domingo, 29 de maio de 2016

Vitimista Crónico




Num ou noutro momento a pessoa assume o papel de vítima. 
Sofre com uma espécie de “vitimismo crónico”.  
Falsas vítimas e, de forma consciente ou inconsciente, 
simulam uma agressão inexistente apenas para culpar os outros. 
Este proceder é uma maneira dissimulada 
de se livrar da carga de responsabilidade pelo seus erros.


O vitimismo crónico não é uma patologia, mas pode-se transformar num transtorno paranóico quando a pessoa insiste em culpar sempre os demais pelos males que sofre. Esta forma de enfrentar a vida, de “per si”, conduz a uma visão pessimista da realidade. Isto produz mal estar tanto na pessoa que se queixa como a quem recebe a carga de culpa.

Em muitos casos a pessoa que abraça o vitimismo crónico acaba por alimentar sentimentos muito negativos, como, por exemplo, o ressentimento e a ira. Estes se transformam num vitimismo agressivo; um típico caso de quem vive para se lamentar. E ainda ataca e acusa aos outros com intolerância.


Características de uma Vítima Crónica

Deforma a realidade. Este tipo de pessoa crê firmemente que a culpa do que lhe sucede é dos demais, nunca é sua. O problema é que tem uma visão deturpada da realidade. E acredita que tanto as coisas positivas como as negativas que acontecem na sua vida não dependem directamente da sua vontade, sim das circunstâncias externas.

Ademais, o vitimista superdimensiona os aspectos negativos, desenvolvendo um pessimismo exacerbado que o leva a se concentrar somente nas coisas negativas que lhe acontece. Os aspectos positivos têm importância menor para ele.


Encontram consolo no lamento

Crêem que são vítimas dos outros e das circunstâncias. Por isso não se sentem culpadas nem responsáveis por nada que lhe acontece. Como resultado, o que lhe resta é se lamentar. Na verdade, só encontram prazer quando se queixam porque é quando assumem melhor o papel de “pobres vítimas”. Pensam que este agir é o único meio de chamar a atenção dos demais. Elas não pedem ajuda para resolver seus problemas, somente se lamentam. Suas desditas se transformam em ferramenta para encontrar a compaixão e o protagonismo.


Procuram sempre culpados

Desenvolve uma atitude receosa e acreditam que os outros sempre agem de má fé. Por isso geralmente têm uma ânsia quase mórbida para revelar os mínimos agravos. Por este ângulo se sente descriminado e maltratado. É este o seu principal objetivo, o papel de vítima. Assim, terminam por desenvolver uma hipersensibilidade. E se especializam em formar tempestade num copo d’água.


É incapaz de fazer uma autocrítica sincera

Está sempre convencido de que não tem culpa de nada. Não existe nada no seu comportamento que possa ser criticado. Como a responsabilidade é dos outros, não aceita nem a crítica construtiva. E, muito menos, é humilde para fazer um exame de consciência a fundo que lhe permita mudar de atitude.  Os erros e os defeitos dos outros são intoleráveis para este tipo de pessoa. Enquanto que os próprios são simples subtileza. Afinal, a vítima é ele.


Quais são as suas estratégias?

Para que uma pessoa faça o papel de vítima tem de haver um culpado. Para isso desenvolve uma série de estratégias direccionadas para que a outra assuma a culpa. Se não formos consciente destas estratégias é provável que vamos cair nas suas redes e pôr a culpa em nossos ombros.

1 – O Discurso do vitimista

Basicamente, o discurso desta pessoa é no sentido de desclassificar os argumentos de seu adversário. Na realidade, não faz afirmações com argumentos muito claros. Mas o direciona para que a outra pessoa assuma sem se dar conta.

Como ele faz? Simplesmente assume o papel de vítima numa discussão. De forma que a outra pessoa caia na rede como alguém autoritário, pouco simpático e até agressivo. Nesta estratégia o foco, em lugar de refutar as afirmações, é mostrar que o outro é um extremista nervoso e radical. Desta maneira, qualquer argumento do seu adversário será mais uma demonstração de sua má fé.

Por exemplo, se uma pessoa se atreve a contradizer a afirmação com argumento irrefutável ou com base em estatísticas de fontes confiáveis, a vítima não lhe responderá com factos, mas dirá algo assim: “Sempre me ofende, agora diz que sou mentiroso”. Ou “Só você se acha com a razão”.


2 – Fuga vitimista

Em alguns casos a retórica da vítima será de fugir à sua responsabilidade. E, assim, evitar em ter que se desculpar ou reconhecer o seu erro. Por isso, tentará fugir de qualquer situação que a coloque em desvantagem. Para isso sua estratégia é desprestigiar com ironia o argumento do outro, nunca reconhecer que estava errado.

E daí, como ele faz? Uma vez mais assume o papel de vítima. Joga com os dados do seu génio e os manipula à sua conveniência com o objectivo de semear a dúvida. Basicamente, esta pessoa transferirá seus erros ao outro.

Outro exemplo: se alguém responde com um dado comprovado, que nega afirmação anterior da vítima, mesmo assim a vítima não reconhecerá o seu erro. Em todo caso, tentará uma retirada digna e dirá algo assim: “Este facto não nega o que eu falei. Por favor, não faça mais confusão”.  Ou: “Não tem educação, é inútil discutir com você porque não vê a lógica dos factos”. Quando na realidade quem está confuso é ele mesmo.


3 – Manipulação Emocional

Uma das estratégias preferidas dos vitimistas crónicos é a manipulação emocional. Quando esta pessoa conhece bem o seu interlocutor, não deixará de lançar mão da chantagem emocional para colocar o painel a seu favor. O vitimista é muito hábil para reconhecer outras emoções, por isso utilizam qualquer dúvida ou culpa do outro em seu benefício.

Descobre um ponto fraco no seu adversário e explora a empatia que este pode sentir. Desta forma acaba por envolver o outro na sua teia de aranha para que este assuma o papel de mau. Enquanto o outro cai, o vitimista volta ao seu papel de vítima e assim pode se lamentar como gosta de fazer.

Por exemplo, uma mãe que não quer reconhecer os seus erros põe a culpa no filho dizendo coisas do tipo: “Com tudo que fiz por você, é assim que me paga?”. Este tipo de manipulação também é muito comum nas relações do casal, entre amigos, inclusive no trabalho.



Como lidar com este tipo de pessoas?

O primeiro passo é compreender que está diante de uma pessoa que faz o papel de vítima. Logo, deve resistir ao embate e não deixar que lhe envolva no jogo dele.
O mais sensato é dizer que não tem tempo nem disposição para ouvir suas repetidas lamentações. Que, se quer ajuda ou uma solução, com gosto o ajudará. Mas, diga-lhe com firmeza que não está disposto a perder tempo e energia para ouvir sempre as mesmas queixas.

Lembre-se que o mais importante é que esta pessoa não lhe tire a calma descarregando em você as suas doses de negatividade. Sobretudo, não deixe que ela lhe faça se sentir culpado. 


Doracino Naves


Sem comentários:

Enviar um comentário