segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Capricórnio...o velho LOBO DO MAR



Capricórnio sempre traz consigo o tema da antiguidade, da tradição, do que é antigo e do que, de alguma forma, é "eterno" por ser tão ancião que remonta àquele tempo ainda antes da memória.
In illo tempore, como diz a locução latina: aquele tempo antigo ainda antes - se calhar - do início do tempo em que se viriam a inscrever-se os traços que formaram - e que reconfiguram, permanentemente - nossa própria memória.

E se Capricórnio representa não só o antigo, mas também todas as estruturas que nos contêm, protegem, proporcionam securização e delimitam as realidades - e, assim, nossas possibilidades -, que funcionam como as paredes de uma casa (ou a arquitectura invisível que determina nossas possibilidades de Ser) e dentro das quais nossas existências, individuais e colectivas, têm lugar, enquanto exploramos e ampliamos - desejavelmente, ampliamos - estes nossos limites ao explorarmos toda latitude possível, nossa margem de liberdade e de movimentos dentro dessas aparentemente impostas estruturas, e que deixam - curiosamente - de ser impostas quando são aceites, não como paredes que nos limitam a liberdade de acção e controlam, mas como as estruturas que nos contêm, securizam e protegem, então Capricórnio representa também as estruturas de securização que nos revestem no nosso confronto com o exterior, na nossa relação com a sociedade, e na nossa presença no mundo.

Representa, por isso, a profissão, os papéis sociais que vestimos, as funções que desempenhamos, o cargo, a imagem pública, o estatuto. De certa forma, a nossa relação com as "autoridades" no mundo exterior e a dimensão da nossa própria autoridade na nossa relação com o mundo.

Capricórnio é o chefe, é quem manda, é quem dita as regras, é quem tem a autoridade - e, por isso mesmo e idealmente, a responsabilidade, o dever, o poder de decidir mas também de garantir e proporcionar e, assim, a expectativa sobre si de tomar conta, e suportar de alguma maneira (ou de várias) aqueles que se lhe submetem, que dele dependem, que contam com ele para proporcionar as leis, as regras, a indicação clara do que pode e/ou deve ser feito, aquilo que é esperado, aquilo que é suposto, aquilo que é aceite, aquilo que é recompensado.

E é com ele que se conta, naturalmente, para assegurar a recompensa - o sucesso, o salário, a protecção - se as suas regras e leis foram cumpridas. É a figura a quem se confia o poder de nos dizer o que fazer, como e quando, ou quais os resultados esperados, supostos ou devidos; e com a garantia de que em contrapartida fará sua parte de acordo com as regras estabelecidas.
Protecção em troca de obediência, sucesso em troca de aceitação, recompensa em troca de cumprir a missão dentro dos limites (de tempo, de forma, de modo, de estilo, de recursos, de energia) existentes.

É assim, também, que Capricórnio representa o princípio da Lei que determina não só o que é possível, mas o que é desejável - valorizado, recompensado - de cumprir, atingir, tornar ou ser. E por extensão, aquilo a que chamamos "sucesso", entendido como o culminar de um percurso cheio de dificuldades, restrições, limites, condições e circunstâncias que o sabedoria de Capricórnio e a aprendizagem que nos propõe permite atingir como ao cume de uma montanha ao fim de uma longa escalada (não será um acaso que um dos símbolos de Capricórnio é a cabra-montesa, e capri-cornius signifique o caprino com chifres). E se extrapolarmos o simbolismo para a dimensão mais abstracta e genérica da Vida, podemos fazer equivaler esta designação de "sucesso" a qualquer conquista fruto de um longo labor - poderíamos chamar, simplesmente, de culminar, ou maturidade.

Como diz o outro, "eu demorei muito tempo a tornar-me um sucesso de um dia para o outro" - personalizando aquela outra máxima que diz que o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

Naturalmente mas de forma nem sempre evidente, qualquer arquétipo tem múltiplos níveis de expressão, de manifestação, e de significado, consoante a dimensão de consciência a que se refira, ou de outro modo, a dimensão da consciência que sobre si se debruça; e por isso, "maturidade" referir-se, aqui, a muitas possibilidades, variantes, e dimensões.

Pode ser, é certo, chegar à idade adulta com uma sabedoria de experiências feita (nunca ninguém ouviu falar de um novo lobo do mar, mas apenas de um velho lobo do mar) - essa que exige tempo, vivência, sabedoria, experiência, aprendizagem, tentativa, acção, consequência, aprendizagem, ilação, ajuste, esforço, nova tentativa, enquanto se vai descobrindo e ajustando a melhor forma de navegar os traiçoeiros, imprevisíveis e inicialmente desconhecidos fluxos da vida - pelo menos até ter de experiência o tempo suficiente para lhes começar a descortinar uma certa regularidade, ou certas leis, ou certos ritmos relativamente previsíveis de uma cadência própria, que só podem ser descobertos quando ganhamos perspectiva, distanciamento, visão de conjunto, e acima de tudo tempo suficiente para a reconhecer, à cadência, e que qualquer ciclo pode ser reconhecido se a nossa visão for macro-cósmica o suficiente.
Tudo é cíclico mesmo quando a nossa percepção particular é demasiado estreita, jovem, ou está demasiado submersa no imediatismo das circunstâncias para podermos reconhecer, à falta do distanciamento necessário, os macro-ciclos que inevitavelmente se repetem se lhes dermos o tempo suficiente para se manifestarem, e a nós o tempo suficiente para os aprendermos a reconhecer e apreciar.

