sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Eu não me importo com nada do que me digas esta noite



Hoje podes deitar-te na minha cama
e contar-me mentiras - dizer, não sei,
que o amor tem a forma da minha mão
ou que os meus beijos são perguntas que
não queres que ninguém te faça senão eu; 
que as flores bordadas na dobra do meu lençol 
são de jardins perfeitos que
antes só existiam nos teus sonhos; 
e que na curva dos meus braços 
as horas são mais pequenas 
do que uma voz que no escuro se apagasse. 
Hoje podes rasgar cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. 
Eu não me importo com nada do que me digas 
esta noite: amo-te, e amar-te é reconhecer 
o pólen excessivo das corolas, 
o seu vermelho impossível. 
Mas amanhã, antes de partires,
não digas nada, 
não me beijes nas costas do meu sono. 
Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes.

Maria do Rosário Pedreira

Sem comentários:

Enviar um comentário