sábado, 2 de julho de 2016

.........................tenho intervalos em que o sonho me foge




Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. 
Então as coisas aparecem-me nítidas. 
Esvai-se a névoa de que me cerco. 
E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. 
Todas as durezas olhadas me magoam o conhecê-las durezas. 
Todos os pesos visíveis de objectos me pesam pela alma dentro. 
A minha vida é como se me batessem com ela. 

Fernando Pessoa
in, Livro do desassossego


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