domingo, 25 de outubro de 2015
O teatro
Sim... provavelmente alguém terá dito que a vida é simplesmente um teatro e que provavelmente nele desempenhamos vários papéis como actores. Onde talvez se possa acreditar que tudo tenha tido início por uns lampejos de luz num circo interativo - luzes essas que se transformaram um dia em bebés que cresceram tornando-se crianças e, mais tarde talvez egos amadurecidos, personalidades criativas ou actores que começaram a preencher lugares, a pensar, a questionar-se colocando várias máscaras conforme os cenários… máscaras essas que por vezes se tornaram difíceis de retirar.
Talvez nesse seu percurso o pequeno actor deste teatro vá passando por vários papéis – uns como estudante ou aprendiz, por vezes como artista criativo, transformador de realidades da vida, marido, pai, trabalhador, chefe, identificando-se totalmente com a personalidade que desempenha, esquecendo-se muitas vezes de si – de quem verdadeiramente é. Outras vezes tomando o papel de revolucionário da mudança ou simplesmente de perdedor – também de palhaço triste, frustrado no papel que desempenha.
Na dinâmica do seu percurso na história deste teatro foram vários os elencos que foi tendo como culpado ou agressor, perpetrador ou vítima. Surgiram-lhe também papéis como auxiliador, salvador, de alguém que tenta compensar um passado… ou talvez não. Por vezes surgiram-lhe lugares de simples figurante, para poder trabalhar a humildade, ou de observador que nada faz – permanecendo com o peso de ser só uma testemunha que nunca age...
Actor sim, que de vez em quando parece recordar-se das várias peças diferentes que teve em cenários esquecidos, perdendo-se na sua memória quase todos os personagens que desempenhou, embora elas pareçam regressar por vezes como fantasmas, que presumem insurgir-se influenciando-o, abanando a serenidade do seu dia-a-dia fazendo-o recordar delas.
Nesta sua vida semiadormecida na responsabilidade do seu papel, o frágil actor nem se apercebe da mudança das várias personalidades que vai desempenhando na sua efémera vida, das realidades que cria ou vive… ou talvez possa nem mesmo ter consciência para sentir-se, para se aperceber de quem é ou mesmo que respira, pois são muitas os papéis que desempenha, às vezes em tempos e momentos diferentes. A única preocupação que tem é a sua função ou aquilo que os outros esperam de si, pois sabe que existe quem o observe… e os críticos também não perdoam.
Será que algum dia conseguirá parar para descansar?
Questiona-se por vezes…
Mas sim… claro que o teatro nunca irá parar. Às vezes parece uma ilusão ou um simples entretenimento mas não é. Nele existe luta, drama, desafios, medo e glória, pois é cheio de vida. Ele desperta, manifesta-se numa dinâmica própria e morre todos os dias. No intervalo da noite descansa-se e prepara-se as forças, refazendo elencos, criando novas personagens para o dia seguinte.
Para o actor existem momentos em que várias são as questões que parecem surgir-lhe na mente:
Onde começa ou acaba cada personagem neste teatro onde se encontra?
Onde será que muda a sua história, o seu contexto?
Interroga-se mesmo por vezes o que poderá ganhar ele em cada desempenho, pois já se esqueceu do seu verdadeiro valor.
Na evasão por vezes do adormecimento no seu trabalho questiona-se quem poderá ser ele na realidade?
Quem será o verdadeiro actor que desempenha tantos papéis?
Pois está confuso com tantas mudanças de personagens diferentes que já teve, identificando-se muitas vezes totalmente com elas. Na sua arte claro que prefere ser protagonista em certos papéis preferenciais neste belíssimo teatro que parece nunca ter fim - sempre com cenários diferentes, onde ele se vai repetindo peça por peça sem se cansar. Sabe que como protagonista num dado papel também será reconhecido, aceite, amado… algo que lhe dá paz, serenidade, que o faz sentir-se bem consigo próprio.
“Será que algum dia conseguirei parar?”
Questiona num dado momento, na sua breve crise existencialista que às vezes surge.
Porém depressa se esquece, pois a vida não para e o carrossel continua, fazendo-lhe recordar os seus tempos de infância, no bonito circo onde nasceu…
Benjamim Levy
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário