sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Pedido



Gosto dos teus silêncios porque estás como ausente
e me ouves de longe, e a minha voz não te toca. 
Dir-se-ia que os olhos te fugiram 
e que um beijo te fechou a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma 
tu emerges das coisas, cheia da minha alma. 
Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma 
e pareces-te com a palavra melancolia.

Gosto dos teus silêncios, quando estás como distante. 
E é como se te queixasses, borboleta em arrulho. 
E ouves-me de longe, e a minha voz não te alcança: 
Deixa-me que me cale com o teu silêncio.

Deixa que te fale também com teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, silente e constelada.
O teu silêncio é de estrela, tão remoto e tão simples.

Gosto dos teus silêncios porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então basta, um sorriso.
E alegro-me, alegro-me por não ser verdade.

Pablo Neruda

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