quarta-feira, 1 de abril de 2015

.............é uma libertação



Impor limites não é uma estratégia, não é uma falta de liberdade, é uma libertação. 

Não há mal nenhum em saber dizer que a gente só pode, por enquanto, ir até aquele determinado ponto.
Isso é de um profundo respeito por todo o mundo.

Quem sabe impor limites aprendeu a dizer um “não” sincero, em vez de dizer “sim” e depois fugir aflito deixando alguém num deserto de dúvidas sobre o que possa ter acontecido.
Quem aprendeu a impor limites, aprendeu também a não se magoar com os nãos sinceros que recebeu, mas a agradecê-los.
Quem acha que ser livre é não ter limites, acaba sendo escravo de um comportamento, de um vício, de uma alegria, de uma convicção, de um relacionamento que não se pontua nunca.
Isto é limitador.

Ser livre é saber estabelecer limites dentro daquele contexto e ainda assim poder olhar para o mundo e para si próprio com uma visão ilimitada: quem aprende a impor limites, talvez aprenda a compreender delimitações, as deficiências alheias e as próprias. 
E quando seria uma situação de mágoa, sabe que por mais que lhe pareça desagradável a atitude do Outro, é o seu limite, o que não o reduz a ele.

Ontem comecei uma pintura abstracta numa caixa de papelão.
A ideia era deixar a mão fluir em liberdade para criar.
Fiz os contornos em preto com toda a fluidez da minha imaginação.
Em determinado momento, senti vontade de preencher com cores os espaços demarcados.
E descobri: 
Eu não queria que o meu verde invadisse o roxo, mudaria absolutamente a cor. 
Eu queria exactamente aquilo: as duas cores próximas, em harmonia, mas com o traço preto delimitando seus espaços para que todos pudessem se sobressair em sua peculiaridade e para que, no colectivo, brilhassem juntos. 
E para isso, eu precisei criar barreiras para impossibilitar as cores de se misturarem.
Pintando a minha caixa de papelão, eu descobri que estabelecer os meus limites fazia parte daquele meu momento da mais total liberdade de expressão.


Marla Queirós

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