sábado, 14 de dezembro de 2013

As Mulheres e a Solidão


Não creio que as mulheres tenham problemas de solidão.
Estão preparadas para a solidão e, em geral, para toda a espécie de sofrimento; a natureza dotou-as com singulares poderes de resistência, o que os doutos alquimistas diziam ser humor frio e incapaz de maturidade intelectual.
Acho mesmo que a solidão é um estado natural da mulher; e por isso todos os movimentos ascéticos que envolviam retiro e culto da experiência espiritual, desde as vestais de Roma até às Damas do Amor Cortês, na Provença, partiam dum sentimento feminino muito acentuado.
Os homens não encaram bem esse protótipo de mulher espiritual, porque ele é o único que recria a independência feminina depois do primeiro Éden.
E diz-se primeiro Éden porque, segundo as Escrituras, houve, antes de Eva, uma mulher pura, inteligente e igual ao homem, de grande condição metafísica, porém cruel e sumamente poderosa. Chamava-se Lilith.
Em suma, o mito da mulher fatal, que o homem teme e, ao mesmo tempo, pretende conhecer como sua verdadeira metade.

O dilema é este: nós as mulheres, somos prosaicas, sobretudo quando somos naturais.
É próprio daqueles que são delicados e frágeis o serem terra-a-terra, porque isso lhes dá a impressão de estarem mais protegidos.
A realidade protege mais do que os sonhos, do que as coisas imaginárias.

Agustina Bessa-Luís
In "Dicionário Imperfeito"


"Com todo o respeito que tenho pela Grande Agustina Bessa-Luís, apesar de preferir a Natália Correia, defensora dos poetas sonhadores, neste texto noto um pouco do seu apego à Tradição Católica e muitas mulheres da minha geração e mais novas ainda pensam assim.

Para quê viver um amor só de carícias, sonhos, passeios no parque com a Lua Cheia, amores que são encontros esporádicos mas com muitas saudades quando voltam, amores que não se acomodam numa casa de quatro paredes, amores uma vez por semana e mais fortes, amores que são partilha de livros, como foi Lincoln com a sua primeira paixão?
Para quê?

O importante é sermos modernos, neoliberais e ao mesmo tempo tradicionais.
Quanta contradição.

O importante é um homem forte, com estabilidade financeira, escravo do Mundo Seguro do Mercado do Trabalho.
Que bonito os sonhos inexistentes.
Que bonita a falta de telepatia e sensações.
Para quê um menino da mamã, que foi sempre educado por mulheres, e inclinado para a arte e intervenção na Sociedade para trazer as utopias para o mundo?
Tem ele culpa de os pais se terem separado amigávelmente quando era bebé, de se sentir mais atraído pelo misterioso feminino do que pelo masculino tão vulgar, que o repugna com aquelas conversas de futebol e caserna pornográfica?

Algumas separações, são para sempre estranhos, já não se conhecem, precisamente porque foi forte a chama e não o corpo nem o dinheiro!

Os "romanos" que continuem a crucificar estes homens, esses "romanos" que estão bem inseridos e ganham o amor das mulheres.
São fortes.
Força, prática, cegueira para as Mulheres.
Força que dá em violência doméstica.
Quantos poetas bateram em mulheres?
E quantos senhores empresários bateram nas mulheres, depois de irem às tabernas e às prostitutas?
Já pensaram nisso?
Já pensou nisso, Senhora Agustina Bessa-Luís?

A humanidade, há séculos que não sai da cepa torta.


No entanto, sem fugir muito ao texto, a questão aqui...é deixar falar as mulheres...por si, e para si, como se sentem e o que pensam, e isto nada tem a ver com o que disse sobre a escritora,de quem gosto muito, que extrapola o que concerne este excerto e com o qual eu concordo, mas digo isto só porque é tempo de deixar falar as mulheres..."


Rosa Leonor Pedro

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