quinta-feira, 26 de maio de 2016
Ensaio sobre as cegueiras
Tenho pensado nisto diante de muitas leituras de caixas de comentários do Facebook, sem deixar a fé ou a cegueira intrometerem-se, apenas imbuído pela auto-análise dos meus próprios matizes malquistos e a cena da contemplação do outro (atento à possibilidade do Outro).
O que faz as pessoas julgarem-se umas às outras com a maior das desfaçatezes, sem saberem quase nada do seu percurso, sem se ocuparem em ler/ver nas entrelinhas, no esteio das palavras usadas ou nos gestos de um corpo que tanto diz?
Os termos de comparação das pilinhas e dos pipis (e coisa e tal) são lana caprina na complexidade de um ser humano, de quem podemos, se tanto, observar, escutar e então justamente tentar descrever a natureza do acto, aquele e nada mais, sem julgar o todo pela parte (gaga).
Um ladrão que rouba uma vez não é sempre um ladrão, pois há quem roube morto de fome e em desespero e para este a sanção é discutível, se quem vende não é tanto ou mais o que rouba.
Um bêbedo redime-se com um guronsan e um pai-nosso e nem a visão de um feio ou um mostrengo é justa que seja sumária, pois a fealdade é matéria discutível à escala do cosmos.
Até um dito canalha, um pulha ou um bandido são gente, cuja massa humana se reduz a um conjunto de células em sobressalto, onde um dia poderá assomar a beleza de uma construção notável, nascida de uma explosão criativa, ou este soçobrar numa impostura condenada ao esquecimento ou ao justo enxovalho, que é o fim último de todas as ignomínias.
Tiago Salazar
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