segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Corpo de Dor



Para a maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos e repetitivos. Não são mais do que uma espécie de estática mental e não satisfazem nenhum propósito verdadeiro. Num sentido estrito, não pensamos- o pensamento acontece em nós.

“Eu penso” é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”. A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.

A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar. O termo oriental para isso é karma.

O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reacções do corpo ao que essa voz diz.

A voz na cabeça conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage. Essas reacções são as emoções.

A voz do ego perturba continuamente o estado natural de bem-estar do ser. Quase todo corpo humano se encontra sob grande tensão e stress, mas não porque esteja sendo ameaçado por algum factor externo- a ameaça vem da mente.

O que é uma emoção negativa? É aquela que é tóxica para o corpo e interfere no seu equilíbrio e funcionamento harmonioso.

Medo, ansiedade, raiva, ressentimento, tristeza, rancor ou desgosto intenso, ciúme, inveja- tudo isso perturba o fluxo da energia pelo corpo, afecta o coração, o sistema imunológico, a digestão, a produção de hormonas, e assim por diante. Até mesmo a medicina tradicional, que ainda sabe muito pouco sobre como o ego funciona, está a começar a reconhecer a ligação entre os estados emocionais negativos e as doenças físicas. Uma emoção que prejudica nosso corpo também contamina as pessoas com quem temos contacto e, indirectamente, por um processo de reacção em cadeia, um incontável número de indivíduos com quem nunca nos encontramos. Existe um termo genérico para todas as emoções negativas: INFELICIDADE.

Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todas as pessoas carregam no seu campo energético um acumular de antigas dores emocionais, que chamamos de “corpo de dor”.
O “corpo de dor” não consegue digerir um pensamento feliz. Ele só tem capacidade para consumir os pensamentos negativos porque apenas esses são compatíveis com seu próprio campo de energia.

Não é que sejamos incapazes de deter o turbilhão de pensamentos negativos- o mais provável é que nos falte vontade de interromper o seu curso. Isso acontece porque, nesse ponto, o “corpo de dor” está a viver por nosso intermédio, fingindo ser nós. E, para ele, a dor é prazer. Ele devora ansiosamente todos os pensamentos negativos.

Nos relacionamentos íntimos, os “corpos de dor” costumam ser espertos o bastante para permanecer discretos até que as duas pessoas comecem a viver juntas e, de preferência, assinem um contrato comprometendo-se a ficar unidas pelo resto da vida.
Nós não nos casamos apenas com uma mulher ou com um homem, também nos casamos com o “corpo de dor” dessa pessoa.

Pode ser um verdadeiro choque quando- talvez não muito tempo depois de começarmos a viver sob o mesmo tecto ou após a lua-de-mel – vemos que o nosso parceiro ou a nossa parceira está a exibir uma personalidade totalmente diferente. Sua voz se torna mais áspera ou aguda quando nos acusa, nos culpa ou grita connosco, em geral por uma questão de menor importância.

A essa altura, podemos nos perguntar se essa é a verdadeira face daquela pessoa – a que nunca tínhamos visto antes- e se cometemos um grande erro quando a escolhemos como companheira. Na realidade, essa não é a sua face genuína, apenas o “corpo de dor” que assumiu temporariamente o controle.

Seria difícil encontrar um parceiro ou uma parceira que não carregasse um “corpo de dor”, no entanto seria sensato escolher alguém que não tivesse um “corpo de dor” tão denso. O começo da nossa libertação do “corpo de dor” está primeiramente na compreensão de que o temos.

É a nossa presença consciente que rompe a identificação com o “corpo de dor”. Quando não nos identificamos mais com ele, o “corpo de dor” torna-se incapaz de controlar os nossos pensamentos e, assim, não consegue renovar-se, pois deixa de se alimentar deles. Na maioria dos casos, ele não se dissipa imediatamente.

No entanto, assim que desfazemos a sua ligação com o nosso pensamento, ele começa a perder energia.

A energia que estava presa no “corpo de dor” muda a sua frequência vibracional e é convertida em “presença”.


ECKHART TOLLE
in, Um Novo Mundo - Despertar de uma Nova Consciência




Será que as emoções positivas têm, então, o efeito oposto no corpo físico?
Será que elas fortalecem o sistema imunológico, revigoram e curam o corpo?
Elas o fazem, na verdade, mas precisamos diferenciar entre as emoções positivas que são geradas pelo ego, e as emoções mais profundas que emanam do seu estado natural de conexão com o Ser.

As emoções positivas geradas pelo ego já contêm em si mesmas o seu oposto em que elas podem rapidamente se transformar.
Aqui estão alguns exemplos: O que o ego chama de amor é a possessividade e o apego, que pode se transformar em ódio em questão de segundos.
A expectativa sobre um evento futuro, que é a supervalorização do ego sobre o futuro, transforma-se facilmente em seu oposto – decepção ou desânimo – quando o evento termina ou não preenche as expectativas do ego. Louvor e reconhecimento o fazem se sentir vivo e feliz um dia; ser criticado ou ignorado o tornam deprimido e infeliz no seguinte.
O prazer de uma grande festa se transforma em frieza e ressaca na manhã seguinte.
Emoções geradas pelo ego são derivadas da identificação da mente com fatores externos que são, é claro, instáveis e sujeitos a alterações a qualquer momento. As emoções mais profundas não são realmente emoções, sob qualquer condição, mas estados do Ser.

As Emoções existem no reino dos opostos.
Os Estados do Ser podem ser obscurecidos, mas eles não têm oposto.
Eles emanam de dentro de você como o amor, a alegria e a paz, que são aspectos de sua verdadeira natureza.


Eckhart Tolle




Este livro é uma das minhas bíblias, e este capítulo, sobre o Corpo de Dor, é dos que está mais sublinhado e com mais notas...
Uma coisa é reconhecer como positivo o que lá está escrito.
Outra bem diferente, é que tudo isso se reflicta nas minhas atitudes e emoções.
É muito difícil romper com essa identificação.
É uma luta que o meu ego trava com a minha consciência.
A forma que encontrei de o enfraquecer, foi estar sozinha, em silêncio comigo mesma.
Só assim me consigo conectar com o Cosmos, com a minha Essência, com a minha Divindade Interna. Só assim me sinto mais leve, mais segura, e com a minha intuição mais apurada.
Só assim consigo manter o Centro e o Equilíbrio.

Mas ainda tenho aqui muito lixo para limpar no meu porão...
Passo a Passo, o Caminho Faz-se Caminhando...


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