Pode também - a "maturidade" - significar a maestria que um dedicado espírito atinge quando decide e escolhe, e honra a escolha feita, de consagrar a sua vida e a escassez dos seus próprios recursos (de tempo, de energia, de foco, de atenção) a práticas e rituais que o levarão, com o tempo, ao sucesso inevitável da sua própria empresa espiritual.

Ou à condição de consultor-sénior, de treinador, de administrador - ou qualquer outra condição ou variante que traduza e implique o resultado deste tipo de escolha determinada: o de alcançar o máximo do que se pode alcançar, dentro da conformidade por regras e limites implícitos e inevitáveis, enquanto a tarimba, a experiência e a aprendizagem vão tendo lugar e sedimentando e tornando-se elas próprias assim a base de novas experiências e das aprendizagens futuras, enquanto o tempo passa, enquanto o tempo corre, e tudo isto em direcção ao sucesso que virá com o tempo se as regras forem cumpridas, se as condições se mantiverem inalteráveis, e se a vida for vivida a favor do tempo, que é como quem diz, se uma imensa jornada de mil passos puder ser feita, decidida e resolutamente, com um primeiro passo e a partir daí - com um passo de cada vez.

O que é chato para nós, seres humanos, é que tirando as Leis Cósmicas, aquelas que estruturam e regem toda a manifestação e que são ensinadas desde há milhares de anos, sob múltiplas roupagens mas apontando sempre a mesma essência - tirando essas, todas as outras condições, e regras, mudam.

Mudam-se os tempos e as vontades; e as autoridades humanas, que têm perante a Eternidade a mesma duração que o bocejo de uma varejeira, tendem a criar as suas próprias leis e regras do que é desejável, suposto, bonito, recompensado, valioso, esperado para muitos dos outros que a si se submetem, ou que nelas acreditam; ao mesmo tempo que baseiam, essas pequenas autoridades humanas, as suas pequenas autoridades em critérios e valores tão sólidos, reais e duradouros como os voláteis vapores que se soltam de uma garrafa de conhaque. No poder temporal de que estão temporalmente investidos. Na autoridade científica, enquanto a descoberta seguinte não a destrona. No paradigma do que é a beleza, enquanto o paradigma seguinte não vem tomar conta. No conhecimento esclarecido, enquanto um conhecimento mais avançado não lhe vem esclarecer a ignorância.

E é nestas areias movediças, condenadas à flutuação, renovação, destruição cíclica e mudança inevitável que as autoridades humanas tendem a querer basear o seu poder de serem autoridades para os outros.
Tome-se o exemplo da Inquisição, que obrigou visionários como Galileu a retractar-se em tribunal ou Copérnico a permanecer silencioso e discreto sobre a sua própria mundivisão cosmogónica para não sofrer retaliações - quando já tinham antecipado o novo paradigma colectivo no qual a Terra se move, e que hoje em dia "já" é evidente para "toda a gente" que é ela, a TErra, quem orbita ao redor do Sol e não ao contrário, como as autoridades religiosas e científicas da época insistiam em sustentar - e isto, evidentemente, até que telescópios e fórmulas matemáticas mais avançadas sustentem cientificamente o óbvio, que todo o Universo dança e se manifesta ciclicamente, e que depois do mais recente big-bang chegará o próximo, e depois desse o seguinte - enquanto isso, temporalmente, as autoridadezinhas humanas vão assentando arraiais nas suas próprias verdades temporais e relativas, tão sustentadas e firmes como se acocoradas em cima de ovos.

São muito voláteis, afinal, os vapores que se soltam de uma recém-aberta garrafa de conhaque. E todo sabemos que trabalho é trabalho, e conhaque é conhaque. E que levar demasiado a sério uma autoridade cega e ignorante, mesmo que ela possa temporariamente prometer - ou até garantir, por que não?, temporariamente, como tudo o que é humano - recompensa, aprovação ou "garantia" de sucesso, desejado ou necessário, é - do ponto de vista do "longo prazo", uma grande estupidez. Porque afinal, são "regras" com as quais, a longo prazo, não se pode realmente contar.

- especialmente nestes tempos em que o transformador Plutão atravessa Capricórnio e põe do avesso a segurança e a previsibilidade das regras antigas baseadas nas pequenas certezas do nosso velho mundo, carreira, estado-providência, garantia de emprego para toda a vida e direito à reforma incluídos.
How Capricorn is that? -

De modo que Capricórnio, que quer saber mais de trabalho do que de conhaque, também nos remete para aquilo que é duradouro, real, efectivo, e pouco passível de vir a ser alterado com as modas passageiras, com o fogo fátuo dos entusiasmos, com a cegueira, o egoísmo, a instabilidade imprevisível e a subjectividade emocional de uma humanidade ainda demasiado cega para o essencial - uma humanidade imatura, de certo ponto de vista, embora rodeada de brinquedos (destrutivos) já muito sofisticados.

