Gregory Colbert
Ashes and Snow
"Feridas emocionais
são experiências dolorosas da infância
que conformam nossa personalidade adulta,
o que somos e como vamos nos confrontar
com as adversidades."
É bastante comum, infelizmente, que a nossa saúde emocional esteja danificada desde a infância. Frequentemente, não somos conscientes do que é o que nos bloqueia, o que nos dá vertigem ou o que nos provoca temor.
Em grande parte desses casos, a origem está em situações que vivemos em crianças, essas feridas que nos ocasionaram nossas primeiras experiências com o mundo e que não pudemos curar.
Devemos ser conscientes delas e, portanto, evitar disfarçá-las, pois, quanto mais tempo esperamos para curá-las, mais profundas elas vão se tornar. O medo a reviver o sofrimento que nos causaram faz com que evitemos essas situações, mas isso só vai dificultar o nosso desenvolvimento e nos prejudicará.
Traição, humilhação, desconfiança, abandono, injustiça... São algumas das feridas que Lisa Bourbeau nos assinala no seu livro “As cinco feridas que impedem de ser nós mesmos”.
Vejamos a seguir como podemos identificá-las:
1. O medo ao abandono
O desamparo é o pior inimigo de quem viveu o abandono em sua infância. Imaginem-se quão doloroso tem que ser para uma criança sentir o medo de estar sozinho, isolado e desprotegido diante de um mundo que não conhece.
Como consequência, quando a criança desamparada for adulta, tentará prevenir o facto de voltar a sofrer o abandono. Portanto, quem já passou por isso, vai tender a abandonar tanto os seus companheiros, como os seus projectos de forma precoce. Isso responde, única e exclusivamente, ao temor que lhe ocasiona reviver aquele sofrimento.
É muito comum que estas pessoas falem ou pensem desta forma:
“Deixo-te antes que me deixes”,
“ninguém me apoia, não estou disposta a suportar isto”,
“se fores embora, não voltes…”.
2. O medo à rejeição
Essa ferida nos impede de aceitar os nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas vivências.
Sua aparição na infância é ocasionada pela rejeição dos progenitores, da família ou dos seus pares. A dor que é gerada por essa ferida impede uma construção adequada da autoestima e do amor próprio da pessoa que o sofre.
Gera pensamentos de rejeição, de não ser desejado e de desqualificação com nós mesmos.
Essa criança rejeitada não se sente merecedora de afecto nem de compreensão, o que faz com que se isole por temor a voltar a experimentar esse sofrimento.
"É provável que o adulto que foi uma criança rejeitada seja uma pessoa arredia.
Por essa razão, devem ser tratados os medos internos
que geram situações de pânico."
3. A humilhação
Essa ferida é gerada quando sentimos que os outros nos desaprovam e nos criticam. Podemos criar esses problemas nas nossas crianças, dizendo a elas que são desajeitadas, más ou chatas, e também mostrando os seus problemas frente aos demais (uma coisa que é, tristemente, muito comum). Isso, sem dúvida, destrói a autoestima infantil e, portanto, dificulta a possibilidade de cultivar um amor próprio saudável.
O tipo de personalidade gerada, com frequência, é uma personalidade dependente. Além disso, podemos ter aprendido a ser “tiranos” e egoístas como um mecanismo de defesa, e inclusive a humilhar os outros como escudo protector.
Ter sofrido esse tipo de experiências requer um trabalho pela nossa independência, nossa liberdade, a compreensão das nossas necessidades e temores, assim como as nossas prioridades.
4. A traição ou o medo a confiar
Essa ferida se abre quando pessoas próximas à criança não cumprem suas promessas, fazendo que ela se sinta traída e enganada. Como consequência, se gera uma desconfiança que pode ser transformada em inveja e em outros sentimentos negativos, por não se sentir merecedora do prometido e do que os demais têm.
Sofrer esses problemas na infância constrói personalidades controladoras e perfeccionistas. São pessoas que querem ter tudo pronto e arrumado, sem deixar nada ao azar.
Se já sofreu esses problemas na infância, é provável que sinta a necessidade de exercer certo controle sobre outros. Isso se justifica, frequentemente, pela presença de um carácter forte; entretanto, digamos que obedeça a um mecanismo de defesa, um escudo de protecção diante do desengano.
Essas pessoas costumam confirmar seus enganos por sua forma de actuar, justificando seus prejuízos. É necessário trabalhar a paciência, a tolerância e o saber viver, assim como aprender a estar sozinhos e a delegar responsabilidades.
5. A injustiça
O sentimento de injustiça nasce nos lares nos quais os cuidadores principais são frios e autoritários. Uma exigência excessiva gera sentimentos de ineficácia e de inutilidade, tanto na infância como na idade adulta.
Albert Einstein sintetizou esta ideia muito bem na sua frase, mais do que famosa:
“Todos somos génios.
Mas se julgarmos um peixe por sua habilidade de subir uma árvore,
viveremos a vida toda a acreditar que ele é estúpido”.
É provável que seja criado um fanatismo pela ordem, pelo perfeccionismo ou, inclusive, pelo caos. A questão é que são pessoas que radicalizam suas ideias e, por isso, têm dificuldades para tomar decisões com segurança.
Para fazer frente a esses problemas, é preciso trabalhar a desconfiança e a rigidez mental, com objectivo de gerar uma maior flexibilidade e permitir a confiança nos outros.
Agora que já conhecemos as cinco feridas da alma que podem afectar o nosso bem-estar, a nossa saúde e a nossa capacidade para nos desenvolvermos como pessoas, podemos começar a curá-las.
"O primeiro passo,
como tudo na vida,
é aceitar que as feridas estão em nós,
nos dar permissão para nos zangar
e, sobretudo,
nos dar tempo para superá-las."
Lisa Bourbeau
in, “As cinco feridas que impedem de ser nós mesmos”
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