quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O TANTRA E A ESPONTANEIDADE


N.T. - Um texto longo mas importantíssimo para ser lido por quem queira entender um pouco a abordagem do Tantra pelo Osho. 

OSHO: “No Tantra, a espontaneidade é o maior valor, ser apenas natural, permitir que a natureza aconteça… não obstruí-la, não escondê-la, não distraí-la, não levá-la para alguma outra direção para a qual ela não iria por si só.
Se render à natureza, fluir com ela – sem empurrar o rio, mas indo com ele por todo o caminho, onde quer que ele o leve – essa confiança é o Tantra. A espontaneidade é o seu mantra, a sua verdadeira base.

Espontaneidade significa que você não interfere, você está em uma entrega.
O que quer que aconteça, você observa, você é uma testemunha dos acontecimentos.
Você sabe o que está acontecendo mas não pula dentro disso, e não tenta mudar o seu curso. Espontaneidade significa que você não tem nenhuma direção.
Espontaneidade significa que você não tem nenhuma meta a atingir.
Se você tem alguma meta a atingir, você não pode ser espontâneo.
Como você pode ser espontâneo se de repente a sua essência segue em uma direção na qual a sua meta não está?
Como poderá ser espontâneo?
Você se arrastará em direção à sua meta.
Isso é o que milhões de pessoas estão fazendo – empurrando-se na direção de alguma meta imaginária. E por isso ela está perdendo o seu destino natural, aquele que é a única e verdadeira meta. É por isso que existe tanta frustração, tanta miséria, tanto inferno, porque o que quer que você faça nunca irá satisfazer à sua essência.

Então você escuta o seu ser ou escuta os conselhos dos outros? 
Se você escutar os conselhos dos outros a sua vida será uma vida vazia, apenas com frustrações. Você terminará sem ao menos ter vivido, você morrerá sem mesmo saber o que é a vida.
Mas a sociedade criou tais formas de condicionamentos em você que eles não aparecem apenas exteriormente, eles estão assentados no seu interior.
É a isso que chamo consciência condicionada.
O que quer que você queira fazer, a sua consciência dirá “Não faça isso!”
Essa consciência é a voz de seus pais, do padre, do político; eles falam através dela.
Esse é um grande truque.
Eles construíram uma consciência em você desde a sua mais tenra idade; quando você não estava ciente de tudo o que lhe estava sendo feito, eles implantaram uma consciência condicionada em você.

Culpa significa que você fez algo que os outros não queriam que você fizesse.
Assim, sempre que você é natural você se sente culpado e sempre que você não se sentir culpado, você está sendo não natural.
Esse é o dilema, essa é a dicotomia, esse é o problema.
Se você escutar a sua própria essência, você se sentirá culpado, então a miséria se estabelece. Você começa a sentir que fez algo errado, você começa a se esconder, começa a se defender, começa a fingir continuamente que não fez aquilo.
E você fica com medo – alguém pode estar prestes a lhe pegar, mais cedo ou mais tarde.
Você será pego...
E daí vem a ansiedade, a culpa e o medo...
E você perde todo o amor pela vida.
Sempre que você faz algo contrário à opinião dos outros, você se sente culpado.
E sempre que você faz o que os outros lhe dizem, você não se sente feliz, porque nunca será o que você realmente quer fazer.
E o homem encontra-se preso entre esses dois fatos.

Mas lembre-se, não é uma questão de estar certo ou errado, a questão é basicamente ser espontâneo ou não.
A espontaneidade é a coisa correta.
De outro modo você se tornará um imitador, e imitadores nunca são seres realizados.
Então o Tantra faz da espontaneidade a primeira virtude, a mais fundamental virtude.
A espontaneidade é ímpar... e agora uma outra coisa que o Tantra diz e que precisa ser muito minuciosamente compreendida – a espontaneidade pode ser de dois modos; pode ser apenas uma impulsividade, então ela não é assim tão ímpar; ou ela pode ser consciente e tem a qualidade de ser ímpar, a qualidade de Buda.

Qual seria a diferença entre ser impulsivo e ser espontâneo? 
Você tem duas coisas em você: o corpo e a mente.
A mente é controlada pela sociedade e o corpo é controlado pela sua biologia.
A mente é controlada pela sua sociedade porque a sociedade pode colocar pensamentos em sua mente;e seu corpo é controlado por milhões de anos de crescimento biológico.
O corpo é inconsciente, logo inconsciente da mente; e você é um observador além do corpo e da mente.
Então, se você parar de escutar a mente e a sociedade, existirá toda a possibilidade de você começar a escutar o biológico.

Por espontaneidade o Tantra quer dizer uma espontaneidade cheia de consciência.
Assim, a primeira coisa: ser espontâneo é ser totalmente consciente.
No momento em que você for plenamente consciente, você não estará nem no jogo da mente nem no jogo do corpo.
A verdadeira espontaneidade fluirá de sua alma – do seu céu, do seu mar a sua espontaneidade fluirá.
Caso contrário, você pode mudar seu mestre, você pode trocar do corpo para a mente, ou pode trocar da mente para o corpo.
O corpo adormece rápido; seguir o corpo será seguir um cego.
E a espontaneidade irá apenas lhe conduzir a uma vala.
Ela não ajudará.
Impulsividade não é espontaneidade.
Sim, o impulso tem uma certa espontaneidade, mais espontaneidade que a mente, mas ele não tem aquela qualidade que o Tantra quer que você assimile.

Nós vivemos inconscientemente.
Se nós vivemos na mente ou no corpo, isso não faz muita diferença; nós vivemos inconscientemente.
Quando você está sob a influência do corpo, você está sob a influência da química.
Uma vez mais: você saiu de uma armadilha, mas outra vez você está preso em outra armadilha.
Você saiu de uma vala, mas caiu em outra vala.
Quando você quiser realmente sair de todas as valas e gozar da liberdade, você terá que se tornar uma testemunha de ambos, do corpo e da mente.
Quando você estiver testemunhando e sua espontaneidade advir do seu testemunhar, então esta será a espontaneidade ímpar, única, singular.

O Tantra é transcendência.
Se você pensa que você é o corpo, você está anuviado, está identificado com as nuvens.
E se você pensa que você é a mente, de novo está anuviado.
Se você pensa de qualquer maneira que o identifique com o corpo ou com a mente, você está perdendo o rumo.
Se você se despertar e de repente se vir apenas como uma testemunha que vê o corpo e que vê a mente, você terá se tornado um Saraha, a flecha foi atirada.
Nessa mudança de consciência – simplesmente uma pequena mudança de marcha – a flecha é atirada, você chega à fonte.
Na verdade, você nunca tinha saído dela.”

OSHO 
in,A Visão Tântrica; discursos sobre as canções de Saraha. Cap.3

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