sábado, 7 de maio de 2016

Feridas emocionais da infância


Gregory Colbert 
 Ashes and Snow



"Feridas emocionais 
são experiências dolorosas da infância 
que conformam nossa personalidade adulta, 
o que somos e como vamos nos confrontar 
com as adversidades."



É bastante comum, infelizmente, que a nossa saúde emocional esteja danificada desde a infância. Frequentemente, não somos conscientes do que é o que nos bloqueia, o que nos dá vertigem ou o que nos provoca temor.

Em grande parte desses casos, a origem está em situações que vivemos em crianças, essas feridas que nos ocasionaram nossas primeiras experiências com o mundo e que não pudemos curar.

Devemos ser conscientes delas e, portanto, evitar disfarçá-las, pois, quanto mais tempo esperamos para curá-las, mais profundas elas vão se tornar. O medo a reviver o sofrimento que nos causaram faz com que evitemos essas situações, mas isso só vai dificultar o nosso desenvolvimento e nos prejudicará.

Traição, humilhação, desconfiança, abandono, injustiça... São algumas das feridas que Lisa Bourbeau nos assinala no seu livro “As cinco feridas que impedem de ser nós mesmos”.



Vejamos a seguir como podemos identificá-las:

1. O medo ao abandono
O desamparo é o pior inimigo de quem viveu o abandono em sua infância. Imaginem-se quão doloroso tem que ser para uma criança sentir o medo de estar sozinho, isolado e desprotegido diante de um mundo que não conhece.

Como consequência, quando a criança desamparada for adulta, tentará prevenir o facto de voltar a sofrer o abandono. Portanto, quem já passou por isso, vai tender a abandonar tanto os seus companheiros, como os seus projectos de forma precoce. Isso responde, única e exclusivamente, ao temor que lhe ocasiona reviver aquele sofrimento.

É muito comum que estas pessoas falem ou pensem desta forma: 
“Deixo-te antes que me deixes”, 
“ninguém me apoia, não estou disposta a suportar isto”, 
“se fores embora, não voltes…”.

Essas pessoas vão ter que trabalhar o seu medo à solidão, seu temor a serem abandonadas e a sua rejeição ao contacto físico (abraços, beijos, contactos sexuais…). Essa ferida não é fácil de curar, mas um bom começo para cicatrizá-la é confrontar o temor a ficar a sós até que flua um diálogo interior positivo e esperançoso.


2. O medo à rejeição
Essa ferida nos impede de aceitar os nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas vivências.

Sua aparição na infância é ocasionada pela rejeição dos progenitores, da família ou dos seus pares. A dor que é gerada por essa ferida impede uma construção adequada da autoestima e do amor próprio da pessoa que o sofre.

Gera pensamentos de rejeição, de não ser desejado e de desqualificação com nós mesmos.

Essa criança rejeitada não se sente merecedora de afecto nem de compreensão, o que faz com que se isole por temor a voltar a experimentar esse sofrimento.

"É provável que o adulto que foi uma criança rejeitada seja uma pessoa arredia. 
Por essa razão, devem ser tratados os medos internos 
que geram situações de pânico."

Se esse for o seu caso, ocupe o seu lugar, arrisque e tome decisões por si mesmo. Cada vez, vai lhe incomodar menos que a pessoa se afaste e não vai tomar como uma questão pessoal que se esqueceram de você em algum momento. Você é a única pessoa que você precisa para viver.


3. A humilhação
Essa ferida é gerada quando sentimos que os outros nos desaprovam e nos criticam. Podemos criar esses problemas nas nossas crianças, dizendo a elas que são desajeitadas, más ou chatas, e também mostrando os seus problemas frente aos demais (uma coisa que é, tristemente, muito comum). Isso, sem dúvida, destrói a autoestima infantil e, portanto, dificulta a possibilidade de cultivar um amor próprio saudável.

O tipo de personalidade gerada, com frequência, é uma personalidade dependente. Além disso, podemos ter aprendido a ser “tiranos” e egoístas como um mecanismo de defesa, e inclusive a humilhar os outros como escudo protector.

Ter sofrido esse tipo de experiências requer um trabalho pela nossa independência, nossa liberdade, a compreensão das nossas necessidades e temores, assim como as nossas prioridades.


4. A traição ou o medo a confiar
Essa ferida se abre quando pessoas próximas à criança não cumprem suas promessas, fazendo que ela se sinta traída e enganada. Como consequência, se gera uma desconfiança que pode ser transformada em inveja e em outros sentimentos negativos, por não se sentir merecedora do prometido e do que os demais têm.

Sofrer esses problemas na infância constrói personalidades controladoras e perfeccionistas. São pessoas que querem ter tudo pronto e arrumado, sem deixar nada ao azar.

Se já sofreu esses problemas na infância, é provável que sinta a necessidade de exercer certo controle sobre outros. Isso se justifica, frequentemente, pela presença de um carácter forte; entretanto, digamos que obedeça a um mecanismo de defesa, um escudo de protecção diante do desengano.

Essas pessoas costumam confirmar seus enganos por sua forma de actuar, justificando seus prejuízos. É necessário trabalhar a paciência, a tolerância e o saber viver, assim como aprender a estar sozinhos e a delegar responsabilidades.


5. A injustiça
O sentimento de injustiça nasce nos lares nos quais os cuidadores principais são frios e autoritários. Uma exigência excessiva gera sentimentos de ineficácia e de inutilidade, tanto na infância como na idade adulta.

Albert Einstein sintetizou esta ideia muito bem na sua frase, mais do que famosa: 
“Todos somos génios. 
Mas se julgarmos um peixe por sua habilidade de subir uma árvore, 
viveremos a vida toda a acreditar que ele é estúpido”.

Como consequência, quem experimenta essa dor, pode chegar a ser uma pessoa rígida que não admite meias nuances em nenhuma ordem da sua vida.  Costumam ser pessoas que tentam ser muito importantes e alcançar um grande poder.

É provável que seja criado um fanatismo pela ordem,  pelo perfeccionismo ou, inclusive, pelo caos. A questão é que são pessoas que radicalizam suas ideias e, por isso, têm dificuldades para tomar decisões com segurança.

Para fazer frente a esses problemas, é preciso trabalhar a desconfiança e a rigidez mental, com objectivo de gerar uma maior flexibilidade e permitir a confiança nos outros.




Agora que já conhecemos as cinco feridas da alma que podem afectar o nosso bem-estar, a nossa saúde e a nossa capacidade para nos desenvolvermos como pessoas, podemos começar a curá-las.


"O primeiro passo, 
como tudo na vida, 
é aceitar que as feridas estão em nós, 
nos dar permissão para nos zangar 
e, sobretudo, 
nos dar tempo para superá-las."




Lisa Bourbeau 
in, “As cinco feridas que impedem de ser nós mesmos”



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