Capricórnio pede-nos que nos dediquemos ao essencial, quero dizer, ao real, quero dizer, ao duradouro, quero dizer, àquilo que permanecerá muito depois da festa acabar - a infraestrutura que acolhe, por assim dizer, a festa e lhe proporciona um lugar seguro e delimitado para que ela tenha lugar.

Capricórnio pede-nos que olhemos mais fundo, mais atrás, e mais à frente em simultâneo, e nos perguntemos o que é "duradouro". O que é "real". O que permanecerá depois da civilização. O que permanecerá depois desta ronda de encarnações. O que ficará para nossos trinetos. Aliás, o que receberão os trinetos de nossos trinetos. O que é o mesmo que perguntar: o que já havia quando chegaram o tetravós dos nossos tetravós. Porque essa antiguidade intemporal, e essa dimensão de incorruptibilidade que permanece e sobrevive a todas as modas e fantasias passageiras, essa é a única realidade que a Capricórnio interessa.

Porque essa é a única em que - em última análise - se pode realmente contar a la longue.
As únicas leis que não mudam com os paradigmas, civilizações e culturas são as Leis Eternas.
E se as leis dos homens fossem tão poderosamente simples como as de deus, não teríamos precisado de fabricar trinta e cinco mil milhões de leis para fazer cumprir dez mandamentos simples, que se poderiam eles próprios reduzir, fosse o Homem capaz de encontrar já a dimensão da totalidade na simplicidade, ou a eternidade num segundo, ou a dimensão do oceano numa única gota, ou a reconhecer no bife que come com batatas fritas e ovo a cavalo toda a história dos seus próprios antepassados e de todos os seres sencientes que alguma vez existiram, sentiram, gostaram ou sofreram e deram a sua vez para que este homem em particular pudesse vir a existir e a apreciar o sabor de um bife com batatas fritas com ovo a cavalo - ou a repugnar-se com a ideia de estar a comer um animal, ou indignar-se simplesmente com o empregado de mesa por ter servido primeiro o vinho nos copos da mesa do lado; fosse o Homem capaz de encontrar o Todo em cada uma das suas ínfimas partículas, poderíamos condensar trinta e cinco mil milhões de leis em dez mandamentos e depois todos estes num único: num que nos veio ensinar - diz a tradição - o homem que nasceu por esta altura e que foi, assim mesmo, o Mestre dos Mestres. O homem que nasceu para nos deixar a mensagem fundamental: amai-vos uns aos outros.

De modo que, se Capricórnio é o sucesso que vem com o reconhecimento das leis do sucesso que conduzem à maturidade,

e se a retrogradação de Vénus (21 de Dezembro de 2013...há mais de duzentos anos, que isto não acontecia - isto da Vénus fazer uma retrogradação integral no signo de Capricórnio.) nos convida a revermos nossos valores fundamentais e, assim, o que amamos realmente,

a retrogradação de Vénus não significa só que estamos a rever nossos relacionamentos pessoais. Nem tão-só que daremos por nós a atrair, ou a pensar de forma invulgarmente insistente, em relações do passado que regressam para serem curadas, ou entendidas, ou resolvidas, ou aceites, ou integradas de vez - ao Coração, ou à vida para que possam eventualmente vir a ser integradas ao Coração de vez e assim dispensadas em paz e amor, ou até desfrutadas, na vida.

A retrogradação de Vénus em Capricórnio também não significa, na essência, que estaremos todos a rever os nossos primeiros amores - e quem não assumir que o seu primeiro amor foi a sua mãe está a mentir, não digo deliberadamente, mas está muito longe da essência simples e pouco artificialmente intelectualizada do seu próprio sentir arcaico, no âmago do seu próprio coração.

A retrogradação de Vénus em Capricórnio não significa também, apenas e só, que estamos todos a ter que resolver questões antigas com as nossas famílias, as nossas primeiras estruturas de protecção mas também palco de nossas primeiras experiências de obediência, de aprovação, sucesso ou maturação;

nem significa - por muito neuróticos e identificados com nossos papéis e funções sociais - que estamos a rever quanto amor verdadeiro sentimos por aquilo que temos feito profissionalmente até agora, o quão valorizados nos sentimos por aquilo que escolhemos fazer para merecer, ou conquistar, num lugar no mundo e na sociedade;

significa, tão-simplesmente, que estamos a rever, secreta e inconfessavelmente dentro de nós, o quanto amamos e valorizamos o essencial

o antigo

o primordial

o eterno

que permanecerá muito depois de todas as modas, fados, enfados ou fardos.

significa que estamos a ser convidados a redescobrir, revisitando o âmago do nosso próprio Coração,

se amamos realmente - ou conhecemos, o que é um equivalente, porque amar é conhecer com o coração - o que "aí" está desde sempre, à espera do nosso encontro, reencontro ou descoberta.

se nos amamos e ao fundamental, e de nós ao essencial,

porque o que interessa é o que dura -

- e só o Amor é real *


Nuno Michaels

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