tão auto-destrutivo?
Há que expor as raízes que jazem no nosso âmago, no nosso mais fundo interior.
Aí instalaram-se já na infância, sem disso tomarmos consciência.
Os "falsos deuses" que seguimos para não termos de tomar consciência de como estas realidades estão no nosso íntimo.
Seguimos os que nos desprezam porque odiamos a vítima que vive em nós.
Desse modo instala-se a perversão do amor.
Amamos o que odiamos e odiamos o que poderíamos amar.
Ora esta atitude tem repercussões, tem consequências políticas: aderimos aos agressores sem disso sermos conscientes!
Arno Gruen
in, Falsos Deuses
Arno Gruen, nasceu em Berlim em 1923, emigrou, em 1936 para os EUA, onde, em 1961 se doutorou em psicanálise sob a orientação de Theodor Reik, famoso analista da Escola de Viena, também emigrado para os EUA.
Em 1979 transferiu-se para Zurique, na Suiça Publicou "A Traição do Eu" (1984), "A Loucura da Normalidade" (1987), "A Despedida Precoce"(1988) e "Falsos Deuses" (1991).
Os dois primeiros títulos foram publicados em português pela Assírio & Alvim em 1996 e 1995.
Mais recentemente publicou "The Fight for Democracy".
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