Vivemos isso não só nas religiões,
mas também na política.
mas também na política.
No Cristianismo o caso é mais sério.
Se você provar que Jesus não existiu, acabou o Cristianismo. Todos os preceitos morais, toda a ideologia cristã depende terrivelmente dessa figura central. Para os católicos e cristãos fundamentalistas a dependência é ainda maior: Jesus morreu para salvá-los, assim qualquer alteração na história de Jesus, como as tradições que dizem que ele não morreu na cruz, que foi tirado antes e foi morar na Índia, onde tem até um túmulo que alegam ser dele, destrói completamente a base dessas religiões.
O Budhismo é um caso mais complexo. Como o Cristianismo, o Budhismo se desenvolveu em muitas e diferentes seitas. Temos desde escolas filosóficas como o Zen até Escolas que acreditam que basta você ficar cantando uns mantras e chamando um certo Budha ( existiram vários além do histórico Sidarta Gautama) e está a "salvo".
O Espiritismo Kardecista quando surgiu não tinha linha filosófica clara. Existem uns escritos de Madame Blavatsky nos quais ela comenta que o espiritismo é tão confuso que iria acabar adoptando o Cristianismo como base religiosa... E foi o que aconteceu.
Esse papel torna Kardec um codificador, mas não o coloca numa perspectiva histórica, no mesmo patamar de Jesus ou Gautama Budha, ou Maomé, ou Krishna.
Esses seres que cito foram seres semi divinos, seres cercados de uma aura que os colocava num nível muito particular. Jesus é o filho de um Deus tribal, o Deus dos Judeus, que foi imposto como Deus universal. É engraçado notar esse equívoco tremendo, quando colocam um deus tribal no lugar do conceito de Divindade Cósmica e chamam esse deus tribal de deus único e consideram esse arremedo de monoteísmo uma evolução, em relação ao panteísmo que sente a divindade em todas as manifestações da natureza ou ao politeísmo que cultua várias divindades.
O Budhismo tem uma perspectiva inicial diferente:
Sidarta Gautama é um homem comum, como nós, que realiza o despertar e DESPERTANDO se torna o BUDHA, que quer dizer desperto. Ele não é diferente de nenhum outro ser humano e seu caminho pode ser trilhado por qualquer um. Enquanto Jesus "morre para salvar seus fiéis", mantendo antigas práticas mágicas do "cordeiro sacrificial", Gautama ensina um caminho para que qualquer um que se dedique também desperte.
Quando nos aproximamos da Wicca não vamos encontrar nenhum conceito de "salvação por procuração" fixado em um ser humano. Se notarmos com atenção a Religião da Deusa nunca desapareceu completamente. Esteve hibernando, esperando que o inverno árido espiritual que caiu sobre esta parte do mundo passasse, com toda sua terrível perseguição, principalmente às mulheres, que se dedicavam à ARTE.
Gardner tem acesso a uma antiga linhagem que sobrevive de forma discreta e pode então lançar as bases do que vai ser um "renascimento" público da Wicca e, por tabela, de várias outras formas de paganismo.
O que mais caracteriza o paganismo em geral?
A sintonia com a natureza, o reconhecimento da divindade em cada momento da natureza, o reconhecimento desse elo profundo e intransferível que temos para com a natureza e a percepção que a Divindade, a Eternidade que nos envolve é feminina.
Este aspecto é muito interessante e traz de volta uma questão muito séria.
Não se trata de um simbolismo, não se trata, como querem alguns, que os "primitivos" consideravam a mulher um símbolo melhor para a Divindade. Aliás, é mesmo um símbolo mais rico, pois a mulher gera, assim a Deusa "emana" a criação de si, ao contrário das divindades patriarcais que precisam "criar", "modelar em argila" e outros subterfúgios mais para quem não tem útero. Não é mero símbolo, é muito mais que isso, de facto a Eternidade que nos envolve É FEMININA.
E isso não é apenas na Wicca, não.
O Xamanismo em várias versões coloca isso da mesma forma.
Vivemos num universo feminino e num planeta feminino. Isso não desmerece o homem e o masculino. Até pelo contrário, explica porque ficamos nesta condição de "reis da cocada preta", pois sendo uma energia mais rara na existência ganhamos uma proeminência que podia ter sido usada de forma bem mais inteligente e criativa que o criar dessa civilização doentia de valores pseudo-patriarcais na qual estamos inseridos.
Assim sendo, na Wicca não temos "avatares" de destaque que representam "guias" no caminho. Nosso contacto é directo com a Deusa e suas várias faces, nosso trabalho é directo com a Fonte.
Gardner e tantos outros são "expoentes" da ARTE, pessoas sérias que ao dedicarem-se ao estudo profundo da ARTE nos auxiliam a compreender melhor sua complexa simplicidade.
A Deusa tem várias faces e também é a SEM FACE, pura essência, que está em nós e em cada fenômeno e evento com o qual interagimos.
Há uma tradição interessante, hoje quase perdida, que conta que na senda iniciática o(a) aprendiz começa por conhecer as 3 faces da Deusa:
A menina, a Mulher e a Anciã.
As 3 fiandeiras que tecem o destino de todos.
Então, quando está pronto(a) o(a) aprendiz é levado a conhecer a face escura e secreta da Deusa, sua face negra.
Após esse momento o(a) aprendiz compreende os Quatro Cantos do Mundo e seu desafio agora é ser o Quinto ponto, o centro, após conhecer as quatro faces da Deusa é momento de ser a Quinta Essência, a Quinta face, manifestar a Deusa em SI.
Quando realiza este quinto momento, quando sente e "É" a Deusa em si olha para Cima e para Baixo e encontra a Deusa nos Céus e na Terra que pisa. Realizou o Sexto e o Sétimo passo em seu caminho. É então que encontra o Oito, o infinito e todas as barreiras caem, descobre que todas as imagens que usava para representar a Deusa eram ainda pálidas aproximações da realidade, caem as máscaras e podemos então SENTIR a Deusa em SI mesma, em toda a plenitude de seu poder.
Se isto é realizado, estamos prontos para entrar na nona esfera de iniciação e então conhecer o Mistério além do Tempo, além do Espaço. E então voltamos a ser unidade ao lado do Zero, 10. Nós, a unidade, fortalecidos e "potencializados pela Orubós sem fim, a Deusa que nutre de si mesma, a Existência cíclica.
Na Wicca, como em outros ramos profundos do paganismo, não precisamos acreditar em avatares dos Deuses ou da Deusa, em pessoas que criaram dogmas e regras, que tem seu papel sim, no começo do caminho, para evitar confusões, mas como aquelas rodinhas que usamos para aprender a andar de bicicleta, podem virar uma dependência limitante se não temos a coragem de quando estamos prontos, tirar tais rodinhas e andar sem as mesmas, com a certeza que se não estivermos de fato prontos, o tombo vem.
Nosso elo é direto com a DEUSA e seu Consorte, com a VIDA, e a Vida só se revela sendo vivida. Qualquer teorização excessiva é sempre sinal de fuga da vida em si, real e efetiva, para ficar justificando com elaborações racionais.
in, Pistas do Caminho
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